37| Odiamos Você!
Nancy usava um vestido tubinho preto e saltos altos da mesma cor. Estavam combinando com o seu humor. Seus cabelos ondulados e loiros claros, estavam prendidos apenas por uma presilha na franja.
A medida que se aproximava de casa, ela sentia o coração acelerar no peito. Iria ver Christian novamente, depois do beijo de ontem a noite. A porta de tela da casa principal rangeu assim que ela a empurrou e entrou.
Lá dentro, sentiu cheiro de café e bolo de milho recém-preparado. Caminhou pelo pequeno corredor e assim que os pés tocaram o chão da cozinha, ouviu a voz de sua mãe dizer:
— Nós estavamos esperando por você!
Um nó se formou em sua garganta. O que ela havia feito dessa vez? Oh não, será que descobriram sobre o carro de Justin? Suspirou e entrou na cozinha, vendo a mãe, Valérie e o pai sentados na mesa. Onde estava Christian? Foi a primeira coisa que pensou.
— Sente-se! — O pai ordenou.
Ela sentou. Percebeu que os olhos da irmã estavam vermelhos e inchados e isso a fez engolir o nó na garganta.
— Eu sabia que isso iria acontecer. — Ruth balançou a cabeça — Mas como você pôde beijar o namorado da sua irmã?
Nancy gelou. Não esperava por aquilo. Abriu a boca, mas a mãe levantou a mão para impedi-la. Isso explicava a ausência de Christian.
— Você não tem o direito de falar nada agora. Nós já sabemos de toda a história, Nancy.
— Honestamente. — Começou o pai — Eu estou envergonhado por você ser a minha filha. O que deu em você? — O homem estava vermelho. — Não acha que foi rebelde o suficiente em menos de vinte e quatro horas? Seu objetivo era magoar sua irmã? Conseguiu!
Nancy de repente começou a chorar. Ela não queria, mas as palavras foram tão duras e ditas por pessoas que mais amava no mundo apesar de tudo, que a deixaram destabilizada. Sabia que estava errada. Apesar de tudo, a sua intenção nunca foi magoar Valérie.
— No que você estava pensando?
— Eu...me apaixonei...eu não queria que fosse assim...— Nancy fungou e enxugou as lágrimas das bochechas.
— Cala a sua boca. — Valérie gritou e se levantou apontando o dedo na cara da irmã mais nova. — Se apaixonou? Você sempre quis ter tudo que é meu, e com o meu namorado não seria diferente né?
— Valérie...me desculpa.
— Eu nunca mais quero te ver na minha frente. — Valérie vociferou.
— Valérie se mudará para a estufa. — Ruth se levantou também para passar os braços ao redor da filha mais velha, que enterrou o rosto em seu pescoço. — Eu quero todas as suas coisas fora daquele lugar e de volta para o antigo quarto. E quando o apartamento dela em Nova York estiver pronto, eu vou tranforma-la em uma loja de roupa.
Balançou a cabeça tentando controlar as lágrimas, mas não conseguia. O que importava não era a estufa, mas sim o que vinha com ela. A ajuda do pai com as prateleiras, a mãe escolhendo cortinas em uma loja brega com ela. Eles estavam animados com o grêmio. Estavam se importando por menor que fosse o momento. Mas tudo foi por água abaixo. Por sua culpa.
Ela olhou a irmã encostada no ombro da mãe. A ponta do nariz arrebitado e vermelho escorria meleca como o de uma criança birrenta. Foi errado ter se apaixonado por Christian. Mas não foi por que quis, ele era gentil com ela como nenhum garoto jamais foi. Ele a entendia.
Tentou se colocar no lugar da irmã, se ela tivesse conhecido ele primeiro, e Valérie o tivesse beijado, ela também estaria com raiva e destruída. E isso a fez sentir compaixão pela irmã e raiva de si mesma.
— Valérie... — Sussurrou.
— Apodreça no inferno. — Ela gritou mais uma vez.
— Tire as suas coisas da estufa e saia da nossa frente. — A mãe suspirou.
— Me desculpa. — Disse de novo, se erguendo da cadeira.
— Sua vadia. — Xingou Valérie.
Concordou.Talvez se concordasse, eles parassem. Ela queria virar uma bola e sumir. Apertou a mandíbula.
— Eu vou fazer isso!
O pai levantou após tomar sua xícara de café. Ruth levou Valérie para o seu quarto. Nancy abaixou a cabeça para encarar os pés.
— Christian foi embora.— O sr Brooks disse parando na batente da porta. — Nós não ouviremos mais falar dele. E assim espero você também fazer. Para o seu bem.
Ela não disse nada. E assim foi deixada sozinha na enorme cozinha.
♡(•ө•)♡
Não colocou nenhuma música para tocar no som do seu Pontiac Firebird 1968. Ela não estava feliz. E os olhos inchados de tanto chorar o caminho todo até a escola denunciavam isso.
Estacionou o carro e se encostou no banco olhando a tela do celular que mostrava sua conversa com Christian. Ele não respondia a suas mensagens. Precisava vê-lo, só precisava de um abraço e de alguém dizendo que tudo ficaria bem.
Saiu do carro e suspirou. Ela era Nancy Avis Brooks. E era fabulosa. Mas não soou convincente de modo algum. Abaixou os ombros e pegou os óculos escuros, caminhou para dentro do colégio cheio de alunos.
Em primeiro momento, tudo pareceu normal, mas assim que entrou, todos se viraram para encara-la. E foi como se tivesse acabado de entrar no circo dos horrores, e ela fosse a atração do dia. Ouviu os murmúrios comentando sobre ela, mas fingiu ignorar. Mordeu os lábios e andou até seu armário.
Kat estava com os braços entorno do pescoço de Justin quando avistou a antiga amiga. Abriu um sorrisinho cínico e interrompeu sua conversa com as loiras burras para encher o saco da garota.
— Olha só quem decidiu aparecer. — Ela bateu palminhas ao se aproximar. — Nancy Avis Brooks. — Disse o nome tão devagar, que a Nancy revirou os olhos sentindo tédio.
— Olha só quem decidiu vir me importunar. — Nancy pegou seu livro de inglês e se virou batendo a porta de metal. — O coringa de esquadrão suicida.
Ela olhou para trás dos ombros de Kat e viu Justin ficar vermelho. Ele deve já ter visto as fotos do instagram. Sorriu e acenou brevemente.
— Oi para você também ex namorado.
Ele balançou a cabeça se virando de costas.
— Oh querida. — Kat sorriu com os lábios cortados e o nariz roxo coberto por um bandagem. — Eu vim te falar pessoalmente que você não faz mais parte das rivers.
— O quê?
— Deixa eu te explicar direito, minha querida. — Kat fez um biquinho. — Eu sou oficialmente a nova capitã. E não quero olhar para a sua cara de vadia, então, estou te tirando do grupo.
Não tentou discutir pelo xingamento. Ela foi mesmo uma vadia. Com a irmã. Mas não com eles. Não ficou tão mal em sair das rivers quando pensou. A sua vida estava mesmo de cabeça para baixo.
— Você acabou de me fazer um favor! — Disse esbarrando em Kat ao passar do seu lado.
Seguiu na direção da sala de aula sem olhar para trás. Antes era líder, amiga dos populares, abelha rainha e quase presidente do grêmio. E agora não era mais nada. Como tudo pôde mudar em menos de três meses?
♡(•ө•)♡
O treino de balé foi horrível, e a sua apresentação estava próxima. Tomou dois comprimidos daqueles que Isaac lhe vendeu na festa de Mike. E voltou para casa com a bolsa escolar sobre os ombros doloridos e suada.
— O que está acontecendo? — Disse assim que entrou e encontrou suas coisas jogadas pela sala.
Valérie não lhe respondeu. Ela jogou mais algumas de suas roupas no chão e andou até uma caixa erguendo-a do piso de madeira e indo em direção aos fundos.
— Valérie...? — Tentou mais uma vez, seguindo-a.
— O que você quer sua vagabunda? — As palavras vieram como um tapa na cara. — Não percebeu que não tenho mais o que falar com você? Me deixa em paz!
— Olha, eu entendo toda a sua raiva de mim, e eu nem quero que você me perdoe. — Nancy suspirou — Mas não precisamos ficar assim.
— Eu amava ele — Ela se virou com os olhos cheios de lágrimas. — Eu amava ele de verdade. E você o tirou de mim como se não fosse nada.
—Me desculpa...eu juro que nunca foi a minha intenção...
— Não importa. — Ela ergueu a caixa um pouco mais para cima. — Pegue as suas coisas do chão. Nossos pais iram chegar daqui a pouco.
Nancy a viu se afastar para o porão. Passou as mãos pelos cabelos suados e tentou reprimir a vontade de chorar e gritar que segurou o dia inteiro. E era tão difícil suportar. Valérie o amava de verdade, e talvez ele também, por isso não lhe respondia as mensagens.
Um barulho nas escadas do porão lhe fez erguer a cabeça rapidamente. Um grito de dor ecoou alto e ela disparou a correr.
— Valérie? — Ela gritou. Não teve resposta. Seu coração começou a acelerar.
Caída no final das escadas do porão, estava a irmã mais velha, deitada no chão num ângulo estranho. A caixa que levava consigo tinha se aberto toda e estava jogada a um metro dela.
— Oh não! — Ela sussurrou e desceu as escadas com pressa. Se agachou ao lado da irmã.
— Nancy... — Valérie arregalou os olhos azuis. — Eu não sinto as minhas pernas... — Se desesperou — Liga pra ambulância por favor. Eu não estou sentindo as minhas pernas...
Nancy subiu as escadas novamente, dessa vez quase tropeçando também nos degraus. Agarrou o telefone da sala e roeu as unhas na espera. Aquilo não podia estar acontecendo.
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