25| A Festa ( Parte I )
Jessie fez uma trança em seu cabelo laranjado e prendeu a ponta com um elástico, colocou duas presilhas na sua franja. Ela ergueu os olhos e observou o contorno delicado de seu rosto, das bochechas rosadas até os olhos azuis claros.
Com a ponta dos dedos, alisou o tecido fino do vestido azul turquesa que se alongava até suas canelas e fechou os olhos. Amanhã seria o seu noivado, amanhã seria entregue ao abatedouro para satisfazer a grande vontade de seu tio. Vê-la casada com alguém importante e religioso como ele.
Ainda não havia tido coragem de contar a Rebecca, tinha medo do que ela acharia, de seu julgamento. Pois a amiga era totalmente contrária com a sua ideia de fazer tudo que os tios mandavam.
Jessie apertou os olhos ao sentir que o choro estava próximo. Olha só! Estava se ajeitando para ficar em casa. Iria terminar de ler O som do amor, que havia pegado emprestado de Rebecca, enquanto tomava uma xícara de chá sentada em algum lugar escondido do mundo.
— Jéssica! — A voz de seu tio soou autoritária no cômodo de baixo. — Você tem uma visita.
A garota sentiu a sua garganta secar, pousou as mãos sobre o peito, onde o coração batia acelerado e se levantou deixando o pente na penteadeira. Ela desceu as escadas calmamente.
Ao entrar na sala, encontrou seu tio com uma das mãos na maçaneta da porta aberta, Nora estava erguida na frente do sofá. Jessie se aproximou um pouco mais até poder ver Rebecca parada, os longos cabelos cacheados caídos sobre a jaqueta descolada.
Engoliu em seco ao ver o balançar de cabeça em sinal de reprovação da tia pelo canto do olho. John encostou a porta e suspirou cruzando os braços mostrando evidentemente sua irritação.
Eles a haviam proibido de vê-la e ali estava Rebecca, sorrindo dentro da casa deles. Ela deveria ter achado que se fosse gentil eles mudariam de ideia, e deixariam as duas andarem juntas novamente. E não por que eles eram racistas.
— Boa noite! — Rebecca sussurrou, com os lábios cobertos por um batom vermelho cereja. — Eu sou Rebecca, a vizinha de vocês. Minha mãe mandou agradecer pelo bolo de chocolate. Ficou delicioso, senhora Seyfried.
— Quanta gentileza. — Nora forçou um sorriso. — Quer uma xícara de chá?
— Não, obrigada.
— O que veio fazer aqui? — John estava com os olhos vidrados nela. Não tinha duvidas, ela realmente não era uma boa influência para a sua sobrinha.
Os olhos das duas garotas se cruzaram e elas sorriram discretamente uma para a outra. Jessie cruzou as mãos na frente do corpo e Rebecca arrumou um cacho com a ponta do indicador. Estava bolando algo convincente.
— Me desculpa senhor reverendo, se acabei atrapalhando alguma coisa. É que vim buscar a Jessie para irmos ao festival. — Ela piscou os cílios — Não podemos perder por conta das provas. Meus pais não queriam me deixar ir, mas viram que seria bom para ter mais vantagem nas respostas.
— Sou presidente do conselho escolar e não me avisaram sobre isso. — Ele ergueu as sobrancelhas. Jessie fechou os olhos. Seu tio era esperto demais para cair nessa.
— Decidiram agora. O grupo da escola me mandaram uma mensagem. Quer ver? Talvez a Jessie não soubesse por ela não ter redes sociais. — Rebecca deu de ombros.
O reverendo se virou para a sobrinha,
demonstrando em sua expressão seu desapontamento e balançou as mãos sem qualquer animação. A tia piscou um dos olhos com um sorrisinho.
— Volte antes das dez. E espero que isso seja verdade. Vamos conversar logo após você chegar!
Ele estava com raiva? Triste? Jessie engoliu em seco e sentiu as mãos de sua tia apertarem as suas, antes que saísse. Rebecca abraçou Jessie assim que elas alcançaram a calçada do lado de fora.
— Você vai se divertir como uma verdadeira colegial. Mas dessa vez estará comigo e não vai acontecer nada de ruim!
Jessie acreditou nela.
♡(•ө•)♡
Nancy vasculhou seu imenso closet de vestidos e sapatos. Não queria roupas rosas em mais uma festa. Rosa parecia uma cor muito versátil demais, e que lhe parecia colocar um rótulo. Em sua cama, estavam sentados Kat vestida com uma mini saia rosa e uma blusa branca escrita daddy, e Justin vestido com um jeans apertado e a jaqueta do time.
Eles discutiam sobre como, na visão deles, os Estados Unidos virou uma colônia de férias para os imigrantes de todo o mundo. O que Nancy achou muito ofensivo, pois Kat e Justin nem sequer faziam ideia do que aquelas pessoas estavam passando.
— Uma vez, escutei a única coisas que me fez concordar com meus pais. Que os latinos e os negros são a pior raça para se conviver. — Kat jogou o corpo magro para trás, caindo deitada. — Pois são como parasitas. Alem de serem muito preguiçosos.
— Eu não acho os latinos tão ruins assim. Afinal, se fossem não teríamos que estudar espanhol nas escolas. O presidente acharia ofensivo. — Justin ajeitou a ponta do topete loiro.
— Mas o espanhol que aprendemos é o europeu. Não o sul americano. Tem uma pequena diferença. — Kat abriu um sorriso ao se lembrar de algo. — E os judeus? Seus narizes são grandes. — Ela colocou dois dedos acima dos lábios e fez uma careta rabugenta — O mal de Hitler foi não ter conseguido exterminar todos!
— Oh, eles devem ter medo de chegar perto de um vagão, pois a última vez foram parar em Auschwitz. — Justin disparou a rir com a sua piada sem graça.
Nancy, vestida com seus trajes íntimos os olhou com repulsa. Como ficar ao lado daquele tipo de gente lhe fazia bem? Kat poderia ser legal mas não passava de uma megera racista. Justin estava no mesmo nível. Pegou um dos vestidos cor magenta e se vestiu rapidamente.
— Por que não está de rosa? — Kat falou com se alguém a tivesse traído.
— Eu não quero. — Nancy passou brilho sobre os lábios e calçou seus saltos finos e altos.
— Assim não estamos combinando. E esse vestido está lhe deixando gorda!
— Eu não ligo. — Encarou a amiga que ergueu uma sobrancelha. Pegou sua bolsa colocando o que precisaria lá dentro.
— Você está bem? — Justin se ergueu para tocar nos ombros da namorada.
— Sim! — Não, não estava — Vamos.
Os três saíram do quarto, descendo as escadas para chegar na sala de estar. Nancy se inclinou para avisar a sua mãe, que lia uma revista francesa sentada no sofá, que iriam sair. Ruth abriu um sorriso para os jovens atrás da filha. Se sentia tão feliz em ver que suas filhas puxaram a sua facilidade de serem líderes.
Nancy arrastou a porta de vidro que dava acesso para a piscina e o jardim. Eles caminharam pela grama aparada, Justin e Kat ainda conversavam sobre as mesmas coisas que antes, e Nancy não fazia questão de se intrometer.
Ela jogou os cabelos para um lado do pescoço ao mesmo tempo em que seus olhos se cruzaram com os de Christian na piscina. Ele estava de frente e com os cotovelos apoiados no concreto da piscina, com os cabelos molhados e o corpo nú da cintura para cima. Nancy respirou fundo. Ele parecia delicioso.
— Boa noite. — Ele saldou de forma educada, erguendo a mão com um sorriso no rosto.
— Boa noite. — Nancy engoliu em seco ao se sentir desconfortável com o leve friozinho na barriga que passou de maneira rápida.
De repente, Valérie surgiu ao lado dele, limpando o rosto com as mãos. Ela usava um biquíni vermelho e fino, o que fazia seu corpo espetacular ficar ainda mais perfeito. Valérie piscou os olhos azuis algumas vezes, e abriu um lindo sorriso ao perceber a irmã e os amigos dela parados.
— Dois minutos, irmãzinha. Quando foi que você conseguiu ficar mais que isso? — Ela passou os braços entorno do pescoço de Christian.
— Nunca! — Nancy disse e se virou de costas. Fechou os olhos por um tempo, até aquela sensação estranha deixar o seu corpo. Afinal, ela namorava.
♡(•ө•)♡
Sentada na cama vestida com uma roupa qualquer. estava Claire, com um celular nas mãos enviando uma mensagem de texto para Darren. Na frente do espelho do armário, Nina prendia a respiração para conseguir fechar o zíper do seu vestido frufru rosa pálido. Quando o comprou, ela jurou que Nancy iria amar, por ser rosa.
— Minha mãe gostou da ideia de eu estar saindo. — Nina disse, inflando as bochechas. — Ela saltou de alegria ao saber que virei líder de torcida. Eu só tenho a agradecer você! Obrigada. — Se virou com os olhos levemente pintados com sombra rosa.
— Nos duas merecemos. — Claire passou as mãos pelo rosto.
— O que foi? — Nina observou o rosto da amiga e logo percebeu que tinha alguma coisa errada.
— Darren não me responde — Claire quase se engasga com uma tosse que veio de surpresa. — E estou sentindo que vou ficar gripada.
— Acha que ir a festa desse jeito vai ser bom?
— Só estou indo porque Nancy disse que seria uma "obrigação" das rivers. Talvez não seja tão ruim quanto estou pensando. — Claire se levantou, pegou sua jaqueta e enfiou o celular no bolso de sua calça jeans.
— Acha que vai mostrar as estrias das minhas coxas? — Nina tocou a parte de trás de suas coxas pálidas. Claire se aproximou para abraça-la.
— O que importa é que você esteja se sentindo bonita. — Disse.
Elas sairam do quarto, mas acabaram esbarrando em Caleb que andava pelo corredor apenas de calção, segurando um pote cheio de pipoca. Ele jogava a pipoca despreocupadamente para cima e pegava com a boca.
Os olhos dele se fixaram em Nina, que estava parada atrás de Claire. Caleb a encarou por tanto tempo, que Nina se encolheu de tanta vergonha, sentindo as bochechas ficarem vermelhas. Será que ele estava pensando em alguma piada de gordo para sacanear?
— Boa noite, garotas — Ele falou, abrindo aquele sorriso que Claire conhecia bem. — Aonde vão?
— Numa festa. — Claire respondeu com um revirar de olhos. Agarrou a mão de Nina, e empurrou os ombros de Caleb para poder passar.
— Por que não fui convidado? — Ele fez uma careta.
— Por que você já tem idade para ser um adulto responsável? — Ela ergueu uma sobrancelha, e ele se afastou com um balançar de cabeça.
Caleb as seguiu até a porta da frente, mastigando a pipoca e com os olhos fixos na garota gordinha espetacular com o vestido frufru. Ela era bonita, e talvez quisesse sair com ele. O tom em seu rosto indicou que ela gostou do que viu.
— Qual é o seu nome gracinha? — Ele perguntou.
— Ah, o meu? — Nina deu um sorriso nervoso. — É Nina!
— Sério, Caleb? — Claire parecia estar nervosa. Caleb ergueu as mãos em defesa.
— Calma irmãzinha. Eu só estou querendo conhecer a sua amiga.
— Vamos! — Claire ignorou o irmão, e puxou Nina para fora da casa o mais rápido possível.
Enfiou as mãos no bolso da jaqueta para não perder a vibração do celular caso Darren resolvesse dar sinal de vida. Uma cigarra entre as plantas de um vizinho fez o barulho irritante que parecia ainda mais alto no final dessa tarde de sábado.
— Seu irmão é lindo — Nina quebrou o silêncio. Claire se virou para encara-la e acabou sorrindo com a confissão.
— Mas é um safado. Vai por mim!
♡(•ө•)♡
As garotas chegaram praticamente ao mesmo tempo. Atravessaram o grande portão de ferro aberto. A propriedade era afastada, por isso o caminho que levava até a casa era longo e rodeado de pinheiros altos. A casa era feita de tijolos vermelhos e se repousava bem através de enormes colunas dórica.
Uma varanda com duas redes, quinze janelas rodeando as paredes cinzas e perfeitas. Jessie entrou para dentro observando maravilhada cada detalhe do lugar, enquanto Rebecca contava das suas aventuras em Denver.
Alison jogou a bituca do cigarro sobre a grama perfeita e aparada, molhou os lábios ressecados e avistou os garotos que a atormentaram ontem. Os dois se aproximaram de um grupo de jovens que bebiam alegremente e lançaram um sorrisinho para Alison. Com um revirar de olhos, ela pisou no cigarro e entrou na casa para pegar alguma bebida.
Nancy saiu do carro de Justin e alisou a barra de seu vestido. Escutou o som alto que saia das caixas de som e deu um suspiro fundo, agarrando o braço musculoso do seu namorado. Kat fez um sinal para Nancy e entrou com as morenas burras para dentro da festa.
— E ai! — Mike saldou, entregando um copo de cerveja para os dois. Ele beijou a bochecha de Nancy e socou o ombro de Justin com um sorriso no rosto.
— Bela festa, cara. — Justin ergueu o copo e tomou tudo de uma vez.
— Bom, o que achou da decisão do diretor de tirar Ian do time justo tão perto do grande jogo?
Eles começam com a longa conversa. Nancy revirou os olhos caminhando até a mesa de bebidas. Tomou o seu copo de cerveja e olhou para a garrafa de vodca. Uma dessas lhe cairia bem.
— Virar uma dessas de uma vez, irá lhe fazer vomitar e perder toda essa diversão. — A voz de Alison surgiu ao seu lado. Ela vestia preto e parecia uma garota normal.
Alison virou a garrafa despejando o líquido em seu copo. Pegou um dos limões que decoravam as bebidas no gelo e o espremeu sobre sua bebida. Ela tomou a bebida rapidamente. Nancy a observava.
— E por que você pode?
— Eu tenho experiência! — Alison mexeu as sobrancelhas e Nancy deu um sorrisinho para ela. Alison fez a bebida novamente e estendeu o copo para Nancy. — Sua vez, patricinha.
— Eu pensava que garotas como você não vinham a festas como essas! Elas não te enchem o saco? — Nancy virou o copo de uma vez. — Nossa! É muito forte mesmo. — Fez uma careta feia e viu Alison dar risada.
Kat se aproximou, os olhos castanhos selvagens e acusadores. Ela agarrou o braço de Nancy e a puxou para longe da mesa de bebidas. Alison balançou a cabeça e Nancy se sentiu mal por não se despedir.
— O que foi?
— Venha, você vai conhecer Isaac. — Kat empurrou algumas pessoas que dançavam na sua frente.
Elas seguiram para cima das escadas, onde duas garotas conversavam sobre um grupo musical que iria fazer show em Hanôver. Kat arrumou os cabelos e se inclinou para beijar a bochecha de um homem alto vestido com uma jaqueta de couro encostado na parede com as mãos enfiadas no bolso do jeans.
— Acho que não se deve se apresentar para traficantes. — Nancy usou o bom humor, olhando nos olhos verdes do loiro de tatuagens no pescoço.
— Eu não sou um traficante — Ele se defendeu. — Eu só ajudo adolescentes como você a relaxarem. Que mal tem nisso?
— Nenhum.
Nancy molhou os lábios sentindo os olhos dele percorrerem seu rosto. Kat se afastou para deixa-los sozinhos.
— Quero três cartelas de dinitrofenol.
— Está pensando em fabricar explosivos? — Ele abriu um sorriso sarcástico, retirando as mãos do bolso.
— Quanto você quer? — Nancy abriu a bolsa, para pegar o dinheiro em sua carteira.
— O que vai fazer com elas? — Isaac demonstrou preocupação. Mas que chatice!
— Quanto quer? — Nancy ignorou a pergunta dele.
— Trinta dólares cada cartela — Isaac piscou um dos olhos — São difíceis de encontrar.
Ela lhe entregou os noventa dólares, os dedos dele suavemente tocaram os dela no processo. Nancy se afastou de forma rápida, segurando as cartelas de dinitrofenol.
— Não tome mais de duas de uma vez. Seu organismo pode estranhar...
— Alem de traficante é médico também?
— Eu só estava querendo ajudar, e eu não sou um traficante! — Ele fez uma careta. — Quer saber? Faça o que você quiser. — Passou por ela, esbarrando em seus ombros ao descer as escadas.
Nancy guardou as cartelas dentro da bolsa e se inclinou no corrimão da escada para observar Isaac conversar com outros estudantes de sua escola. Fechou os olhos soltando um suspiro fundo.
Lá embaixo, ainda sentada perto da mesa de bebidas, Alison tomava mais um copo de vodca. Estava sentindo a cabeça girar, mas sua visão ainda era boa. Espremeu o limão dentro de sua boca para afastar a tontura.
— Cabelo legal!
Alison engoliu o líquido azedo fazendo uma careta. Ignorou a voz da garota de jaqueta que se sentou ao seu lado. O elogio pareceu sincero, mas não a convenceu.
— Você é a Alison, não é? — A garota desconhecida não se importou de ter sido ignorada.
Alison revirou os olhos e despejou as últimas gotas da vodka em seu copo.
Tomou rapidamente virando a cabeça para trás, e ao voltar, precisou segurar na cadeira para não cair. Agora estava se sentindo muito animada.
— Vai me pedir para te chupar em troca de cigarro? — Perguntou com ironia. Aquela seria a sua piada interna.
— O quê? — A ruiva riu colocando as mãos sobre a boca — Não! — Ela ficou corada. — Desculpe. Eu sou a Shelly. Amiga de Isaac.
Alison se virou para ela, encarando seus olhos castanhos e as sardas em seu rosto delicado. Nunca imaginária que uma garota dessas participasse de uma gangue.
— Eu não gosto dele, se é por isso que está aqui — Alison disse. — Nos dois nem ao menos conseguimos transar um com o outro. Já tentamos, sabe? Mas...não deu certo! Sou apenas uma amiga dele. Ele nem é tão gostoso...
— OK! — Shelly a interrompeu, dando um sorriso. — Não é nada com o Isaac, eu também não o acho gostoso. O que eu queria era conhecer você.
— Por quê? — Aquilo soou estranho para Alison. — Caputo te mandou para cortar a minha garganta?
— Você tira conclusões erradas das pessoas. — A ruiva balançou a cabeça.
— Só convívio com pessoas erradas. Então literalmente não tenho o certo para recorrer. — Alison fechou os olhos por um momento, mas logo voltou a realidade — Sua jaqueta é legal. Onde consigo uma dessas?
— Nos legionários! A gangue idiota que Isaac participa. — Shelly colocou uma das mãos por cima das de Alison.
— Ele te contou isso?
— Sim.
Elas riram. Alison sentiu o que o efeito da bebida estava lhe causando. Apertou os dedos de Shelly entre os seus.
— Poderia compartilhar a vodca?
— Claro legionária charmosa. — Ela entregou a garrafa. Shelly sorriu.
Perto das janelas, segurando um copo de cerveja nas mãos estavam Rebecca e Jessie. Rebecca tentava faze-la beber um pouco de cerveja, enquanto Jessie ria negando com a cabeça. As duas havia subido para o segundo andar para ver as obras de arte e a grande banheira da mãe de Mike.
— Nem um gole? — Rebecca mexeu as sobrancelhas aproximando o copo dos lábios da amiga — Uma gotinha?
— Não acho certo! — Jessie sorriu com as bochechas vermelhas. Cruzou as mãos na frente do corpo virando a cabeça.
—Talvez essa seja a sua última festa da vida. — A amiga fez um biquinho tomando um pouco do líquido.
Jessie se lembrou da última vez que tomou cerveja e fez uma careta. Seus olhos se ergueram e avistaram Isaac do outro lado da festa, falando com uma garota loira. Isaac levantou a cabeça, olhando para ela. Os dois trocaram um sorriso sem graça.
— Por favor, Jessie! — Rebecca suplicava. Jessie voltou a olhar para ela.
Amanhã seria o pior dia da sua vida depois da sua grande perda, iria virar noiva de um homem que nunca viu na vida, e essa provavelmente seria mesmo a sua última festa da vida. E tinha que ser como uma adolescente normal.
— Tudo bem. — Se rendeu — Só um pouco!
Rebecca deu pulinhos de alegria e despejou o líquido no copo de Jessie, dividindo a cerveja. Entregou o copo para Jessie, com um sorriso no rosto.
— Tim tim?
— Tim tim! — Elas brindaram.
Na mesa de ping pong, o ruivo de um metro e oitenta bebia sua cerveja com os olhos fixos em Claire conversando com Nina sentada no sofá. Justin deu um grito de vitória ao ganhar.
Mike tirou uma rápida foto com o seu celular e o guardou no bolso. Bebeu a cerveja do copo e empurrou Ian com os ombros.
— Por que está assim?
— É por causa dela que não vou poder jogar. — Ele sussurrou, apertando o copo próximo da boca.
— Por que você tinha que escrever aquele tipo de coisa em um caderno?
— Eu vou me vingar.
— Olha cara, vai se divertir um pouco. Tome umas e perca a cabeça. Mas por favor, não faça nenhuma loucura. Não acabe com a festa. — Mike pousou as mãos nos ombros do amigo.
— Não vou estragar a sua festa. Não por ela. — Ian o tranquilizou.
A música Out of my league começou a tocar com sua batida animada. Todos soltaram gritinhos empolgados, indo para o meio da sala, para dançar. A letra combinava com os sentimentos adolescentes.
Jessie negou nervosamente com a cabeça enquanto Rebecca a puxava pelas mãos para o meio da sala, onde os outros estudantes se mexiam com os braços para cima. Elas entrelaçam seus dedos com sorrisos nos rostos.
— Mexa o quadril dessa forma! — Rebecca se aproximou erguendo os braços, sem tirar as mãos de Jessie e rebolou o quadril. — Não precisa ter vergonha. Estamos juntas nessa.
Jessie fechou os olhos com um sorriso bobo nos labios e mexeu levemente o quadril, um rubor subiu por seu rosto e ela o encostou nos ombros da amiga rindo.
— Você esta ótima. Agora é só sentir a música — Sussurrou Rebecca, em seu ouvido.
Shelly pousou as mãos na cintura fina de Alison. Elas estavam dançando de forma sensual no meio da sala, rindo uma para a outra.
— Você é linda. — Shelly sussurrou no ouvido de Alison.
Alison deslizou as mãos pelas costas de Shelly, e apalpou o traseiro dela, as duas se olharam com desejo. Alison se sentia diferente, e com muita vontade de beijar.
— Posso beijar você? — Perguntou.
— Sim. — Shelly se inclinou, colando os lábios aos de Alison.
— Quer dançar comigo? — Mike se aproximou de Nina e Claire.
— Eu? — Nina sentiu a garganta se fechar.
— Você é a Nina, não é? — Ele franziu as sobrancelhas.
— Sim! — Ela abriu um sorriso e pousou o copo de cerveja na mesinha.
— Então, sim — Ele molhou os lábios a observando — É você!
A garota se levantou animada por um garoto bonito finalmente a notar. Mas foi impedida pela mão de Claire que segurou seu braço. Elas se encararam.
— Não acho que seja uma boa ideia.
— Por que? Você acha que os garotos não podem gostar de mim? Ah, larga de ser chata! — Ela se desvencilhou, e foi dançar com Mike.
Claire engoliu em seco observando os casais se divertindo. Jessie e Rebecca, Ian e Kat, Nina e Mike, Alison e uma ruiva que não conhecia. Era a única que estava Sozinha sentada no grande sofá. Revirou os olhos e tomou o copo de cerveja. Se for para ficar louca que seja com álcool.
♡(•ө•)♡
— O que vamos fazer?
— Tirar fotos! — Sussurrou Rebecca toda animada — Tinha uma dessas no meu café preferido em Denver.
Elas olharam para a cabine fotográfica escondida entre as árvores da casa de Mike. Um comprida extensão elétrica cor azul saiu da cabine e seguiu até a casa, através do gramado. Um casal saiu da cabine, pegaram suas fotos e subiram para a casa.
— Vamos? — Rebecca enlaçou os dedos nos da amiga enquanto abriu um sorriso.
— Tudo bem. — Jessie concordou com as bochechas rosadas, lançando um olhar para a festa.
Alguns garotos entorno de um barril e uma porção de adolescentes com os copos de cerveja erguidos enquanto dançavam. Rebecca fechou a cortina e sentou ao lado de Jessie no pequeno banquinho de madeira. Suas coxas e ombros espremidos. Rebecca pegou um cigarro de dentro do bolso de sua jaqueta e o colocou entre os labios, fechou um dos olhos fazendo um biquinho.
Jessie abriu um sorriso, encostando a cabeça na de Rebecca. A câmera bateu mais algumas fotos.
— Quer um? — Rebecca estendeu um cigarro. Jessie pensou por um tempo. — Não vamos acender! É só para dar um charme. Como as francesas. — Ela piscou, inflando as bochechas.
Jessie aceitou, colocou o cigarro entre os lábios de maneira tímida e lançou um olhar para a câmera, outra foto foi tirada. Elas se encostam, se abraçam e aproximam as bochechas enquanto sorriem.
Por um momento Jessie não pensou no seu noivado. Aquele era apenas um momento feliz com a sua amiga. Algo que ela jamais esqueceria.
— Esse seria um ótimo esconderijo — Rebecca sussurrou um pouco nervosa, agarrando uma das mãos de Jessie.
— Sim — A garota abaixou os olhos com um sorriso tímido nos lábios.
— Você estava ótima dançando.
— Você também. — Jessie deu de ombros.
— Como você está? — Ela ergueu a outra mão, tocando delicadamente o rosto da amiga com as pontas dos dedos.
Jessie sentiu um frio na barriga, assim como sentiu no dia do lago, quando estavam se tocando daquela mesma forma. Parecia muito errado, mas ao mesmo tempo bom. Jessie fechou os olhos e suspirou tentando parecer confortável no banquinho.
Ela se sentia assustada por estar sentada tão perto de uma garota que a tocava daquela forma tão íntima e boa. Uma confusão se passava em sua cabeça, mas não podia dizer.
— Bem! — Respondeu com a garganta seca.
— Eu não acredito nisso — Rebecca deslizou o dedo por a pele macia dela. Jessie ficou quieta. Rebecca parecia ser a única pessoa que a entendia de verdade — O que sente?
Raiva. Medo. Solidão. Tristeza. Jessie pensou em dizer mas não conseguiu. Era difícil demais falar o que sentia para alguém ouvir. Mesmo que fosse uma pessoa que você considerasse muito.
— Eu não sei — Jessie deu de ombros novamente, com os olhos observando suas mãos juntas.
— Já amou alguém? — A pergunta fez seu coração acelerar.
— Eu não sei — Jessie deu um sorriso nervoso. — Acho que isso se deve ao fato de eu me preocupar tanto com o que as pessoas vão achar!
— Você é perfeita. Não deveria ter medo com o que as pessoas iriam pensar. É a garota mais legal que eu conheço em toda a América.
As duas sorriram. O barulho da festa parecia diluído. Jessie escutou alguém conversando bem perto. Não sentiu vergonha pelo que acabou de contar. Foi até um pouco aliviador.
— Já que trocamos confidências — Disse Rebecca com calma e virou o pulso na direção de Jessie, mostrando-lhe a cicatriz — Já deve ter visto isso.
— O que aconteceu? — Jessie tocou a pele cor de café da garota com leveza.
— Eu me cortava com gilete. Eu não tinha ideia que ficaria tão profundo. Saiu muito sangue. Meus pais tiveram que me levar as pressas para o pronto socorro!
— Por que se cortava? — Perguntou baixinho.
— Eu apenas sentia que deveria fazer isso... Eu estava me sentindo horrível emocionalmente — Rebecca encarou os olhos azuis de Jessie.
Jessie ergueu a mão e tocou a cicatriz. Era macia e irregular. Não parecia em nada com a pele de verdade. Imaginar Rebecca deitada no chão e coberta de sangue fazia Jessie sentir um aperto na garganta. Ela se inclinou para abraça-la.
O corpo de Rebecca estremeceu e ela pousou a cabeça na curva do pescoço de Jessie. Conseguiam escutar, mesmo estando ao fundo, uma música que não combinava exatamente com a atmosfera da cabine.
Jessie a apertou contra seu corpo. Como seria se cortar e se ver sangrar sem poder fazer nada?
Ela engoliu as lágrimas e sentiu Rebecca erguer o rosto ao encontro do dela. Seus narizes estavam realmente muito próximos. Jessie sentia o cheiro de cereja de Rebecca.
Rebecca tocou a bochecha esquerda de Jessie com a ponta dos dedos e se inclinou para frente, colocando seus lábios sobre os da amiga. Jessie não teve tempo de registrar o que estava acontecendo. Era errado? Não sabia dizer. Os dedos cor de café de Rebecca deslizaram pelas suaves tranças do longo cabelo laranjado de Jessie.
Jessie fechou os olhos ao sentir a macia lingua de Rebecca tocar a dela. Nunca havia sido beijada assim. Seu beijo com Isaac foi completamente diferente. Esse parecia ser ardente e apaixonante. Elas não perceberam, mas a câmera estava registrando aquele momento.
Suas mãos ainda entrelaçadas uma na outra. Nenhum pensamento passando por suas mentes jovens. O momento estava mágico. Era como agarrar as estrelas do céu com apenas uma das mãos. O coração de Jessie batia forte no peito, enquanto seus labios se moviam automaticamente.
Mas aquilo acabou. A sensação de ser compreendida. A cortina da cabine se abriu de repente. Jessie saltou para trás assim como Rebecca. Mas era tarde demais.
— Porra! — Peter, um calouro do segundo ano, cuspiu cerveja no chão.— A sobrinha do reverendo é sapatão!
O rosto de Jessie estava vermelho, ela estava se recuperando do que havia acabado de acontecer. O que o seu tio pensaria sobre aquilo? Seria capaz de mata-la. Engoliu em seco passando as mãos pelo rosto de olhos arregalados.
— O que? — Um outros garoto gritou por cima da música e logo se juntou ao amigo, começando a rir ao ver as duas garotas assustadas. — Que nojo!
Jessie se levanta do banquinho com as lágrimas escorrendo pelas bochechas. Rebecca fez um gesto de desespero e agarrou os braços dela. Mas não havia arrependimento em sua expressão.
— Jessie...
— Tire as mãos de mim — Jessie gritou apavorada. — Por favor...me deixe em paz!
Os garotos começaram a imitar sons de beijos, enquanto Jessie corria para longe dali. Rebecca cobriu o rosto com as mãos, sentindo vontade de chorar. Se sentia a pior garota do mundo. Não pensou que sua noite acabaria assim.

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