22| Meu Nome é Problema
Os olhos castanhos da garota pálida de cabelos curtos seguiam o ponteiro do relógio pendurado na parede do Wonder's. Não esperava a hora de sair daquele lugar. Terminou de passar o pano com cheiro de lavanda sobre as mesas enquanto sem interesse algum escutava a conversa de um homem ao seu lado.
O sininho na porta chacoalhou, ela revirou os olhos jogando o pano agora encardido dentro do balde de metal cheio de água. O lugar estava muito vazio para um final de semana. Talvez todos estivessem sentados felizes em suas mesas conversando sobre onde passariam a próxima viagem em família.
Ergueu a sobrancelha para ver quem faria os pedidos. E para sua completa surpresa, quem entrou foi ali foi uma pessoa conhecida. Alison vasculhou em sua mente em busca de nomes.
Carlos? Clyde...não! Caleb! O cara do clube de lacrosse. Os cachos escuros de seu cabelo brilhava sob a luz que entrava das grandes janelas, ele tinha um braço pousado casualmente sobre os ombros de uma ruiva bonita e com um corpo magnífico. Ele namorava!
Alison apertou os lábios observando-os se sentarem nas cadeiras. Como ele teve coragem de ficar flertando com ela naquele dia? Será que não tinha exceção alguma entre os homens? E eles eram todos iguais? Alison tinha pensando por um momento que o sorriso dele era verdadeiro.
Agarrando o bloco de folhas encima do balcão e um lápis, Alison andou até a mesa onde estava Caleb e namorada dele.
— O que vão querer? — Perguntou com os olhos no bloco de folhas. Não iria ficar com rodeios e toda aquela modéstia ridícula de boa tarde.
Caleb ergueu os olhos ao reconhecer a voz que lhe deu um sermão sobre uso de toalhas. Devagar, ele deslizou o seu braço dos ombros de Dana.
— Duas panquecas com xarope de bordo e um mikshake de baunilha — Dana arrumou a longa franja ruiva de seus cabelos encaracolados.
— E você? — Alison perguntou um tanto irritada pelo olhar dele. Como tinha coragem? A namorada estava ao seu lado!
— O que tem no cardápio? — Caleb passou o dedo indicador pelo queixo fingindo estar pensando — Não sou muito bom com escolhas.
— Está brincando? — Alison gritou, apertando o bloco de folhas — Isso aqui não é um jogo. Alias, ninguém é um jogo. — Os dois se encararam.
— Não foi a minha intenção ser indiscreto. Quero uma porção de batatas fritas e um suco de pêssego!
Alison anotou rapidamente os pedidos e foi para a cozinha, onde entregaria a folha para o garoto magro de óculos.
Caleb inclinou o pescoço e aproveitou a oportunidade para passear os olhos pelo corpo magro da garota de cabelo curto, que vestia uma calça apertada e avental.
— Novos pedidos! — Alison amassou a folha e jogou como uma bolinha para o garoto esquisito de óculos.
♡(•ө•)♡
Sentada na rampa para deficientes no estacionamento com um cigarro aceso entre os lábios ressecados, Alison deu uma olhada para o céu, afastou com a ponta da bota o resto de neve do chão e soltou a fumaça lentamente.
O rímel que tinha passado de manhã, agora era apenas um borrão abaixo de seus olhos. Ouve uma época em que o cigarro era o menor dos problemas.
Ela olhou para a mochila cheia de pílulas de anfetamina perto de seus pés e soltou um suspiro. Sentiu que deveria devolver toda essa droga e seguir com o trabalho no wonder's.
Estaria ganhando dinheiro honesto e não iria para a cadeia por besteira. Pois dessa vez a policia não seria benevolente e a iria jogar direto na penitenciária juvenil.
— Oi, garota das toalhas. — A voz de tom casual de Caleb, sussurrou acima da cabeça dela.
Ela apertou a mandíbula jogando o cigarro no chão o pisoteando com a bota para apagar a brasa. O que esse cretino queria agora? Ergueu os olhos e não encontrou a ruiva ao lado dele. Caleb tinha com as mãos enfiadas no bolso do short jeans, que deixava sua canela com pelos escuros a mostra.
O pensamento de que ele a deixou em casa só para vir da encima de outra, passa por sua mente e isso lhe causa um gosto ruim na boca. Ela agarrou a mochila se levantando. Caleb franziu as sobrancelhas assim que a viu lhe dar as costas com a mochila sobre os ombros.
— Não vai me responder? — Gritou ele, se apressando para alcança-la.
Alison revirou os olhos puxando o capuz para cobrir a cabeça. Como ele soube o horário de sua saída? O esquisito deve ter lhe contado. Ela faz uma anotação mental de encurrala-lo na próxima vez. Escutou os passos do garoto a seguindo e mordeu os lábios com um suspiro pesado.
— Sabe, você deve ser incansável, por que trabalhar em dois empregos em plena a adolescência é algo admirável —Ele abriu um sorriso — Eu ainda quero saber o seu nome! O que acha de me passar o seu numero?
Num movimento involuntário ela se virou com uma das mãos erguidas e lhe deu um tapa no rosto. A ação foi tão rápida que Caleb não teve tempo de processar o que acabou de ocorrer.
— Eu previa isso — Ele endireitou o pescoço enquanto passava a mão por cima da bochecha. — Costumo ser persistente, amor. — Ele a olhou.
— Vai se foder — Ela disse erguendo o dedo do meio. Caleb cruzou os braços sem tirar os olhos da silhueta magra que corria para longe de sua vista.
Seria ela o seu primeiro desafio na nova cidadezinha?
♡(•ө•)♡
Ela correu pelas estradas cheias de buracos até que chegou no bar moon house, um lugar asqueroso mais que animava as noites ardentes do lado sul. Com muita bebida, droga e uma boa música.
Ao entrar, Alison sentiu cheiro um cheiro de hortelã misturado com a música Off to the races. Uma garota vestida com saia curta e um sutiã de franjinha se enroscava de maneira sensual numa barra postada no chão ao ritmo da música.
— Venho para a entrevista? — Uma mulher negra com cabelos pintados de rosa perguntou apoiada sobre o balcão de bebidas.
Alison deixou de observar a garota no pole dance sensual para direcionar os olhos para a mulher. Os motoqueiros bateram palma e gritaram elogios para a dançarina.
— Não, eu quero falar com o Caputo. Ele está? — Respondeu, passando as mãos pelo rosto pálido.
— Nesse momento, acredito que ele esteja numa reunião — A mulher a olhou de cima para baixo.
— É importante! — Alison ergueu as sobrancelhas.
— Certo! — Discou o número para avisa-lo da chegada. Segundos depois recoloca-o no gancho — Pode entrar.
Alison seguiu um corredor estreito, a música ia ficando cada vez mais baixa a medida que ela ia se aproximando de uma porta de madeira. Ela abriu-a, interrompendo a conversa de quatro homens tatuados.
Caputo se ergueu da mesa apagando seu cigarro no cinzeiro. Alison fechou a porta e ouviu os homens falarem de sua presença ali.
— Venho para a entrevista? — Caputo abriu um sorriso, se aproximando do corpo dela. — Se colocasse uma roupa indecente ganharia muito dinheiro.
— Não! — Alison retirou a mochila do ombro a pousando sobre a mesa. — É, eu não posso mais vende-las. — Jogou o pacote de pílulas de anfetaminas sobre a mesa.
Ele levantou as sobrancelhas e Alison reparou na tatuagem que havia acima de seus olhos castanhos. Fez um gesto com as mãos.
— Esse não foi o combinado!
— Eu só quero devolver tudo.
Ele balançou a cabeça encurralando-a na parede. Alison percebeu que agora estava começando a ficar com medo. Caputo agarrou o pescoço de Alison com uma das mãos. E ela mexeu a cabeça para tentar escapar.
— Seu amiguinho Isaac vai adorar receber uma visita nossa. — Caputo apertou os lábios, apertando Alison contra a parede. Os homens logo atrás apenas observavam a cena. Como se ela fosse uma traidora.
— Ele não tem nada haver com isso.
— Sussurrou Alison, fazendo uma careta. — Ele nem sabe que eu peguei drogas com você! Não toque nele.
De repente as mãos dele estão em seu pescoço, apertando fortemente a sua garganta, deixando-a erguida do chão. Alison sentiu o coração bater forte no peito e as mãos suarem frio.
— Você...está...me...machucando.
— O que te fez mudar de ideia, sua puta? — Ele gritou cuspindo salivas no rosto dela.
Alison sentia que iria desmaiar a qualquer momento. Abriu a boca para falar mas não conseguiu pronunciar nenhuma palavra. Apenas tentava sem sucesso empurra-lo para longe.
— Senhor, acho melhor solta-la. Não queremos a polícia aqui. — Um dos homens se comoveu pelo desespero da garota.
Caputo a soltou, fazendo o corpo dela cair sentado no chão. Alison colocou a mão envolta do pescoço vermelho e tentou se levantar, mas de primeira não conseguiu.
— Fale, sua vadia! — Ele gritou.
— Eu não...não quero mais problemas com a policia — Sentia dificuldade em pronunciar as palavras. Massageou a garganta com cuidado. — Eu estou fazendo trabalhos comunitários. Não vendi nada. Está tudo ai. Juro que não usei nada!
— Você acha que é só entrar e me dizer esse tanto de merda? — Ele se agachou na frente dela com as mãos na coxa — Não! Eu já tinha prometido ao meu chefe o dinheiro. — Ergueu a mão e tocou com os dedos o rosto de Alison. — Mas e agora? O que vou fazer? Eu preciso do dinheiro.
— Eu não sei. Isso não é problema meu!
— Não é problema seu? — Ele riu, descendo a mão para seus ombros. — Mas é claro que é. Você vai me dar a porra do dinheiro.
— Eu não tenho dinheiro — Disse ela, entre os dentes — Não recebo nada pelo que trabalho.
— Revista a mochila dela — Caputo se ergueu jogando uma cusparada no chão. — Não acredito nessa vadia.
Os homens rapidamente revistam a mochila dela, jogando as coisas no chão como se não tivesse nenhuma importância. A pulseira que Verônica lhe deu caiu sobre os outros pertences e a garota fechou os olhos frustrados.
— Olha o que temos aqui! — Caputo pegou a pulseira como um troféu em suas mãos — Quanto vale? Dois mil? Cinco mil? Dez mil? — Ele sorriu.
— É um presente da minha mãe. Ela me mataria se eu perdesse. — Gritou Alison, fazendo força para se erguer.
— Isso não é problema meu! — Ele repetiu suas palavras, colocando a pulseira no bolso.
♡(•ө•)♡
Alison encarou a casa de dois andares com enormes vidraças, varandas e um lindo jardim.Aquela não parecia a sua casa. Ela enxugou o rosto molhado de lágrimas e entrou para dentro.
Alison andou desanimada e devagar até as escadas, sentindo um aperto vazio no peito. Hoje chorou e não sentiu vergonha ou medo. Só sentiu que queria ser ela mesma. Sem pais que traem, drogas e traficantes.
Verônica apareceu na sala usando um vestido cinza e terminando de colocar os brincos de diamante nas orelhas. Seu sorriso alegre se desmanchou ao ver a expressão triste da filha.
— Meu amor, o que aconteceu? — Ela perguntou calmamente.
Alison observou o belo rosto da mãe. Uma mulher linda e inteligente, com um gosto maravilhoso para músicas e flores. Seu pai era um monstro por trai-la. E se sentia ainda pior por está acobertando-o.
— Cadê o Darren? — Ela engoliu em seco.
— Ainda está no escritório — A mãe piscou os cílios claros — Eu estava lhe esperando para dizer que vamos a um restaurante. Está tudo bem querida?
— Se divirta, mãe — Alison sussurrou, lançando um fraco sorriso.
Verônica observou a filha subindo as escadas. Ela não estava bem, mas suas chances de tentar se aproximar já haviam se esgotado. O que aconteceu para ela mudar tanto? Não era mais aquela garotinha alegre.
Alison fechou a porta e desligou o abajur ao lado de sua cama. Se deitou sobre os lençóis apertando os olhos enquanto sentia as lágrimas quentes descerem de seus olhos, escorrerem por suas bochechas e molharem o travesseiro.
Encolheu as pernas em posição fetal e chorou como jamais chorou. Escutou seu celular tocar e o agarrou do bolso para olhar a tela. Enxugou o rosto com as costas das mãos e atendeu.
— Acho que precisamos conversar, certo? — Era Jessie do outro lado da linha.
— Sim! — Respondeu Alison, se virando de barriga para cima. Seus olhos encararam o teto escuro.
— Sim — Claire gritou de felicidade, parecia estar mexendo com alguma coisa perto do telefone. — Ah, vocês nem imaginam o que descobri!
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