13 - Convidadas especiais.
Nicolas
Passamos a noite ali mesmo na casa do Kelvin e acordamos cedo, ás sete horas da manhã.
A Operação Cavalo de Tróia, que estava sob meu comando estava em construção.
Eu criei a ideia e agora tinha que estudar seus pós e contras como meu pai ensinou.
E isso iria levar pelo menos um dia de planejamento se quiséssemos que desse certo.
— NÓS. NÃO. TEMOS. UM. DIA. — disse Kelvin irritado após eu contar do prazo.
— Se fizermos tudo sem planejamento vai dá errado. — disse. — E ai sim todo mundo pode morrer.
— E como pode ter certeza que vai dá certo? — Questionou Kelvin. — Que a Bárbara não vai morrer? Que nós não vamos morrer?
— Temos uma coisa que o Naja não tem. — declarei e realmente contava com isso e precisava que eles concordassem.
— O que? — Augusto e Kelvin quiseram saber.
— Cumplicidade. Amizades. Gente em que podemos confiar. — encarei os dois — E vocês têm isso no morro.
Eles trocaram olhares descrentes.
— Nick. — começou Augusto — No tráfico não existe amizade.
Franzi a testa — Quem aqui esta falando do tráfico?
— Os moradores? — questionou Kelvin.
Eu assenti — Eles podem nos informar sobre a Bárbara. E quiçá do movimento no morro.
— Óbvio! — Kelvin estalou os dedos e pegou o celular e começou a digitar.
— Quem diria que o Nickzinho sabe pensar. — Augusto bagunçou o meu cabelo.
Dei um soco de leve no ombro dele e fiz sinal de silêncio para o Kelvin fazer a ligação.
— Dona Célia? — chamou Kelvin andando de um lado para o outro — Sou eu. O Kelvin. Não fala o meu nome. — pediu rapidamente — Como a Bárbara está? O que ele fez com ela? — perguntou — No quarto? Ele machucou ela? Pior? — Kelvin parecia surpreso — Matou?
A última palavra fez Augusto e eu ficarmos de pé.
— Quem ele matou? — quisermos saber, ele sinalizou para a gente esperar.
— Ela tá trancada? Em depressão? — perguntou preocupado — TENTOU SE CORTAR?
Augusto olhou para mim, surpreso.
— Por favor, cuida dela. Não deixa ela se machucar... — a voz de Kelvin parecia suplicante — Vamos fazer algo para tirá-la daí. — ele desligou e respirou fundo — Ele não tocou nela. Esta a mantendo presa no quarto. Ele matou a avó materna dela e deixou as fotos quarto para ela vê. Agora ela tá entrando em depressão e tentou suicídio cortando os pulsos.
— Meu deus. Meu deus. Meu deus! — Augusto estava entrando em desespero. — O que estamos fazendo? Isso tudo é nossa culpa. A avó da Bárbara. A Bárbara. Estamos causando isso...
— Ele matou a avó dela? — perguntei surpreso. Isso não fazia sentindo. Por que atacar uma senhora?
— Para dá uma lição. — respondeu Augusto como se tivesse lido a minha mente — É o estilo dele. Meu pai o irritou. Ele deu uma lição o matando e para o resto dos bandidos. Só pra lembrar quem é que manda. É assim que ele age Nick. Usa o medo. A culpa. Ele manipula você e faz acreditar que fez tudo por merecer. Ele te destrói e finge que te resgatar, mas no final só está cavando a sua cova. — Augusto estava ofegante, e ainda nervoso.
— Foi assim com o seu pai? — perguntei. — Ele o manipulou?
— Isso não torna o Kleber uma pessoa melhor. — disse Augusto — O Kleber cavou a própria cova e de quebra levou a família junto.
— Ele vai acabar com a Bárbara... — disse Kelvin esfregando o rosto. — De dentro pra fora. — ele começou a andar de um lado para o outro resmungando coisas indecifráveis.
Eu estava seriamente ficando perturbado com toda essa merda.
E vê Kelvin andando de lá para cá não ajudava.
— O que vocês não estão me contando? — perguntei entre os dentes — Não é o melhor momento para manter segredinhos. Então parem de rodeios e vamos direito ao ponto.
— Estou tentando dizer que... — ele respirou fundo — Seu plano não vai funcionar. O Naja é tudo, menos burro.
— O Augusto tá certo. — disse Kelvin. — Não vamos enganar o Naja. Não tem como enganar e sair ileso. Ele não aceita perder.
— E eu não aceito perder amigos. — disse os encarando — Então que tal pararem de bancarem os covardes e começarem a encontrar uma forma de enganar esse bandido? — e então abri os braços — Ou será que eu sou o único que estou motivado a salvar a vida da Bárbara?
— Cala a boca. — disse Kelvin fechando os punhos.— Cala a porra da boca! Você não sabe nada sobre ela! Só porque acha ela bonitinha e quer ser o herói dela não te dá o direito de dizer que tá mais preocupado do que a gente! — explodiu Kelvin — Você.Não. Conhece. Ela.
— Calma Kelvin... — começou Augusto o encarando e então se virou para mim. — Você não pode falar isso. Você sabe que não é assim. Nós conhecemos ela a nossa vida inteira! Você conheceu a Bárbara não faz nem três dias. Não faz ideia do que estamos sentindo. Bárbara é muito mais que uma amiga. Ela é a nossa família. Não fala isso novamente.
— É verdade. — concordei — Mas ao menos eu estou tentando tirar ela de lá. Sem pensar se eu posso morrer por isso! — acabei me alterando sem querer — Não imagino um pingo do sofrimento que ela tá passando naquela prisão, eu só sei que é muito e ela não merece ficar mais um segundo lá! E se meu sangue precisar ser derramado para ajudar ela, eu não me importo.
Eu segui até a porta para ir até a delegacia.
— E quando você morrer... — começou Kelvin quando eu abri a porta — Como você acha que ela vai se sentir? O Naja vai jogar mais uma vez na cara dela outra morte. Se ela tá sofrendo agora. Ter mais uma morte na lista vai ser o inferno na terra pra ela. Ela vai desejar morrer.
Eu fechei a porta e me virei.
— A Bárbara é mais frágil do que parece. — continuou — Vestir-se toda de preto, ser sarcástica, bancar a durona. É tudo teatro. Ela sempre foi uma menininha chorona. Que chorava quando levava um tombo, chorava quando gritavam com ela, chorava quando sentia raiva... O que mudou é que agora ela se esconde para chorar. — ele deu um sorriso triste — Quando se tem a mãe assassinada pelo seu pai que é o dono do morro, você precisa de uma casca. Para não mostrar o quanto é vulnerável. O quanto está quebrado por dentro. Você não pode parecer fraco, ou a sua fraqueza te deixa vulnerável para o seu inimigo. — Kelvin deu uma pausa — Ser filha do Naja destruiu qualquer vestígio de vida comum, que ela poderia levar. Tanto no morro, quando as crianças tinham medo de falar com ela por ser filha de quem é. E tanto fora dele. Não tem como fugir.
— Onde você quer chegar? — perguntei cruzando os braços.
— Você criou uma armadura para Bárbara. — disse Kelvin me olhando — Mas ela não é isso tudo. Ela é frágil. O Naja já colocou na cabeça dela que ela tem culpa da morte da mãe e agora da avó. Se você ou qualquer um de nós entrar nessa lista ela vai se ficar despedaçada. E dessa vez não terá conserto. A Bárbara não vai aguentar mais nenhuma morte. Não vamos nos precipitar. Vamos salva-la e garanti que ela de recupere.
— COMO? — Perguntei — Como vamos fazer isso sem nos arriscar?
Seguiu-se um silêncio.
Eu balancei a cabeça. — Não tem como, não é?
— Só queremos que pense melhor. — disse Augusto me encarando.
— Ok. — assenti — Até onde entendi é que o Naja é um sociopata ou psicopata. Por isso não pode ser enganado?
Os dois assentiram.
— Eu preciso pensar. — disse indo até a porta — Tentem contato com a Bárbara. Ela pensa que tá sozinha, vamos provar que não.— Sabemos que enfrentar o luto não é fácil. Ela não pode pensar que esta sozinha. — antes de sair eu me virei para eles. — Estão errados sobre o Naja. Ele não é invencível. Esse tipo de gente é narcisista. É esse é o ponto fraco que iremos explorar. — disse apontando para eles — Ele só precisa saber que estamos apavorados e dispostos a colaborar.
— Não vai ser difícil fingir. — disse Kelvin dando os ombros.
— Tá indo pra onde? —perguntou Augusto.
— Falar com o meu pai. — disse ao atravessar a porta.
— Vamos junto...
— Não. Não. — eu interrompi o Augusto — Quero ir sozinho. Preciso pensar também e... Preciso preparar o meu pai.
Augusto assentiu.
— Ela mudou. A Bárbara que vocês conheceram amadureceu. A Bárbara que eu conheci é corajosa. É forte, é engenhosa, inteligente. — disse e fechei a porta
***
Bárbara
Eu fiquei o dia todo deitada na cama, sem parar de chorar pela minha avó.
Sentindo meu coração ser esmagado pela mesma pessoa mais uma vez.
Eu tentei dar fim ao meu sofrimento e dos outros, mas nem isso eu sou capaz de fazer.
Nem me cortar eu consigo.
Célia me impediu de me matar e cuidou dos cortes nos meus pulso.
Ela tirou todos os objetos afiados do meu quarto.
Célia tentava me alimentar, mas eu me recusava.
Talvez conseguisse morrer de fome.
— Isso não vai te ajudar. — sussurrou Célia tentando me dar um lanche, pois tinha recusado o café da manhã e almoço. — Precisa reagir.
— E quem que será a próxima? — questionei ainda com lágrimas caindo dos meus olhos — Você? — balancei a cabeça — Eu prefiro morrer.
— Kelvin me ligou. — disse baixinho, mas já era o suficiente para atrair a minha atenção — Ele está preocupado com você.
— Eles conseguiram. — sorri — Ao menos isso.
— Ele quer te resgatar. — disse Célia.
Arregalei os olhos. — NÃO. NÃO. NÃO! — disse entrando em desespero. — Eles não podem fazer isso. Precisa falar com eles e...
Ela tirou um tablete e um carregador de dentro das roupas — Fale você mesma.
— Célia... — sussurrei surpresa.
Ela sorriu e depositou um beijo na minha testa — Não deixa o desgraçado do seu pai estragar você. — ela segurou o meu rosto — Eu sinto muito, muito, muito mesmo pela sua avó.
Eu a abracei forte. — Por que isso tá acontecendo comigo? Por quê tia?
— Eu não sei querida... — disse ela com a voz embargada — Eu não sei, mas você não merece nada disso. Mas você precisa saber que não está sozinha. Nunca estará. O Kelvin, o Augusto e a família dele e eu te amamos. Você não está sozinha, Bárbara. — ela se levantou secando as lágrimas — Eu preciso ir preparar a janta. O seu pai disse que receberemos visita... — ela foi interrompida pela porta que foi escancarada.
Célia se virou assustada, mas antes vi que ela empurrou o tablete para debaixo da bandeja.
— Seu Ivan! Que susto! — ela ficou de pé levando as mãos ao peito — Estou tentando fazer a menina se alimentar.
Meu pai entrou em silêncio.
— Vim dar uma noticia boa para a minha filhinha. — ele sorriu. — A irmã do Augusto nasceu hoje.
— O que você fez? — perguntei me levantando, mas ele não precisou responder pois um choro de bebê ecoou ao fundo. — AI MEU DEUS!— eu sai do quarto e corri até a sala com tia Célia me acompanhando, seguimos a direção do choro e vinha da sala. Ao descer as escadas vi a Tia Olívia sentada no sofá, com um bebê no colo e com um dos bandidos no meu pai com um fuzil na mão.
— Bárbara.— disse tia Olívia surpresa — Ele tá te prendendo aqui?
Eu me aproximei dela e do bebê — O que ele fez? Tá machucada? E o bebê?
— Estamos bem.— disse tia Olívia me olhando preocupada — Você que não me parece bem. Seus olhos estão vermelhos. Parece cansada. Ele está machucando você?
Eu não conseguia mais impedir a minhas lágrimas, mas não era hora de preocupar ela.
— Viu só? Eu não sou tão ruim. — disse meu pai descendo as escadas — Trouxe alguém que você gosta. Elas são as nossas convidadas especiais.
— Tá fazendo de refém uma mulher que acabou de dar a luz! — disse o encarando.
— É verdade. Que indelicadeza a minha. Prepare o quarto para a Olívia e o bebê, Célia. Ela precisa descansar para poder jantar conosco. — disse meu pai — Vá para o quarto Bárbara, o seu castigo não acabou.
Eu fui escoltado para o meu quarto.
Quando você pensa que as coisas não podem piorar, elas pioram.
Eu peguei o tablete embaixo da bandeja, eu vi o meu reflexo.
Estava péssima, cabelo bagunçado, olhos inchados e vermelhos.
Se eu contar agora o Augusto vai pirar. Ele vai colocar elas em risco.
Talvez o Nicolas possa ajudar...
Eu coloquei o número do meu chip e sincronizei os contatos do whasttapp.
Bárbara: ME RESPONDE! É URGENTE.
Enviei a mensagem e aguardei.
A respostas chegou em cinco minutos.
Nicolas: Pode falar. Eu estou aqui.
Bárbara: O meu pai sequestrou a mãe do Augusto e a irmã. Ele as trouxe para casa.
Eu não sei o que ele está planejando. Estou com medo. Você precisa falar com o seu pai! Ele já matou a minha avó, não podemos deixar ele fazer mais vitimas.
Enviei e sequei os olhos.
Ele estava escrevendo, mas tinha parado de repente.
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