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Bloqueio Criativo


     Eu me lembro muito bem da primeira vez que fiz algumas coisas.

A primeira vez que fiz uma sombra perfeita um desenho em aquarela.

A primeira vez que escutei a voz da minha mãe, antes eu pensava que a voz de todo mundo era igual.

A primeira vez que dei meu primeiro beijo e meu pé virou porque minhas pernas ficaram meio bambas na frente da Luana Di Carmo, eu fui apaixonado por ela o ensino fundamental inteiro.

E lembro perfeitamente daquela manhã, uma terça-feira nublada de junho, porque foi a primeira vez que a vi de verdade. Thais.

Eu estava sentado na primeira fileira da aula de matemática da segunda série e ela entrou atrás de duas garotas mais altas e menos magras, quase escondida. Essas garotas não me lembro quem são. Thais colocou uma mecha do cabelo dourado para trás da orelha direita e seus pés estavam tão juntos e colados no chão que ela mais parecia uma releitura da escultura de Madalena Arrependida, de Donatello, mas pelas sutis mãos para a arte de Michelangelo. A iluminação sobre ela era a branca e desgastante da sala de aula, mas por ser nela que essa luz batia, era como um pôr-do-sol alaranjado em uma praia deserta no verão. Thaís não disse uma só palavra nesse dia, mas quando seus olhos cintilantes passaram por mim e não pararam, eu sabia que ela era diferente.

Naquele momento quis ela como quis qualquer outra pessoa. Gostaria de pintar seu rosto pontiagudo e sua boca bem delimitada em um dos meus desenhos. Poderia até beijá-la e andar de mãos dadas por alguns dias antes de enjoar e logo encontrar mais um rosto bonito para olhar com intensidade. Mal sabia eu que nela havia um espírito de górgona, moldura exuberante e alma de fera.

Thaís já estava na escola há anos, mas as pessoas mudam muito entre o último ano do ensino fundamental e o primeiro ano do ensino médio. Ela era um exemplo vivo de como um rosto pode se tornar extremamente atraente depois dos 15 anos. Aquela terça foi o dia que enxerguei ela por fora, mas seria só alguns meses depois que me daria conta de que ela era a mulher da minha vida.

— Você tem duas horas para ir e voltar, deveria começar a andar mais rápido. — Scott Preston disse ao meu lado. A barba loira está tapando sua boca, o que deixa mais difícil entender tudo o que ele diz. E para piorar, o inglês dele é uma mistura desafiadora de britânico e americano, por isso sempre preciso me concentrar muito mais que o normal.

— See you — respondo antes de seguir o conselho.

Aperto os passos dentro da Universidade de Londres, desviando das poças que estão nascendo da chuva da noite passada. O verão está começando a dar suas caras.

Prometi para minha irmã mais nova que falaria com ela antes da minha próxima aula, mas isso pressupõe que eu vá conseguir chegar no meu dormitório antes das 16h30min e que consiga sair de lá antes das 17h. Considerando uma distância de 30min que vou precisar fazer em 15min, correr é obrigatório.

Retiro os aparelhos auditivos antes de começar a maratona. Odeio usar eles fora das aulas, mas preciso para conseguir entender meus amigos. Infelizmente não existe uma língua universal de sinais e o conhecimento dos britânicos na língua inglesa de sinais e em mandarim estão no mesmo patamar. Não que eu entenda dela também. Josh me cumprimenta quando passo por ele na entrada do prédio, já estou 10min atrasado e apenas um sorriso deve ser útil. Subo os degraus de dois em dois, pelas escadas vai ser mais rápido. Meu celular está vibrando, já deve ser a Marcela, brava com o meu atraso.

Sinto meu rosto queimando quando finalmente abro a porta no quarto 72. Ofegante, me jogo na cadeira às 16h46. Não gosto de fazer as coisas com pressa, por isso me sinto até um pouco tonto quando começo a ligar o computador.

Droga, Marcela. Eu sei que estou atrasado, não precisa me ligar de novo. Tiro o celular do bolso. Não é a Marcela me ligando. Não é SÓ a Marcela. Engulo em seco. Só pode ser piada.

Eu apaguei o número dela, mas namoramos por mais de um ano e já sei ele de cor. Fico encarando o design verde com a foto dela, muito bonita, enquanto Thais me liga. Faz tempo que não vejo uma foto dela, me proibi de praticar esse tipo de tortura.

Não nos falamos há muitos meses, desde que enviei muitas mensagens querendo encontrar ela no Natal, quando eu estava no Brasil, e Thais ignorou todas. Não nos falamos depois dos meus amigos terem me convencido a apagar o número dela e seguir em frente. Não nos falamos desde que meus pais repetiram, por dias, que ela era apenas meu primeiro amor e que eu teria vários. Faz tempo que não escuto e nem leio o nome dela em nenhum lugar, que não sei da sua vida e sonhos. Sim, faz muitos meses que não nos conhecemos mais e que eu enfiei na minha cabeça de que nunca iriamos voltar. Que esse amor tinha acabado.

Apesar de tudo isso. Não existiu um dia sequer que eu não tenha pensado nela, sozinho e em silêncio, para que ninguém brigasse comigo por ainda sentir meu peito doer de saudade. Também não existiu uma semana que deixei de desenhar uma das partes do seu corpo no meu caderno de rascunhos, nunca juntando esses pedaços.

É só arrastar para um lado ou para o outro. Negar ou aceitar. Por que então parece um jogo da forca onde só tenho mais uma chance para acertar a última letra Deve ser porque, apesar de tudo, Thais é muito, muito, mais do que só mais uma garota. Ela é a pessoa que jogou meu coração no chão e pisou em cima quando mais precisei que ela o segurasse.

— Verificou? — pergunto e coloco o celular de lado, depois de rejeitar a ligação de Thais, e assim que inicio a chama de vídeo com a Marcela. Minha irmã enruga a testa, ela consegue sentir minha cabeça perturbada até por uma tela de computador. Também consigo sentir a dela.

— Pro dia 27 de junho! Tudo certo pra passagem. Você que vai pagar as bagagens no dia? Esse voo não tinha.

— Sim, com o dinheiro que consegui trabalhando com o professor de história contemporânea. Acho que já é hora de começar a ganhar e gastar meu dinheiro.

— Você fala uma coisa feliz e seu rosto fala uma coisa triste. — Ela ergue as sobrancelhas. Temos as mesmas sobrancelhas de taturana atropelada. — A Thais falou com você, não foi?

Marcela já sabe das ligações. Ela não parece irritada por isso, entretanto, o que é estranho, já que elas se odeiam.

— Não, não nos falamos — respondo.

— Ela vai aplicar pra sua Universidade.

Tento controlar surpresa apertando as mãos debaixo da mesa. Thais nunca quis estudar fora, por que faria isso? Ela quer ser atriz, construir carreira no Brasil, o que mudou tanto desde julho do ano passado?

—O pai da Giulia vai ajudar ela, igual fez com você. Acha que ela tem chance?

— Quando vocês se falaram? — Minhas mãos estão tremendo quando pergunto. — Ela tá bem?

— Nos falamos ontem. — Marcela suspira, ela sabe que sua sobrancelha direita mexeu, é o que acontece quando ela mente. — Tudo bem, não foi ela quem me disse. Foi a Giulia, mas achei que você ia querer saber. Pensei que ela fosse tentar falar com você pra pelo menos entender como passou, não acha? Ela é inteligente e não gosta de perder. Faria sentido.

— Não muito — digo, quero logo matar esse assunto.

— Dá última vez que vi ela, no ano passado, parecia triste de verdade. O primo dela nasceu. Estava comprando uma pulseira para ele.

— O Ian? — pergunto. Marcela assente. Essa é uma notícia boa, Thais estava muito animada para conhecer esse bebê. Uma pena que eu nunca vou conhecer. — Não me olha assim, foi ela quem terminou comigo, Ma.

E fez com que meus amigos do Brasil me mandaram mensagem perguntando se tinha trocado ela por alguma britânica com preenchimento na boca.

— Eu também fiquei muito triste, você sabe. Foi escolha dela, eu não fiz nada.

— Eu sei, eu sei. — Marcela faz uma careta, ergo minhas taturanas. — Você não vai ajudar ela, não é? — Foi uma pergunta retórica. — Vocês se odeiam?

— O que? Não — respondo e sorrio. — Claro que não nos odiamos.

Thais seria a última pessoa que eu seria capaz de odiar.

— Mas também não são amigos.

— É... não somos.

Sim. Não somos nem amigos.

Essa notícia me pegou de surpresa, não sei bem o que devo fazer. Ajudar minha ex-namorada a vir estudar na mesma Universidade que eu? Isso implicaria que ela faria seu primeiro ano quando eu estivesse fazendo o meu último e eu provavelmente teria que apresentar a cidade e tudo para ela. Não seria só ajudar Thais a passar. Deus, imaginar ter ela tão perto e ao mesmo tempo tão longe me dá falta de ar.

Meu celular começou a vibrar na mesa, é a foto de Thais brilhando de novo. É egoísta da minha parte. Extremamente egoísta, mas preciso ser. Preciso ser porque qualquer coisa fora desse egoísmo me deixa tonto de angústia. A chateação do nosso término me atormenta como se ele tivesse acontecido ontem.

Thais, com os olhos brilhando de um jeito totalmente diferente de como brilhou durante todo o nosso namoro, com o líquido salgado molhando todo o seu rosto e a boca entreaberta pelo choque. Eu vi o medo dela quase como se fosse um fantasma paralelo ao seu corpo. Ela descobriu uma parte do meu eu e, de repente, era como se não me olhasse mais. Foi como colocar um véu sobre o meu rosto, uma sombra negra separou nossas almas, e Thais fez do meu eu uma dor sobre ela. Rompeu, me empurrou para longe de si como se seu fosse um bicho, e matou nosso amor. Ela fez de nós um eterno adeus, me mostrou como amar pode ser doce e depois me deixou com o amargo terrível na boca, que sinto até hoje. Até agora, nesse segundo, ainda sinto.

— Não vejo a hora de você chegar — Marcela fala, chamando minha atenção. Eu respiro fundo, acabei de bloquear minha ex-namorada e foi como bater o dedinho na quina de um móvel. — São exatamente 6 dias! — Marcela bate palmas logo depois.

Eu estou sorrindo, mas por dentro há um grito agudo tentando escapar. Pela primeira vez estou com medo de ir para casa porque o meu passado pode, literalmente, bater na minha porta. E eu sei que vou largar todo o meu orgulho e abrir.

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Tags: #romance