39. nem todos sem casam por amor.
Marvim estava encostado em sua grande cadeira de couro, o telefone pressionado contra a orelha enquanto sua voz ressoava com frustração.
—— O quê? Como assim Henry não quer mais se casar? —— ele disse, a raiva crescendo a cada palavra. —— Ele deve estar louco! —— Marvim deu um soco na mesa, seus olhos cheios de incredulidade. —— Você diga aos Thompson que isso não vai acontecer. Esse casamento é fundamental para ambas as famílias. Ele não tem escolha!
Do outro lado da linha, o silêncio era uma resposta clara de que a situação não estava sob controle. Marvim respirou fundo, tentando conter a frustração, mas a mão livre já alcançava o copo de whisky sobre a mesa. Em um gole só, ele esvaziou o copo e rapidamente o encheu de novo, seus olhos pesados e sombrios, enquanto a irritação o corroía.
—— Não me importa o que ele disse! —— gritou Marvim. —— Esse casamento vai acontecer! Se ele está "louco", então que internem esse moleque, mas ninguém vai arruinar os meus planos. Entendeu?
A conversa continuou por alguns minutos, com Marvim cada vez mais impaciente e a garrafa de whisky esvaziando cada vez mais rápido. Ele balançava a cabeça, os olhos fixos na parede enquanto as palavras dos Thompson soavam distantes.
Então, a porta do escritório se abriu e Teresa entrou, o rosto cansado e cheio de preocupação. Ela hesitou por um segundo ao ver o estado de Marvim, mas sabia que precisava falar.
—— Marvim —— começou ela, sua voz baixa. ——Amélia ainda está trancada no quarto. Ela não comeu nada o dia inteiro e está tendo ataques de raiva. Eu... eu acho que precisamos fazer algo.
Marvim, já embriagado, virou o rosto para ela, os olhos vermelhos e os pensamentos entorpecidos pelo álcool. Ele respirou fundo, irritado com a nova preocupação.
—— Eu tento, Teresa —— disse ele, sua voz um pouco trêmula, mas ainda cheia de raiva. —— Tento amar essa família, mas não consigo! —— Ele deu um gole profundo no whisky e bateu o copo na mesa, derramando parte do líquido sobre os papéis desordenados. —— Andrew... Andrew é um imprestável! Nunca fez nada direito, só me envergonha. E Amélia? Uma mentirosa! Sempre escondendo coisas de mim.
Teresa permaneceu em silêncio, sentindo o peso das acusações. Sua postura estava tensa, mas ela não sabia como reagir. Marvim, com o olhar embriagado, fixava-se nela como se estivesse procurando alguém para culpar por sua própria frustração.
—— E tudo isso é culpa sua! —— ele disparou, apontando o dedo trêmulo para ela. —— Você nunca soube criar os próprios filhos. Nunca foi uma mãe de verdade. Deixou que eles virassem isso... uma decepção atrás da outra.
Teresa apertou os lábios, seu coração pesado com as palavras cruéis de Marvim. Ela queria responder, queria defendê-los, mas sabia que, naquele estado, ele não a ouviria. Ao invés disso, ela apenas ficou parada, sentindo as lágrimas ameaçarem, mas sem deixá-las cair. As palavras de Marvim ecoavam no silêncio do escritório, enquanto ele voltava a afogar suas mágoas no álcool, cada vez mais distante, tanto emocionalmente quanto fisicamente, de sua própria família.
Marvim balançou a cabeça, sua frustração transformando-se em um desespero ainda mais profundo. Ele virou o restante do whisky de uma só vez e jogou o copo na parede, onde se despedaçou em centenas de pedaços. Teresa deu um leve sobressalto, mas permaneceu imóvel, observando o marido afundar cada vez mais na sua própria raiva.
—— Eu nem posso... —— ele começou, sua voz mais fraca, mas carregada de amargura. —— Nem posso abandonar essa maldita família. Você sabe por quê? —— Ele apontou para ela de novo, seus olhos avermelhados e selvagens. —— Porque eu prometi ao seu pai, Teresa! Prometi que cuidaria dessa família... que faria essa porcaria toda funcionar. E agora olha só! Olha o que essa promessa me custou!
Teresa manteve o olhar fixo, suas mãos apertando a borda do vestido, tentando manter a compostura. Marvim deu um passo vacilante para trás, quase tropeçando, sua raiva chegando a um ponto de ebulição.
—— Sai daqui! —— gritou ele, apontando para a porta. —— Sai daqui, Teresa! Eu não quero mais te ver!
Sem uma palavra, Teresa virou-se lentamente, seu coração pesado, e saiu do escritório, fechando a porta com cuidado atrás de si. O som da madeira se encaixando ecoou pelo corredor, enquanto Marvim, preso em sua raiva e ressentimento, ficou sozinho entre os cacos de vidro e as garrafas vazias.
(...)
Marvim, cambaleando bêbado e com a respiração pesada, abriu a porta do quarto de Amélia com um empurrão, seus olhos avermelhados fixos na filha. Amélia estava sentada na beira da cama, o rosto pálido e o olhar distante, mas quando viu o pai entrar, imediatamente se encolheu, sabendo que ele não estava ali para uma conversa calma.
—— Então... —— ele começou, a voz arrastada, tropeçando nas palavras. —— É culpa sua, não é? Culpa sua que o Henry não quer mais casar com você?
Amélia levantou os olhos devagar, exausta de tantas perguntas e acusações. Ela sabia que não importava o que dissesse, Marvim sempre encontraria uma forma de culpá-la. A voz dela saiu fria e cortante.
—— Talvez... —— ela respondeu, sem qualquer emoção. —— Talvez seja porque o Henry está transando com outro cara. Garotas não interessam a ele.
Por um segundo, houve silêncio no quarto. Marvim ficou parado, absorvendo as palavras de Amélia. E então, num surto de fúria incontrolável, ele avançou e a atingiu com um tapa violento no rosto, o som ecoando pelo quarto. Amélia cambaleou para o lado, levando a mão à bochecha, os olhos arregalados de choque e dor.
—— COMO VOCÊ OUSA? —— Marvim gritou, fora de si, sua mão ainda erguida como se fosse bater novamente.
Antes que pudesse agir outra vez, a porta foi aberta com força e Andrew entrou, o rosto contorcido de raiva e tensão. Ele avançou entre o pai e a irmã, empurrando Marvim para trás.
—— PARE COM ISSO! —— Andrew gritou, sua voz tremendo, mas firme. —— O que diabos você está fazendo?
Marvim, ofegante e descontrolado, tentou se livrar do aperto de Andrew, mas estava bêbado demais para resistir. Ele deu um passo para trás, tropeçando um pouco.
—— Não... não se meta nisso, Andrew! —— Marvim rosnou, mas sua voz já estava mais fraca.
Andrew se virou para Amélia, que ainda estava segurando o rosto, os olhos cheios de lágrimas de dor e humilhação. Ele colocou a mão no ombro dela, protegendo-a, enquanto lançava um olhar furioso para o pai.
—— Saia daqui —— Andrew disse, sua voz firme e controlada, mas carregada de um desprezo que Amélia nunca tinha visto antes. —— Já fez estrago demais.
Marvim hesitou por um momento, mas, finalmente, deu meia-volta, saindo cambaleante do quarto, murmurando xingamentos para si mesmo enquanto a porta se fechava atrás dele.
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