36. pessoas ricas escondem segredos.
Nicholas entrou no pequeno vestiário do clube de tênis com a cabeça baixa e os ombros pesados. O silêncio do local parecia gritar sua despedida. Ele abriu o armário de metal, onde mantinha algumas coisas simples: roupas de trabalho, um par de tênis, e a jaqueta que Amélia havia lhe dado de presente no último inverno. Ele passou a mão por aquela jaqueta de couro já desgastada, lembrando-se do sorriso dela quando o viu experimentá-la pela primeira vez.
Ele sabia que não podia mais ficar ali. Depois da ameaça de Marvim e o cerco ao redor de Amélia, continuar no clube seria não apenas imprudente, mas perigoso. Marvim já havia mostrado do que era capaz, e Nicholas entendia que, se quisesse proteger Amélia, precisaria tomar uma decisão difícil. Ele não iria desistir dela, mas também não podia expô-la mais do que já havia feito.
Rapidamente, ele começou a enfiar suas roupas numa mochila surrada. Cada peça que colocava dentro parecia pesar ainda mais. Ele olhou em volta uma última vez, observando o lugar que havia sido parte de sua vida por tanto tempo. Suas mãos pararam por um momento, hesitantes, mas ele sabia que, para continuar lutando por Amélia, precisava partir.
Fechando o zíper da mochila com força, Nicholas suspirou. Ele caminhou pelo corredor silencioso do clube até a porta dos fundos. Estava decidido: não deixaria que Marvim vencesse. Não importava o quão longe precisasse ir, ele iria encontrar uma maneira de ficar com Amélia.
Ela era sua vida, e ele não desistiria dela, por mais que o mundo ao redor tentasse isso.
Ao sair pela porta, ele sentiu o vento frio da noite tocar seu rosto. Enquanto Nicholas caminhava apressadamente pelo corredor do clube, com a mochila pesada pendurada no ombro, ele ouviu vozes baixas vindo de uma das salas de descanso dos treinadores. Seus passos diminuíram, e ele parou por um momento, ouvindo sem querer a conversa.
—— Você recebeu também? —— perguntou uma das vozes, claramente confusa. —— Convite de casamento da Amélia Harriman e do Henry Thompson?
—— Sim —— respondeu o outro treinador, quase rindo. —— Nem sabia que eles estavam juntos! Foi do nada.
Nicholas sentiu o coração afundar. Um casamento? Ele mal conseguia acreditar no que ouvia.
—– Ah, você sabe como é —— continuou o segundo treinador, com um tom indiferente. —— Esses casamentos entre gente rica acontecem assim, rápido e sem aviso. Tudo por causa das conexões, o dinheiro, a reputação. Não tem nada a ver com amor, é tudo negócio.
Nicholas apertou os punhos, o calor subindo em seu rosto. Ele mal conseguia processar o que estava ouvindo, a raiva e a dor se misturando em seu peito. Marvim estava forçando Amélia a se casar com Henry — e agora, até os convites já estavam sendo enviados?
Aquele casamento arranjado, a pressão, o controle. Ele sabia que Amélia não queria isso. Não era por escolha dela.
Ele se sentou no banco de couro do Mustang, o motor roncando baixo enquanto ele apertava o volante com força. O som abafado do motor parecia ecoar a tensão em seu peito. Seus olhos fixaram-se no motorista dos Thompson, que acabara de entrar em um carro luxuoso, provavelmente depois de entregar mais convites de casamento. O símbolo final da armadilha que Amélia estava prestes a cair.
O suor escorria pela testa de Nicholas enquanto sua mente fervia de ideias. Ele sabia que, se não fizesse algo, Amélia seria levada à força para aquele casamento arranjado. Seus olhos seguiram o carro dos Thompson se afastando do clube, e de repente, tudo ficou claro.
Não havia mais tempo para hesitação.
Ele ligou o carro, o ronco do Mustang agora parecendo mais alto, mais agressivo. O coração de Nicholas batia no mesmo ritmo acelerado do motor. Ele precisava agir. Precisava tirar Amélia daquela vida, daquele controle sufocante. Não importava o risco.
Com as mãos firmes no volante, ele seguiu o carro dos Thompson à distância, sua mente já formulando o próximo passo. Nicholas sabia que não podia enfrentar Marvim de frente — pelo menos não ainda. Mas havia outras formas de vencer esse jogo, outras formas de salvar Amélia antes que fosse tarde demais.
Determinando a rota em sua mente, ele apertou os lábios. Aquilo não era só por amor, era por liberdade. Ele e Amélia mereciam algo melhor. E ele lutaria por isso com cada gota de força que tinha.
(...)
Amélia estava sentada no sofá da sala principal de sua casa, cercada por suas "amigas" da escola, todas conversando animadamente sobre vestidos, flores e a cerimônia iminente. O sorriso que forçava era frágil, quase doloroso, enquanto suas mãos apertavam uma xícara de chá com força, como se tentasse se segurar à realidade em meio à tempestade de falsidade ao seu redor.
—— E o que aconteceu com aquele outro namorado seu, Amélia? —— uma das garotas perguntou, com um sorriso malicioso no rosto, enquanto outra acrescentava em meio a risos: —— Acho que ele não era rico o suficiente, né?
O riso ecoou entre elas, mas Amélia permaneceu calada, forçando um sorriso tenso, enquanto seu estômago se revirava. As palavras delas eram uma faca em sua pele, cada risada uma lembrança do quanto sua vida estava fora de seu controle. O nome de Nicholas pairava sobre ela como um segredo amargo, e sua ausência pesava ainda mais naquele ambiente superficial.
De repente, a porta se abriu e Henry entrou com alguns amigos ao seu lado. Seu sorriso era largo e ensaiado, e ele foi direto até Amélia, pegando sua mão e, com uma elegância forçada, beijou-a diante de todos.
—— Amélia, minha noiva querida —— disse ele, com a voz suave, mas fria, enquanto suas amigas suspiravam e cochichavam entre si.
A intimidade forçada era desconfortável, mas Amélia manteve o sorriso no rosto, embora sua expressão denunciasse o desconforto. O toque de Henry era vazio, sem nenhuma das emoções que ela tanto desejava.
Aquilo não era amor.
Nesse momento, um dos amigos de Henry entrou, atrasado, e o ambiente mudou. O clima na sala ficou pesado, como se um segredo não revelado pairasse no ar. Amélia sentiu imediatamente a tensão. O olhar entre Henry e o recém-chegado era carregado de algo não dito. O garoto, alto e de semblante fechado, olhou diretamente para Henry, com uma expressão que misturava irritação e desconforto.
—— Vejo que você está adiantado nos preparativos — disse ele, a voz baixa e forçada, enquanto se aproximava de Henry. —— Quem diria, Henry, você se casando tão... cedo.
Henry sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Algo estava errado, e Amélia podia sentir. Ela não sabia exatamente o que, mas havia uma desconexão entre Henry e aquele amigo que não podia ser ignorada. A irritação velada do garoto era palpável, e por um segundo, ela se perguntou se Henry também estava escondendo algo — assim como ela estava.
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