35. corações partidos.
Nicholas estava sentado em uma cadeira de metal em um galpão escuro e vazio, suas mãos amarradas às costas da cadeira. O cheiro de umidade e ferrugem enchia o ar, e a única luz vinha de uma lâmpada solitária pendurada no teto, balançando levemente. Seus pulsos doíam, e o silêncio do lugar fazia a tensão aumentar a cada segundo. Ele sabia que não estava ali por acaso. Marvim Harriman havia finalmente decidido agir.
A porta de metal rangeu quando se abriu, e os passos firmes ecoaram pelo chão. Marvim entrou no galpão, o rosto frio, sem qualquer traço de emoção. Ele parou em frente a Nicholas, olhando-o de cima, seus olhos estreitos e desdenhosos. O contraste entre o terno impecável de Marvim e o ambiente sombrio ao redor só tornava a cena mais ameaçadora.
Nicholas respirou fundo, tentando se manter firme, mesmo com o medo subindo por sua espinha.
—— Você sabe o que é isso? —— começou Marvim, com um tom controlado, mas cortante, enquanto gesticulava vagamente para o galpão ao redor. —— Isso é o mundo real, Nicholas. O mundo dos homens que tomam decisões. O mundo onde garotos como você não pertencem.
Nicholas manteve o olhar fixo, sua mandíbula travada, mas não disse nada.
Marvim deu um passo à frente, se inclinando ligeiramente. —— Eu sei que você ama minha filha —— ele disse, como se estivesse compartilhando uma verdade óbvia. —— E talvez ela tenha convencido a si mesma de que também ama você. Mas isso... isso precisa acabar.
Nicholas tentou se mexer, mas as cordas apertadas o mantinham imóvel. —— Você não pode simplesmente nos separar. Ela tem o direito de escolher —– ele finalmente murmurou, sua voz rouca de frustração.
Marvim riu, uma risada seca e vazia, cheia de desdém. —— Você acha que isso é sobre escolha? Garotas como Amélia não têm escolha. Elas nascem dentro de uma realidade, e cabe a mim, como pai, garantir que essa realidade não seja manchada por ilusões de liberdade.
Ele se endireitou, ficando ainda mais imponente. —— Se você continuar tentando ficar com minha filha, Nicholas, ela é quem vai pagar o preço. Eu juro que vou fazer a vida dela miserável. Ela vai perder tudo o que eu garanti para ela.
Nicholas engoliu seco, o desespero crescendo em seu peito. —– Você não pode machucá-la desse jeito...
Marvim se aproximou ainda mais, agora com o rosto a poucos centímetros do de Nicholas. —– Posso. E vou. A menos que você a deixe em paz. Para sempre.
A ameaça pairou no ar, pesada e insuportável. Nicholas fechou os olhos por um momento, sentindo o peso da escolha que teria que fazer. O silêncio do galpão se tornou ensurdecedor.
—— Você vai deixá-la, Nicholas —– Marvim sussurrou, suas palavras afiadas como uma lâmina. —— Ou ela vai sofrer as consequências da sua teimosia.
Sem esperar resposta, Marvim se afastou lentamente, deixando Nicholas sozinho com o eco de suas palavras.
(...)
Amélia despertou com um sobressalto, seus olhos se ajustando à luz suave que invadia o escritório do pai. Ela piscou algumas vezes, confusa, enquanto sentia o corpo dolorido por ter dormido de forma desconfortável em um sofá de couro. Seus pulsos estavam livres, mas a sensação de estar presa não a abandonava. O ar ali era denso, opressor, como se cada objeto naquele escritório carregasse o peso da autoridade de Marvim Harriman.
Ela tentou levantar, mas o som da porta se abrindo fez seu coração disparar. Marvim entrou primeiro, o rosto impassível como de costume. Atrás dele, Teresa, sua mãe, olhava preocupada, segurando uma bolsa com as duas mãos, os dedos pálidos de tanto apertar. Amélia percebeu o olhar aflito de sua mãe, mas sua própria raiva e medo a impediram de sentir qualquer conforto.
—— Amélia, querida... —— Teresa começou a falar, sua voz tremendo enquanto dava um passo na direção da filha.
Amélia se afastou bruscamente, quase tropeçando para trás, levantando a mão como um escudo. —— Não. Não se aproxime —— ela disse com uma firmeza que surpreendeu até a si mesma. Seu olhar se voltou para o pai. —— O quê você fez?
Marvim ignorou a pergunta, andando até sua mesa de trabalho com uma calma perturbadora. Ele ajeitou a cadeira, como se nada de extraordinário estivesse acontecendo, e então se virou para Amélia. —— Você acha que pode fugir de mim, Amélia? Que pode simplesmente sair por aquela porta e viver uma vida que não foi feita para você?
Ela o encarou com uma mistura de medo e fúria, seus punhos cerrados ao lado do corpo. —— Você não pode me manter aqui para sempre —– ela disse, sua voz falhando levemente. —— Eu vou encontrar um jeito de ir embora. Vou estar com Nicholas.
Marvim soltou uma risada baixa, sem alegria, e olhou para Teresa, que permanecia imóvel, sem saber o que fazer. —— Eu te disse que ela ainda é ingênua, Teresa —— ele comentou casualmente, como se Amélia nem estivesse ali. —– Seus filhos... acham que o amor pode superar qualquer coisa.
Ele então voltou sua atenção para a filha, seus olhos escuros fixos nos dela. —— Não importa onde você vá, Amélia. Não importa quantas vezes você fuja, quantas malas você faça ou quantos planos você tente. Eu sempre vou te encontrar. —— Sua voz era fria, mas cheia de convicção. —— E é para cá que você sempre vai voltar.
Amélia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela sabia que Marvim tinha os recursos e o poder para cumprir essa promessa. As palavras dele pesavam como correntes invisíveis, e a sensação de impotência tomava conta dela.
Teresa, ao lado, deu um passo tímido em direção a Amélia novamente. —– Querida... por favor, entenda. Seu pai só quer o melhor para você. Ele está tentando protegê-la —— disse com uma voz implorativa, como se acreditasse que aquilo era a verdade.
Amélia olhou para a mãe, seus olhos cheios de mágoa. –— Você não entende. Vocês dois não entendem o que é amar alguém. —— Ela balançou a cabeça, dando um passo para trás em direção à porta, mas logo percebeu que não havia para onde ir. —– Vocês não se amam.
Marvim se aproximou de Amélia, seus olhos sombrios e fixos nela, como se cada palavra que ele dissesse estivesse destinada a esmagar qualquer esperança que ela ainda pudesse ter. Ele parou a poucos passos dela, a tensão no ar quase palpável.
—— Se você pensa em encontrá-lo novamente, Amélia... eu vou machucar Nicholas. E não só ele —— Marvim continuou, sua voz baixa e ameaçadora. —— Eu vou atrás da família dele também. Todos eles. Nenhum deles vai estar a salvo de mim.
Amélia sentiu o sangue gelar em suas veias, e seu corpo ficou paralisado por um momento. Aquelas palavras eram como facas, cortando fundo, muito além da sua própria segurança. Era Nicholas, a pessoa que ela amava, que estava em perigo agora. E por causa dela.
Marvim percebeu o impacto de suas palavras e sorriu friamente antes de continuar. —— Eu já fiz isso antes, sabe. Lembra da ex-namorada do seu irmão? Erica, não é? Ela teve aquela ideia ridícula de ser livre, de viver uma vida diferente do que planejamos. E olha o que aconteceu com ela... Desapareceu, não foi? E Andrew voltou ao controle, exatamente como deveria ser.
Amélia recuou, os olhos arregalados. Ela nunca soube o que realmente tinha acontecido com Erica, mas aquelas palavras de Marvim revelavam algo mais sombrio do que ela jamais poderia ter imaginado. Ele fez aquilo. Ele tirou Erica da vida de Andrew. Ele destruiu os sonhos dela. E agora, ele estava prometendo fazer o mesmo com Nicholas.
—— Você gosta tanto assim de Nicholas, não é? —— Marvim provocou, inclinando-se ligeiramente para ela, sua presença ameaçadora. —— Então, se você realmente se importa com ele, você vai fazer a coisa certa. Vai me obedecer. Porque se não fizer... eu prometo que ele vai sofrer. E vai ser por sua causa.
Amélia lutava para respirar, o pavor apertando seu peito como uma corrente. Ela queria gritar, correr, fazer qualquer coisa. Mas estava presa, com as mãos atadas pela ameaça que pairava sobre Nicholas e aqueles que ele amava. Ela sabia que, se continuasse lutando, o preço seria alto demais.
Marvim deu um passo para trás, seus olhos ainda fixos nela, esperando a resposta que sabia que viria. Ele sempre conseguia o que queria.
Marvim se virou para Teresa, ainda preso em seu ar autoritário e frio. —— Teresa —— ele começou, com a voz calma, mas firme, —— Quero que você entre em contato com a família Thompson o quanto antes. Marque um encontro com eles. Vamos formalizar o noivado de Amélia e Henry antes que as coisas saiam de controle.
Teresa, que até então permanecia em silêncio, olhou para Amélia com uma mistura de culpa e hesitação nos olhos, mas sabia que não podia contrariar Marvim. Ela assentiu lentamente, forçando um sorriso que não alcançava os olhos. —— Claro, Marvim. Vou fazer isso imediatamente.
Amélia, sentada no canto da sala, sentiu o chão desaparecer debaixo de seus pés. Noivado? Henry Thompson? As palavras de Marvim se misturavam em sua mente, e o pânico crescia. Ela sabia que seu pai sempre tivera planos para ela, mas ouvir aquilo era sufocante, como se ele estivesse enterrando qualquer esperança que ela ainda pudesse ter de ficar com Nicholas.
—— Pai, por favor... eu não posso casar com Henry ——Amélia tentou argumentar, a voz fraca de desespero.
Marvim, sem sequer se virar para ela, respondeu com uma calma assustadora. —– Você não tem escolha, Amélia. É o melhor para todos. Quanto mais cedo você aceitar isso, melhor será para você. —— Ele lançou-lhe um último olhar ameaçador antes de sair da sala, deixando-a em um silêncio devastador.
Teresa, visivelmente desconfortável, evitou o olhar da filha enquanto saía da sala para seguir as ordens de Marvim.
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