Amélia subiu as escadas, seu coração ainda acelerado pela adrenalina da noite. Depois de um jantar que parecia ter durado uma eternidade, ela se sentia curiosa e ansiosa para saber a opinião de seu pai sobre Nicholas. Com passos decididos, ela se dirigiu ao escritório de Marvim e bateu levemente na porta antes de entrar.

Ele estava deitado na mesa, olhando alguns papéis, mas ergueu a cabeça ao ouvir o barulho. —— Amélia —— disse ele, com um sorriso que se desfez rapidamente em uma expressão mais séria. —— Já está tarde.

—— Eu só queria saber o que você achou do Nicholas —— Amélia disse, tentando manter a voz firme, mesmo com a expectativa crescendo dentro dela.

Marvim suspirou e se recostou na cadeira. —— Bem... eu tenho algumas ressalvas —— ele começou, ponderando suas palavras. —— Ele é um pouco mais velho do que você, e eu não gosto da ideia de ele não morar com os pais. Isso pode significar que ele tem responsabilidades diferentes. E quanto ao trabalho... não estou totalmente certo se ele é tão sólido quanto gostaria.

Amélia franziu a testa, mas não deixou que sua decepção transparecesse. —— Mas você gostou dele? —— perguntou, quase implorando por uma confirmação.

—— Sim, eu gostei dele —— Marvim admitiu, cruzando os braços. —— Ele se comportou bem à mesa, e você parecia feliz.

Um sorriso brotou no rosto de Amélia. —– Então, o que você acha do nosso namoro?

—— Eu aprovo —— ele disse, fazendo um gesto com a mão, como se tentasse ordenar seus pensamentos. —— Mas existem limites. Não quero que fiquem sozinhos em quartos com as portas fechadas, e nada de carícias em público, entendeu?

Amélia assentiu rapidamente, absorvendo cada palavra. —— Claro, pai. Sem problemas.

Marvim sorriu levemente, sua expressão suavizando. —— Só quero que você se lembre de que, acima de tudo, você deve focar em seus estudos e no tênis. Já que tudo isso foi por causa do tênis, não é?

—— Sim, eu sei —— Amélia respondeu, a mente ainda fervilhando que seu plano de mentira havia dado certo. —— Obrigada, pai.

Com um aceno, ela se despediu e deixou o escritório, seu coração agora leve, ela poderia jogar tênis em paz.

(...)

No dia seguinte, Amélia saiu do treino com um sorriso radiante no rosto. O sol brilhava intensamente, e ela se sentia leve, como se todas as preocupações tivessem desaparecido. Com passos rápidos, ela caminhou até a lavanderia, a excitação crescendo a cada momento que se aproximava de Nicholas.

Ao abrir a porta, ela avistou Nicholas organizando algumas roupas. Ele levantou os olhos, e um sorriso espontâneo surgiu em seu rosto ao vê-la.

—— Deu certo! —— ela exclamou, não conseguindo conter a alegria. —— Meu pai aprovou o nosso... falso namoro. Agora posso me concentrar apenas no tênis!

Nicholas a olhou com surpresa e, em um momento de pura felicidade, ele a pegou pela cintura e a levantou do chão, girando-a em um abraço animado. Amélia riu, o coração acelerado pela alegria e pela proximidade dele. Assim que ele a colocou de volta no chão, ela sentiu uma onda de timidez a envolver. Os olhares deles se encontraram, e o clima ficou um pouco mais intenso.

Tentando recobrar a compostura, Amélia puxou um envelope do bolso. —— Aqui —— ela disse, estendendo a mão para ele. —— Este é o seu pagamento pelo... serviço.

Nicholas olhou para o envelope e depois para ela, surpreso. —— Trinta mil? Você realmente está me pagando por isso?

—— Sim, eu disse que pagaria —— Amélia respondeu, com um toque de nervosismo na voz. —— Você me ajudou muito, e isso é o mínimo que eu posso fazer.

Ele pegou o envelope com um sorriso, mas seus olhos brilharam de forma que a fez sentir um frio na barriga.
Ambos se olharam por um momento, o calor da conexão entre eles se intensificando, a garota apenas balançou a cabeça de afastando.

Amélia se sentou em um dos balcões da lavanderia, sentindo a leveza da conversa. Com um sorriso no rosto, ela olhou para Nicholas.

—— Você foi muito bem naquela noite. Sério, eu poderia até me apaixonar por você.

Nicholas parou, uma expressão de surpresa e confusão se espalhando pelo seu rosto. —— O que? —— Ele arqueou uma sobrancelha, tentando decifrar se tinha entendido direito.

Amélia se sentiu corar instantaneamente, percebendo a implicação do que havia dito. Rapidamente, ela reformulou a frase. —— Quero dizer, eu poderia me apaixonar pelo... Nicholas que você inventou no jantar. O cara perfeito que você criou.

Um silêncio constrangedor pairou entre eles, e Amélia desviou o olhar, tentando disfarçar o rubor que se espalhava por suas bochechas. Nicholas também parecia embaraçado, seu olhar se fixando em algum ponto distante, como se estivesse tentando processar as palavras dela.

—— Ah, entendi —— ele disse, um sorriso nervoso surgindo em seus lábios. —— Bem, fico lisonjeado que você tenha gostado da performance.

—– Foi mais do que uma performance —— Amélia retrucou, ainda um pouco envergonhada. —— Você realmente se saiu bem.

Nicholas riu suavemente, quebrando a tensão. —— Acho que posso começar a considerar isso como uma nova carreira.

—— Com certeza, talvez daqui uns anos você interprete um rico assassino.

Amélia riu, mas o clima entre eles havia mudado. As palavras pairavam no ar, carregadas de um significado que os dois começaram a perceber.

(...)

Após o expediente, Nicholas caminhou com os livros em mãos em direção à sala de Warren, seus passos ecoando no corredor quase vazio do clube. Ele sentia um misto de satisfação e alívio ao saber que havia completado a tarefa que Amélia lhe confiara. Ao entrar na sala, ele avistou Warren sentado à mesa, olhando alguns documentos.

—— Terminei com os livros —— disse Nicholas, colocando-os em cima da mesa de forma casual.

Warren olhou para os livros, surpreso. —— Por que você precisava de livros sobre Harvard? —— Ele ergueu uma sobrancelha, intrigado.

Nicholas deu de ombros, tentando parecer despreocupado. —— Não é nada especial.

Ele sabia que a verdade sobre seus interesses e suas intenções em relação a Amélia era muito mais complexa do que qualquer explicação simples que pudesse dar.

Nicholas assentiu, agradecendo a sabedoria implícita dos livros de Warren. Enquanto se afastava da mesa, uma parte dele se perguntava se algum dia teria a coragem de revelar a verdadeira razão pela qual estava se envolvendo nesse mundo de mentiras e ilusões.