Os dias passaram rapidamente, e Amélia se viu envolvida em uma rotina de treinos intensos e compromissos sociais. As semanas pós verão foram marcadas pela expectativa e ansiedade, mas em um sábado ensolarado, ela e algumas amigas foram convidadas para assistir a uma competição de tênis entre garotos amigos de suas famílias.

Sentadas na arquibancada, as meninas estavam animadas, suas vozes se misturando à brisa quente. Elas observavam os jogadores, analisando cada movimento e avaliando quem, na visão delas, era o mais atraente.

—— Olha aquele ali, com a camiseta azul. Ele é lindo! —— uma delas exclamou, balançando os cabelos com entusiasmo. Outra concordou: —— Sim! E aquele de boné parece ser tão charmoso.

Amélia, no entanto, estava em um estado bem diferente. Enquanto suas amigas se perdiam em comentários sobre a aparência dos garotos, ela não conseguia desviar o olhar do jogo em si. Os rapazes, embora bem-intencionados, pareciam completamente descoordenados em suas jogadas. Um deles errava consistentemente saques, e outro parecia mais interessado em impressionar do que em jogar.

—— Vocês estão vendo isso? Ele acaba de errar a terceira bola seguida! —— Amélia não pôde deixar de murmurar para si mesma, cruzando os braços enquanto observava a cena. As meninas ao seu redor riram, sem perceber a frustração no olhar dela. —— Ai, Amélia, você precisa relaxar! É só um jogo —— uma delas disse, piscando para ela. —— Vamos nos divertir um pouco! Olha como ele sorri!

Amélia não respondeu, seu olhar fixo na quadra. —— Mas eles estão tão longe do que o verdadeiro tênis deveria ser —— Ela pensou.

Lembrando-se dos treinos exaustivos com Kevin e da pressão constante para se tornar a melhor. Sua mente estava ocupada, os olhos se movendo de um jogador para outro, cada erro como um pequeno alarme dentro dela.

—— Você deveria sair com um deles, Amélia! —— outra amiga brincou, puxando-a de volta à conversa. —— Eles podem não ser os melhores jogadores, mas estão tão lindos! E você seria a estrela do colégio, namorando um deles.

Amélia forçou um sorriso, mas sua mente continuava a se distanciar da ideia. —– Não sei. —— ela respondeu, seus pensamentos ainda concentrados nas jogadas mal feitas. ——!Eu só... não estou interessada em caras que não levam o tênis a sério.

Enquanto a competição avançava, Amélia sentia a pressão de ser a melhor, tanto no jogo quanto nas relações que suas amigas estavam buscando. Observando as risadas e as conversas ao seu redor, ela percebeu que, naquele momento, o que mais desejava era encontrar alguém que compartilhasse sua paixão pelo esporte e entendesse as pressões que a acompanhavam.

Enquanto o jogo prosseguia, Amélia, sentada na arquibancada, viu Nicholas caminhando lentamente em direção à lavanderia no fundo do clube. Ele carregava uma cesta cheia de roupas, e o movimento gracioso de seus passos a fez desviar a atenção da competição. A cena tinha algo intrigante — ele parecia tão concentrado em seu trabalho, tão diferente dos garotos que estavam na quadra.

A mente de Amélia começou a girar em torno dele, lembrando de como tinha pensado nele durante a semana, mesmo nas horas em que deveria estar focada nos treinos ou nos compromissos sociais. Algo sobre Nicholas a atraía, e ela não conseguia evitar. Era a forma como ele a fazia sentir-se vista de maneira diferente, como se houvesse mais a oferecer do que as aparências superficiais que a cercavam. 

—— Eu vou ao banheiro —— ela mentiu para suas amigas, levantando-se rapidamente antes que elas pudessem questionar mais. O grupo continuou rindo e comentando sobre os garotos em quadra, mas Amélia não podia mais ignorar a vontade de ver Nicholas.

Ela se afastou da arquibancada, sua mente pulsando com uma mistura de excitação e nervosismo. Ao atravessar o pátio, sentia o calor do sol e o cheiro da grama recém-cortada, mas nada disso importava tanto quanto o impulso de se aproximar dele.

Quando se aproximou da lavanderia, o coração de Amélia disparou. Nicholas estava ali, dobrando cuidadosamente as roupas e organizando-as com um foco que quase a hipnotizava. A luz do sol filtrava-se pela janela, iluminando seu rosto de forma suave, e por um instante, Amélia hesitou, observando-o.

Ela se lembrou de como ele havia sorrido para ela na festa, do jeito como ele parecia genuinamente interessado nas anotações que fizera. Esse pequeno gesto havia se fixado em sua mente, crescendo como uma pequena chama que não conseguia apagar.

Com uma respiração profunda, ela se aproximou, decidida a interromper o silêncio que a cercava. —— Oi... —— disse, sua voz mais suave do que esperava.

Ele levantou a cabeça, surpreso, mas imediatamente um sorriso se formou em seus lábios. —— Oi, Amélia! O que você está fazendo aqui?"

—— Só... saindo do jogo —— ela respondeu, tentando soar despreocupada. —— Como vai o trabalho?

—— Ah, só mais um dia na lavanderia, —— ele disse, rindo levemente, e Amélia percebeu como aquele riso era contagiante.

Nicholas olhou para Amélia com curiosidade, um sorriso maroto surgindo em seus lábios. —— Então, você veio ver o namorado jogar? —— Ele perguntou, meio brincando, mas sua expressão era genuína.

Amélia balançou a cabeça, rindo levemente. —— Na verdade, nenhum daqueles garotos é meu namorado.

Ela se aproximou e se sentou no balcão ao lado das roupas limpas que Nicholas dobrava, sua postura relaxando ao se distanciar um pouco da competição e da pressão do mundo exterior.

—— Faz sentido —— ele respondeu, olhando para ela com um brilho de interesse. —— Com certeza você deve ter um namorado muito mais interessante do que todos eles.

Havia uma leveza na forma como ele falou, como se estivesse brincando, mas ao mesmo tempo, havia um toque de sinceridade que a fez se sentir especial.

Amélia hesitou, seus olhos fixos nos dele, e por um momento, o tempo parecia parar. —— Na verdade, —— ela disse, o coração acelerando, —— Eu não tenho namorado. —— A confissão escapou de seus lábios antes que pudesse pensar melhor, e ela se surpreendeu com a liberdade que sentia ao admitir isso.

Nicholas manteve o olhar firme, e a intensidade do momento parecia aumentar. A atmosfera ao redor deles, com o leve cheiro de detergente e o barulho distante do jogo, se tornava insignificante. O sorriso que dançava em seus lábios sugeria que ele estava pensando a mesma coisa que ela.

—— Sem namorado? —— ele comentou, a sinceridade em sua voz fazendo com que Amélia se sentisse ainda mais à vontade.

Amélia sorriu timidamente, sentindo-se um pouco envergonhada, mas também lisonjeada. —— Às vezes, parece que é mais fácil ser a estrela do tênis do que encontrar alguém que realmente se importa —— ela admitiu, seu olhar nunca se desviando do dele.

Nicholas inclinou-se ligeiramente para frente, a troca de olhares se prolongou, e, por um breve instante, Amélia sentiu que estava vendo mais do que um simples garoto que trabalhava na lavanderia. Havia uma profundidade nos olhos de Nicholas que parecia entender. Ali, cercados pelo cheiro de roupas limpas e o eco distante do tênis.