09. os harriman no negócio.
A música suave preenchia o salão do Imperial Heights, enquanto Amélia observava a festa se desenrolar à sua volta. As luzes baixas criavam um ambiente acolhedor, e o riso e o murmúrio das conversas se misturavam em uma sinfonia animada. No entanto, ela sentia que era apenas um peão na imensa e elaborada peça de xadrez que era a vida de sua família.
Amélia estava vestida em um deslumbrante vestido azul que sua mãe escolhera com tanto esmero, e enquanto olhava em volta, a confiança que lhe havia sido incutida parecia se dissipar, dando lugar a um leve desconforto. Observava seu pai, Marvim Harriman, em um canto do salão, cercado por homens influentes e empresários que pareciam interessados em sua conversa. Ele frequentemente a chamava, apresentando-a como a jovem promessa do tênis, um talento que ele tanto almejava que a transformasse na estrela do esporte.
—— Esta é minha caçula, Amélia Harriman, —— dizia Marvim com um sorriso orgulhoso, —— A próxima grande jogadora de tênis. O que você acha, não acha que ela tem potencial?
A maneira como ele falava, como se estivesse exibindo um troféu, fazia seu estômago revirar. Ela forçou um sorriso, mas sentia-se como se estivesse em uma vitrine, o olhar curioso dos convidados a avaliando como se fosse uma mercadoria. Ao seu lado, Andrew, seu irmão mais velho, era frequentemente mencionado como o futuro proprietário da empresa de imobiliárias da família, uma perspectiva que também não a deixava à vontade.
Amélia se afastou um pouco do grupo, em busca de um refúgio em um canto mais tranquilo do salão. Foi então que notou sua mãe, Teresa, em uma conversa animada com outras esposas de empresários. Teresa gesticulava com entusiasmo, seus olhos brilhando enquanto falava sobre as últimas tendências de moda e as próximas festas. Amélia percebeu que sua mãe estava muito mais à vontade nesse ambiente, e isso a deixou um tanto alheia ao seu próprio desconforto.
Enquanto as conversas continuavam ao seu redor, Amélia sentiu a pressão aumentar. Era como se cada palavra de sua mãe e cada comentário de seu pai a empurrassem mais para o centro da cena, e ela se perguntava se algum dia teria a chance de ser apenas ela mesma, sem as expectativas e os títulos que a cercavam.
Quando finalmente se afastou do grupo de mulheres, Amélia decidiu caminhar até o terraço, onde o ar fresco a aguardava. Ela precisava de um momento para respirar, para lembrar quem realmente era, longe dos olhares e das exigências. No entanto, o ambiente estava se tornando opressivo, e ela precisava de um momento de tranquilidade, longe dos olhares curiosos e das conversas sobre sua vida.
Enquanto caminhava, notou uma porta entreaberta, com uma luz suave vazando de dentro. Atraída pela ideia de um refúgio temporário, ela empurrou a porta com suavidade e entrou. A sala era bem iluminada, decorada com móveis elegantes e uma estante repleta de livros de negócios e histórias do clube. Em um canto, uma mesa grande dominava o espaço, e foi então que seu olhar se deteve na placa dourada que repousava sobre ela: "Warren Carter".
Amélia sentiu uma onda de alívio ao perceber que o gerente do clube não estava ali. Com um suspiro profundo, ela se dirigiu à cadeira em frente à mesa e se sentou, desfrutando do silêncio que a envolvia. A poltrona era confortável, e ao se recostar, ela deixou escapar um sorriso sutil, sentindo-se um pouco mais tranquila, mesmo naquele espaço que não lhe pertencia.
Olhou em volta, observando as fotos emolduradas que adornavam as paredes. Algumas retratavam momentos memoráveis de torneios de tênis, outras mostravam eventos do clube com figuras proeminentes da sociedade. Amélia se perdeu por um momento, admirando a trajetória e a importância do lugar.
(...)
Nicholas estava imerso na movimentação da festa, sua atenção dividida entre as anotações que fazia e as interações que aconteciam ao seu redor. Ao lado de Warren, o gerente do clube, ele se esforçava para capturar cada detalhe importante: nomes de convidados, conversas estratégicas e acordos que poderiam moldar o futuro do Imperial Heights. O ambiente era vibrante, repleto de risos e conversas animadas, mas para Nicholas, era também um palco onde as oportunidades se apresentavam como sombras no horizonte.
Ele observava Marvim Harriman de longe, o patriarca da família que era o centro das atenções. Marvim gesticulava com entusiasmo enquanto falava com outros empresários, sua presença imponente atraindo olhares admirados. Nicholas não pôde deixar de se sentir um tanto deslocado, consciente de sua posição como um mero assistente temporário enquanto aqueles homens discutiam grandes negócios e investimentos. A cada risada e trocadilho, ele percebia o abismo que o separava do mundo que aqueles homens habitavam.
Enquanto tentava acompanhar a conversa ao seu redor, Nicholas sentiu sua caneta começar a falhar. Ele passou os dedos pela ponta, mas não havia jeito. Com um suspiro frustrado, decidiu que precisava de outra caneta. —— Desculpe um momento, Warren —— disse, erguendo-se e fazendo um gesto de desculpas antes de se afastar em direção ao escritório.
Ao entrar na sala, foi recebido por uma brisa de calma que contrastava com a agitação do salão. O espaço estava vazio, ou foi o que ele pensou, e ele se permitiu um momento de alívio.
Nicholas entrou no escritório, ainda segurando a caneta nova que havia encontrado. Ao olhar em volta, seus olhos se fixaram em Amélia, que estava sentada na poltrona, olhando pensativa para o teto. Um misto de surpresa e curiosidade tomou conta dele.
—— O que você está fazendo aqui? —— ele perguntou, mantendo um tom casual, mas com um leve toque de preocupação na voz. A última coisa que ele queria era que ela se sentisse ameaçada pelo seu tom de voz.
Amélia virou-se para ele, seu rosto iluminando-se ao vê-lo. —— Só precisava de um momento a sós —— respondeu, mas logo sua curiosidade se manifestou. —— E você? O que está fazendo aqui?
Nicholas hesitou por um instante, então levantou a pasta onde anotava todas as interações. —— Estou ajudando Warren a documentar tudo que acontece na festa. As conversas, os empresários, tudo o que pode ser importante para o clube —— explicou, mostrando as anotações em sua prancheta.
Amélia se inclinou para frente, observando com interesse. —— Posso ver? —— perguntou, e ele assentiu, entregando a prancheta para ela. Seus olhos escanearam rapidamente as anotações e pararam em uma linha que continha o nome de seu pai.
—— Marvim Harriman, —— ela leu em voz alta. —— Você não anotou nada sobre ele?
Nicholas sentiu a cor subir em seu rosto, frustrado. —— Eu não consegui acompanhar tudo. Tem muita coisa acontecendo e... bem, não sou exatamente um insider nesse mundo, —— admitiu, tentando manter a leveza na conversa.
Amélia franziu a testa, mas em vez de criticar, uma expressão decidida tomou conta de seu rosto. —— Deixe-me ajudar. Meu pai tem algumas reuniões planejadas esta noite. Ele vai querer conversar com alguns empresários específicos para fechar negócios.
Nicholas a observou, surpreso e admirado. —— Sério? Você sabe quem ele está tentando encontrar?
—— Claro! —— disse Amélia, já levantando-se da poltrona, sua energia voltando ao mesmo tempo em que sua mente começava a trabalhar. —— Ele vai querer falar com o Sr. Thompson e a Sra.Velasco. E também não pode esquecer do Sr. Martin. Eles são essenciais para os novos projetos que ele está planejando.
Nicholas pegou a caneta e rapidamente começou a anotar as informações. —— E o que mais? —— ele perguntou, concentrando-se em cada palavra que saía da boca dela.
Amélia continuou a listar nomes, sua confiança crescendo à medida que falava. —– Ah, e não podemos esquecer do Sr. O'Reilly! Ele pode ser difícil de lidar, mas é uma peça-chave. Se meu pai conseguir garantir uma conversa com ele, isso pode abrir um novo contrato de imobiliárias.
Ele anotou cada nome e observou como a expressão de Amélia mudava, passando de um estado de desconforto para uma determinação intensa. Era como se a festa, com toda a sua pompa, tivesse desaparecido e ela estivesse de volta ao seu elemento, falando sobre o que realmente importava para ela e sua família.
—— Obrigado. —— disse ele, sentindo-se grato por sua ajuda. —— Isso é incrível.
Ela sorriu, um brilho em seus olhos. —— Só quero garantir que perca nada. —— respondeu, sua voz mais suave. —— E, honestamente, é divertido ajudar.
Nicholas olhou para ela, admirado não apenas por seu conhecimento, mas pela ordem que ela demonstrava. Enquanto anotava os últimos nomes, uma ideia se formou em sua mente.
—— Talvez eu devesse anotar você também —— ele brincou, fazendo uma pausa. —— A próxima estrela do tênis e filha do grande Marvim Harriman. Esse é um nome que definitivamente merece estar em destaque.
Amélia riu, e o som era como música para os ouvidos dele. —— Vou deixar você me anotar, mas apenas se você prometer que me ajudará a conseguir um dos seus contatos mais importantes —— disse ela, piscando.
—– Fechado —— respondeu Nicholas, seu coração batendo mais rápido.
(...)
Amélia respirou fundo enquanto saía do escritório, sua mente ainda girando em Nicholas. O corredor estava iluminado com luzes brilhantes, e a música pulsante da festa reverberava ao seu redor. Ao entrar no salão principal, ela imediatamente foi recebida pela visão da festa em pleno andamento: risadas, taças tilintando e grupos de convidados trocando elogios e cumprimentos.
Entretanto, antes que ela pudesse se perder nessa cena vibrante, ouviu a voz de sua mãe cortando o ar. —— Amélia! Onde você estava? ——Teresa, com a expressão furiosa que muitas vezes deixava claro que não havia espaço para respostas, gesticulou de maneira exagerada. —— Você não pode simplesmente desaparecer assim! As pessoas estão perguntando onde você está.
Amélia lançou um olhar rápido para a mãe, mas a reprimenda parecia tão distante quanto a música da festa. Ela apenas assentiu, sem se importar em dar uma resposta, seus olhos fixos do outro lado do salão. Lá estava Nicholas, animado e concentrado em suas anotações, seu rosto iluminado por um sorriso genuíno. Ele parecia tão à vontade, tão diferente do ambiente glamoroso e, muitas vezes, superficial que a cercava.
—— Amélia, você me ouviu? —— Teresa insistiu, mas a jovem não conseguiu desviar o olhar. Ela viu Nicholas interagir com Warren. O jeito como ele se movia, como ele anotava com entusiasmo, era como se ele estivesse fazendo parte de um mundo que, até então, ela mal conhecia. Um mundo onde as interações eram significativas e onde as pessoas eram avaliadas não apenas por seus sobrenomes, mas por suas habilidades e paixões.
—— Sim, mãe, claro —— Amélia respondeu distraidamente, já se afastando enquanto sua mãe continuava a falar, claramente desapontada. Amélia sabia que não estava interessada nas broncas daquela noite; seu foco estava em Nicholas.
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