07. meninas e vestidos de casamento.
Amélia estava sentada em sua habitual carteira perto da janela, observando distraidamente a luz suave da manhã atravessar os vidros enquanto suas amigas cochichavam ao redor dela. A aula de literatura seguia lentamente, e a professora estava perdida em uma explicação sobre um poema clássico que ninguém parecia estar ouvindo de verdade. Ao seu redor, as garotas se entreolhavam e sussurravam, as atenções já completamente desviadas para algo muito mais interessante do que a aula.
Do outro lado da sala, Isabella estava cercada por um pequeno grupo de colegas, todas fascinadas por algo brilhante em sua mão. Amélia não precisou se esforçar muito para perceber o que era. A aliança de noivado reluzia no dedo de Isa, como uma peça de exibição que atraía olhares invejosos e comentários em voz baixa. Ela ria baixinho, toda orgulhosa, mostrando o anel de ouro com um diamante delicado, enquanto suas amigas a elogiavam.
—— Ela está radiante, —— comentou uma das meninas ao lado de Amélia, inclinando-se mais para perto. —— Você viu o anel? Deve ter custado uma fortuna.
—— Claro que sim, o noivo dela é rico —— respondeu outra com um sorriso enviesado. —— E o melhor de tudo é que ela já vai se casar. Tenho inveja. Imagina só, com 17 anos, e já noiva!
Amélia se mexeu desconfortavelmente em sua cadeira, fingindo prestar atenção à professora, mas não conseguia ignorar as conversas ao redor. As meninas pareciam mais interessadas no glamour e no status do casamento de Isa do que em qualquer outra coisa. Havia algo na forma como falavam sobre o assunto que fazia Amélia se sentir deslocada, como se estivesse olhando para um futuro que não queria, mas que todos ao seu redor pareciam abraçar.
—— Eu queria tanto já estar noiva —— sussurrou uma garota do outro lado da fileira. —— Imaginem, ser esposa antes mesmo de terminar o colégio. Ela está garantida para a vida inteira. Acha que eu consigo encontrar alguém até o próximo ano?
—— Vai sonhando, —— brincou outra. —— Isa deu sorte porque o noivo dela é amigo da família.
Amélia permaneceu em silêncio, observando Isabella rir enquanto rodava o anel no dedo, respondendo às perguntas curiosas sobre seu noivo. A menina ao lado de Amélia inclinou-se para mais perto e sussurrou.
—— Acha que ela está realmente apaixonada? Ou é só o dinheiro?
—— Quem se importa? —— respondeu outra rapidamente. —— Ela vai estar casada, rica e com um futuro assegurado. Isso é o que importa.
Amélia mordeu o lábio, desconcertada. Ela não sabia se era inveja ou puro desconforto que sentia ao ouvir aquelas palavras. O casamento, para ela, era uma ideia distante, algo quase sufocante. E agora, ali, no meio da sala, Isa se tornava o centro das atenções por algo que não tinha nada a ver com quem ela realmente era, mas com o que esperavam que fosse.
Enquanto as conversas ao redor continuavam, Amélia fechou os olhos por um momento, tentando se desligar daquele mundo. Foi então que uma das amigas mais próximas de Amélia, Sofia, virou-se para ela com um sorriso curioso, rompendo a concentração que ela tentava manter.
—— Ei, Amélia.
Sofia chamou em voz baixa, mas o suficiente para atrair a atenção das outras garotas. —— E você? Já está marcada de casar com alguém? —– O tom dela era meio brincalhão, mas carregava uma curiosidade real, como se o futuro de Amélia fosse um mistério ainda a ser desvendado entre elas.
Amélia, que não tinha interesse real em discutir esse tipo de coisa, especialmente naquele momento, se mexeu desconfortavelmente na cadeira e deu de ombros. —— Não, ainda não —— respondeu ela, tentando soar casual, como se não fosse um grande assunto. Mas claro que, para aquelas meninas, esse era o único grande assunto.
Imediatamente, as outras garotas soltaram risadinhas e começaram a sussurrar entre si. —— Ah, mas é só uma questão de tempo, —— disse uma delas, uma menina loira de cabelos perfeitamente penteados, virando-se para o grupo. —— Quando Amélia ficar noiva, aposto que o marido dela vai ser mais rico que o da Isa.
Essa observação foi seguida por um coro de concordância.
—— Com certeza! Quero dizer, os Harriman têm uma das maiores fortunas do país. Imagina só o casamento que ela vai ter? Vai ser o evento do ano.
Amélia forçou um sorriso, mas por dentro sentia uma mistura de frustração e desconforto. Ela sabia que, para essas meninas, tudo girava em torno de status, dinheiro e casamentos perfeitos com maridos ricos. Mas, para Amélia, havia tanto mais em jogo do que apenas isso.
—— O futuro marido de Amélia vai ser um bilionário, aposto —— disse Sofia com um sorriso travesso, como se estivesse fazendo uma previsão. —— Ela não vai aceitar nada menos.
As outras riram, concordando, mas Amélia permaneceu em silêncio. Ela sabia que, no fundo, aquelas meninas esperavam que ela se encaixasse naquele molde. Mas, por mais que tentasse, ela não conseguia ver o futuro da mesma forma.
Enquanto as risadas e as brincadeiras continuavam, Amélia olhou pela janela, observando as folhas balançando com o vento lá fora.
(...)
O jantar na casa dos Harriman era sempre um evento formal, mesmo nos dias mais comuns. A grande mesa de madeira maciça, adornada com pratos de porcelana e taças de cristal, era um símbolo da imponência da família. Amélia sentava-se ao lado de sua mãe, Teresa, enquanto Marvim, seu pai, ocupava a cabeceira da mesa, observando com ar concentrado o prato à sua frente. O jantar transcorreu em silêncio por um tempo, com o som dos talheres batendo nos pratos e o ocasional tilintar das taças sendo o único ruído no ambiente.
Foi Teresa quem quebrou o silêncio primeiro, como de costume, com sua voz animada e levemente aguda. Ela colocou o garfo de lado e sorriu para Amélia, seus olhos brilhando de empolgação.
—— Amélia, querida —– disse ela, visivelmente entusiasmada. —– Eu estive com a costureira hoje à tarde, e você não vai acreditar no vestido que encomendei para você. É deslumbrante, um verdadeiro espetáculo. Vai ser perfeito para a ocasião.
Amélia levantou o olhar do prato se lembrando da festa no clube de tênis, tentando esboçar um sorriso educado. Sabia o quanto sua mãe adorava esses eventos e, principalmente, o quanto ela gostava de exibi-la em cada uma dessas festas. Teresa continuou a falar, os olhos vidrados na ideia de como sua filha chamaria a atenção na noite da festa.
—— Todos vão olhar para você, querida. E o vestido... Ah, você vai ser o centro das atenções! Nem mesmo as outras garotas do clube vão conseguir competir com você. É uma peça exclusiva, feita sob medida.
Marvim, que até então havia permanecido quieto, interveio, sua voz grave cortando a leveza do entusiasmo de Teresa. Ele colocou o garfo de lado, inclinou-se um pouco para frente e olhou diretamente para Amélia, ignorando completamente os comentários da esposa sobre o vestido.
—— Não me importa o vestido, —— disse ele com firmeza. —— O que importa é que essa festa vai estar cheia de agentes esportivos. Gente importante. Eu já estou providenciando para que você seja apresentada a todos eles, Amélia. É uma oportunidade de ouro para a sua carreira.
O tom de Marvim era sério, quase imperativo. Ele não via a festa como uma ocasião social, mas como um evento estratégico, onde os contatos que Amélia faria poderiam moldar seu futuro no tênis. Para ele, aquilo era mais uma reunião de negócios disfarçada de festa, e Amélia era o investimento.
—— Esses agentes estão sempre à procura de novos talentos, —— continuou ele, o olhar penetrante. —— E você precisa impressioná-los, mostrar que está pronta. Não estou gastando milhões com o seu treinamento para você simplesmente aparecer com um vestido bonito. Quero resultados.
Amélia sentiu o peso das palavras de seu pai pousar sobre seus ombros. O glamour do vestido, a festa, a diversão, tudo isso parecia esvaziar-se à medida que ele falava. Para Marvim, sua filha era uma promessa, e aquela noite seria apenas mais um passo na direção de transformá-la na número um.
—— Sim, pai —— respondeu Amélia baixinho, voltando a encarar o prato, sem muito ânimo.
Teresa, ainda animada com o vestido, fez uma careta ligeiramente desapontada com o rumo da conversa, mas não se atreveu a contrariar Marvim.
A sala voltou ao silêncio. Amélia continuou a comer, sua mente já longe dali, pensando na festa, nos agentes, e no peso de todas as expectativas que carregava.
(...)
Nicholas terminava seu turno na lavanderia do clube, o ambiente abafado e cheio de vapor o deixando exausto depois de um longo dia. Ele já estava se preparando para sair quando uma voz familiar o chamou pelo corredor. Warren, o gerente do Imperial Heights, um homem de meia-idade com um semblante sempre calmo, estava parado à porta de seu escritório, acenando para ele.
—— Nicholas, tem um minuto? —— perguntou Warren, com um tom amistoso, mas sério, o suficiente para deixar Nicholas curioso. Ele enxugou o suor da testa com a manga da camisa e caminhou até o escritório, onde Warren já o esperava com a porta entreaberta.
—— Claro, senhor Warren —— respondeu Nicholas, tentando parecer mais desperto do que se sentia.
Warren entrou na sala espaçosa e indicou para Nicholas sentar-se em uma das poltronas de couro à frente da mesa. O gerente foi até o outro lado e se acomodou em sua própria cadeira, abrindo uma pasta e folheando alguns papéis antes de olhar diretamente para Nicholas.
–— Bom —— começou Warren, com um leve sorriso no rosto. —— Eu tenho uma proposta para você. Uma oportunidade de ganhar um extra, se estiver interessado.
Nicholas arregalou levemente os olhos, surpreso. Ganhar um extra era sempre bem-vindo, especialmente com a vida apertada que levava. Ele endireitou a postura na cadeira e assentiu, esperando pelo resto.
—— O que você precisa que eu faça? —— perguntou Nicholas, com uma mistura de curiosidade e cautela.
—— Então —— continuou Warren, agora mais sério. —— Como você sabe, vai haver uma grande festa aqui no clube neste fim de semana. Um evento importante, com a presença de agentes esportivos, investidores, e a alta sociedade local. —— Ele fez uma pausa, ajeitando os óculos no rosto. —— O meu secretário oficial, que normalmente cuida de toda a organização e das anotações durante essas festas, está doente e não vai poder comparecer. E eu preciso de alguém em quem confie para me ajudar.
Nicholas piscou algumas vezes, processando as palavras do gerente. Ele conhecia bem aquele tipo de evento no clube, mas sempre observava de longe, ocupado em outros afazeres, como limpar ou arrumar o que fosse necessário.
—— Ajuda? —— repetiu Nicholas, não conseguindo esconder a surpresa. —— O que exatamente o senhor precisa que eu faça?
Warren sorriu, apreciando a sinceridade. —— Basicamente, eu preciso que você seja meus olhos e ouvidos naquela noite. Seu trabalho será acompanhar os convidados, fazer anotações de conversas importantes, registrar quem está falando com quem, e me manter informado sobre o que acontece. Um trabalho mais administrativo, mas muito importante." —— Ele se inclinou um pouco para frente, cruzando os braços sobre a mesa. –— Não é algo que você costuma fazer, eu sei, mas confio que vai se sair bem. E claro, vou pagar um extra generoso pelo serviço.
Nicholas ficou em silêncio por um momento, processando a proposta. Era uma oportunidade inesperada, e a ideia de ganhar um extra era tentadora. No entanto, ele sabia que não seria um trabalho fácil — o ambiente daquela festa seria muito diferente do que ele estava acostumado, e a pressão para fazer tudo corretamente seria enorme.
—— Eu nunca fiz algo assim antes —— confessou Nicholas, hesitante. —— Mas... se o senhor confia em mim, eu aceito.
Warren sorriu satisfeito e se levantou, estendendo a mão. —— Ótimo, Nicholas. Sei que vai fazer um bom trabalho. Eu vou te passar todos os detalhes amanhã, e não se preocupe, você vai se sair bem.
Nicholas apertou a mão de Warren, ainda sentindo uma pontada de nervosismo, mas também uma estranha excitação. Aquele seria um desafio, mas talvez também uma oportunidade única.
Enquanto saía da sala, o pensamento de estar em meio àquela festa, no coração do Imperial Heights, em vez de apenas nos bastidores, fazia algo mudar dentro dele.
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