05. agulhas de costura.
O sol da manhã filtrava-se através das folhas das árvores, lançando sombras dançantes na superfície da água cristalina da piscina na casa dos Harriman. Amélia flutuava, seu corpo leve e ágil cortando as ondas enquanto nadava de um lado para o outro. A água estava morna e convidativa, um refúgio perfeito para um sábado de manhã. Com um sorriso no rosto, ela se permitia aproveitar o momento de liberdade antes que a rotina de treinos e aulas voltasse à sua vida agitada.
Sentada em uma cadeira próxima à borda da piscina, sua babá de infância, Mary, dobrava cuidadosamente pilhas de roupas. Mary sempre tivera um jeito gentil de cuidar de Amélia, acompanhando-a desde pequena e tornando-se mais do que uma funcionária; era quase uma segunda mãe. Com seus cabelos grisalhos presos em um coque bagunçado e um sorriso caloroso, ela olhou para Amélia enquanto dobrava uma toalha.
—— Eu passei todas as suas meias para as voltas aulas —— Mary disse, seu tom leve e divertido.
Amélia parou de nadar, flutuando na água enquanto a encarava. —— Eu gostaria de não voltar.
Maria riu suavemente, a familiaridade entre elas evidente. —— Ah, mas você sempre se deu bem na escola! E pense em todas as suas amigas. Vai ser bom reencontrá-las.
Amélia fez uma careta, mergulhando a cabeça na água por um momento antes de emergir, os cabelos escorrendo em mechas. —— Apenas espero que o treinador Kevin não exija tanto como no último semestre. O que ele espera de mim é quase impossível, às vezes.
—— Você é uma Harriman, querida. Suas expectativas sempre serão altas. —— Mary respondeu com um olhar brincalhão. —— Mas você tem talento, e eu sempre acreditei em você.
Amélia riu e começou a nadar mais rápido, seus braços cortando a água com graça. A liberdade de estar ali, em casa, com Mary ao seu lado, a fazia sentir-se mais leve, mesmo que a pressão de seu mundo estivesse sempre presente. Quando terminou a volta, ela subiu na borda da piscina, ofegante, mas com um brilho nos olhos.
—— Talvez as aulas não sejam tão chatas também —— ela admitiu, secando o rosto com a toalha.
—— É isso que eu gosto de ouvir! —— Mary disse, olhando para ela com encorajamento.
(...)
O ambiente na loja de costura era sofisticado, com luzes suaves iluminando as prateleiras repletas de tecidos finos e padrões elegantes. Amélia Harriman estava em uma pequena sala nos fundos, cercada por espelhos que refletiam sua imagem em várias direções. Enquanto a costureira ajustava um de seus uniformes escolares, Amélia mal prestava atenção, absorta em seus próprios pensamentos.
O verão havia sido intenso, repleto de treinos rigorosos e desafios constantes. Ela havia emagrecido um pouco, um fato que a deixava um tanto insegura, mas que também contribuía para um senso de leveza em seu corpo. O uniforme agora parecia um pouco largo, e a costureira trabalhava para consertar isso, mas Amélia apenas via sua própria imagem, perdida em reflexões sobre as competições que se aproximavam.
Do lado de fora, o movimento da cidade continuava, e o calor do dia entrava pela porta aberta da loja. Amélia mal escutou sua mãe, Teresa, em um canto, discutindo com a costureira sobre detalhes de acabamento e fitas que deveriam ser usadas. As palavras da mãe pareciam ecoar de maneira distante, como se estivesse ouvindo debaixo d'água.
Então, de repente, algo chamou sua atenção. Através da janela, ela viu um garoto correndo pela rua. Era ele, o garoto da lavanderia do clube, carregando algumas sacolas e parecendo apressado. Seu cabelo bagunçado balançava enquanto ele se movia rapidamente, e algo sobre sua presença despertou em Amélia uma sensação inexplicável de curiosidade.
A imagem dele ocupou todos os seus pensamentos, e ela não conseguia desviar o olhar. O tempo pareceu parar, e a conversa entre sua mãe e a costureira desapareceu. Amélia sentiu uma onda de adrenalina enquanto o observava, esquecendo completamente da costureira que ajustava seu uniforme.
—— Amélia! Você está me ouvindo? —— Teresa gritou, sua voz cortando o transe da filha. Amélia piscou, voltando a realidade, mas a imagem do garoto correndo permaneceu em sua mente, vibrante e intrigante. Ela olhou para a mãe, tentando se concentrar novamente, mas as palavras pareciam ter perdido seu significado.
—— Desculpe, mãe, o que você disse? —— Amélia respondeu distraída, o olhar ainda fixo na rua, onde o garoto havia desaparecido.
Ao saírem da loja de costura, Amélia e Teresa Harriman caminharam lado a lado pela calçada ensolarada, ate seu carro, o calor do dia começando a amainar enquanto o sol se punha no horizonte.
Quando chegaram em casa, a familiaridade do ambiente as envolveu. A mansão, com seus amplos corredores e decoração luxuosa, estava tranquila. Teresa seguiu direto para a sala de estar, onde Marvim, seu marido, estava sentado em uma poltrona confortável, absorto na leitura de um jornal financeiro. O som das páginas sendo viradas parecia ecoar na sala silenciosa.
Amélia hesitou por um momento, o desejo de compartilhar seu dia pulsando dentro dela. Com um leve suspiro, ela se aproximou do pai. —— Oi, pai! Você não sabe o que aconteceu... —— ela começou, o entusiasmo na voz.
Mas Teresa a interrompeu com um olhar severo, colocando a mão no braço da filha. —— Amélia, não perturbe seu pai com coisas inúteis agora. Ele está ocupado. —— ela disse, sua voz firme, cortando o ar como uma faca.
A expressão de Amélia se apagou instantaneamente, a decepção invadindo seu coração. —— Claro, mãe, —— ela murmurou, concordando com a cabeça.
Ao chegar ao seu quarto, Amélia fechou a porta suavemente atrás de si, permitindo-se um momento de desabafo. O quarto estava imerso em uma luz suave, e ela se jogou na cama, sentindo a frustração e a tristeza se misturarem. O dia havia começado de forma promissora, mas agora, novamente, ela se sentia como se suas aspirações e emoções fossem consideradas insignificantes.
Era um ciclo que parecia não ter fim: as expectativas de sua mãe, a indiferença de seu pai, e, em meio a tudo isso, a busca desesperada de Amélia por um lugar onde pudesse ser verdadeiramente ouvida e valorizada. Ela olhou pela janela, a luz do sol se extinguindo lentamente, e, em seu coração, um desejo de liberdade crescia mais forte.
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