03. imperial heights tennis club.
Amélia chegou ao clube de tênis sentindo o peso de cada passo que dava. O lugar era diferente de qualquer outro em que ela já havia treinado — um santuário exclusivo reservado apenas aos melhores jogadores do mundo. As quadras eram perfeitas, o solo impecável, e as paredes eram adornadas com fotos dos maiores campeões da história do tênis. Ali, entre as sombras de lendas passadas, ela sabia que havia uma pressão ainda maior para se destacar, para corresponder ao que se esperava dela.
Ela respirou fundo, tentando acalmar a ansiedade que borbulhava dentro de si, e adentrou a recepção do clube.
Seu pai já a aguardava na entrada, impaciente, com um olhar que não deixava dúvidas de que aquele encontro era de extrema importância. Ao lado dele estava um homem alto e atlético, de expressão séria e uma postura que exalava autoridade — o treinador. Seu nome era Kevin Ford, um dos mais respeitados treinadores dos Estados Unidos, conhecido por transformar jogadores talentosos em campeões mundiais. E agora, ele estava ali por Amélia.
—— Amélia, esse é o Kevin Ford —— disse Marvim, direto ao ponto, como sempre. —• Ele precisa que você se torne a próxima John McEnroe.
Amélia sentiu o impacto do nome reverberar no ar. John McEnroe era um dos maiores tenistas de todos os tempos — e também conhecido por seu temperamento explosivo, algo que a fazia lembrar um pouco de si mesma. O que seu pai queria, claramente, era que ela dominasse o esporte e suas emoções, transformando a rebeldia em disciplina, como McEnroe fizera no auge de sua carreira.
O treinador estendeu a mão para Amélia, seus olhos analisando-a de cima a baixo, medindo seu potencial. Ele tinha um ar confiante, quase frio, como alguém que estava acostumado a trabalhar sob enorme pressão e que sabia o que era necessário para vencer. —— Vamos trabalhar duro, Amélia —— ele disse, a voz firme. —— Farei o máximo para extrair o melhor de você.
Antes que ela pudesse responder, Marvim interveio, sua voz cortante como sempre.
—— É bom que faça o máximo mesmo, Ford, porque tem milhões de dólares em jogo aqui. —— Ele lançou um olhar para o treinador, uma mistura de exigência e aviso. —— Minha filha precisa ser a próxima estrela. Não aceito nada menos que isso.
Kevin Ford não se abalou. Ele manteve o olhar fixo no de Marvim por um breve segundo, antes de se voltar novamente para Amélia.
Amélia, ainda em silêncio, assentiu. Ela sabia que o caminho à sua frente seria brutal. Sabia que o preço a ser pago não era apenas financeiro, mas emocional, mental — e, de alguma forma, já se sentia exausta antes mesmo de começar.
(...)
O calor do meio-dia tornava o ar pesado na quadra de tênis, e o som das bolas sendo rebatidas ecoava como tiros secos pelo espaço vazio. Amélia estava suando intensamente, as pernas queimando de cansaço, enquanto Kevin Ford andava de um lado para o outro da quadra, com uma postura rígida e a expressão impassível. O primeiro treino estava longe de ser uma introdução suave ao que estava por vir — era brutal. Cada erro que Amélia cometia parecia um ataque pessoal, e Kevin não economizava nas críticas.
—— Mais rápido, Amélia! Você está lenta! —— ele gritou, enquanto ela tentava alcançar mais uma bola.
Seus golpes de forehand saíam errados, a bola passava por ela sem resistência, e as palavras de Kevin eram como facas cortantes, impiedosas e contínuas. —— Isso não é o suficiente! Você acha que vai ser campeã jogando assim? Você acha que alguém paga milhões pra ver esse tipo de desempenho?
A voz de Kevin ecoava na cabeça de Amélia, enquanto ela lutava para se concentrar. O suor pingava de sua testa, seus músculos gritavam por um descanso que nunca vinha, mas o treinador estava impassível. Ele era uma parede inabalável, e quanto mais Amélia se desgastava, mais os gritos dele aumentavam. —— Pega essa bola! Vamos! Se você errar de novo, vai correr a quadra inteira até aprender! Você quer ser uma fracassada?
Os gritos dele se tornavam uma tempestade, rodopiando ao redor de Amélia, sufocando cada pensamento de calma que ela tentava manter. Sua respiração estava ofegante, o coração batendo como um tambor em seu peito. A raiva começou a borbulhar, fervendo a cada palavra que ele gritava.
—— Isso é patético, Amélia! Se você quer continuar assim, nem precisa voltar amanhã. Essa fraqueza... não tem espaço pra isso aqui!
Foi o suficiente.
Amélia sentiu algo quebrar dentro dela. Sua visão ficou turva de raiva, o sangue pulsando em seus ouvidos. Num impulso furioso, ela pegou sua raquete e, sem pensar, lançou-a com força pelo outro lado da quadra. O som da raquete batendo na cerca metálica ecoou, cortando o ar, enquanto ela ficava ali, de peito arfante e olhos brilhando de fúria.
Kevin ficou parado por um momento, observando.
A tensão no ar era palpável. Então, em vez de repreendê-la, ele sorriu. Um sorriso frio, mas satisfeito, como se estivesse vendo exatamente o que queria. Ele caminhou devagar até a raquete caída, pegou-a e segurou-a nas mãos enquanto falava.
—— Era isso que eu queria ver —— ele disse, a voz muito mais calma agora, mas ainda carregada de intensidade. —— Você está cheia de raiva, Amélia. Está aí dentro, presa. Eu preciso que você a solte. Quero que você entre nos jogos com essa fúria. Que canalize isso. Você precisa jogar como se estivesse pronta para destruir o mundo se ele ficar no seu caminho.
Ele caminhou de volta até ela, entregando a raquete. Amélia, ainda ofegante, o encarava, sem saber como responder. Kevin olhou diretamente em seus olhos, com uma expressão determinada.
Amélia pegou a raquete de volta, sentindo o peso dela em suas mãos. Pela primeira vez, ela percebeu que talvez Kevin estivesse buscando algo diferente — algo mais profundo do que técnica ou disciplina. Ele queria intensidade, uma energia crua que ela sempre tentava suprimir. E naquele momento, ela soube que, para sobreviver àquele treinamento, teria que encontrar uma maneira de equilibrar o controle e o caos dentro de si.
(...)
O fim do dia se arrastava em tons de laranja e dourado, enquanto o sol se punha sobre as colinas ao redor do Imperial Heights Tennis Club. Amélia estava sentada na recepção do clube, esperando pelo motorista da família que, como sempre, demorava alguns minutos além do previsto. Ela estava cansada, o corpo pesado após o treino exaustivo com Kevin, mas sua mente ainda fervilhava com as palavras duras do treinador. O ar condicionado gelado da recepção a fazia arrepiar, em contraste com o calor sufocante do lado de fora.
De onde estava, ela tinha uma visão clara da entrada do clube e da movimentação ao redor. Alguns dos jogadores mais experientes começavam a chegar para treinar nas quadras iluminadas para o horário noturno. Eram profissionais com olhares focados e passos seguros, que cumprimentavam os funcionários e outros atletas com a familiaridade de quem frequentava o lugar há anos. Entre eles, Amélia avistou Kevin Ford, seu treinador, caminhando em direção às quadras com dois jogadores, ambos campeões regionais. Ele a viu de longe e, por um breve segundo, levantou a mão em um aceno distante, quase formal, antes de continuar com seus pupilos.
Amélia acenou de volta, um gesto automático, mas a sensação de desconexão se fez presente.
Ela não se sentia à vontade naquele lugar, não como eles. Apesar de treinar ali e de ser tratada como uma estrela em potencial, sempre parecia que algo a isolava — como se estivesse desempenhando um papel escrito por outra pessoa.
Enquanto isso, no fundo da recepção, ela pôde ouvir vozes irritadas surgindo. Dois membros do clube estavam parados perto da entrada dos vestiários, com expressões de desgosto. —— Esse garoto da lavanderia ——, um deles reclamou, sacudindo uma toalha suja na mão, —— usou um sabão horrível nas roupas de treino. O cheiro é insuportável. Será que ninguém supervisiona isso?.
O outro concordou, balançando a cabeça. —— Eu percebi também. Totalmente amador. Não sei como deixam isso passar. Aqui é um clube de primeira classe.
Ela desviou o olhar, apertando a raquete que ainda segurava nas mãos, tentando ignorar o desconforto que sentia. O motorista da família finalmente chegou, e ela se levantou lentamente, lançando um último olhar para a cena antes de sair pela porta de vidro.
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