Mestre das Ilusões
Eii cerejinhas! Eu volteii!
Confesso que esse capítulo não tem muita importância para o enredo, a não ser a construção de personalidade dos personagens.
Eu notei que o único momento leve entre Tina e Alastor ocorre no terceiro capítulo "Pele Dourada" então senti necessidade de mostrar um pouquinho mais da relação dos dois a vocês.
Aproveitem ⏳
O grande problema dos filmes é que eles acabam no final feliz, a vida não, o único final que temos é a morte. Minha história não terminou quando consegui um namorado e amigos; não terminou quando me mudei; não terminou quando eliminei Alastor; e não vai terminar quando eu encerrar o último parágrafo.
A vida nunca acaba quando as coisas estão boas, ela continua, com seus altos e baixos, seus desafios e vitórias. E essa é uma das maiores belezas que se tem em estar vivo.
Sete anos haviam se passado desde a criação de Alastor, e eu continuei vivendo. Eu amei e odiei; eu ri e chorei; eu tive medo e fui corajosa. Mas, não importa quanto tempo tenha passado, Alastor permaneceu vivo em minha cabeça, grudado como um maldito chiclete na minha coleção de lembranças, um verdadeiro parasita peçonhento que penetrava as frestas entre meus pensamentos.
Eu não podia evitar, tivemos bons momentos juntos...
† Oitavo Flashback - Mestre das Ilusões †
Caminhávamos pela praia de mãos dadas, os pés descalços, o vento bagunçando meu cabelo. Tudo estava bem, foi antes das brigas começarem.
— Você pode fazer qualquer coisa?
— Qualquer coisa.
— Pode trocar os corações por cachorros? — apontou para as nuvens.
— Posso sim.
— E fazer maré trazer conchinhas todas as vezes?
— Também posso.
— E você pode fazer meus olhos serem de outra cor? — Alastor perguntou parando de andar para observar o mar.
— Por que iria querer mudar a cor dos seus olhos? São tão bonitos.
— Queria que eles fossem azuis. Como o mar ou o céu.
— Se quiser, posso fazer o céu e o mar ficarem pretos.
— Preto é uma cor ruim, meu anjo — sentou-se para brincar com algumas conchas que o mar trazia.
— Isso — refleti sua fala. — não é verdade.
— Me fale algo preto que seja bom.
— Isso soou racista Alastor.
Ele riu fraco.
— Você sabe, algum objeto ou qualquer coisa do tipo, porque eu só consigo pensar em besouros, esmalte feminino e Cinquenta Tons de Cinza.
— Bom...
— E pepinos do mar, bolsas de grife, balas de café, Black Mirror — continuou citando exemplos.
— Jabuticaba!
— Jabuticabas são roxas, não vale.
— São deliciosas — argumentei em vão.
— Meus olhos não são de comer.
Alastor olhou entediado para o céu, onde nuvens em formato de cachorrinhos deslizavam, sem pressa.
— Pelo menos seus olhos não tem cor de lama, como os meus.
— Pois eu acho que parecem duas grandes amêndoas.
Sorri. Pisquei. E suspirei.
— Se você pudesse mudar qualquer coisa em você, o que mudaria? — Alastor perguntou.
Pensei. Pisquei. E sorri.
— Eu seria loira, teria peitos enormes, lábios rosados e orelhas menores. Eu também não usaria óculos e não precisaria de aparelho.
— O que mais?
Bati a mão no queixo, pensando. Haviam tantas coisas que gostaria de mudar em mim mesma.
— Meu rosto seria mais fino, minhas unhas longas e meus pés menores. Ah, e eu nunca mais teria nenhuma espinha e todas as minhas sardas sumiriam.
— Eu gosto das suas sardas — protestou.
É claro que gostava, se eu odiava algo em mim, Alastor, automaticamente amava. Se eu reclamasse de algo, Alastor apareceria para elogiar e exaltar essa coisa.
— E meu cabelo seria cacheado — finalizei.
— São muitas mudanças.
— Sim.
Ficamos parados, olhando a imensidão azulada a nossa frente.
Lilás. Um dos meus fones caiu, o som do "Mar para crianças dormirem - 12 horas" foi cortado e eu me vi de volta ao meu quarto.
Respondi o grupo de estudos, tomei um gole d'água e voltei a imersão da praia, mas, dessa vez, me imaginei como sempre quis ser.
— Está feliz assim?
Sorri. Pensei. Pisquei. Estava feliz?
Os fios loiros balançaram, meus lábios rosados se contrariam e os olhos esverdeados se fecharam.
A pergunta de Alastor me fez refleti, se eu tinha a aparência que sempre quis ter, quem eu era? Com certeza não era Valentina.
A Valentina usa óculos e aparelho; tem o cabelo liso, curto e castanho; seu corpo é pequeno, tem o rosto redondo e coberto de sardas.
Se eu não era a Valentina, quem eu era?
Pensei. Abri o olhos. Fechei de novo.
— Alastor?
Ele se inclinou em minha direção.
— Acho que sou feliz sendo quem sou, porque, se sou assim — apontei para mim mesma. — , então não sou eu de verdade. Isso... Faz sentido?
Alastor sorriu, seus olhos repletos de carinho piscaram e, em sua mente, o fiz pensar:
— Eu amo você — confessou.
— Eu não consigo entender.
— Você é perfeita, Tina.
— Não sou, e é só questão de tempo até você perceber e ir embora.
As vezes não conseguia entender suas palavras, elas pareciam falsas e eu me sentia vazia. Alastor me via com outros olhos, e era eu quem fazia com que ele me visse dessa forma, o que só dá mais veracidade ao sentimento de vazio e solidão.
As vezes queria fazê-lo olhar para mim como os outros me viam. Meus olhos cor de lama, meu cabelo bagunçado e minha cara cheia de caroços vermelhos. Queria que ele mapeasse minhas pintinhas irritantes, reparasse na testa grande e nos atributos que me faltavam.
Que refletisse sobre minha personalidade crítica, meu jeito que dançava entre o maduro e o infantil, meus defeitos visíveis e abomináveis.
Queria fazê-lo dizer o quão desajeitada, burra e ingênua me achava. Que apontasse as minhas falhas, revelasse os meus segredos mais profundos, risse de todo o meu constrangimento.
Tudo para que ele decidisse ir embora e parasse de agir como se gostasse de algo em mim. Queria que Alastor fosse em busca da garota perfeita e deixasse para trás toda a bagunça que sou.
Alastor era um Mestre das Ilusões e tinha roubado o meu coração. Mas, mesmo assim, preferi deixá-lo me amar, pois naquele momento, eu também me amei um pouquinho mais.
— Ei, Tina — pisquei. — Nunca desista de tocar as estrelas — sorri.
Acordei.
†
Nos intervalos entre trabalho, faculdade e vida social, era estranho concluir que sentia bem mais falta de Alastor do que pensava. As vezes eu só queria alguém para dizer que as coisas dariam certo, que eu era forte o suficiente, que minhas qualidades derrubavam meus defeitos.
Alastor estava longe de voltar a dizer isso. Alastor estava em alguma praia com Penélope, brincando com sua irmã e com os pensamentos longe de seus olhos de jabuticaba e nuvens de cachorrinhos.
Acabou! Espero que tenham gostado.
Esse capítulo foi um dos mais legais de escrever, principalmente porque foi inspirado em um pensamento meu.
Em um desses exercícios de meditação para dormir do YouTube estive visualizando como eu seria se tivesse a aparência que sempre quis, quando visualizei o resultado final percebi que aquela não era eu mesma. Fiquei feliz em descobrir que, se pudesse mudar qualquer coisa em mim mesma, eu não tiraria e nem colocaria nada, porque eu sou assim, perfeitamente imperfeita.
Obrigada por lerem, até o próximo capítulo e beijinhos caramelados⌛
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro