Criadora
Olá! Olá!
Como estão, cerejinhas?
Esse capítulo foi bem fácil de escrever e vocês poderão ver um pouco mais do verdadeiro Alastor.
Aproveitem ⏳
"Não há outros sócios ou parcerias possíveis. Sou o vórtice que leva os personagens ao seu destino. Sou responsável por cada gesto e cada fala. Quando minha tropa de fodidos abre a boca, o grita é meu. Eu decido. Eu digo ataquem. Destruam, e eles destroem"
Escrevendo No Escuro - Patrícia Melo
Algo estava ligeiramente errado. Não era para as coisas acabarem assim.
Alastor atingiu minhas expectativas em quase todos os quesitos. Ele era carinhoso, engraçado e compreensivo, eu o planejei para ser assim, perfeito. No entanto não conseguia entender de onde vinha sua obsessão por mim, o ciúmes e toda sensibilidade com relação a sua natureza, essas não são nem de longe características que penso para o meu garoto ideal.
A forma como pensava evoluiu, mas Alastor, sendo apenas da minha imaginação, continuou o mesmo.
Passei a entender o porquê casais que estão juntos há anos se divorciam. Costumava pensar que quando se convive tanto tempo com uma pessoa, nada pode separá-las, mas o tempo apenas expõem mais os desfeitos do outro, o encanto acaba, as pessoas mudam e seus parceiros não mudam com elas.
O doce acaba e só sobra o amargo de uma relação que não está mais em harmonia.
† Sétimo Flashback - Criadora †
Minha cabeça latejava, meus olhos ardiam, minhas costas doíam.
Passei horas e horas parada na frente de uma folha de papel, encarando-a como se fosse um bicho de sete cabeças. As palavras vinham mas nada era escrito.
Atrás de mim, Alastor pulava na cama, rindo como se minhas dores fossem uma piada, zombando das minhas tentativas de mandá-lo embora.
— Você poderia me ajudar!
— Não vou ajudá-la a fazer essa barbaridade — protestou subindo pela parede.
Olhei para o lado, deveres, eu tinha uma lista de lugares para entregar currículos. Atrás de mim a cama me chamava, como queria poder dormir até tarde de novo. Do outro lado, café, biscoitos e chocolate amargo. E, em cima de mim, tinha o pequeno e demoníaco Alastor fazendo caretas.
— Isso vai ser bom para você.
— Você é tão má comigo Tina, o que eu fiz pra você me mandar embora?
— Não preciso mais de você — ele piscou devagar, incrédulo. — Droga. Não foi isso que eu quis dizer... Eu... Eu só... Cresci, sabe?
— Como se eu não tivesse notado.
— Desculpa — tentei.
— Não precisa falar de mim como se eu fosse lixo, Valentina — desceu da parede, ficando ao meu lado. — Você me deu emoções, esqueceu?
Suspirei irritada, estava cada vez mais difícil lidar com Alastor.
— Você não é real! Esqueceu?
Piscou. Olhos negros, profundos, nublados.
— Tirou a noite para me magoar?
— Para com isso — sibilei para mim mesma. — Isso é só meu inconsciente tentando me culpar por querer me livrar de você.
— Você é horrível Valentina.
— Não! Você é, eu não. Eu só queria que tudo continuasse como antes, mas você tinha que me pressionar e agir como se estivesse errada por preferir as pessoas reais a você.
— Você está falando sério? Você me fez assim! Tudo porque você era uma adolescente mimada que odiava tudo e todos que estavam a sua volta. Não é minha culpa querer ser único na sua vida.
— Não venha botar a culpa em mim!
— A culpa é toda sua Tina. Você me criou assim. Você sempre falou "Eu estou no controle" ou "Eu decido como as coisas devem ser" — afinou a voz para me imitar. — Quando foi que tive poder de escolha? Quando foi que fiz algo sem você? Agora você quer me culpar por querer ter você por perto? Por querer sua atenção?
— Isso virou uma obsessão Alastor.
— Mas a culpa é sua! — girou minha cadeira em sua direção, seu olhos penetraram fundo em minha consciência. — Não pode me punir por ser assim, e não pode me mudar.
— Você não é real.
— É. Tem razão. Por que não me faz desaparecer?
Mordi a bochecha em nervosismo.
Pensei. Respirei. Falei:
— Eu não consigo.
Ele se aproximou mais, sua boca próxima a minha orelha. Podia sentir o calor do seu corpo e seu peso sob a cadeira. Parecia tudo tão real.
— Sou mais real do que gostaria, meu anjo? — debochou. — Não consegue mais me controlar não é? E agora que perdeu o controle acha que pode simplesmente me fazer desaparecer.
— Eu sou a escritora Alastor — virei a cadeira de volta para a mesa.
— Você nunca vai conseguir se livrar de mim.
— Não me subestime.
"Alastor é um jovem alegre e sonhador, ele tem 18 anos, mora em uma grande e bonita casa e têm dois cachorros, Cherry e Berry.
Ele mora com o pai, Samuel, a mãe, Eliza e sua irmã mais nova, Melody. Namora uma formosa garota que conheceu em uma de suas viagens, Penelope Campbell é seu nome.
Sonhava com uma garota chamada Valentina todos às noites, ela lhe contou verdades sobre o universo, revelou que tudo não passa de sua imaginação e que ninguém ali é real. Mas foi tudo um sonho, nada disso aconteceu.
Alastor não sabe da verdade. Alastor é feliz. Alastor ama Penelope. Alastor não gosta de café e balas de menta. Alastor não é real."
Finalizei a última linha com aflição, minhas mãos tremiam, meu coração palpitava. Olhei para o fundo do quarto. Alastor não estava ali.
Respirei aliviada, no fim eu só precisava impor novas regras. Seja o que for que Alastor é, ele estava feliz e longe de mim.
Mas algo ainda me incomodava...
— Você nunca vai conseguir se livrar de mim — foi a última coisa que disse.
Decidi não ficar preocupada com isso, tudo não passava do meu inconsciente tentando me fazer sentir mal. Eu não era alguém ruim e Alastor não era real.
Depois de mais algumas horas acordada em frente ao computador me permite dormir um pouco e sonhar com o futuro.
Nessa noite os olhos negros se mesclaram a escuridão da minha mente e eu pude, após muito tempo, dormir com os pensamentos além de Alastor.
†
Sentia que não tinha problemas, eu era a escritora, eu decidia o que queria fazer com Alastor, mesmo que ele pedisse pelo contrário.
Desde então, Alastor não apareceu mais. As vezes eu ainda me lembrava dele, mas as lembranças logo eram deixadas de lado e substituídas pelo momento. Eu estava vivendo a minha vida e Alastor não fazia parte dela.
Mas, mesmo que tentasse esquecer, as falas de Alastor vez ou outra ainda ecoavam no fundo da minha cabeça. Ele iria voltar. Eu era alguém ruim. A culpa era toda minha.
Eu era o sonho e o pesadelo da minha criação, e, de repente, pensei ter entendido como os deuses se sentiam com relação aos humanos.
Acabou! Espero que tenham gostado.
O próximo capítulo já está escrito e editado, quinta-feira eu posto.
Críticas, elogios e ideias são sempre bem vindos, deixe sua opinião, um comentário legal e, caso tenha se interessado, pense em votar.
Beijinhos caramelados ⌛
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