Cacos e Café
Aproveitem ⏳
Café foi a bebida responsável por me manter acordada por muitas noites e por me relaxar nas horas vagas.
Quando era mais nova nunca entendia porque minha mãe não conseguia começar o dia sem tomar ao menos um gole de café. Quando entrei na faculdade ficou evidente de que precisava de álcool, energético ou café. O álcool não é a melhor opção se você quer ficar acordado e o energético não sai tão em conta quando se tem contas para pagar.
Entre um café e outro, Alastor resolveu ficar para me atormentar.
† Décimo Segundo Flashback - Cacos e café †
A água já estava fervendo.
Os dias passavam e eu surtava todos os dias com a quantidade exorbitante de tarefas e livros pendentes. Tudo passando rápido demais e eu sentia que não estava aproveitando. Tinha de aturar minha chefe tagarela pela manhã, cuidar da casa a tarde, ir à faculdade a noite e dar conta dos deveres na madrugada.
Sentia falta de acordar tarde, de gastar horas do dia navegando pelas redes sociais ou só dar uma volta pelo bairro. Eram raros os momentos de paz que tinha, pequenos momentos em que meus afazeres estavam em dia e minha cabeça não se encontrava sufocada por pensamentos aterradores sobre o futuro.
— Quem diz que um beijo vale mais que mil palavras não sabe o quanto é difícil escrever — resmunguei enquanto andava pela cozinha em busca do açúcar.
Com minha rotina na época, não restava tempo para meus hobbies. O violão pegando poeira no canto do quarto e os únicos textos que andava escrevendo eram anotações.
Meus personagens deviam estar cansados de esperarem eu tirar um tempo para escrever seus finais. Não me surpreenderia se encontrasse uma carta de demissão no final do capítulo inacabado.
— Você passa todos os intervalos que tem escrevendo algo bonito, pra no final o infeliz te dizer que um beijo vale mais que mil palavras — continuei a reclamar. — Um beijo não vale mais, só é mais fácil de fazer.
— Falando sozinha, boneca? — ouvi Alastor dizer atrás de mim.
Calei a boca. Endireitei a coluna. Engoli em seco. O que Alastor estava fazendo ali?
Achei melhor ignorar, ele logo iria embora e eu poderia fingir que nada tinha acontecido.
Coloquei o açúcar, mexi por mais tempo do que deveria e enfim despejei o líquido fervente dentro da xícara.
Me virei tranquila, acreditando que estar sozinha.
Não entendi o que Alastor poderia querer comigo, eu não precisava mais dele e ele não precisava de mim. Que tipo de entidade lunática perseguiria uma garota tão desinteressante quanto eu?
Talvez Alastor quisesse apenas me assustar ou zombar de mim. Como poderia saber? Não é como se ele respondesse as minhas perguntas. Sentia saudades do tempo em que eu parecia está no controle de tudo.
Quando por fim virei em direção a mesa não pude evitar me engasgar ao olhar Alastor sentado na cadeira.
Ele se aproximou de mim, tomando a xícara das minhas mãos.
— Você conseguiu pegar — me admirei.
Alastor não estava como nas outras vezes em que o vi como um reflexo ou vulto, ele parecia ser feito de carne e osso, podendo interagir com a matéria ao seu redor.
Fechei os olhos com força, esperando que ele sumisse e a xícara fosse de encontro ao chão, tornando tudo uma bagunça de cacos, café e emoções. Mas o baque não veio.
— Eu não vou sumir Tina.
Continuei com os olhos fechados. Não podia dar ouvidos as baboseiras que Alastor falava.
— Eu vim pra ficar.
— O quê?
Passei os próximos minutos processando sua fala. Veio para ficar? O que ele quis dizer com isso?
— Não pode ficar.
— Por que eu não sou real?
— Porque isso não faz sentido! Eu nem te conheço — falei o primeiro argumento que veio a cabeça.
Alastor riu baixinho e corou um pouco, ele parecia adorável quando não estava me perseguindo.
— Escuta, eu prometo que não vou ser possessivo ou te impedir de ver essas tais "pessoas do mundo real" que você tanto gosta.
— Não me importa o que você vai ou não fazer, fora da minha casa! — esbravejei, saindo da cozinha e o deixando sozinho.
Eu estava assustada. Queria gritar minhas frustrações ao mundo e eliminar Alastor de uma vez por todas.
— Mas qual é o problema? Você costumava gostar de mim — surgiu no corredor que liga a cozinha à sala.
— É, quando eu tinha 13 anos.
— E agora você tem 19, ninguém muda tanto em seis anos.
— Você nem imagina — me joguei no sofá, minha cabeça doendo como nunca. — Mas como você poderia saber? Não é humano para entender a complexidade que é nossa mente e o quanto podemos evoluir...
— Nem comece com essa ladainha — reclamou, também se jogando no sofá e colocando os pés na mesinha de centro.
— Essa "ladainha" é o que impede a gente de ser igual.
— Me deixa provar que ainda sou o garoto perfeito ou — consertou a postura e ajeitou uma gravata imaginária. — agora que você cresceu, o homem perfeito.
— Vai embora.
— Creio que você não tenha escolha.
Bufei irritada, caminhando de volta para a cozinha com a assombração em meu encalço.
Tentei me convencer de que Alastor estava blefando e assim que eu deitasse para dormir ele sumiria. Acreditava que ainda tinha algum tipo de controle sobre ele, tentei fazê-lo falar que iria embora, mas ele realmente só falava o que queria.
— Agora eu posso almoçar com seus pais.
— Você não é real!
— Se eu não fosse real, eu poderia fazer isso — como um gato curioso suas mãos empurram a xícara do balcão. — Viu só? Eu quebrei — bateu palminhas animado.
Pisquei. Alastor era real. Alastor ficaria comigo. Céus!
E no final, tudo terminou em café melando o chão, uma xícara quebrada e uma grande confusão mental.
†
Depois de arrumar a bagunça que Alastor fez na cozinha, subi para meu quarto, na tentativa falha de tentar entender o que faria agora que tinha um personagem andando e quebrando coisas na minha casa.
Isso é algo que os escritores não falam nas entrevista e eu não fazia ideia do que faria para mandar Alastor embora e voltar a ser uma jovem adulta qualquer, com uma chefe mandona, tarefas demais, um possível vício em cafeína e problemas para organizar a vida social.
Beijinhos caramelados ⌛
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