61
Compras
Depois do café da manhã desci os degraus de pedra em direção ao pomar com os pensamentos dispersos, as palavras de Alícia ainda ecoando na minha cabeça enquanto promessas de um passado distante voltavam a me assombrar.
E agora?
Era impossível negar o desejo de vingança que ainda queimava dentro de mim, no entanto, lá no fundo eu sabia que outra vontade havia surgido, uma que incluía um lugar sossegado, paz e Alícia.
Droga...
Sentia minha cabeça latejar quando finalmente alcancei as macieiras. O sol já estava a uma boa altura no céu mas isso não pareceu incomodar Julian que estava entre os galhos com um chapéu de palha e uma mancha de suor nas costas.
—Amenadiel!Já terminou com Alícia?
O encarei sem entender direito.
—Sim, o café estava ótimo.
O vi sorrir.
—Eu não me referia a isso.
—Então ao quê?
Observei suas mãos arrancaram duas maçãs vermelhas e as colocar com cuidado nos cestos.
—Vocês pareciam estar precisando de uma boa conversa, bom, digo isso por que Alícia estava um tanto agitada pela manhã.
—Incrível como em tão pouco tempo já conseguiu perceber essas coisas.
O coelho sorriu.
—Acho que sou um bom observador, e pela sua cara chuto dizer que tem algo te incomodando.
—Só coisas de mais para pensar — respirei fundo — Mas então, por onde eu começo?
Julian pareceu entender que eu não queria me prolongar naquele assunto e com um leve sorriso apontou para os vários cestos vazios no chão.
—É só pegar as maçãs vermelhas e enche-los.
—Parece fácil.
Ainda mais se comparado aos vários tipos de trabalho que já fiz nessa vida.
—Concordo! — ouvi o coelho gritar do meio de vários galhos — Até seu corpo sentir a coceira!
Passei o resto da manhã no pomar. Como eu era mais alto que o homem coelho acabei ficando com a parte de cima das árvores enquanto ele se abaixava para colher as maçãs que estavam na parte de baixo. Depois do que se pareceram horas finalmente enchemos o último cesto e, como Julian havia dito, meus braços pinicavam como se várias formigas andassem sobre minha pele.
—Um banho com folhas de camomila e garanto que essa sensação vai embora.
—Espero que sim — disse enquanto esfregava as unhas no antebraço — Isso é pior do que lutar contra ogros e bruxas...
—Disse alguma coisa?
—Nada de mais, e agora?E só levar as maçãs para a cozinha?
—Exato!
Carregar os cestos de volta pareceu um trabalho mais fácil do que colher os frutos, porém, eu conseguia ver o esforço de Julian arrastando seu pequeno carrinho pelas pedras do quintal. Sem dizer nada estendi uma das mãos e o ajudei a puxar os cestos enquanto fazia o mesmo com os meus sem a mesma dificuldade. Assim que chegamos na porta da cozinha Julian me agradeceu, enxugou o suor da testa com a manga da camisa azul, abraçou um dos cestos e subiu os degraus até sumir dentro da casa. Imitando seu gesto peguei dois dos cestos e caminhei em direção a cozinha onde o cheiro doce de maças, mel e canela invadiam meu nariz.
—Amenadiel!Isso não está muito pesado?!
Mila foi a primeira a aparecer, estava com um avental de babados em volta da cintura, o cabelo preso para trás junto das orelhas brancas e uma grande colher de pau na mão direita.
—Não se preocupe comigo, eu estou bem, mas e você, não deveria estar de repouso?
—Ia perguntar a mesma coisa.
Julian apareceu do meu lado, os braços cruzados na frente do peito e o olhar preocupado.
—Deveria estar deitada.
—Deixa disso amor, eu estou bem melhor, e para acalmar seus ânimos fique sabendo que não estou fazendo esforço nenhum, Alícia está me ajudando em tudo.
—E cadê ela? — procurei com os olhos algum sinal da garota desastrada com receios de algo ter acontecido.
Alícia e facas definitivamente não são uma boa combinação...
—Foi na dispensa pegar mais mel, o que me faz lembrar de que nosso estoque está baixo querido, não sei se o que temos vai ser o suficiente para terminar as tortas, acho que você vai ter que ir à cidade buscar mais.
—Me desculpe querida, mas não vou sair de perto de você hoje, não depois do susto de ontem, só faça o que der com os ingredientes que temos, amanhã eu vou a cidade e você pode terminar o resto das tortas.
—Homens — vi a coelha revirar os olhos azuis — Os ingredientes que usamos iam acabar estregando e você sabe que eu não gosto de desperdício...
—Lamento querida, mas eu não vou arredar o pé daqui.
—Eu posso ir buscar mais mel para as tortas.
Nós três olhamos para a jovem que apareceu com um pote de vidro na mão com um liquido dourado dentro. Assim como Mila Alicia também estava com avental na cintura e os longos fios castanhos presos só que em um coque todo bagunçado, seu rosto estava sujo de farinha junto de alguns respingos de massa branca, porém, não pude deixar de notar a pequena tira branca envolta de alguns dos seus dedos. Respirando fundo larguei as cestas em cima da mesa e fui até ela segurando sua mão.
—Por que será que isso não me surpreende?
—Foi um pequeno acidente, só isso.
Apertei de leve seu dedo vendo-a fazer uma careta.
—Sei, você deveria prestar mais atenção, é um milagre que não tenha perdido um dedo ainda.
—Milagre mesmo seria se você não viesse implicar comigo, isso sim.
A encarei com um misto de incredulidade e irritação que foi devolvido com o mesmo.
—Vamos vocês dois, se acalmem.
A voz alegre de Mila conseguiu acalmar os ânimos, menos o do seu marido que ainda continuava irredutível.
—Eu agradeço Alícia querida, mas os potes iam ser pesados de mais para você trazer e o caminho é meio longe.
—O Amenadiel pode ir comigo então — seus olhos castanhos se voltaram para mim com um brilho estranho — Acho que ele já demonstrou ser bem forte.
A encarei perplexo, Alícia porém simplesmente me ignorou.
—Se não for pedir muito de vocês, sabemos que já nos ajudaram bastante e não queremos abusar...
—Até parece, foram vocês que nos ajudaram, só estamos retribuindo o favor, não é Amenadiel?
—É claro.
—Viu só!Pode contar com a gente, nós vamos buscar o mel!
Com um largo sorriso no rosto Alícia deixou o pote em cima da mesa enquanto Mila conversava com Julian. Depois de alguns minutos ambos pareceram entrar em um acordo nos entregando três trouxas pequenas com algumas moedas de bronze e prata.
—Aqui está o dinheiro, tem o suficiente para o mel que vamos usar nas tortas — Mila disse indicando a trouxa maior.
—E essas duas são para quê?
—É o pagamento de vocês, por ajudarem a tomar conta das crianças, cuidar de mim...
—Ajudar no pomar e fazer as tortas — Julian completou.
—Mas isso não é necessário... não fizemos essas coisas em troco de nada.
—Por favor Alícia aceite, vocês merecem cada moeda, e já adianto que não vou aceitar recusas.
Se colocando ao lado da mulher Julian abraçou Mila confirmando as palavras da esposa. Ainda com as trouxas em mãos Alícia encarou hesitante o casal de coelhos antes de esboçar um leve sorriso de agradecimento. Fiquei preso alguns segundos naqueles olhos gentis e sinceros até que a voz dos coelhos me trouxessem de volta.
—Bom, vou explicar o caminho para vocês.
Seguimos Julian até a sala onde ele nos entregou um pequeno mapa, olhando para os contornos da floresta consegui distinguir com clareza o trajeto que deveríamos seguir até a cidade, depois de mais algumas instruções e alguns avisos sobre qual barraca era a melhor para se comprar o mel os dois coelhos nos acompanharam até a porta onde nos despedimos.
Sem pressa Alícia e eu cruzamos o caminho de pedras até sair do quintal de grama verde para uma estrada de terra batida que contornava a floresta, eu ia na frente atento aos sons e ruídos que vinham das árvores enquanto ela caminhava distraida logo atrás de mim.
—Esse lugar é lindo, não acha?
—É agradável.
—Agradável e lindo.
Por um momento imaginei seus lábios se curvando em um sorriso alegre. Mantendo minha concentração segui em frente sem olhar para trás.
—Acho que deveríamos ter trazido o Dexter, ele ia gostar de conhecer a cidade.
—Ele estava ocupado com as crianças.
—É verdade, e elas são uma graça!Fazia muito tempo que eu não brincava daquele jeito com alguém.
Sem que eu esperasse ouvi ela acelerar os passos pouco antes de agarrar minha mão, surpreso com sua atitude repentina parei de caminhar para focar os grandes olhos castanhos que transbordavam alegria.
—Esses últimos dias vem sendo os melhores da minha vida, obrigada Amenadiel!
Com um sorriso sincero ela largou minha mão fazendo com que meu corpo ansiasse para sentir novamente seu toque.
—Bom, tirando é claro as vezes que eu quase morri, mas isso são apenas detalhes...
Detalhes?
Acordei do meu breve momento de transe encarado a jovem que caminhava despreocupadamente alguns passos à minha frente.
Detalhes...
Pensei comigo mesmo antes de alcança-la.
Caminhamos por alguns minutos até que algumas construções começassem a tomar forma entre as árvores. Pequenas casas surgiam entre a floresta e uma grande clareira se abriu até que as cores vibrantes de varias tendas e barracas preenchessem o lugar junto de vozes e pessoas das mais variadas cores, tamanhos e formas.
—Veja Amenadiel!
Olhei para um enorme cão de plumas vermelhas e bico de águia, o animal estava deitada aos pés de um homem de pele dourada vestido com uma longa saia branca e colares prateados em volta do pescoço, sua figurava brilhava com os feixes de luz que ultrapassavam a copa laranja das árvores enquanto conversava com um homem baixinho de pele verde que precisou subir em uma cadeira para ficar na mesma altura que ele, ambos pareciam negociar alguma coisa na qual não dei muita atenção.
—Que animal lindo...
—É um canislabra — falei desviando de alguns vendedores de pele amarela que sacudiam objetos de madeira na nossa direção — Provavelmente é o Gouli daquele homem.
—Igual ao Dexter?
—Sim, mas os canislabra são considerados de linhagem nobres e muito usados como montarias livres.
—O que são montarias livres?
—São Goulis onde você pode entregar qualquer coisa e pedir para que guardem em um lugar secreto que só eles conhecem, mas obviamente só obedecem a seus mestres.
Seguimos em frente deixando o cão de plumas para trás entrando mais a fundo no comercio. De inicio fiquei preocupado em ser reconhecido por alguém mas esse receio logo se esvaiu, ninguém ali parecia ter atitudes suspeitas, eu diria que era fácil caminhar de forma despreocupada e até mesmo apreciar os itens que eram vendidos se outro tipo de preocupação não me atormentasse. Alícia. Por mais variado que fossem os tipos de pessoas que iam e vinham pelas barracas a jovem garota humana não deixava de chamar atenção justamente por ser completamente o oposto de quem estava por ali. Seu aspecto simples era incomum atraindo os olhares de muitas pessoas, por varias vez ouvi propostas de venda como se Alícia fosse um tipo raro de Gouli mas eu simplesmente os ignorava seguindo em frente.
—Mila disse que o vendedor de mel estaria perto da barraca de tecidos...
Olhei para a tenda roxa onde varias peças de algodão estavam penduradas.
—Devemos estar perto, então não saia de perto de mim...
Me virei para falar com Alícia até me dar conta de que ela não estava mais ali. Olhei para o espaço vago onde deveria estar sua baixa silhueta pouco antes dos meus olhos se perderem na multidão com desespero.
Ótimo...
Respirando fundo afastei a sensação horrível que subiu até a garganta me concentrando nos variados cheiros que impregnavam o ar. Achar Alícia pelo seu perfume seria impossível, não me restavam escolhas se não procura-la entre a multidão. Comecei refazendo o trajeto de volta encontrando com o pequeno homem verde mas sem sinal algum do canislabra ou de Alícia. Impaciente perguntei aos comerciantes se não teriam visto uma jovem sem muitos atributos passar por ali até que uma pista me levou direto a uma barraca de fitas de cetim, porém, a garota que estava lá não era a humana insolente que eu conhecia, ignorando o sorriso de dentes afiados que ela me lançou dei as costas pronto para continuar minhas buscas quando o brilho das fitas me fizeram voltar, momentaneamente, no passado onde um doce par de olhos verdes se tingiu de castanho preenchendo meus pensamentos.
—Vejo que se encantou pelas minhas fitas senhor, gostaria de levar algumas?
Uma mulher de pele rosa, olhos amarelos e cabelo branco se inclinou na minha direção indicando as tiras de tecido. Algumas brilhavam, outras eram opacas, tinham aquelas que pareciam ter bordados minúsculos enquanto outras simplesmente eram de uma única cor. Antes que eu me desse conta tinha pegado uma fita dourada que brilhava conforme eu a movia entre os dedos e outra verde esmeralda.
—Vou ficar com essas.
—Uma moeda de bronze.
Assim que paguei a vendedora guardei as fitas no bolso da calça pouco antes de outra barraca me chamar a atenção.
—Bom dia meu jovem, interessado em alguma coisa?
Observei as varias folhas, pergaminhos e cartas náuticas até que meus olhos pararam sobre uma pilha de livros, alguns possuíam títulos enquanto outros simplesmente estavam em branco.
—Quanto está? — perguntei ao homem de pele verde musgo indicando o livro de capa azul e tiras de couro.
—Sete moedas de bronze, mas se for levar esse vai precisar de uma dessas.
O vi colocar na minha frente vários tipos de lápis e canetas, alguns de carvão simples, outros coloridos, algumas canetas tinteiro e outras simplesmente de madeira.
—Não tem algo mais, duradouro?
—Vejo que é um viajante então! — ele sorriu mostrando a ausência de alguns dentes — Seria ruim perder os lápis na viajem ou simplesmente ficar sem tinta...
Devagar suas mãos depositaram uma caixa retangular com vários entalhes de madeira. Observei atentamente quando ele abriu o tampo mostrando algumas penas coloridas que emanavam aura magica.
—São penas de escrita infinita, a cor está indicada na própria plumagem, cada uma custa uma moeda de prata mas como você é o primeiro jovem que apareceu aqui eu cobro apenas o preço da pena e o livro sai de graça.
—Aceitarei sua oferta.
—Fique a vontade para escolher.
Peguei varias penas na mão, a sensação me causou um certo desconforto mas o ignorei, analisando minuciosamente o peso, tamanho e as cores optei por uma de tamanho médio, leve, de coloração preta, azul cobalto e prata.
—Pode embrulhar para mim?
—É claro.
Não demorou muito para os objetos serem enrolados em um fino tecido verde e amarrado com tiras de relva azul trançadas. Por um breve momento me recordei do casal de Gliths e o mar das relvas dançantes.
—Aqui está, tenha um bom dia!
Com o pacote em mãos agradeci com um aceno de cabeça antes de me afastar indo em direção ao centro do comercio. Aquela altura eu já estava com os nervos a flor da pele preocupado com o sumiço de Alícia quando, como em uma miragem, vi sua baixa silhueta entre a multidão. Com o olhar perdido ela parecia procurar aflita por alguma coisa quando seus olhos pousaram em mim e um sorriso de alivio surgiu em seu rosto.
—Diel!
A vi correr na minha direção onde a acolhi em um abraço apertado. O calor do seu corpo emanava para o meu acalmando todas as preocupações enquanto me permitia esquecer, por um momento, de tudo e todos ao nosso redor.
Finalmente eu te encontrei...
...
Depois que finalmente achei Alícia, seguimos direto para o vendedor de mel, e dessa vez não desgrudei os olhos da humana.
—Acho que já podemos ir embora — ela disse enquanto saltitava pelas ruas de cascalho.
—Você acha? — tentei controlar a ironia em minha voz.
Alícia por sua vez sorriu.
—Gostei desse lugar, eu ficaria mais um pouco.
—Fala isso porque não foi você que ficou rondando as barracas procurando um certo alguém...
Só de imaginar o que poderia ter acontecido com ela, isso me deixava inquieto.
—Me desculpe Amenadiel, não foi minha intenção te preocupar...
—Só tome mais cuidado da próxima vez.
—Tudo bem, mas pelo menos foi divertido!
Pegamos a estrada até a orla da floresta. Alicia continuava saltitando, feliz como uma criança enquanto contava as coisas incríveis que viu e ouviu.
—Vai me dizer que não gostou de dar uma volta pelas barracas?
—Não.
—Sei — mais uma vez ela sorriu — Aliás! Comprei algumas coisas, e isso aqui é para você!
Ela parou na minha frente, os olhos brilhando enquanto estendia um pequeno pacote.
—O que é isso?
—Abra e vai saber!
Desconfiado, olhei para a garota que balançava o vestido de um lado para o outro, completamente ansiosa.
—Parece até que é você que está ganhando o presente.
—Vai! Abre logo!
A olhei uma última vez antes de abrir o pacote. Dentro do saquinho havia um cordão com uma pedra que brilhava nos tons vermelho, laranja e amarelo, igual ao pôr do sol.
—E ai?!Gostou?!
Seu sorriso era de orelha a orelha.
—Achei que ia combinar com você, ainda mais com a cor dos seus olhos!
Continuei olhando o pingente, a pedra era fria ao toque, mas ainda assim conseguia sentir algo se aquecer em meu peito.
—Obrigado.
—Vêm! Deixa eu colocar em você!
Mal tive tempo de abaixar para que Alícia pegasse o colar das minhas mãos passando em volta do meu pescoço. Seu perfume doce inebriou meu nariz como o vinho dos campos boreais que meus pais tanto gostavam, a lembrança era dolorosa, mas não incomodou como antes.
—Pronto!
A alegria estava estampada nos seus olhos castanhos.
Ainda com aquela sensação no peito, segurei o pingente por alguns segundos antes de lhe estender o embrulho que eu segurava nas mãos.
—Isso é para você...
Por um momento o sorriso desapareceu do seu rosto.
—O que foi? — eu estava preocupado, nitidamente preocupado com aquela reação — Você está bem?
Alícia nem pegou o pacote, apenas continuou encarando o embrulho, rígida como uma estatua.
—Ei! O que fo-
Porém, para minha surpresa, ela cobriu a distância agarrando o embrulho com firmeza, o sorriso havia voltado para o seu rosto junto dos pulinhos que pareciam ainda mais altos.
—Obrigada Diel! Obrigada! Obrigada! Eu amei!
Levei um tempo para me recuperar do choque antes de começar a sorrir junto.
—Você ainda nem viu o que é.
—Não importa! Eu já amei!
—Bom...fico feliz em saber, mas que tal abrir o embrulho só para ter certeza?
—Certo!
Ainda sorrindo e com a onda de adrenalina em seu corpo, Alícia desfez o laço que prendia o pacote retirando o livro e a pena com cuidado. Seus olhos brilharam, de uma forma que eu nunca havia visto antes, e lá no fundo, conseguia sentir a vontade de repetir aquele momento por quantas vezes forem possíveis, apenas para ver a alegria iluminando seus olhos.
—Eu amei...
Uma lágrima solitária caiu pela sua bochecha, junto de outra, e mais outras. Se não fosse o sorriso em seus lábios eu teria ficado preocupado.
—Sei que amava os livros que perdeu...
Um par de olhos brilhantes me encarou.
—Não faço ideia de que tipo de histórias haviam neles mas, com esse você pode escrever o que quiser, quem sabe, criar uma própria história...
Sem que eu esperasse, Alicia correu até mim afundando o rosto no meu peito.
—Obrigada Diel... obrigada...
Ficamos um tempo ali, juntos, abraçados, o vento suave da floresta tocando nossos corpos enquanto o silêncio fazia sua sinfonia única, onde em apenas raríssimos momentos éramos capazes de ouvir.
—Vamos, é melhor irmos ou aqueles dois coelhos vão ficar preocupados.
Alícia concordou com a cabeça, enxugou as lágrimas com o dorso da mão, abraçou firme seu presente contra o peito e foi caminhando pela estrada com o sorriso inabalável no rosto.
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