Capítulo 24
Minhas unhas fazem barulho conforme digito no teclado do computador.
O dia está calmo hoje. Logan não teve nenhuma reunião e eu não fiz nada o dia todo além de ler e digitar. Bem, atendi telefonemas também.
Não é um trabalho emocionante, na verdade pode ser bem tedioso às vezes. Achei que a vida de alguém tão importante quanto Logan fosse ser mais agitada.
Às vezes paro e penso sobre o emprego ideal e então percebo que não faço ideia do que gostaria de fazer pelo resto da vida.
Sim, eu fui pra faculdade e consegui um diploma, mas eu confesso que até hoje não tenho certeza se fiz as escolhas certas.
Claro que não posso reclamar, trabalhar para o meu melhor amigo é ótimo.
Logan é, com toda certeza, uma das minhas pessoas preferidas desse mundo. Nunca conheci alguém com a sua força, o seu humor, sua malícia e seu coração de ouro. Ele me faz rir e às vezes me faz querer lhe dar um beliscão bem dado.
Logan está muito bem depois de ter levado o tiro. Ele ficou com uma cicatriz na área das costelas e diz que isso faz com que ele pareça mais fodão. Ele teve a cara de pau de me dizer que ajuda a conquistar as mulheres, que basta ele lhe dizer que levou um tiro salvando uma amiga e elas perguntam "oh, é sério?" e ele responde "é sim, quer ir pra algum lugar e ver a cicatriz?" e assim ele consegue se dar bem.
É óbvio que ele não precisa dessas artimanhas, duvido que exista mais de dez mulheres em todo o mundo que não achem Logan atraente.
Claro que para mim o único homem que importa é Nate.
Ouço o "ding" do elevador e as portas se abrindo. Duas mulheres, uma um pouco mais alta que a outra e vestidas formalmente se aproximam.
— Boa tarde! — Cumprimento com um sorriso no rosto.
— Boa tarde! — A mais baixa fala. — Você é Amélia Price?
— Sim, sou eu.
— Eu sou a detetive Roth e essa é a detetive Hoyt. Desculpe aparecer no meio do seu expediente, mas será que podemos conversar?
— Conversar? Há algo errado? — Pergunto e sinto um aperto começar a espremer meu peito. Será que aconteceu algo com minha família ou com Nate?
— Nate está bem? — Não sei porquê pergunto sobre ele primeiro.
— Você se refere ao mesmo homem que é o dono disso tudo? — A outra mulher fala pela primeira vez, fazendo um gesto com a mão para indicar o prédio.
— Sim, ele mesmo. Ele está bem?
— Bem, isso depende. — Ela responde evasivamente e eu olho para as duas mulheres, confusa.
— O que está acontecendo?
— Srta. Price, você conhecia um homem chamado Michael Redmerski, não é?
Sinto um frio na espinha a menção do nome de Michael e de repente sou inundada por uma sensação muito, muito ruim.
— Conhecia? — Pergunto.
— Bem, não existe um jeito fácil de dizer isso. Michael está morto.
A notícia me atinge com o impacto de uma bala, como se a detetive Roth tivesse me dado um tiro a queima roupa.
Não, eu não deveria sentir pena de alguém como ele e sim, ele mereceu ir parar atrás das grades, mas mesmo depois de tudo o que Michael fez, saber que ele morreu é um choque para mim.
— C-como? — Consigo perguntar.
— Ele estava morto em sua cela quando foram buscá-lo para o café da manhã dois dias atrás. O problema é, Michael não estava dividindo a cela com ninguém. Ele ficava sozinho o tempo todo, ninguém além dos policiais entravam lá, mas mesmo assim ele amanheceu completamente sujo de sangue. Alguém entrou em sua cela durante a noite e o espancou até morrer.
— Meu Deus! — Levo a mão à boca e inevitavelmente começo a pensar em Michael e tudo o que passamos.
Sim, eu sei que ele não era uma pessoa boa. Ele foi abusivo comigo, com certeza, mas isso não significa que eu desejasse que ele fosse assassinado. Muito menos de um jeito tão horrível como esse.
Michael tinha tudo para estar no topo do mundo. Ele era podre de rico, sua família é muito poderoso e ele era extremamente atraente. É uma pena que não tenha sido uma boa pessoa.
— Gostaríamos de fazer algumas perguntas. — A detetive Hoyt diz, sem muito tato.
— Se você estiver se sentindo bem, é claro. Sei que essa notícia deve ter sido um choque. — A detetive Roth diz. Bem, pelo menos uma delas tem coração.
— Claro, mas não vejo como isso ajudaria. — Respondo.
— Qual foi a última vez que você viu o Sr. Redmerski?
— No dia que ele invadiu o meu apartamento e foi preso. Eu o veria de novo no dia do julgamento, mas agora...
— Qual era sua relação com ele, por que ele invadiu o seu apartamento e lhe ameaçou com uma arma?
— Vocês tiveram acesso ao meu depoimento? Lá eu conto tudo, mas basicamente ...bem, eu namorei Michael e ele se tornou violento. Quando eu terminei ele não aceitou muito bem.
— Entendo. Nesse caso, por conta dos abusos, é seguro dizer que você não era muito fã do Sr. Redmerski, certo? — Hoyt pergunta, estreitando o olhar.
Será que ela acha que eu tenho algo a ver com a morte de Michael?
— Bem, eu não queria ele perto de mim, mas não desejava que nada de ruim acontecesse com ele.
— Quem sabe sobre os abusos que você sofreu por parte do Sr. Redmerski? Sua família, amigos, namorado? Alguém querendo fazer justiça com as próprias mãos, talvez?
— O que?! — Fico chocada. — Você acha que alguém que eu conheço seria capaz de fazer algo assim?
— Não sei, Srta. Price, me diga você.
Fico tão indignada que nem consigo falar, minha boca apenas se abre e fecha se abre e fecha, mas as palavras certas não saem.
Minha família não sabe sobre os abusos de Michael. Na verdade, elas nem sabem da existência dele.
Logan nunca faria algo assim, nem Nate.
— Não, minha família não sabe de nada e mesmo se soubessem, nunca fariam algo assim.
— Você tem namorado?
— Tenho sim, mas não vejo como...
— Ele sabia dos abusos?
— Sim, mas...
— Mais alguém sabia?
— Não. — Minto.
— E um tal de Logan Anderson? Ele é o seu chefe, certo? Não foi ele quem foi com você quando você prestou queixas contra o Sr. Redmerski?
— Pelo que os policias nos contaram, o Sr. Anderson estava muito exaltado quando fizeram a queixa. Ele disse...— A detetive Hoyt abre um caderninho e lê.
— Abre aspas. Vocês têm que prender esse porco filho da puta antes que ele machuque mais alguém. Esse monstro desgraçado merece passar o rosto da vida atrás das grades e sentir na pele o que é ser abusado por alguém. Fecha aspas.
— Isso me parece com alguém com muita raiva, alguém que gostaria de ver o Sr. Redmerski morto.
— Espera um minuto! Você acha que Logan matou Michael? Isso é a coisa mais absurda que eu já ouvi na minha vida! Se você conhecesse Logan como eu conheço saberia que ele nunca faria algo assim. Logan é um doce, uma criança presa no corpo de um adulto. Ele nunca faria mal pra alguém. — Fico irritada e levanto-me, ficando de pé.
— Então Logan é o seu namorado?
— Não!
— Bem, parece que você gosta muito dele.
— Porque eu gosto! Ele é meu melhor amigo. — Digo, exasperada, mas isso parece piorar a situação de alguma forma.
Roth e Hoyt se olham rapidamente e assentem sutilmente.
— Gostaríamos de falar com o Sr. Anderson e com seu namorado.
— É, só fazer umas perguntas. Se eles não tiverem nada a esconder então ficará tudo bem.
De repente sinto um medo irracional. Eu sei que nem Nate nem Logan fariam algo assim, mas sinto um medo horrível de que um dos dois acabe na cadeia por engano por minha causa.
— Agora. — Hoyt acrescenta.
— Bem, meu namorado, Nate, e Logan estão conversando agora mesmo no escritório.
— Então você namora um dos donos da empresa e é melhor amiga do outro. Hum, que mulher de sorte você é. — Hoyt diz e decido que não gosto dela.
Pego o telefone e ligo.
— Sim? — Logan atende.
— Duas detetives estão aqui e querem falar com você e Nate. É sobre Michael.
Logan fica em silêncio por alguns segundos, como se ele soubesse do que se trata.
Não gosto dessa sensação. Logan não pode ter feito isso, eu sei que não.
— Tudo bem, elas podem entrar. — Ele diz e desliga.
— Por aqui.
Guio as detetives até a sala de Logan e abro a porta. Roth e Hoyt entram e mesmo sem ter sido convidada para a conversa, entro também.
Não existe a mínima chance de eu não ouvir essa conversa.
— Olá, detetives. Sou Logan Anderson. — Loga abre um sorriso charmoso e despreocupado e estende a mão.
— Detetive Roth.
— Detetive Hoyt. — Eles trocam cumprimentos.
— E você deve ser...
— Nate. Muito prazer. — Nate se apresenta.
— Algum problema, detetives? — Logan pergunta, sentando-se em sua cadeira e fazendo sinal para que elas se sentem também.
Apenas Roth aceita o convite. Hoyt permanece de pé.
— Sr. Anderson, dois dias atrás o corpo de Michael Redmerski foi encontrado em sua cela. Entendo que o senhor o conhecia, certo?
— Nossa! Michael morreu? Sim, eu o conhecia. Bem, na verdade conhecer é uma palavra forte demais, eu o vi poucas vezes e uma delas foi quando ele apontava uma arma para Amélia. Como isso aconteceu? — Logan pergunta com interesse e espanto que pra mim parecem genuínos.
Se Logan está por trás dessa história, tenho que dizer, ele consegue ser um bom ator.
— Foi espancado. Até a morte. — Hoyt diz e eu observo atentamente a reação de Logan e de Nate.
Logan demonstra surpresa. Já Nate, vejo uma faísca de raiva brilhar em seus olhos.
— Que terrível! — Logan diz.
— De fato. — Nata diz, sem emoção alguma.
— Gostaríamos de saber se os senhores têm alguma informação que gostariam de compartilhar conosco.
— Sobre a morte de Michael? — Logan pergunta.
— Isso mesmo.
— Não vejo como posso ajudar, detetives. Não sabia que ele estava morto até vocês me dizerem.
— Eu também. — Nate concorda.
— Tem certeza disso, Sr. Anderson? Porque me parece que vocês dois tinham motivos para querer ver o Sr. Redmerski morto.
— Não precisa chamá-lo de Sr. Redmerski. Ele não merecia seu respeito quando estava vivo e certamente não merece agora. — Nate diz e se afasta, indo buscar algo para beber no bar no canto.
— A senhora está dizendo o que exatamente, detetive? Que eu ou Nate invadimos a prisão, entramos na cela de Michael e batemos nele até matá-lo?
— Certamente não penso que vocês tenham o matado diretamente, mas quanto a indiretamente...
— O que quer dizer? — Falo pela primeira vez.
— Sr. Anderson, se vocês sabem de alguma coisa é melhor falar agora. Se nós descobrirmos que alguém nessa sala mandou que atacassem o Sr. Redmerski...
— Ninguém aqui fez isso! — Digo, indignada e todos ficam em silêncio por vários segundos.
— O que houve com sua mão? — Roth pergunta, olhando para os nós dos dedos de Nate. Eles estavam bem machucados, mas agora estão apenas esfolados.
Lembro-me então do que Michael me disse no dia que invadiu meu apartamento. Ele acusou Nate de ter lhe espancado.
Eu perguntei se aquilo era verdade alguns dias depois e Nate me disse que não. Ele disse que tinha se machucado quando se empolgou enquanto estava batendo em um saco de pancadas.
Naquele momento escolhi acreditar em Nate, mas agora começo a ter dúvidas sobre isso. Porém, mesmo que Nate tenha dado uma surra em Michael, isso não significa que ele o mataria.
— Boxe. — Nate responde e bebe um gole da sua bebida.
— Aceitam algo para beber, detetives? — Logan pergunta.
— Não, obrigada. Nós temos que ir, mas se vocês se lembrarem de algo, me ligue.
Logan pega o cartão que a detetive Roth lhe oferece e o examina.
— Detetive particular?
— Exatamente. A família da vítima nos contratou, ao que parece a polícia não está se sentindo muito tentada a investigar a morte do Sr. Redmerski.
— Bem, nesse caso...pergunto-me, será que todas as perguntas e acusações que vocês fizeram estão dentro da lei? Essa visita está dentro da lei?
— Tenha uma boa tarde, Sr. Anderson. — Hoyt diz, parecendo com raiva de Logan.
Assim que as duas mulheres entram no elevador volto para o escritório e encosto-me na porta fechada.
Encaro Logan e Nate.
— Vocês têm algo a ver com isso? — Pergunto, com medo da resposta.
— Com a morte daquele lá? Claro que não. — Logan nega.
— Nate?
— Não fizemos nada, aquelas mulheres estão tentando achar cabelo em ovo.
— Mas e sua mão, hum? Eu vi o rosto de Michael. Foi você, não foi?
Nate me encara por alguns segundos e suspira, parecendo cansado.
— Foi.
— Por favor, Nate, me prometa, não, me jure que não teve nada a ver com a morte de Michael. — Peço, aproximando-me.
Nate hesita e meu medo aumenta. E se ele estiver envolvido nisso e for preso? Aquelas mulheres vão descobrir tudo e vão vir atrás dele.
— Jure de uma vez! — Logan diz, olhando o amigo com cara feia.
— Eu não quero mentir pra você, Amélia. Não se envolva nisso, tudo bem? Quanto menos você souber melhor. — Nate diz e Logan joga as mãos no ar, irritado.
Sinto-me tonta. Perplexa. Não posso acreditar que duas pessoas tão importantes pra mim fizeram algo assim, que eles tramaram a morte de alguém.
Eles fizeram isso porque você também é importante para ele, uma vozinha em minha cabeça diz.
— Você está metido nisso, Logan? — Pergunto, mas meu amigo não me responde, apenas me olha. Seu olhar diz tudo.
— Logan não tem nada a ver com isso, ele soube de tudo ontem à noite. Quando já era tarde demais.
— Não consigo acreditar, Nate! Você mandou baterem em Michael? Como pode fazer algo tão terrível. Ele está morto!
— O que era precisamente o que eu queria. — Nate diz e me assusto com sua frieza.
— Você não quis dizer isso.
— Quis dizer exatamente o que eu disse. Amélia, aquele canalha ficaria na prisão por um tempo e depois seria solto. De novo! Então ele viria atrás de você e isso eu não poderia permitir. Ele mereceu o que aconteceu. Não me arrependo do que fiz e se tivesse que fazer de novo eu faria. Faria mais mil vezes se necessário. Faço qualquer coisa para que você permanece em segurança.
— Mas Nate...você vai preso!
— Não.
— Vai sim! Eles vão descobrir!
— Vai ficar tudo bem, meu amor...— Nate se aproxima. — Vai dar tudo certo. Eu paguei para os caras certos fazerem. Nunca ninguém vai descobrir que fui eu.
— Você deveria ter me contado. — Digo, mas que diferença teria feito?
— Não se preocupe mais com isso, esse pesadelo todo acabou. — Nate diz e tenta me abraçar, mas dou um passo para trás, me afastando.
— O que foi?
Dou mais alguns passos para trás. Estou me sentindo tão confusa. Sinto-me culpada por não lamentar mais a morte de Michael e sinto-me confusa com relação ao fato de que foi Nate quem causou sua morte.
Ele pode não ter matado Michael com suas próprias mãos, mas foi ele quem encomendou o crime.
— Você acha que sou um monstro, não é? Está com medo de mim. Amélia, eu nunca machucaria você ou qualquer pessoa de bem. Michael merecia aquilo.
— Não acho que você seja um monstro, eu só...preciso pensar um pouco. Digerir essa coisa toda, sabe? Eu vou para casa se vocês não se importarem. Nos falamos amanhã.
— Amélia...
— Sério, Nate, está tudo bem entre nós, só preciso ficar um pouquinho sozinha. Te vejo amanhã.
Saio da sala e pego minha bolsa. Eu deveria ser mais profissional e voltar para minha mesa, mas não sei se conseguiria agir como se tudo estivesse normal e fosse apenas mais um lindo dia.
Entro no elevador e aperto o botão do térreo. Começo a pensar em Nate e no que ele fez.
Foi errado, mas então por que eu não estou com raiva dele? Por que não estou horrorizada pelo que ele fez?
Ele fez para te proteger, penso.
Não importa, matar é errado, outra parte do meu cérebro pensa.
Saio para o saguão, meus saltos estalando no chão. Passo pelas portas e saio na calçada.
Caminho alguns passos e sinto alguém segurar meu braço.
— Com licença.
— Sim? — Viro-me.
— Olá. — A mulher diz, dando um sorriso fraco. Seus olhos estão brilhantes, como se ela tivesse chorado.
— Desculpe, eu te conheço?
— Não, não conhece. Meu nome é Libby.
Libby. Esse nome não me é estranho, penso.
— Sou a mãe de Nate.
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