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Capítulo 47. Suja de Fuligem Vermelha

"Você é minha garota e estaremos sempre juntos;
Eu juro por qualquer coisa, por nós,
Você será sempre, sempre minha"

We belong Together - Ritchie Valens

Eu era pequena comparada a maioria das pessoas que eu conhecia, mas isso não me impediu de caminhar com Carmem apoiada em mim, quase carregando aquela mulher e saindo pelas portas das salas compartilhadas para não correr o risco de encontrar Mateus no meio do caminho.

Eu estava tremendo, só queria acordar e imaginar que tudo aquilo foi um pesadelo depois de um dia ruim.

Antes de levantar Carmem da cadeira e rodear seu braço nos meus ombros, com certa coragem acumulada e adrenalina, arranquei as duas unhas da mão esquerda e três da direita, vermelhas e prateadas que saíram inteiras dos meus dedos e estavam grudadas apenas por uma camada finíssima de pele. Toda vez que meu dedo passava por algum lugar, aquelas unhas agarravam em alguma coisa e me faziam gritar de dor.

Naquele momento eu não deveria olhar para minhas mãos com dedos inchados, para minhas pernas deformadas pelos calombos inchados e feridas por causa das abraçadeiras. A adrenalina me fez esquecer a dor nas mãos e a viscosidade do sangue que escorria nelas por um momento e apertei os dedos na cintura de Carmem, a outra mão segurou sua mão ao redor de meus ombros.

Eu sabia que mesmo naquela situação, Carmem estava fazendo o possível para andar e não jogar o próprio peso para mim. Eu me preocupei e me desesperei quando percebi seus lábios perdendo a cor, quando ela começou a falar coisas sem sentido como se estivesse alucinando.

Comecei a acelerar o passo ignorando meus tornozelos cortados ao passar para a quinta sala longe da que estávamos presas. Pretendia chegar até as escadas de emergência no corredor esquecido onde ficavam os elevadores principais desativados - Eles sempre me faziam ficar em dúvida sobre o que aquele prédio era antes de virar um mercadinho de açougue -, descer com Carmem por todos aqueles lances de escadas e depois pedir ajuda no primeiro posto de gasolina que pudéssemos encontrar pela pista deserta. Se conseguíssemos nos salvar de Mateus e ele não nos alcançasse no caminho.

Pelo que eu me lembrava, precisava passar por mais oito salas para encontrar o corredor empoeirado dos elevadores e as escadas de emergência para a porta dos fundos. Eu jamais sairia para o corredor principal que dava acesso direto às escadas para a porta da frente, Mateus estaria ali a qualquer momento e tudo provavelmente já estava pegando fogo.

Eu olhei para Carmem por tempo o suficiente para ver que seus lábios estavam mudando de pálidos para azulados, sua pele estava perdendo cor e meu desespero aumentou porque eu não sabia o que fazer, não sabia o que Mateus havia dado para ela beber e nem a quantidade.

Acelerei o passo abrindo porta atrás de porta, fazendo meus dedos cicatrizados sangrarem ao abrirem as feridas de novo a cada tapa que eu dava nas portas para abri-las e sair das salas.

Não demorou para as lâmpadas velhas piscarem, depois se apagaram de uma vez. Até mesmo o barulho normal e denso do ruído de energia se foi, apenas os cachorros latiam desesperados lá embaixo.

Estava paralisada de medo. Enquanto a minha razão me mandava andar, minhas pernas me paralisaram ali, no escuro com as janelas cobertas de jornal e sacos colados aos vidros das janelas emperradas.

Eu e Carmem estávamos reformando o local, ainda não havíamos chegado ali em cima, mas nos andares de baixo, as janelas já estavam consertadas. Talvez pudéssemos fugir por uma delas, talvez eu pudesse tentar quebrar um dos vidros trancados se minhas pernas se mexessem!

A energia havia acabado, os cachorros pararam de latir um a um depois de ganidos sôfregos. Naquele momento havia apenas silêncio e cheiro de fumaça.

Minha respiração ofegante preenchia a sala. Uma gota de suor desceu da minha nuca.

Eu não queria pensar no que havia acontecido com aqueles animais que Carmem dedicou dinheiro, tempo, amor e vida. Não queria imaginar se Mateus havia feito algo contra aqueles animais, a raiva não deveria me cegar.

Eu continuava me rastejando com Carmem pelas portas das salas até que elas acabaram e finalmente encontrei o maldito corredor empoeirado cheio de bolas de sujeira seca e ferramentas dispostas em uma montanha enferrujada. Estava tudo escuro e suspirei aliviada percebendo que estava vazio. Não havia nada além de mim, de Carmem, do metal enferrujado e da poeira.

Sentindo meu ombro doer, coloquei Carmem sentada contra a parede para tentar destrancar a porta para as escadas. Ela estava com o corpo tão mole que entortou para o lado, sua cabeça encostando na caixa de vidro onde estava o extintor de incêndio vencido.

"Por que tivemos a maldita ideia de fazer do refúgio daqueles animais ali naquele fim de mundo? Eu deveria ter pedido alguma ajuda a Aiden para mudar de local."

Evitei olhar para os lábios azulados de Carmem e então virei o rosto para o outro lado do corredor, comecei a andar sem pensar para constatar que estava vazio, que Mateus não estava nos esperando ali com sua arma e com o vidro de gasolina. A porta naquele corredor ainda não havia sido aberta, estávamos apenas eu e Carmem ali naquela área.

Percebi que meus lábios estavam tremendo, mas não era de frio. Engoli o medo e observei a tranca da porta, aquela porcaria que eu havia trancado há bastante tempo porque tinha medo daquele local vazio e escuro que por alguma entrada de ar, permitia assobios do vento ecoarem lá dentro. Era como uma cena de filme de terror.

Olhei para o amontoado de ferramentas quando empurrei as portas com meus ombros e não funcionou nada além de abrir uma pequena fresta. Mordi os lábios me curvando naqueles ferros velhos retorcidos.

Meu pai não me ensinou nada sobre abrir portas com grampos ou agulhas, é claro que ele não faria isso, mas com certeza era uma coisa que eu deveria ter aprendido com Carmem, ela saberia bem fazer aquilo.

Suspirei quando um pé de cabra maior que meu braço e pesado como um martelo coube nas minhas mãos. A tranca daquela porta era velha como o prédio, eu só deveria usar o pé de cabra como uma alavanca na fresta que abri forçando meus ombros até que quebrasse a tranca e a porta abrisse.

Assim fiz, rangendo os dentes pela dor no meu corpo enquanto forçava a ferramenta para o lado, amassando um pouco a porta velha e depois enfim quebrando a tranca de ferro. Segurei o pé de cabra nas mãos antes que ele caísse para evitar fazer barulho desnecessário.

Suspirei de alívio percebendo que as lâmpadas de emergência que Carmem instalou pelo prédio ao menos serviram naquela ocasião. Estava tudo iluminado, por luz fraca, mas ainda assim eu conseguia ver os degraus apesar da minha visão ruim.

O pânico me tomou conta quando percebi o tempo que perdi e que Mateus poderia estar se esgueirando por qualquer lugar.

- Carmem - Sussurrei me abaixando e pegando seu rosto entre minhas mãos inchadas e feias. Carmem abriu uma pequena fresta de seus olhos. - Você me escuta? Eu preciso que você me ajude agora mais do que nunca. - Olhei para a escada. - Vamos descer muitos degraus com uma luz um pouco precária. Preciso que você aguente apoiar seus pés no chão pra nós duas não cairmos juntas. Não vamos morrer aqui, tá? Eu vou nos tirar daqui.

Peguei os braços de Carmem, mas ela resistiu por alguns segundos e me empurrou de leve antes de perder suas forças.

- Desculpa... - Ela falou em um fio e com a voz de um bêbado sonolento. Seus olhos estavam escorrendo lágrimas e molhando suas bochechas. Ela parecia querer falar muitas coisas, mas não conseguia. - Vai... embora de uma vez.

- Carmem, a gente tá perdendo tempo! - Sussurrei sentindo raiva. Puxei sua mão de novo, e dessa vez Carmem não possuía força para se afastar de mim porque não conseguia me empurrar. Ela estava chorando e soluçando. - Eu vou nos tirar daqui. Só preciso que você... apoie seus pés no chão, só um pouquinho.

- Ele me encheu de... algum tipo de remédio. Eu vou apagar. Vou ser um peso.

- É por isso que a gente tem que descer essas escadas o mais rápido possível pra acabar naquele jardim pela porta dos fundos e depois ir embora. - Rangi os dentes e olhei para a barra de ferro na minha mão. Aquele pé de cabra tão pesado quanto uma marreta que seria muito útil para tentar abrir a última porta caso ela estivesse trancada. - Passe a força que está usando na garganta para os seus pés. Tá falando besteira demais. Eu não vou te deixar aqui.

Eu demorei muito tempo para descer Carmem naquela escada, até tropeçamos algumas vezes, mas eu estava segurando o corrimão e antes de nos quebrar, eu segurava o ferro e tentava normalizar minha respiração. Carmem ao chegar no último degrau, desabou sobre mim.

Eu suspirei um pouco aliviada escutando o barulho de chuva, significando que estávamos perto da rua.

Coloquei Carmem um pouco grogue sentada no último degrau da escada e corri tentando abrir a porta vermelha de emergência. Aquela cor me lembrou de Aiden, esperava que ele tivesse dado falta de mim, esperava que os seguranças já tivessem chegado até ele e dito que eu havia sumido.

Que hora ruim onde eu resolvi sair de perto deles, porém se Mateus não tivesse me achado e levado, será que Carmem não já estaria queimando naquela sala encharcada de gasolina?

O desespero tomou conta de mim de novo quando empurrei a porta, mas ela não abria. Fiz esforço, empurrei com meus ombros, chutei e tentei enfiar a alavanca do pé de cabra na fresta entre as duas portas, mas não havia espaço o suficiente. Alguma coisa muito pesada estava bloqueando o outro lado, já que a porta abria para fora.

Mateus... será que ele calculou que caso conseguíssemos fugir dele, nós iríamos pela saída de emergência e era apenas questão de tempo para ele nos achar?

O cheiro ali estava muito forte, eu tinha certeza que o fogo já havia tomado conta da maior parte do prédio, conseguia imaginar a fina camada de fumaça escapar das finíssimas frestas das portas.

Encostei a testa no metal gelado enquanto tentava parar de tremer e engolir a bile que vinha na garganta. Eu não podia abrir aquela porta, estava bloqueada. Mateus pensou em tudo.

Olhei para o lado onde havia outra saída que me levava até o corredor principal, depois ao salão e finalmente na entrada onde estavam os cachorros. Mateus já havia ateado fogo ali, eu já sabia o que esperar ver do nosso pequeno canil pelo silêncio repentino que tomou o ar quando pararam de latir com medo do fogo.

Olhei de soslaio para Carmem. Ela estava murmurando e chamando pela sua avó em seus sonhos ou talvez alucinações.

"De qualquer forma, nós provavelmente nos encontraremos com Mateus." Pensei.

Um barulho me assustou, corri até Carmem e entrei com ela no breu empoeirado e cheio de teias de aranha debaixo da escada. Eu estava tremendo tanto que até minha respiração estava entrecortada, mas agradeci pela escuridão nos acolher bem e nos esconder por completo.

Porém não podíamos ficar por muito tempo ali. Logo o fogo atingiria as partes inflamáveis do prédio, logo ocorreriam explosões, logo a fumaça estaria em todo lugar e se continuássemos escondidas debaixo da escada, morreríamos intoxicadas.

Carmem estava apagada. Tive vontade de chorar quando a ideia de ela estar tendo uma overdose pelas drogas excessivas que Mateus a fez beber passou pela minha mente.

Eu precisava encontrar um caminho limpo e livre de Mateus para passar com Carmem.

- Carmem, eu vou voltar, prometo. Só preciso ver por onde podemos sair, a porta está bloqueada. - Carmem definitivamente não podia me ouvir o que eu estava falando. Os olhos dela se fecharam, coloquei meu dedo abaixo de suas narinas para constatar que a respiração estava fraca.

O desespero me fez levantar, uma luz inteligente de minha consciência lúcida - ou talvez a parte mais escura e podre dela - me fez levar o pé de cabra na mão quando me levantei e me afastei observando o local debaixo da escada para ter certeza de que Carmem estava bem escondida. Rezei para que ela não acordasse de repente e acreditasse que eu a tinha abandonado, ou que saísse do fio de escuridão que a protegia.

Engoli em seco empurrando a porta para o corredor principal, aquele que dava caminho para o salão e depois finalmente a saída. O ar estava cheio de fumaça, e me xinguei de novo por não ter nada para colocar no nariz enquanto avançava sentindo aquele ar ardendo minha garganta.

Comecei a andar rápido quando percebi que estava tudo vazio no corredor. Avancei olhando para os lados e sentindo desespero por não conseguir ver quase nada, mas agradeci as sombras que apontavam nas paredes e me ajudavam a me camuflar dentro delas.

Caminhei me arrastando pelas paredes, arranhando meus braços machucados até onde a escuridão podia me proteger. Continuei até a porta, ela estava trancada, então me restava a janela de vidro. Aquela estava trancada, porém era de vidro e eu podia quebrar sem problemas, o problema era o barulho.

Foi então que eu vi algo pelo canto dos olhos, um vulto. Tarde demais, eu deveria tentar ao menos abrir o portão do lado de fora.

- Espera! - Era a voz de Mateus descendo escadas do outro lado. - Eu tava te procurando o prédio inteiro! Pra onde você levou a Carmem?

Eu enfiei o pé de cabra na janela, o vidro estourou de imediato. Me enfiei na abertura mesmo com os cacos rasgando minha pele, mesmo com cortes fundos o suficiente para me fazer ter que costurar aquilo caso saísse daquele lugar viva. Eu já estava completamente suja de sangue quando caí do outro lado da janela, quando corri até aquela parte do que deveria ser um estacionamento rodeado por um portão elétrico que não funcionava.

Eu ainda tinha que abrir o portão!

Um último fio de esperança se foi quando vi as milhares de correntes grosseiras que rodeavam o portão e no final estavam presas por um cadeado.

- Espera, porra! - Mateus gritou, então o barulho de um tiro reverberou pelo local vazio. Uma pontada de dor intensa atingiu minha perna, gritei antes de cair, mas ainda tentei me arrastar para longe dele sem sucesso.

A dor de uma bala dentro de você não é como aquela mostrada nos filmes, a dor era intensa como a morte. Segurei minha panturrilha enquanto o sangue minava da ferida, rangi os dentes tentando me voltar para o portão sem saber exatamente o que faria já que estava trancado.

- Você me fez usar a bala! Me fez usar a última bala! - Gritou usando a chave para abrir a porta, observou os restos do vidro da janela manchados com meu sangue enquanto pegava a minha barra de ferro do chão. - A bala era pra mim! Você estragou tudo!

Eu mandei Mateus ir para o inferno enquanto ele se aproximava, eu já tinha quase desistido da minha vida quando ele fechou a mão ao redor da arma e me deu uma coronhada na têmpora.

Novamente eu perdi a consciência.


Em uma memória avulsa, Aiden estava se olhando no espelho, uma empregada penteava seus cabelos platinados e quase loiros. Eu o observava da porta escondida pelo portal de madeira, mas não o suficiente para que ele não me encontrasse com os olhos. Ele dispensou a empregada com um gesto.

Ele observou sua própria imagem com desgosto, passos os dedos pelos cabelos enquanto a empregada passava por mim de cabeça baixa. Os olhos vidrados no chão e o sorriso forçado sempre ali.

- Ele disse que você deveria me evitar? - Perguntou Aiden piscando os cílios brancos e levantando as sobrancelhas quase inexistentes de tão claras. - Eris já foi expulso, provavelmente já está morto por causa da epidemia de febre das borboletas. Por que ainda faz o que ele diz se sabe que Eris é um oportunista?

Eu fiquei calada. Aiden não costumava me dirigir a palavra, mas ele começou a fazer aquilo com mais frequência depois que Lilian morreu.

- Não quero me casar com você. - Murmurei sem pensar. Aiden me olhou arregalando um pouco os olhos e vacilando sua expressão.

Aquelas foram as primeiras palavras que eu disse a ele.

Eu estava amarrada de novo, mas dessa vez senti o fogo quase lamber minha pele por causa do calor. Tossi com vontade sentindo a fumaça arder meus pulmões.

Tudo estava vermelho ao redor, o teto também estava queimando, absolutamente tudo. A coluna de ferro onde eu estava amarrada não era a mesma de antes, mas a do salão do segundo andar, onde o fogo era mais alimentado pela quantidade de gasolina.

O fogo estava consumindo tudo, eu não conseguia ver mais a porta, não via mais nada além de tudo crepitando ao meu redor.

Eu vi com horror os corpos peludos e grandes dos animais caídos no chão em poças de sangue entre as grades de metal. Mateus estava colocando Carmem de seu colo sentada em uma cadeira também no lado do fogo em minha frente.

- Carmem... - Murmurei, mas a fumaça entrou em minha garganta enquanto eu estava desmaiada, me fazendo ficar rouca. Ninguém me ouviu.

Mateus estava murmurando algo com Carmem enquanto olhava freneticamente para a porta onde barulhos de explosões ecoavam cada vez mais perto. Eu não sabia se ela estava acordada, imaginei que ela tivesse tentado sair do local que a deixei porque não me viu e tentou me procurar, então Mateus a pegou.

Puxei minhas mãos amarradas com o cinto de Mateus, eu tentei gritar mas não havia voz na minha garganta.

Cemicerrei os olhos forçando a visão e observando que Mateus estava com um vidro de pílulas entre os dedos. Ele bebeu um punhado delas, e outro punhado estava fazendo Carmem beber. Podia vê-la fraca tentando virar o rosto, mas mesmo assim ele enfiou aqueles comprimidos em sua boca.

Carmem já estava completamente dopada, já estava perdendo a cor quando estava escapando comigo. Se ela bebesse aquelas coisas, em algumas horas ela estaria morta.

Mateus estava tentando fazer Carmem ter uma overdose naquele momento, e o desespero me tomou quando ele fechou a boca da mulher e a tapou com a mão enquanto massageava a garganta dela, assim como fazemos quando um cão deve engolir remédio.

"Seremos irmãs a partir de agora. Vou te livrar de todas as encrencas que você se meter, já que você parece um imã pra isso."

Ela sorriu levantando as sobrancelhas. Nossos olhos estavam roxos, mas as mãos dela estavam machucadas de tanto bater naqueles que estavam me importunando na escola.

Carmem estava comigo na Bahia, depois também passamos juntas no processo seletivo na bolsa de estudos em Nebulosa.

Carmem cuidava de mim como uma irmã mais velha, sempre cuidou, mas naquele momento uma pessoa estava matando ela em minha frente e eu não podia fazer nada!

Por que aquilo estava acontecendo?!

- Carmem! - Gritei puxando as mãos. Eu podia ver os olhos dela semicerrados piscando, o fogo chegando perto de nós. Minha pele já estava queimando, pontadas dolorosas arranharam meus músculos enquanto eu direcionava toda a força que eu tinha para chamar atenção de Mateus para que ela pudesse cuspir aquilo.

Ele estava segurando o meu pé de cabra nas mãos, mas o havia colocado no chão perto dos pés da mulher para se ajoelhar na frente de Carmem e poder segurá-la, que mesmo sem força nenhuma ainda tentava resistir.

O desespero estava me fazendo queimar, estava fazendo eu me juntar àquele fogo enquanto pequenas agulhas pareciam me furar quando eu abria a boca para gritar. Comecei a arrastar meus pés no chão de cimento com o pavor me dominando, comecei a puxar minhas mãos daquele cinto não importava a dor que me causasse.

Eu queria mostrar meus dentes e tirar Mateus de perto de Carmem, queria reduzir aquele homem a cinzas, queria fazê-lo se fundir ao chão, queria enfiar meus dedos no crânio dele e fazê-lo sentir tanta dor que imploraria para eu parar, mas mesmo assim eu continuaria.

Carmem nunca fez nada de mal para ninguém, ela ainda cuidava de Mateus mesmo que ele estivesse errado, e o mais assustador é que ele sabia disso. Matar Carmem não era algo que eu imaginei ele sendo capaz de fazer.

Aquela vontade nervosa e animalesca estava fazendo meu estômago doer ao mesmo tempo em que minha pele formigava sob pontas violentas de agulhas grosseiras.

Em algum momento o cinto cedeu das minhas mãos e da coluna de ferro. Eu pisei no chão arranhado com sulcos fundos gravados no cimento quando levantei correndo como um guepardo.

Mateus se levantou dos joelhos e olhou para mim sem entender muito bem como eu me soltei, e nesse meio tempo consegui me abaixar, tomar a ferramenta pesada dos pés de Carmem e lançar aquilo com toda minha força contra as costelas de Mateus. Ele gritou, colocou a mão sobre o tórax, apertou os dedos nas costelas quebradas e caiu sentado.

- Espera! E-espera um pouco! - Ele tentou falar levantando a palma aberta para mim, mas eu não ouvi.

Eu estava cega pela adrenalina.

Mateus se arrastou para o lado ainda segurando o lado do corpo com uma careta. Eu avancei para perto dele segurando aquele ferro na minha mão fechada. Conseguia sentir meu coração batendo na minha garganta, na palma das minhas mãos e em todo resto. Meu corpo pulsava em todos os lugares.

- A... Amélia espera! - Ele gritou.

Levantei a ferramenta novamente, ele olhou para mim arregalando as pupilas castanhas, assustado como um animal indefeso e acuado por um caçador.

Como se tudo tivesse diminuído de velocidade ao nosso redor, bati aquilo contra seu rosto escutando o barulho de seu crânio cedendo contra o ferro enferrujado, depois ele se desequilibrou e caiu de bruços tremendo e gritando.

Cega de ódio, pavor e desespero, bati na cabeça e nuca de Mateus até que seu crânio estivesse em um formato estranho, até que eu pudesse ver as aberturas que o ferro fez em seu couro cabeludo, até que eu sentisse meus músculos doerem.

Carmem estava morrendo!

Carmem morreria nas próximas horas porque não conseguiríamos pedir ajuda a tempo!

O sangue não parava de sair, de fazer uma poça debaixo de seu rosto virado para o chão.

- Amélia... ? - Carmem balbuciou com a voz baixa e a língua enrolada.

Eu paralisei com a boca aberta ofegando como um touro.

As mãos e dedos de Mateus ainda se mexiam por causa do sistema nervoso, mas ele estava claramente... morto. Completamente morto. Seu cérebro estava amassado. Eu não conseguia respirar porque sentia que meu rosto estava sujo de sangue, mas dessa vez não era meu.

Eu...

Eu tentava respirar quando larguei o pé de cabra manchado de sangue no chão, fazendo barulho e espirrando mais aquela coisa vermelha sobre o cimento. Comecei a me afastar como se aquilo em minha frente fosse um monstro horrendo e quisesse me atacar.

Arranquei Carmem da cadeira, ela caiu comigo no chão. Eu a abracei sentindo dor no peito, sentindo que o ar não estava chegando no pulmão.

Estava tudo ensanguentado e nojento.

Com o rosto e as mãos quentes manchadas de vermelho, eu não conseguia pensar direito, o gosto do ferro que havia espirrado em minha boca era amargo e minha roupa empapada colava ao peito.

Os barulhos de explosões estavam cada vez mais perto.

O cadáver daquele homem estava de bruços minando sangue da cabeça quebrada, molhando meus pés e escorregando para baixo de minhas pernas no chão.

Minhas pernas... elas não se mexiam, eu não sentia mais nada físico. Estava anestesiada.

Assustada e trêmula como estava, arrastei Carmem desmaiada e respirando calmamente, completamente inconsciente do que havia acabado de acontecer para meu colo. Abracei seu corpo quente, limpando minhas mãos sujas em suas roupas, achando que receberia algum tipo de conforto ao saber que ao menos ela ainda estava viva.

Eu não conseguia desviar os olhos do erro terrível que havia acabado de cometer.

Eu... matei uma pessoa. Não com uma bala, mas com as minhas mãos.

O fogo estava tomando conta de tudo. Antes eu queria nos salvar de sermos queimadas vivas, mas naquele momento eu me esqueci de tudo. Existia apenas Mateus com a cabeça amassada e dentro de uma poça de sangue quente que envolvia meus dedos dos pés enquanto avançava, como se mesmo depois de morto, o sangue de Mateus procurasse Carmem.

Eu sentia que estava morrendo junto com ele, e assim passamos ali vários minutos que se pareceram horas.

Não ouvia mais os barulhos que se alastraram pelo prédio. Achei que ele estivesse caindo finalmente, que estivesse desmoronando. Eu iria me encontrar no inferno com Mateus enquanto Carmem ascendia ao céu. Eu estava suja desde aquele dia, o sangue de Mateus nunca mais seria lavado das minhas mãos.

Eu não vi nada ao meu redor, não tive nenhum trabalho na hora para ter percebido que os barulhos e vozes que eu estava ouvindo fora do prédio, eram vários carros juntos e várias pessoas juntas chegando depois de muito tempo parada ali.

Eles entraram no local onde eu estava ninando Carmem como um bebê. Milhares de homens e mulheres altos vestidos de preto e vermelho tentavam apagar o fogo aos gritos uns com os outros. Os ruídos de explosões antes eram eles abrindo as portas.

Eu escutei a voz de Aiden também, mas não o vi, achei que estivesse ficando louca. Havia apenas Mateus ali em minha frente e o seu sangue gelado grudando contra minha pele como gosma, entrando em meus poros aos poucos.

Alguém arrancou Carmem de minhas mãos, e apenas isso me fez desviar os olhos para ver os lábios dela ficando azulados enquanto um homem a levava embora de perto de mim.

Aiden atravessou o fogo como se aquilo não fosse nada para ele, se ajoelhou ao meu lado e segurou meu rosto com ambas as mãos quentes enquanto tentava me perguntar algo, mas eu não escutei. Ele estava berrando, os olhos arregalados cheios de pena, uma vela saltando seu pescoço quando olhou o corpo de Mateus em minha frente.

"Como me achou?" eu queria perguntar.

Aiden olhou para minhas mãos nas suas, para minhas pernas cheias de calombos roxos, para minha face toda arranhada, meu corpo com pedaços de vidro ainda fincados na pele.

Eu matei uma pessoa com as minhas mãos. Não foi um desconhecido, foi alguém que meus pais conheciam, foi alguém que frequentou minha casa. Minha mãe costumava perguntar por ele, ela tinha muita pena de Mateus.

O que eu diria para minha mãe na próxima vez que ela me perguntasse sobre ele?

Aiden tentava falar comigo, mas eu perdi a audição. Eu não conseguia ouvir, não conseguia me mexer, não conseguia fazer nada além de tentar respirar e piscar os olhos. Ele me apertou contra o próprio peito, escondeu meu rosto em seu pescoço ao passar os braços abaixo de meus joelhos e observar com atenção algo ao lado do corpo de Mateus sendo recolhido por pessoas de vermelho usando luvas e depois sendo fechado em um saco preto.

Aiden iria... me encobrir?

Eu não pensei muito naquilo e aceitei o calor que ele estava me oferecendo enquanto corria para me tirar dali e mais centenas de pessoas subiam na direção contrária.

Eu fiz aquilo de forma tão brutal...

Eu estava suja de vermelho.

Digam oi pro paizinho da Amélia, o unico pai que presta na história porque até o Aiden é um pai horrível skdjkdkd

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É, acabou que a gente não jantou com o presidente, mas talvez possamos ver nossa amiga Oitava por ksjdkskd

Eu postando hoje como presente de ano novo Aaaa

Eu não disse que era do ladeira a baixo? Então , piora.

Mas eu juro que uma hora melhora.

Sim, 3 capítulos e acabou esse livro, e ainda tem o epílogo. Queria mostrar a capa do próximo aaaaa

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