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Capítulo 25. As Rosas que Cheiram a Sangue

"Você cheira como baunilha
Você tem gosto de creme de manteiga
Sinto que você está enchendo meus sentidos
Com calorias vazias"

Cake - Melanie Martinez

Eu estava arrastando o saco de ração com dificuldade enquanto Carmem enchia os potes dos cachorros presos nos retângulos  cercados. A maioria deles eram vira-latas caramelos, abanando os rabos para nós e latindo quando chegamos pretos das suas casinhas.

Carmem alimentava um canil quase abandonado que antes havia sido um açougue, pagava uma certa quantia de aluguel e comprava rações  junto com um velho senhor para manter o estabelecimento de pé e evitar que os cachorrinhos que moravam ali fossem jogados na rua ou sacrificados nas zoonoses.

Eu havia ajudado desta vez. Fizemos um grande estoque de rações, compramos trinta casinhas e camas novas, pedimos ajuda de uma clínica para fazer exames nos bichinhos e cuidar dos que precisassem de ajuda.

Eu esperava que Aiden não se importasse, nunca gastei tanto dinheiro na minha vida, mas pelos animais eu dou minha vida.

— Você já 'tá cansada, dondoca? — Começou Carmem rindo enquanto eu tentava o meu melhor para arrastar o saco de rações. — Senta ali que eu faço o resto. 

— Não, eu consigo. — Coloquei força nos braços e puxei. 

Eu estava feliz que Mateus não estava ali conosco. Desde aquele encontro maldito, já havia se passado uma semana e eu havia me encontrado com Aiden muitas poucas vezes mesmo ele dizendo "Ah, vou te ensinar a dançar." Mas nunca fazia realmente, então eu já tinha começado a perder as esperanças e aceitar que eu deveria me inscrever em alguma aula, mas o ruim é que eu não sabia qual a dança que aquelas pessoas fariam.

Quando eu estava prestes a continuar puxando, Carmem me empurrou e tomou o saco de ração para puxar ela mesma. 

— Eu me esqueci, você teve uma crise de asma recentemente. Senta lá, se eu ver você de pé, vou te jogar água. — Suspirei vendo Carmem mais alta e forte do que eu arrastando o saco de ração sem muito esforço.

— Nossa, eu 'tava parecendo tão patética assim? — Levantei a sobrancelha, sentado nas poltronas recém compradas, abrindo a garrafinha de água e dando um longo gole. — A gente vai ter que fazer uma campanha de adoção.

— As pessoas não vêm aqui, Amélia. Esse lugar é mais afastado da cidade do que qualquer coisa, sempre que eu vinha aqui era com alguém porque eu morria de medo. — Ela suspirou jogando os cabelos lisos e rosados do rosto para trás. — Pelo menos temos seus seguranças na porta.

Suspirei concordando e olhando em volta, as latas de tinta branca e verde junto com os rolos e pincéis. Estávamos planejando pintar todo o lugar nós mesmas, e sim, eu podia contratar pintores profissionais, mas seria mais divertido fazer aquilo com as próprias mãos.

— Então não venha aqui ao menos que eu venha junto. — Falei. — Vamos procurar um lugar mais perto 'pra levar os bichinhos e deixar esse lugar.

— Amélia, você 'tá falando como se fosse rica. Não esqueça que o Adão lá é que 'tá te proporcionando essa situação e que logo você vai desgrudar dele. — Carmem apontou o dedo para mim e depois para a pilha de papéis quase vazia dentro da pasta ao nosso lado. — Quando sairmos daqui, nós vamos terminar de entregar seus currículos, e dessa vez também vamos nas cidades vizinhas. 

Suspirei pegando os currículos nas mãos, umedeci os lábios imaginando se Aiden saberia que eu estava louca atrás de outro emprego e o que ele acharia disso.

Eu gostava da forma como ele me tratava, dos mimos e de todo o resto. Ele era um cara gentil, bonito pra um caralho e super gente fina, o tipo de gente que eu me apaixonaria fácil se passasse mais algum tempo junto ou se não estivesse tantas coisas me preocupando.

Esfreguei o rosto com as mãos depois de enfiar os currículos da pasta na bolsa e suspirar, me lembrando do horário de inalar aquele remédio maldito 'pra não morrer sufocada.

•●•


Uma semana inteira depois, a qual passei a maior parte do tempo evitando Mateus, Roberval, o namorado psicopata dele e passando a andar mais tempo naquele bairro burguês onde eu não corria o risco de encontrá-los, porém aturando os olhares tortos daquelas velhas ricas e insuportáveis,  Aiden havia me ligado em plenas vinte horas enquanto eu estava entregando meus currículos e acabou me chamando para ir até sua casa urgentemente. 

Eu não tive tempo de fazer nada, nem voltar para o apartamento e tomar banho, o carro simplesmente chegou na rua depois de Aiden me perguntar onde eu estava.

Desesperada, descabelada e em pânico  com minha mochila azul e casaco amarelo o caminho todo tentando enfiar aqueles papéis da minha mão bem no fundo da mochila, saí do carro e entrei naquela casa enorme imaginando que Aiden estaria irritado por algo que eu pudesse ter feito.

Perseu me fez andar com ele por corredores muito longos e não respondeu nenhuma das minhas perguntas, andando levemente em minha frente com as mãos enluvadas de branco sobre o estômago enquanto eu transpirava como uma maluca e minhas pernas bambearam imaginando que eu seria "demitida".

— Zeus, 'pra onde você 'tá me levando? O que Aiden quer comigo? — Perguntei rodando pelo ambiente, meus dedos apertando os fones de ouvido nas mãos. 

O mordomo suspirou, umedeceu os lábios e se virou para me olhar. Ele parecia cansado de mim, estava com o cabelo longo e castanho grisalho preso em sua nuca com um laço vermelho, mas havia um detalhe que eu não havia percebido: Ele não possuía uma das orelhas, e procurando não ser inconveniente, desviei o olhar para as rosas vermelhas secando em um vaso dourado, acompanhando as pétalas caindo no chão.

Meu nome é Perseu. — Falou entredentes sem demonstrar emoção. — Não vou tolerar erros, mesmo que o senhor Aiden a chame de Lírio Branco. De qualquer forma, você ainda é primitiva. Que asco! 

— O que? — Perguntei formando uma ruga entre as sobrancelhas e cruzando os braços.

— Não me incomode mais com sua voz. — Rangiu os dentes e olhou para mim de soslaio trancando o maxilar.

Eu estava prestes a dizer algo, mas me calei. Não valia a pena discutir com aquele velho maluco, ele não responderia minhas perguntas depois de qualquer forma.

Perseu abriu os portões de cor preto fosco no fundo do corredor e atrás deles em um salão pouco iluminado, estava Aiden sentado em uma mesa escrevendo algo em seu laptop. 

— Fiz como pediu, senhor. — Perseu se curvou em respeito para Aiden e deixou o salão sem me olhar. — Com sua licença.

— Obrigado, Perseu. — Murmurou Aiden.

Engoli em seco enquanto Aiden piscava para algo em seu computador e não me olhava. Mordi a língua e engoli saliva.

Aiden estava com os cabelos pretos para trás, o casaco de manga longa preto dobrado até o cotovelo mostrando suas marcas vermelhas. 

— Você só tem Perseu trabalhando nessa casa enorme? — Perguntei com a voz um pouco trêmula. — Coitado, deveria contratar mais pessoas.

— Ele não gosta muito da companhia de outros empregados, além disso ele consegue me servir bem. — Levantou os olhos claros para mim e sorriu. — Você parece que veio correndo. Está tudo bem?  

— Aiden, você ligou falando que tinha um assunto super urgente ' pra falar comigo. Eu literalmente vim correndo porque achei que tivesse acontecido alguma coisa. — Reclamei retirando a mochila das costas e suspirando. — Eu nem tive tempo de tomar banho antes de vir, que vergonha! 

Aiden riu, piscou fechando o notebook e me olhou de cima a baixo descansando as costas na cadeira. 

— Oh, não sabia que eu havia me tornado sua prioridade máxima desse modo. Me sinto honrado. — Suspirou. — Já que veio correndo ao meu resgate, você pode tomar banho aqui mesmo. São mais de dez suítes inutilizadas, mas apenas três estão livres de poeira, escolha uma delas.

Pisquei e formei uma ruga entre as sobrancelhas. 

— Você 'tá muito engraçado hoje, né? —  Tirei o casaco e cruzei os braços. — E eu vou vestir suas cortinas persas?

— Posso pedir para que busquem suas roupas para você. — Falou inclinando a cabeça.

Suspirei concordando com má vontade e esperando que Aiden chamasse Perseu novamente para me mostrar as suítes.







Aiden havia me feito ir toda estabanada até sua casa do nada, sem nenhum motivo específico e havia me mandado tomar banho em uma das suítes vazias da mansão. Suspirei tirando as roupas dentro daquele banheiro enorme e prestes a entrar naquele chuveiro quadrado, dourado e colossal. Seria ótimo chorar debaixo daquele chuveiro.

Umedeci os lábios quando terminei o banho e uma muda de roupas estava sobre um banco na frente da porta do banheiro, enfiei a mão pela fresta para pegá-la. Quando vi a roupa íntima, meu rosto esquentou e me perguntei quem havia escolhido aquela calcinha e sutiã rosa estampados de minúsculos abacates sorridentes de mãos dadas. 

Depois de vestir o moletom amarelo que alguém havia escolhido para mim, andei para encontrar Aiden, descendo as escadas e torcendo para não me perder, vendo que o homem estava no mesmo lugar sentado em frente ao computador. Andei em sua direção, fui até o seu lado e olhei para o computador por cima de seu ombro, observando aquele monte de planilhas com números infinitos. 

— Amanhã vou ensiná-la o que deve fazer quando chegarmos até o evento. — Suspirou fechando a tela do computador e virando a cadeira rotatória para mim, me fazendo observá-lo de perto. — Hoje eu queria que visse um filme comigo, tomou meus dedos nas mãos. 

— Um filme? — Levantei as sobrancelhas.

— Tenho uma sala de cinema no andar de baixo, mas nunca usei. — Aiden levantou os dedos e tomou uma das mechas do meu cabelo cacheado nos dedos. — Eu queria que visse comigo.

Pisquei refletindo sobre a urgência que Aiden me chamou. Ele parecia animado no telefone, e todo aquele desespero era apenas porque ele queria ver um filme?

— Que filme? — Perguntei.

— Primeiro eu queria perguntar se você também poderia dormir aqui hoje. — Falou suspirando e brincando com minha mecha de cabelo longo nas palmas. — Você pode passar a noite no quarto de suite que tomou banho. Amanhã vou ajudá-la no que precisar.

— Hm, por que quer que eu durma aqui tão de repente? — Ele sorriu e soltou meu cabelo. 

— Você deve ter percebido que eu passo a maior parte do tempo em uma casa de dez quartos. Não gosto de ficar sozinho. — Falou. — Quando estou com companhia, geralmente não gosto delas e apenas suporto suas presenças, como por exemplo a de Pietro.

— Você... não gosta do seu irmão? — Murmurei. 

— Não. — Falou sem cerimônia.

Aiden trancou o maxilar e desviou o olhar para o chão.  



•●•


Algumas horas depois já era madrugada e estávamos naquela sala escura, o projetor atrás de nós e sobre nossas cabeças refletia o filme "Poltergeist, o fenômeno" sobre a parede branca enorme na nossa frente.

Eu estava agarrada ao braço de Aiden sempre que alguma coisa acontecia ou algum troço horrível aparecia na tela. Ele não se assustava, sempre mantinha o mesmo rosto inexpressivo e por vezes curioso com meus gritos e minhas mãos tampando o rosto.

Meu medo por filmes de terror sobrepôs a pulga atrás da minha orelha por Aiden ter me chamado urgentemente só porque estava sozinho. Pensei brevemente sobre aquilo mas depois mandei para o espaço porque, bem, eu estava sendo paga para fazer exatamente aquilo! 

— Eu literalmente comecei a odiar esse filme. — Murmurei escondendo o rosto em seu ombro.

— Você está com medo dessa bobeira? — Perguntou com a voz um pouco áspera do que o de costume. — Você não deveria sentir medo tão fácil.

— Ah, mas eu sou medrosa. Morro de medo de assombração. — Murmurei com a cara feia. 

— Não diga que é medrosa. O medo nos deixa fracos e vulneráveis, não há orgulho em sentir medo.

— Eu não ligo. O medo faz as pessoas detectarem perigo e isso salva as nossas vidas na maioria das vezes. — Murmurei dando um pequeno tapa em seu ombro enquanto me olhava com atenção. — Uma vez tinha um homem andando atrás de mim na rua, literalmente correndo e me seguindo. Se eu não sentisse medo do que ele poderia fazer comigo naquele breu, o que aconteceria no futuro?

— Se você não sentisse medo, então significaria que estaria pronta para enfrentá-lo, cortar seu pescoço e impedir que ele fizesse isso novamente com você ou qualquer outra pessoa. — Tirou os cabelos cacheados do meu rosto. — Esse sentimento torna as pessoas frágeis, vulneráveis e irracionais.

— Então, senhor coragem, você não tem medo de nada? Não acredito. — Falei cruzando os braços. — No dia em que aconteceu todo aquele problema de Eris entrar na festa e acabar com tudo, você correu até Madinson todo desesperado. Você estava com medo por ela.

Aiden levantou as sobrancelhas por um momento como se estivesse ponderando sobre o que eu disse, suspirou se recostando no encosto daquele sofá enorme e virando o rosto para mim como alguém observa uma criança dizer uma grande bobagem mas que por ela ser uma criança, é visto como fofo.

— Você ainda não entende. — Aiden deixou a mão sobre minha cabeça, acariciando meus cabelos cacheados entre seus dedos. 

— Por que todos dizem coisas assim para mim? — Perguntei segurando seu pulso e  retirando sua mão de minha cabeça. — O que é Lírio Branco? Por que estão me chamando assim toda hora?

Aiden piscou e um brilho surgiu em seus olhos tão rápido quanto sumiu. 

— Existe a história sobre uma mulher que se tornou um lírio branco. Já ouviu falar? 

— Eu já vi a lenda da flor Jacinto. — Falei.

— Continue. Gosto de ouvir você falar. — Apoiou o queixo nas mãos enquanto me via esquentar as bochechas e rir como uma pateta.

— Bem… Jacinto era um mortal cujo deus Apolo amava muito, e certo dia estavam jogando discos na floresta. Zéfiro, o vento do Oeste, também amava muito Jacinto, mas o seu amor era tanto que chegava a ser doloroso e cruel porque nunca havia experimentado o sentimento daquela forma. Enfim, enquanto Apolo e Jacinto estavam felizes jogando os discos na floresta, Zéfiro ficou magoado e bravo porque Jacinto preferia Apolo a ele, então ele soprou seus ventos para o disco lançado atingir Apolo, porém por um erro acertou a testa de Jacinto. Apolo tentou salvá-lo, mas já era tarde demais, e de seu sangue na terra nasceu a flor com seu nome. — Suspirei sorrindo. Mitologia grega era o que eu mais amava estudar. — Trágico. Você não conhecia esse mito?

— Sim, conhecia, mas gosto de ouvir você falar. — Suspirou. — A história de minha cultura também envolve flores e paixões. 

— Me conte então. — Me virei para olhá-lo, descansando minhas pernas esticadas sobre seu colo. Aiden sem saber o que fazer, trancou o maxilar e ignorou meus joelhos sobre suas coxas.

— Bem, é uma história um pouco longa. — Aiden hesitante colocou as mãos sobre meus joelhos quando começou a contar. Alguém do filme gritou. — Havia uma floresta vermelha em que as únicas flores que nasciam eram rosas, grandes rosas vermelhas de cores vivas e árvores de folhas da mesma cor, porém não havia a visita de pássaros, insetos ou até mesmo as pequenas fadas. As rosas eram conhecidas em todo país divino por serem nojentas e insuportáveis de se sentir o cheiro, exalava ferro, cheiro de sangue. A Deusa Daomi vivia naquele lugar e fazia as plantas nascerem com a magia de seus dedos, ela amava aquelas rosas mas não tinha poder para fazer com que fossem flores normais.

— Ah, isso é triste, mas pelo menos ela conseguia cultivar suas próprias rosas. — Falei, mas pensei o quão nojento realmente seria um campo de rosas que além de serem vermelhas, tivessem cheiro de sangue. 

— Sim, mas era solitário demais. As rosas conversavam entre elas e choravam todos os dias por não entenderem o motivo de não serem visitadas pelos beija-flores ou borboletas conforme as estações passavam, elas também não gostavam do fato de não serem como as outras, de não conseguirem sentir a luz do sol por conta da neblina sobre as copas das árvores que a Deusa formava para que as pétalas sensíveis não queimassem pelos raios mornos, pelo fato de terem que ser criadas pelas gotas do sangue da deusa e não possuírem sementes redondas como as das outras coloridas de azul, laranja e lilases que riam das roseiras. — Umedeceu os lábios. Apertei seu pulso quando alguém gritou novamente no filme. — Um dia, houve uma grande tempestade no reino vizinho por conta de uma batalha entre vários feéricos com asas de libélulas que disputavam em furor, tilintando espadas pelo ar e batendo as asas transparentes, tudo por causa de uma mortal que havia entrado sem querer no país divino. — Aiden suspirou apertando meus joelhos como se estivesse imerso demais na própria imaginação. — Os feéricos não queriam seu amor, eles queriam levar sua prole para o reino mortal e formar outro reino maior, eram criaturas ambiciosas, tão ambiciosas que o vencedor levou a mulher embora, arrancou a língua da mortal quando ela reclamou e a trancou.  Durante dias, anos e décadas Daomi ficou incomodada com os barulhos do choro da mulher que não envelhecia naquela terra, ela ficou enfurecida com o fato de que suas roseiras estavam murchando pela tristeza da mortal se espalhar pelo vento e cobrir sua floresta vermelha com uma densa fumaça rosada.

— E o que ela fez? 

— Daomi foi enfurecida até o castelo vizinho de seu irmão sobre os campos de flores coloridas cujos miolos eram globos oculares, e disse que se fosse para a mulher mortal continuar chorando, era melhor que a matassem. Ambos batalharam naquele dia e Daomi com um de seus cinco chifres, retirou o coração de seu irmão e o comeu tomando seu poder e reinado, porém ele não morreu, outro coração nasceria no lugar depois de algumas centenas de anos.

— Mas Daomi matou a humana?

— Ela tentou, mas teve pena quando ouviu a mortal balbuciar entre lágrimas que queria voltar para os outros mortais, para casa de onde a retiraram. Mas o tempo passava diferente naquele lugar, e ela estava a tantas centenas de anos no país divino, que se esqueceu de como era viver com humanos. — Formei uma ruga entre as sobrancelhas. — Ela acabou por viver com Daomi em seus campos de rosas vermelhas, as rosas gostavam tanto dela que cantavam quando a mortal andava entre elas, e a mortal lamentava com as plantas, a infeliz vida de não poderem ser como as outras flores. Depois de algumas centenas de anos, a Deusa se apaixonou pela mortal e conversou com suas plantas para que lhes fizessem uma língua nova de suas pétalas vermelhas.

— É uma história fofa. — Falei. Aiden riu e umedeceu os lábios. — O que foi?

— Ainda não acabou. A mortal recebeu a língua de presente, e para a surpresa de Daomi, a cada vez que a humana falava com alguma flor, suas rosas secavam e renasciam com o poder de terem sementes e cheiros doces quando desabrochavam. Porém como Daomi não teve coragem de matar seu irmão, ele voltou furioso, e flutuando escondido sobre as árvores vermelhas, ele assassinou a mortal sobre o campo de rosas com uma flecha no coração. Daomi ficou triste, e a procura de possuir a alma da mortal dentro de si, lhe retirou e comeu o coração dela. — Aiden riu de minha expressão de horror. — O corpo e sangue da mortal fizeram as rosas debaixo dela se tornarem pequenos lírios brancos que cheiravam a açúcar, e com dois corações batendo no peito de Daomi, ela adquiriu o poder de sua amada, finalmente pode desfazer o cheiro de sangue que possuía em seu campo e deixavam suas rosas tristes, atraindo as visitas naturais de pássaros e fadas. Porém, todas as rosas vermelhas gradualmente naquele campo começaram a se tornar lírios brancos.

— E quanto ao irmão da deusa?

— Ele se isolou e foi até o submundo para procurar a alma da mortal, porém ela nunca havia chegado ali, estava dividindo o corpo com Daomi. Ele abandonou seu reino e se tornou um amargurado deus do submundo. Daomi se tornou a completa Deusa da vida.

Eu suspirei e soltei um assobio quando o filme acabou junto com a história que Aiden contava. Ele segurava meus joelhos sobre suas pernas.

— Uau, é uma história trágica. — Murmurei. 

— Quando chamamos você de Lírio Branco, é um elogio, não fique brava. — Jogou os cabelos pretos para trás. — É semelhante a quando vocês, cristãos, chamam as pessoas de anjos. É como um elogio, não é?

— Eu não sou cristã, sou agnóstica, mas entendo o ponto. — Falei. — Isso significa que vocês cultuam um panteão de dois deuses? A Deusa Daomi e… seu irmão? 

— Não. São oito deuses. — Falou. — Estes dois são os que reinam sobre os outros, estão constantemente disputando. 

Juntei as sobrancelhas.

— Mas então você e sua família chamada de Diavol cultuam principalmente a Deusa Daomi, por isso usam vermelho. — Pensei alto me sentindo o auge da genialidade quando percebi isso, mas o rosto de Aiden com um pequeno sorriso mostrava que ele me contou aquela história justamente para que eu deduzisse. — Existe outro acima deles dois?

— Existe o Olho que se mantinha aberto sobre os céus quando o mundo foi criado, quando ele se acabar, o Olho se abrirá e então os de chamados de Carne Fraca serão devorados por seu fogo. — Falou. — Dele foi possível vir ao mundo tudo que conhecemos e tudo que não vemos.

Pisquei me lembrando do olho que estava no pescoço de Pietro naquela pintura e antes disso, no pescoço de Ravena. Havia também algo que eu estava tentando lembrar mas minha mente bloqueou, algo que Eris pareceu ter dito em algum momento sobre isso naquele meu sonho esquisito na mansão antes de eu ter aquela crise de sonambulismo, mas eu não conseguia saber o que era.

— Qual o nome do Deus do submundo? — Perguntei.

— Oth. — Falou Aiden. — Ele é o Deus principal de Eris, dos Albastruz.

Pensei por um momento, mas Aiden continuou a falar.

— Estes Deuses vieram para o mundo mortal no início de tudo, e de suas gotas de sangue misturadas as entranhas de diferentes animais, fizeram alguns de seus filhos nascidos de carne e sangue divino, viverem na terra entre os outros. — Murmurou. — Cada uma das oito famílias cultua principalmente um deus. Quando chegarmos no Canadá e estivermos frente a frente com eles, contarei mais sobre cada um.

Eu estava imaginando quais cores eram representantes de cada um. 

Daomi era a deusa da vida e tinha a cor do sangue vivo, Oth o deus do submundo, tinha o azul escuro… Comecei a imaginar sobre os outros seis. Entre todos estes pensamentos, eu me lembrei de Madison vestindo azul e vermelho na mesma roupa, ou por vezes apenas azul e por vezes apenas vermelho. 

Olhei para Aiden com a dúvida cutucando minha cabeça.

— Então me esclareça uma coisa já que está me contando tudo isso. — Juntei as mãos sobre o colo e me recostei no descanso de braços do sofá cinza. — Por que Madinson usa as duas cores, vermelho e azul?

Aiden levantou as sobrancelhas. Ele não parecia esperar aquela pergunta, e sem saber o motivo de me sentir assim, imaginei que estava sendo uma baita de uma inconveniente. Ele mordeu o lábio inferior me fazendo ter alguns pensamentos indecentes.

— Madinson gosta de irritar as pessoas. — Murmurou com seu humor mudando repentinamente, olhando para mim logo depois. — Ela é o meio termo entre os Diavol e Albastruz. Não significa muito hoje, mas foi uma coisa muito boa quando ela nasceu.

Levantei as sobrancelhas esperando que Aiden terminasse, a curiosidade estava coçando meus dedos quando ele sorriu e levantou uma sobrancelha para mim.

— Você é muito curiosa. — Afirmou balançando a cabeça e depois sorriu minimamente. Me senti sem vergonha por ainda esperar que ele respondesse. — Uma vez em uma tentativa de paz e melhorar as tensões entre Diavol e Albastruz, meu pai em sua velhice achou que seria uma boa ideia possuirmos uma aliança de paz e me fez casar pela segunda vez, e dessa vez com uma mulher da família Albastruz. Assim surgiu Madinson. — Aiden coçou a cabeça como se aquele assunto o incomodasse. — Eu nunca conheci a moça, só a vi uma vez na vida por fotos. Madinson foi entregue a contragosto aos Diavol pelo avô quando a moça faleceu. Fui apresentado como pai para aquela menina apenas quando ela já tinha quinze anos. Acho que explica o fato de nossa relação não ser muito boa.

— Mas… se você só a viu por fotos, como teve uma filha? — Aiden riu da minha pergunta.

— Meu pai disse que... — Aiden engoliu e olhou para mim pensando se deveria falar, mas então suspirou e continuou. — … ele disse que eu não deveria manchar meu corpo com o dela como minha mãe fez ao gerar Eris. Fizemos artificialmente. — Arregalei os olhos. 

— Seu pai praticamente te forçou a ter um filho? — Perguntei, murmurando para mim mesma dentro de meus pensamentos, se Pietro também havia sido forçado a ter Cleber, mas achei o auge da cara de pau perguntar. — E quanto a Eris, ele não pode ser considerado parte de uma aliança também?

— Eris é um bastardo. A existência dele quase não foi reconhecida pelo Conselho, mas meu pai conseguiu fazê-lo por influência quando o criou. — Umedeceu os lábios. Senti seus dedos tremerem sobre meus joelhos. — Quando Eris foi embora de nossa casa com dezesseis anos e levou Circe com ele, sua nascença foi anulada, dizem os boatos que ele passou por todo o Conselho entregando seu corpo e se prostituindo para homens e mulheres em troca do lugar de seu avô que foi o líder dos Albastruz há alguns anos, porém deposto por corrupção. 

Passamos alguns segundos calados no escuro nos encarando enquanto os créditos do filme subiam. 

Eu estava horrorizada e Aiden também parecia arrependido de ter me contado aquelas coisas, sorrindo para eu não correr dali.

Eu estava mais incomodada com o sorriso dele, então retirei as pernas de seu colo e me ajoelhei no sofá, me inclinando para tampar sua boca com as minhas mãos.

— Por que você só sabe sorrir quando termina de dizer coisas assim? — Perguntei. Ele piscou e puxou vagarosamente meus dedos de seu rosto. — São coisas muito horríveis, você faz parecer pior quando sorri.

— Mas se eu expressar o que eu estou sentindo, você não vai gostar de ver. Não quero que você vá embora, quero que se sinta confortável aqui comigo. — Falou olhando para mim. 

— Você vai se tornar um monstro se decidir se expressar? — Perguntei. — Se deixar as coisas presas dentro de sua cabeça assim, um dia você vai explodir.

Aiden sorriu novamente e suspirou, seus braços se agarraram a volta de minhas costas como os tentáculos de um polvo e me puxou para cima de si mesmo. Ele caiu deitado sobre o enorme sofá e me prendeu sobre ele com os braços fortes segurando um no outro atrás de mim.

— Não, não vou. Vou estar bem enquanto você não for embora. — Murmurou me fazendo revirar os olhos e sustentar meu corpo com os braços dobrados ao lado de sua cabeça. — Eu esqueço dessas coisas ruins quando estou com você. 

— Ah, pare. Você 'tá sendo super meloso. — Zombei recebendo uma risada.

— Você não gosta que eu seja assim? Então o que eu deveria fazer? — Perguntou rolando sobre o sofá para ficar por cima de mim.

Eu levantei as sobrancelhas com aquela atitude vinda do nada. Foi então que eu percebi a possível ação de Aiden para mudar de assunto, ele não gostava de falar sobre aquelas coisas, mas então por que se sentiu obrigado a me contar? 

Ele deslizou os braços, tirando-os debaixo de minhas costas e segurou meus pulsos cruzados um sobre o outro acima de minha cabeça rente ao sofá como eu havia feito com ele naquela primeira vez em minha cama, seus cabelos pretos fazendo cócegas em minha testa com o rosto perto demais.

— Você gostaria que eu lhe segurasse assim e dissesse que eu não preciso de você para depois beijá-la? — Perguntou. Seus dedos ao redor de meus pulsos um pouco trêmulos. Eu segurei uma risada sentindo seu hálito de chá de gengibre sobre minha boca.

— Você definitivamente não sabe fazer isso. — Eu ri.

— Não precisa esfregar em meu rosto. — Aiden piscou. As pontas de suas orelhas se tornando vermelhas. — Mas não estou reclamando, gosto de quando faz isso.

— Ah, então você finalmente admite que gosta? — Perguntei com um sorriso, fazendo Aiden desviar os olhos dos meus. —  Quantas vezes você já permitiu que alguém fizesse isso com você?

Aiden piscou algumas vezes formando uma ruga entre as sobrancelhas, umedecendo  os lábios vermelhos e crispando-os logo depois. Seu rosto corou um pouco, suspirando ao a me encarar.

— Estou te contando muitas coisas que não deveria hoje. É uma noite estranha. — Ele saiu de cima de mim e me soltou, caindo deitado sobre o meu lado naquele sofá.  — Nenhuma vez. — Falou se virando de lado para me olhar. — Você é a primeira pessoa que me toca assim.


●●●●●●

Aiden é puro e casto com 46 anos de idade e nossa amiga Amélia levando o querido pro mau caminho. Oremos por ele.

Aiden: A gente vai ver filme!😃
Amélia: Hmmmm me chamou pra ver filme, ?😏
*Aiden colocando o filme e realmente assistindo o tal do filme.*
Amélia: Aff 😒

Lembrem dessa história que o Aidem contou pra Amélia, esse capítulo é bem importante, foi mais focado em desenvolvimento pra capítulos futuros, a partir do próximo vamos ter Amélia pisando nos pés do Aiden, o Baile de Inverno, as outras famílias coloridas e mais tretas.

Espero que estejam gostando 😔❣

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