Capítulo 13. Agentes do Caos
"Eu sou quase a própria má sorte encarnada querido, você sabe,
Ela me segue por toda parte
E eu não preciso da sua simpatia, não
Eu preciso de um milagre do caralho."
XYLØ- Afterlife
Minhas pernas estavam tremendo enquanto Aiden quase me arrastava para atrás das cortinas que cobriam a maior parte das paredes do nosso andar.
As luzes começaram a piscar e em um determinado momento ficamos em um breu completo, foi quando as pessoas começaram a gritar de verdade. A luz ia e voltava a todo tempo, e isso me fazia ficar com vontade de correr para a cama da mimha mãe.
De repente eu tinha virado uma batata de tão inútil.
Ele me mandou abaixar e ficar sentada, não levantar em nenhuma hipótese fosse qualquer barulho que eu ouvisse.
- Mas aonde você está indo? - Perguntei ainda ouvindo os barulhos, as pessoas correndo e coisas quebrando. Eu estava segurando o pano de sua echarpe. - A gente 'tá no meio de um tiroteio!
- Preciso encontrar Madinson. - Falou firmemente e de modo calmo. Tive mais medo da reação natural de Aiden do que dos gritos. Ele retirou cuidadosamente meus dedos do tecido de sua roupa. - Mesmo que venham aqui, fique quieta. Não vão fazer nada contra você.
Eu estava completamente aterrorizada, e quando ele se foi, eu tive a certeza de que enquanto procurava a filha, provavelmente Aiden levaria um tiro, eu estaria sozinha e renegada naquele andar sentada sobre um monte de cacos de vidro até que algum assassino louco subisse e também me matasse.
Pensei em meus pais, em que provavelmente eles chorariam minha morte por menos tempo que choraram pela minha irmã mais velha.
Eu estava ouvindo passos cada vez mais pertos, e me escorei mais na parede afim de sumir entre os panos quando o velho que estava de mãos dadas com uma garota que paquerou Aiden mais cedo na festa, estava em uma luta corporal com outro homem maior.
Eles subiram as escadas, passaram por mim enquanto o desconhecido brutamontes carregava uma enorme arma na mão direita e na esquerda o pescoço do velho. O mais fraco teve o corpo magro facilmente jogado da sacada em um grito assustador e atingiu o chão em um baque surdo.
Eu estava mais perdida do que cego em tiroteio, por pouco fazendo xixi nas calças com um medo danado de ser vista, e tudo piorou quando o homem que jogou o velho da sacada percebeu que eu estava lá, e tomando um susto por instantes, olhou para mim surpreso.
Ele era asiático, tinha os olhos puxados como Carmem e seu rosto era cheio de cicatrizes, cortes que pareciam fundos em sua sobrancelha, sua bochecha, queixo e outro maior que contorcia o lado esquerdo de sua boca para baixo. Mantinha os cabelos longos e lisos em uma trança de lado.
Ele ficou me olhando por bastante tempo, até que eu me toquei e esquecendo as palavras de Aiden, desci as escadas trôpega, correndo, jogando os saltos no chão e segurando o vestido enquanto acatava todas as ordens da Amélia que cuidava do meu instinto de perigo.
Rapidamente mudei de ideia e percebi que deveria mesmo ter ficado lá encima, pois estava um caos e correria no andar de baixo. Voltei da área aberta para a parte segura das escadas, imaginei que pudesse subir novamente e entrar em outro andar, mas eu não sabia quando o marombado iria descer novamente, e não queria ficar lá para ver.
Imaginei se eu poderia atravessar aquele salão sem levar uma bala perdida, mas meu corpo me mantinha presa no lugar.
Mordi minha bochecha e estudei começar a correr até o outro lado, onde era coberto por uma escada ondulante e eu poderia muito bem me esconder atrás dela, ou talvez dentro dos banheiros, mas estava escuro demais para saber onde ficavam as portas.
Eu podia ouvir as pessoas caindo, mas não tinha coragem de olhar para elas, mesmo que minha curiosidade estivesse coçando meu nariz.
Podia até escutar meu pai gritando comigo mentalmente para deitar no chão e esperar o tiroteio acabar, e eu juro que faria isso se um brutamontes cheio de cortes no rosto não estivesse me encarando a minutos atrás e prestes a descer as escadas.
Não era muito distante de onde eu estava até o outro lado e eu podia correr rápido, as balas não me acertariam.
Eu podia muito bem ser levada por esse discurso fantasioso e suicida, correr até o outro lado e acabar morta, mas eu fui empurrada para a parede novamente por mãos bronzeadas e cheias de anéis.
- Olhe bem, a mosquinha está tentando fugir da teia. - Eris sorriu para mim com os dentes brancos. Os calos dele estavam tocando minha bochecha.
- Me solte! - Me debatia enquanto ele segurava meus ombros, cheguei a estapeá-lo, mas não fez nenhum efeito além de tirar alguns fios de seu cabelo preto do lugar e fazê-lo segurar meu pulso.
O brutamontes desceu das escadas e apareceu em nosso lado, levando os olhos indiferentes para mim por mais alguns segundos e depois olhou para Eris.
As mangas do seu casaco preto estavam arregaçadas e mais marcas de pequenos cortes estavam dispostas horizontais, perfeitamente alinhadas, uma abaixo da outra verticalmente sobre a pele dele, mas estas eram azuis escuras, pareciam como tatuagens, porém eram irregulares demais para isso. Haviam duas linhas inteiras delas ocupando seu braço.
Houve um tiro bem perto de onde estávamos e intuitivamente virei a cabeça para olhar, mas o homem estava segurando firmemente meu rosto em sua direção, me olhando com os olhos arregalados. Eu não conseguia mexer a cabeça.
Me encolhi quando o brutamontes se aproximou de Eris.
- Oh, Kalias assusta você? - Eris riu. - Não tenha medo dessa cara feia, é uma boa pessoa quando você conhece. Acredite.
Kalias estalou a língua impaciente, tirando um telefone do bolso da calça e pareceu observar alguma coisa.
- Já foram todos os sessenta e oito. Vamos embora. - Ele falou em inglês com sotaque britânico.
Eris segurou meu queixo e virou meu rosto para o lado, olhando para mim como se inspecionasse um produto. O empurrei, fazendo com que me soltasse, mas segundos depois ele ainda segurava minha jugular, me fazendo encará-lo. A garra do seu anel na ponta dos dedos arranhou minha garganta.
- Sai de perto de mim! - Eris era forte. A última vez que me lembrei estar naquela posição inferior, eu estava no ensino médio apanhando de alguns valentões até Carmem me salvar, mas a garota não estava lá naquele momento. - Você é doido!
- Estou apenas dando uma boa olhada em você. - Respondeu arrumando o cabelo que eu havia tirado do lugar com o tapa. - Seu príncipe a deixou sozinha novamente, não foi? Onde ele está?
Eu quase respondi "procurando a filha." Mas me mantive bem calada sobre isso, e me limitei a um "Não sei."
- Está o protegendo? - Ele sorriu me soltando e endireitando a postura. - Não me faça ser o monstro dessa história, - Como um louco, se abaixou até igualar nossas alturas e começou a sussurrar. - Não estou atrás dele, fique tranquila, não vou empalhar sua besta.
Eu não entendi metade das metáforas que Eris falou, e também não queria.
- Foi você que fez isso? - Eu enfiei o bom senso naquele lugar quando o questionei enquanto ele se virava para ir embora.
Maldita curiosidade, Amélia, ele estava indo embora!
Eris retornou os olhos acesos como faróis para mim novamente, aquela aura assustadora emanando de seu corpo.
- Faça a pergunta direta, sem cortes. - Eris andou até as escadas onde estavam meus sapatos jogados, os pegou pelas fivelas e espanou uma poeira inexistente antes de estendê-los para mim. Me perguntei como ele sabia que eram meus. - O que acha que aconteceu aqui?
Ele olhava ao redor, suspirando como se apreciasse a vista de um alaranjado pôr do sol.
Mordi minha língua, me impedindo de olhar para ver se havia gente morta por perto.
- Por que está atirando nessas pessoas? - Perguntei baixo em um suspiro, evitando olhar para o rosto de Eris, que sorriu satisfeito. - Foi você, não foi?
- Por que acha que fui eu? - Suspirou. - Aiden teve tempo de fofocar sobre mim como uma velha?
- É um pouco... um pouco óbvio que foi você. - Sussurrei. Meu coração estava disparado quando apontei para Kalias. - Eu vi esse... gigante jogando um velho indefeso da sacada!
Eris levantou as sobrancelhas ficando sério e voltando um olhar de advertência para Kalias, como se o estivesse repreendendo. O gigante continuou com o rosto inexpressivo, apenas olhou para baixo.
Quando Eris se virou para mim e percebeu que eu não iria pegar os saltos, colocou ambos em minha frente e depois se levantou, sorrindo como faria um louco em meio a um incêndio.
- De qualquer forma, - Eris olhou para longe, onde um homem se escorava em uma das colunas da mansão, escorregando até cair deitado. Evitei olhar para a ferida de bala em seu peito. - não me importo com o que você acha ou deixa de achar sobre a minha pessoa. Fique alegre por eu gostar bastante do seu lindo rostinho redondo e bochechudo e não querer cortá-lo. Pense bem e pare de me perguntar coisas inapropriadas.
Ele pareceu irritado, se virando e chamando Kalias para acompanhá-lo. Imaginei se os cortes no rosto de Kalias haviam sido feitos pelo louco vestido de escamas.
- Nós nos veremos novamente, querida. Fique atenta. - Olhou para mim e piscou um dos olhos.
Sangue de Jesus tem poder, como diz a minha avó.
Ele finalmente sumiu com os homens armados tão rápido quanto apareceu. Sem saber muito o que fazer, peguei meus saltos e subi pelas escadas novamente, me ajoelhando novamente nas cortinas.
Definitivamente ele estava vestido para uma guerra.
●●●
Eu estava prestes a descer e procurar por ajuda quando encontrei Aiden subindo as escadas. As mãos dele estavam sujas de sangue e eu estava tão entorpecida pelo vermelho em seus dedos que não escutei nada do que ele me perguntava enquanto me arrastava pelas mãos para uma das ambulâncias que estavam estacionadas.
Não me mexi ou falei até que alguém limpasse aquela substância da minha pele. O cheiro de ferro daquele lugar inteiro me fazia querer vomitar.
Não havia mais sinal de Eris, não havia sinal de que ninguém esteve ali além dos vidros quebrados e de alguns sacos pretos sendo fechados por zíperes .
Um dos médicos depois de passar um pano em meus braços, colocou uma coberta em meus ombros e apontou uma lanterna para meus olhos. Me balancei na maca e afastei sua mão enluvada.
- Eu estou bem. - Consegui dizer antes do médico me deixar e ir atender outra pessoa. Os sacos pretos estavam sendo colocados em outro carro.
Aiden estava em minha frente, calado, apenas me encarando. As luzes vermelhas das ambulâncias refletindo em seu rosto.
Eu estava com raiva dele por ter me deixado sozinha, mas depois pensei bem e cheguei a conclusão de que se eu tivesse uma filha, também iria atrás dela primeiro, mesmo que ela fosse o diabo com o cabelo pintado de loiro.
- Por que está sujo? - Apontei para suas mãos. Eu não conseguia dizer a palavra sangue.
- Não acho que queira saber disso agora. - Ele mexeu no cabelo.
- Quero sim. - Falei com firmeza. Ele passou as mãos sujas no cabelo.
- Rosa foi ferida. - Respondeu rouco. Ele parecia ter gritado, e pelo tom grave de voz, estava muito irritado.
- Onde ela está? - Perguntei engolindo em seco. Aiden sério como uma pedra.
- Estão levando o corpo. - Mordi os lábios. Aquela mulher havia morrido, aquela que eu havia conversado pouco tempo atrás, ela estava morta.
Aiden limpou as mãos em um pano úmido que um dos médicos deu a ele.
- Como você está? - Me perguntou olhando para mim com os olhos azuis semicerrados.
- Eu quero ir para casa. - Pedi.
- Posso pedir que Francisco leve você para seu apartamento agora.
Eu queria perguntar sobre Eris, queria perguntar se iríamos até a delegacia logo, queria perguntar sobre muitas coisas, mas me mantive calada porque o rosto dele já dizia muito sobre o que ele estava sentindo.
Eu estava com agonia porque Aiden manchava toda a roupa dele do sangue provável de Rosa, que estava secando em seus dedos, debaixo de suas unhas e ele não parecia se importar muito com isso, porém ao menos teve a consideração de não me tocar novamente.
- Como está Madinson? - Perguntei. Sua expressão se tornou em alívio.
- Ela não estava na mansão. - Levantei as sobrancelhas. Aiden limpou a testa suada com o antebraço. - Vou mandar você para casa com Mabel e Carlos. Os outros quatro que estavam comigo irão com você.
Ele referia "os outros quatro" aos seguranças que o acompanhavam na maior parte do tempo. Mordi a língua.
- Foi Eris quem fez isso? - Aiden me olhou levantando as sobrancelhas.
- Foi. - Respondeu simplesmente.
- Por que? - Perguntei.
- Não há algo que justifique. - Suspirou abaixando a cabeça. - Não queria que tivesse visto isso. Sinto muito por ter trazido você, sinto mesmo.
Aiden estava realmente desnorteado, seu sobretudo havia sumido, a sua echarpe também, e seu cabelo que antes estava alinhado, caía ao lado de sua cabeça.
Ele ainda parecia preocupado com algo, e deduzi que seria Madinson.
- Você não é capaz de prever o futuro, é? - Perguntei mal humorada. - Pare de se culpar ou eu vou te dar um murro.
Ele deu um meio sorriso que logo desapareceu.
- Eu vou até você amanhã. Eu prometo.
Francisco apareceu correndo, tropeçando nos próprios pés e estendendo a mão para mim, me perguntando se eu estava bem antes de me enfiar no carro e pegarmos a estrada.
●●●
Os seguranças estavam de guarda na minha porta, abaixo das minhas janelas e na portaria do prédio. Ao menos assim eu me sentia um pouco segura dentro do banheiro tomando banho depois do que vi naquele dia, apesar de ainda me sentir quase chapada por não cair a ficha de que pessoas foram assassinadas na minha frente, apesar de eu não ter visto nenhum corpo.
Enquanto eu fazia café, a água quente caiu no chão pela minha falta de atenção, então apenas limpei, deixei a garrafa aberta e me sentei na cama com a porta do quarto trancada.
Queria ligar para Carmem, mas era quase madrugada, ela provavelmente iria trabalhar na manhã seguinte, e se não fosse, ela tinha coisas da faculdade para fazer.
Acabei ligando para minha mãe, e me arrependi quando ela já tinha atendido a chamada pelo notebook.
Ela atendeu sorrindo para a câmera e não parecia sonolenta.
- Amor, por que você está acordada a essa hora? - Ela perguntou colocando as tranças do rastafári para trás. - Não tem que ir trabalhar amanhã?
- Ah... tenho sim! - Menti - Só estava com saudade de vocês.
- Nós também estávamos com saudades! Eu estava tentando te ligar, mas você não estava atendendo. - Ela suspirou. - Então eu liguei para Carmen e ela disse que você estava muito sobrecarregada com a faculdade e o trabalho, mas que estava bem.
Oh, Carmem era um anjo mentiroso na minha vida.
- Sim, é verdade. Tem muitas coisas acontecendo. - Suspirei. - Meu pai está acordado?
- Não, está todo mundo dormindo, só eu estou acordada. Vão ficar com inveja porque só eu falei com você. - Ela sorriu. - Estou terminando os quadros.
Minha mãe é uma artista. Pintar é o seu orgulho, e ela vendia seus quadros na lojinha que meu pai tinha perto de casa na praia.
- A senhora deveria dormir. - Falei.
- Você também deveria. - Ela respondeu. - Você sabe bem que eu não consigo dormir direito desde que você foi 'pra Nebulosa.
O sorriso da minha mãe se foi, e eu sabia bem de quem ela estava se lembrando.
Lilian, minha falecida irmã mais velha, havia vindo estudar em Nebulosa há uns doze anos, mas por um acidente quando ela voltava para a República da faculdade de carona, o carro caiu da ponte e desceu uma ladeira, incendiando com ela e o colega motorista presos nas ferragens.
Ambos estavam voltando de uma festa e provavelmente muito, muito bêbados.
Minha mãe teve um grande pânico quando eu disse que havia passado para Universidade de Órion em Nebulosa e ela não queria me deixar vir, mas depois de bastante conversa, ela se convenceu estabelecendo regras. Algumas delas se resumiam em que eu deveria ter meu próprio trabalho e não pegar carona com ninguém. Jamais.
Eu já havia quebrado algumas regras e mais um pouco. Me sentia muito mal por isso, especialmente por estar mentindo para ela.
- Mãe, eu estou bem. Juro. - Sorri. - Carmem está cuidando muito de mim.
- Ah, eu sei que está. Carmem é um pedaço de mim quando estou longe. - Suspirei. - Amorzinho, vá dormir. Tome um chá de camomila e tente tirar um soninho. Amanhã eu ligo para você, tudo bem?
- Tudo bem. - Sorri. - Eu estou com saudades.
- Estou morrendo de saudades. - Sorriu - Quando puder ligue 'pro seu pai. Ele está resmungando pelos cantos que você ficou rica e esqueceu da família.
Gargalhamos antes de nos despedimos de novo.
Eu não dormi aquela noite, qualquer barulho me assustava.
●●●
Pela manhã, Aiden estava batendo na minha porta. Ele estava sem seu sobretudo, mas ainda estava com o casaco cinza de mangas longas e gola alta, os cabelos alinhados e o rosto de estátua perfeito, como se nada tivesse acontecido.
Abri a porta e voltei para o sofá, me enrolando com a coberta como uma múmia, de onde eu estava vendo alguma coisa sobre vacina, feno e doenças de gado e porcos desde às quatro da manhã em algum canal que provavelmente quase ninguém sabia que existia.
Aiden fechou a porta, colocou as mãos no bolso e olhou para mim.
- Há quanto tempo não dorme? - Perguntou.
- Desde que voltei. - Reclamei. - E você?
- Eu só fui até em casa agora para tomar um banho e ver como você estava. - Suspirou - Você tomou café?
- Quando a polícia vai aparecer com uma intimação para nos mandar testemunhar? - Não o respondi, fazendo-o olhar para mim com surpresa.
- Não vão. - Respondeu. O olhei com uma interrogação exposta no rosto. Aiden pegou o controle de minha mão e mudou de canal.
Eu estava evitando o jornal.
A jornalista disse que três homens loucos conseguiram passar da proteção da mansão com fuzis e assassinaram a maioria das pessoas que ele conseguiu encontrar, depois haviam matado uns aos outros. Havia uma foto borrada de quatro homens mortos segurando fuzis, até mesmo testemunhos das pessoas que estavam na festa confirmando a versão da imprensa.
Não havia nada sobre Eris, sobre Kalias e mais nada disso. Comecei a duvidar se Eris mesmo tivesse feito aquilo.
Foram um total de sessenta e oito pessoas mortas.
Sessenta e oito.
O número que Kalias havia dito a Eris.
- Mas isso não faz sentido, não foi isso que aconteceu. - Reclamei.
- A Polícia não lida com esse tipo de coisa. - Aiden me respondeu voltando ao meu canal com o veterinário falando sobre os testículos dos porcos. Ele fez uma expressão de estranheza, largando o controle no braço do sofá. - Com o tipo de Eris. Eu deveria saber que significava problema quando vi que ele também estava na festa. Sinto muito por você ter presenciado isso.
Eu havia entendido o que Aiden queria dizer.
Ninguém iria falar sobre Eris.
- A Polícia têm medo de Eris? - Me virei. - Ele tem alguma coisa haver com o governo ou o que?
- Eris meio que trabalha para o governo. - Aiden se aproximou passando os dedos pelo encosto do sofá. - Mas não vamos falar sobre isso agora, eu me certifiquei de que Eris esteja bem longe do Brasil por muito tempo.
- Por que você conhece ele? - Perguntei suspirando, pegando a caneca de camomila no chão.
Aiden coçou nuca.
- É algo com... com a minha família e a dele. Ambas são conhecidas uma da outra. Crescemos juntos, eu, meu irmão e Eris. - Levantei a sobrancelha. - Aconteceram algumas... desavenças entre nós no passado e então seguimos caminhos diferentes. Eris preferiu esse.
- Você poderia ter ido com ele?
- Sim, mas não o fiz.
Fiquei calada enquanto Aiden continuou:
- Eu entenderei caso queira rescindir o contrato agora. Caso queira, ligarei para os advogados que virão rapidamente. - Ele olhou para baixo. - Foi imperdoável e vergonhoso o que deixei acontecer a você e a Madinson noite passada. Por favor, tente me perdoar e alivie minha agonia.
- Você fala como um soldado japonês que está prestes a cometer o ritual de suicídio pela desonra. - Sorri um pouco. - Não vou rescindir o contrato a não ser que você queira. Eris não me dá medo e se eu voltar 'pra casa sem fazer essa faculdade, as minhas tias intrometidas vão me comer com farofa e rir dos meus pais. Não vou colocar o rabo entre as pernas desse jeito tão humilhante.
- Você parecia em choque quando a encontrei. - Ele parecia aliviado, estava até sorrindo, mas seus olhos estavam cansados.
- Todo aquele vermelho no chão me deixou enjoada. - O cheiro do ferro veio em minhas narinas de novo.
- Então farei o possível para manter o sangue alheio longe de seus olhos. - Sorriu.
- Espero que não precise fazer isso. - Olhei para ele. - É sério, isso não vai acontecer de novo, né?
- Não vamos mais á esse tipo de lugar, se a deixa feliz. Não vamos mais encontrar Eris. - Ele colocou as mãos enluvadas de vermelho nos bolsos enquanto se aproximava e se sentou na ponta do sofá.
- Você tem que começar a me contar as coisas. - Falei. - Não tem mais nada em relação ao psicopata caótico e você que eu deva saber?
- Nada importante. - Sorriu.
Bebi o resto do chá de camomila já frio na caneca.
Olhando para Aiden, me concentrei em seus olhos de oceano, mas não me demorei muito neles, pois eu sabia que diria que ele não havia me convencido, diria que algo gritava em meus pulmões de que ele não estava me contando absolutamente nada.
Ele me olhou por um momento.
Imaginei se eu deveria rescindir mesmo o contrato, mas estava tudo indo tão bem. Eu havia conversado com minha mãe, ela acreditava que eu estava bem, acreditava que eu poderia me estabelecer bem em Nebulosa.
Também tinha Aiden, ele era ótimo em todos os aspectos possíveis, não poderia prever o futuro sobre o que aconteceria e eu não tinha o que perdoar, não era culpa dele de que Eris fosse louco e genocida ou tivesse aparecido lá de surpresa, mas se alguém perigoso como ele conhecia Aiden daquela maneira tão íntima, provavelmente seria um problema.
Rapidamente tomei a decisão de que iria continuar com o contrato, mas seguiria o conselho de Carmem e iria dar continuidade a minha saga para procurar um emprego, e quando achasse um, daria tchau ao burguês safado. Caso não conseguisse, estava estudando a ideia de fazer Aiden me pagar uma academia enquanto me patrocinasse, e depois viraria stripper.
Eu não sabia se diria a Aiden sobre a conversa que tive com Eris no meio da bagunça, ele poderia me encher de mais seguranças e se Eris já estava longe do Brasil, cinquenta pessoas armadas e andando de preto atrás de mim era o que eu menos queria, estava melhor familiarizada com Carlos e Mabel.
- O que Eris é de verdade? Algo como FBI? - Me virei para Aiden, que suspirou.
- Eris não pode tocar em você. Rosa estava enrolada com algum assunto de Eris que não nos diz respeito.
- E quanto a você? - Perguntei.
- Ele também não vai fazer nada contra mim, não fique preocupada. - Respondeu sorrindo.
Mordi os lábios calada. Ele continuou:
- Ele não vai voltar, fique tranquila. Quando tivermos que sair, avisarei você com antecedência e não farei mais o que fiz ontem.
Aiden tocou minha mão fechada acima do sofá quase involuntariamente, deslizou os dedos macios pelo meu pulso como se sentisse a textura de minha pele, e dessa vez eu não o afastei.
Ele parecia quase destruído, suspirava pesadamente.
- Quando será o velório de Rosa? - Perguntei.
- Amanhã pela tarde. - Respondeu.
- Eu posso ir com você? - Perguntei.
- Você não precisa fazer isso, já teve emoções demais para uma noite.
- Você não quer que eu vá?
- Não é sua obrigação.
- Eu sei, mas eu quero ir com você, a não ser que seja um inconveniente.
- Sua presença nunca é um inconveniente. - Ele pegou minha mão na sua. - Tem certeza que quer ir?
- É claro. O que pode dar errado? - Sorri mínimamente.
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"O que é um peido pra quem já está cágado?"
Amélia, filósofa
Parece que a ficha da Amélia não caiu nesse capítulo, ela é realmente louca, se fosse eu, já estava abanando o rabo na casa dos meus pais segura e quentinha.
Mas vamos às questões do capítulo:
Por que as 68 pessoas? Quem eram elas? O que a Rosa fez? O que o Eris e de verdade? O Aiden está falando tudo?
Tem mais perguntas, prestem sempre atenção às entrelinhas.
"Mas tia, não ia ser um romance água com açúcar e curtinho?"
Então né? Eu não consegui me segurar hahaha. Geralmente eu escrevo histórias com temas diferentes e fantasiosos, essa é a primeira história normal que faço.
Eu espero que estejam gostando.
Hmmmmmmmm
Vamo pro próximo capítulo onde vamos lavar muita roupa suja quando formos conhecer a família do Burguês pro enterro.
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