Encontro inesperado
Sinto que estou sendo carregada por alguém que me segura firmemente impossibilitando-me de cair. Estranhamente, o meu rosto estava quente comparado ao resto do meu corpo que estava frio e molhado. Começo a escutar o barulho de chuva que começou a cair fortemente, me fazendo abrir os meus olhos assustada. Minha visão é impedida por um tecido de algodão que cobria o meu rosto, e após me mexer no intuito de me livrar das mãos da pessoa que me segurava, eu acabo caindo no chão molhado devido a chuva e ficando livre do pano que impedia a minha visão, percebendo se tratar de uma camiseta comum preta, que eu reconhecia muito bem de quem se tratava.
— Você está bem? — Perguntou o Demiumano dos olhos vermelhos. Sua voz, um pouco rouca, me fez olhar em sua direção.
Ele me olhava com o seu semblante preocupado e visivelmente cansado, demonstrando a sua compaixão ao levar a sua mão para que eu segurasse no intuito de me ajudar a levantar. Seus cabelos cacheados estavam completamente encharcados pela chuva, o que fazia o seu pequeno chifre unilateral aparecer.
Segurei a sua mão involuntariamente, me dispondo a levantar daquele chão molhado. Encarei os seus olhos profundos que me fitavam por inteira. Não pude evitar de encarar o seu corpo após desviar a minha visão, reparando que o mesmo estava sem camisa. Ele deixava as gotas da chuva cair sobre o seu peitoral definido, cujo o peito direito era marcado por uma cicatriz que levava até o seu abdômen incrivelmente trincado. O Derek com certeza já deve ter passado por muitas coisas para carregar tanta cicatrizes.
Corei violentamente após me dar conta da fonte que aquecia o meu rosto, e o empurrei com força no mesmo instante.
— O que pensa que está fazendo? — Falei tentando me recompor.
— Eu estava querendo ajudar. — Respondeu todo retraído, sem desviar o seu olhar.
— Eu não pedi e nem preciso da sua ajuda. — Falei mais ríspida, retirando Alguns fios de cabelo que cobriam a minha visão. — Para onde você estava me levando? O que aconteceu comigo? — Senti uma dor atrás do meu pescoço. Passei a mão tentando me lembrar do ocorrido.
— Eu não sei muito bem o que aconteceu…— Ele levou um susto com o barulho do trovão. — Eu estava terminando de ser curado quando aquele anjo, o Rafael, apareceu com você já desmaiada. Ele apenas me pediu para que levasse você para bem longe que eu pudesse daquele lugar, pois você corria sérios perigos. — Ele respirou fundo e andou em direção a sua camiseta que estava jogada no chão. — Quando eu avistei o Rei Akuma de longe, eu não hesitei. Corri o máximo que consegui.
— Mas…precisava tirar a camisa para me carregar? — Perguntei envergonhada. Minha visão do seu peitoral foi interrompida após o mesmo colocar a camiseta.
— Desculpe se isso a incomodou. — Um sorriso lindo surgiu em sua face. — Enquanto eu te carregava, reparei que iria chover. Então para que não levasse a chuva diretamente no rosto, eu achei melhor te cobrir com alguma coisa. A minha camisa era a única coisa que estava disponível no momento.
A minha vontade de continuar discutindo com ele foi amenizada. Por alguma razão, eu me sentia fraca.
— Obrigada. — Foi tudo o que eu disse, antes de olhar ao redor procurando algum abrigo para sair daquela chuva. — Precisamos sair daqui.
— Concordo. — Ele ainda permanecia me encarando. — Você está bem? Está parecendo que ainda não está cem por cento.
— Eu estou…— Uma forte pressão em minha cabeça me fez perder o equilíbrio e acabar tombando. Eu cairia no chão se não fosse pela agilidade do Demiumano que me segurou em seus braços.
— Descansa, tá legal? Precisa recuperar as suas forças primeiro. — Eu fiquei paralisada ao fitar em seu olhar, não conseguia dizer nenhuma palavra, apenas deixei que ele me ajudasse a levantar.
Ao que tudo indica, eu ainda estava sofrendo com efeito colateral de ter usado as minhas duas habilidades em conjunto mais de uma vez. Meu corpo ainda não estava preparado para isso.
A chuva forte estava impossibilitando-me de ver claramente a nossa atual localização ou para onde estávamos indo. O Derek me ajudou a andar deixando que eu me apoiasse em seu ombro. Eu não estava em condições para negar a sua ajuda, tive que abrir mão do meu orgulho.
Conforme a gente seguia em frente, eu notei que o Demiumano morria de medo dos barulhos dos trovões, pois seu corpo sempre tremia a cada raio que riscava o céu e se encolhia quando era seguido pelo barulho ensurdecedor.
Eu não disse nada a ele, permaneci quieta observando. A minha percepção dizia que ele carregava um enorme peso nas costas, algum trauma que viveu ou presenciou, contudo, não cabia a mim fazê-lo se abrir e contar sobre o seu passado. Afinal, eu carrego mais segredos do que qualquer um e não saio compartilhando com estranhos ou pessoas que não confio. Muitos já me chamaram de estranha ou antipática, e recentemente até de coração de gelo, mas nunca foi a minha intenção de ser assim, eu só gosto de ser reservada e cuidadosa.
Já não sabia mais dizer quanto tempo a gente estava andando debaixo daquela chuva que não dava indícios de quando iria cessar. O meu corpo, assim como o do demiumano que me carrega, estava encharcado e exausto.
Meus olhos queriam fraquezar diante de tamanha exaustão, mas não podia desistir. Não quando percebo o Derek dando tudo de si. Forço eles para que permaneçam abertos e atentos, e acabo sentindo uma presença estranha mais adiante.
— Espere! — Parei de andar para focar na presença que se aproximava de nós.
— O que foi? — Ele perguntou após me fitar e perceber que eu estava em alerta.
— Apenas fique calado. — Voltei a me concentrar naquilo que se seguia em nossa direção.
De repente, a chuva que não parava de cair simplesmente parou. O tempo fechado e escuro, abriu espaço para um céu completamente limpo, cheio de estrelas brilhantes e uma linda lua cheia que iluminava o ambiente. Olho mais atenta, percebendo uma figura no céu que se mantinha oculta por utilizar o brilho da lua a seu favor.
A mesma não estava sozinha. Uma segunda presença se fez presente, só que ao contrário dela, estava vindo por terra.
Eu já me preparava para o combate, caso as figuras misteriosas fossem hostis, apesar de eu não estar sentindo nenhuma hostilidade vindo delas.
— Fique atrás de mim e não se mova. — Alertei o demiumano assumindo a frente.
Quando enfim elas decidiram se aproximar, eu as encarei, avistando uma garota de olhos verdes e cabelos presos em um rabo de cavalo totalmente pretos, como a noite, que pousou em minha frente mostrando as suas asas de plumagem vermelha. O outro ao seu lado era um demônio de olhos alaranjados com as pupilas na vertical como de um gato, dando contraste a sua pele escura como a sombra do luar.
— Não tenham medo. Não viemos para machucar vocês, Tic tic. — O demônio falou, abrindo um sorriso que mostrava os seus dentes amarelados. — Pela situação de vocês, percebo que passaram por muitas coisas, tic tic.
— Quem são vocês? — Perguntei mantendo-me em alerta. — O que querem conosco?
— Eu sou o Zékriön, tic tic. E essa aqui do meu lado é a…
— Chloe? É você? — Perguntei, reconhecendo a Celestial que abriu um enorme sorriso após me fitar.
— Eu não acredito, Amy?— Balancei a cabeça em confirmação — AMYYYYY….— Ela correu para me abraçar, quase esmagando o meu corpo com a sua incrível força.
— Vocês se conhecem, tic tic?
— Sim! — Respondeu ela depois que me soltou. Eu já estava ficando com falta de ar de tão apertado que foi o seu abraço. — Amy e eu nos conhecemos no dia que meus pais morreram. Ela me salvou quando eu queria atacar o rei, quando o mesmo matou os meu pais em praça pública para servirem de exemplos. Desde então, eu não saí mais do lado dela, — Ela tentou me abraçar de novo, mas eu desviei revirando os meus olhos — entretanto, um evento acabou forçando nós duas a nos separar e cada uma seguiu um caminho diferente. Fico feliz que esteja bem, me lembro como se fosse hoje…
— Acho que todos já entenderam! — a interrompi. Se eu me lembrava bem, uma vez que ela começava a falar, não parava mais.
— E quem é esse gato atrás de você? — Apontou para o Demiumano atrás de mim — Ele faz totalmente o meu tipo, isso é claro, se ele não for o seu namorado.
— Namorado? — Eu quase engasguei — Ele não é meu namorado! Somos apenas….— Nem eu mesma sei o que nós éramos — pessoas que estão viajando juntas.
— Ah, é? E por que ficou toda vermelha, hein? — Eu lancei um olhar mortal em sua direção, mas a mesma apenas caiu em gargalhadas. — Você não mudou nadinha mesmo, né? Hahahaha. Não consegue demonstrar os seus verdadeiros sentimentos. Ah, a propósito, o meu nome é Chloe, e o seu?— Ela se dirigiu para o Derek, com um sorriso sedutor que sempre usava quando queria conquistar alguém.
— Eu me chamo Derek, prazer. — um sorriso idiota apareceu em sua face.
— Apresentações feitas, agora me dizem, o que vocês querem conosco? — Voltei a me pronunciar após ficar enjoada com as trocas de olhares dos dois.
— Sentimos a presença de vocês quando entraram aqui, tic tic. Viemos averiguar se eram inimigos mandados pelo rei Akuma, tic tic.
— Estávamos fugindo dele, — Disse o Derek, um pouco eufórico.
— Entendo, tic tic. Aqui vocês estarão seguros, tic tic.
— Onde é exatamente aqui? — Perguntei.
— Onde você acha, bobinha, está no território dos Celestiais. Perto daqui está o nosso esconderijo, um abrigo para aqueles que fogem da tirania do rei. — Ela deu uma piscadela para mim — Assim, como nós, né, mana? — Apenas revirei os meus olhos como resposta — O que a gente já aprontou quando éramos…
— Vocês devem estar cansados, tic tic.— Dessa vez, foi o Zékriön que a interrompeu, ainda bem. — Venham conosco para poderem descansar.
— É claro que eles vão vir com a gente. Temos muito para conversar e manter as fofocas atualizadas. — Disse a Celestial colocando as suas mãos em volta do meu pescoço.
Eu mereço.
Eu aceitei o convite sem muita escolha. Precisava recuperar as minhas forças e deixar que o Derek descansasse. Ele realmente precisava. Acredito que não foi nada fácil me carregar de um território para o outro nas condições que o mesmo se encontrava. Admiro essa persistência dele.
Entramos em uma floresta densa e escura, um nevoeiro estava espalhado pelo ambiente, impossibilitando-me de enxergar com clareza aos redores. Eu apenas seguia os guias com muita atenção e dificuldade, enquanto desviava dos objetos que caíam sobre nós, devidos às armadilhas que o demiumano sempre caía, mesmo com os alertas da Chloe.
Paramos em frente a uma árvore. Diferente das outras, essa era menor e mais fina, com apenas alguns galhos que carregavam poucas folhas, quase nenhuma para falar a verdade.
— É por aqui, tic tic.
Ao continuar o seu caminho em direção a árvore, o demônio simplesmente desapareceu diante dos meus olhos.
— Para onde ele foi? Como que ele…? — O Derek parecia confuso, como sempre, fazendo a sua cara de idiota.
— É uma camuflagem! — Eu deduzi. A Chloe sorriu pelo meu acerto.
— Isso mesmo, vamos! — foi a vez dela atravessar a árvore.
Sem demoras, eu segui em frente, sendo acompanhada pelo idiota que mantinha o seu semblante assustado.
Do outro lado da árvore, a noite estava em seu auge, com a lua brilhando fortemente naquele céu escuro. Alguns anjos e Celestiais sobrevoavam pelo ambiente, enquanto que alguns humanos conversavam com outros seres. Todas as raças aparentavam se darem bem entre si. Me fez lembrar da minha mãe que sonhava com algo parecido.
— É por aqui. Venha logo. — A chloe me puxou contra a minha vontade para dentro de uma casa esverdeada. Eu bufei com isso.
A casa era enorme por dentro, com alguns cômodos bem distribuídos e mobiliados. Várias portas eram visíveis por um extenso corredor, uma do lado da outra, deduzindo serem quartos de uma pensão.
— Você pode descansar aqui, tic tic. — O Zékriön abriu uma das portas, um quarto com uma cama de solteiro ao lado da janela estreita, me esperava. — E você vem comigo, tic tic. — chamou pelo Derek.
Sem me importar pela decoração simples do lugar, cuja parede branca só tinha um quadro abstrato e um criado-mudo encostado na parede ao lado da cama, me joguei na cama e sem muita demora, acabei caindo no sono. Tinha muita coisa para processar, e o dia não estava sendo nada fácil.
…esse pingente é lindo…
…combina com você…
………………………………………………….......
…sim,meu amor, a gente vai ter uma filha…
…não posso mais…me perdoe…
…não se vá, por favor, não me deixe…
— NÃOOOO!!!...
Acordei assustada e ofegante, olhei para o lado e logo encarei o teto, podia sentir o meu coração acelerado e minha respiração pesada. Me levantei daquela cama e passei a olhar o céu noturno através da estreita janela. A noite estava linda e serena, alguns Celestiais mantinham a vigilância, enquanto outros aproveitavam o tempo calmo para manter a chama do relacionamento acesa. Aos poucos, meu coração foi se acalmando conforme o sono voltava a bater. Me preparava para deitar, quando avistei um brilho vindo do meu pingente. Peguei ele em minhas mãos, e fiquei hipnotizada com a sua beleza que brilhava lindamente, atraindo a minha atenção para a pedrinha no centro da lua como se ela tivesse me chamando, me possuindo, não conseguia desgrudar. De repente, o formato da lua crescente mudou para um forma de lua cheia, e a pedra em gotas no seu centro tomou uma nova cor, mudando para uma tonalidade mais clara, quase um tom de branco e em uma espécie de explosão, o quarto se iluminou, me derrubando no chão pelo impacto. Assim que levantei, o pingente estava caído sobre a cama, parecia ter voltado ao estado normal, apesar da aparência permanecer modificada.
— O que foi isso? — Perguntei ao pegar o objeto sobre a cama e ficar encarando-o.
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