Capítulo XXXIX
Amber despertou com um aperto em seu coração. Abriu os olhos sentindo como se tivesse acontecido alguma trama terrível, tão ruim que não podia evitar que seus pensamentos corressem em direção à Aziz. Já faziam tantos meses desde a partida do marido que já havia perdido as contas dos dias que sucederam o início da guerra, mas era inevitável deitar-se todas as noites presa em pensamentos torturantes e levantar-se desejando que ele estivesse ali.
Cada vez mais tinha certeza das escolhas que fizera, e a maior prova de que sua vida mudou de cabeça para baixo era Danúbia. E era a menina o único conforto que tinha para lhe acalmar naquele momento de angústia, era nela que nos pequenos detalhes enxergava Aziz.
Indo então depressa até o berço que ficava no canto de seu quarto, procurou-a, mas não encontrou nenhum sinal da filha por ali.
— Onde está Danúbia? Onde ela está? — Disse alto, já vasculhando com os olhos todo o aposento — Karli! Onde está minha filha?
Uma figura apressada de sua dama adentrou o quarto pelos anexos, limpando as mãos no tecido de sua abaya de cor bege.
— Senhora... não percebi que já estava despertando. Senhorita Danúbia está com as avós no desjejum. — Explicou vendo Amber respirar aliviada. — Quer que lhe prepare um banho? Haverá tempo para que se juntem a elas.
A imperatriz fez que sim, sentindo seu coração desacelerar e a respiração voltar ao normal. Levantou-se tão rápido da cama para onde havia voltado que naquele instante sentia a pressão baixar lentamente quase como se ficasse cega por alguns segundos. No entanto, embora soubesse que logo poderia ter Danúbia nos braços, a sensação de que havia algo errado não lhe deixava.
— Vou separar suas roupas enquanto se banha, gostaria de usar vermelho hoje?
— Fátima é muito mais adepta à cor do que eu Karli — Respondeu com graça e pensativa — Não há nada de tons alaranjados? Já faz muito tempo que não uso cores vibrantes — Comentou procurando em sua mente alguma visão daquele fato.
— Há alguns vestidos antigos, senhora. Mas receio que nenhum que esteja pronto para uso, todos precisarão de ajustes — Disse com os olhos examinando a imperatriz por inteiro — Já não tem mais o mesmo corpo de antes...
O comentário certamente tocou Amber, em um lugar ainda desconhecido. Não sabia ao certo se estava apenas fazendo um julgamento errado a respeito de sua dama ou se de fato Karli falava coisas sem pensar, embora a julgar pelo olhar sempre esperto da moça, podia jurar que ela falava-lhe com más intenções.
A dama lhe servia desde o início de seu casamento com Aziz, e Amber sabia exatamente o motivo pelo qual a havia escolhido dentre tantas opções de moças. Karli era pequena, e não costumava chamar atenção, nem das mulheres e tampouco dos homens. Era perfeita para sair e entrar nos lugares sem que fosse percebida, perfeita para servir uma imperatriz recém casada com um homem que não a amava. Perfeita o suficiente para nunca ser melhor do que ela. Mas até que ponto a dama aceitava aquele destino?
Não lhe surpreendia, é claro. Talvez precisasse reconsiderar seu ponto de vista, talvez a dama não tivesse péssimas intenções com aquele comentário, talvez fosse inevitável que não a invejasse. Mas Amber era desconfiada e um tanto orgulhosa para que relevasse o desdém de Karli, pelo menos não com tanta elegância quanto a mãe faria.
— Tem razão, Karli... uma imperatriz deve usar as cores de seu império — Sorriu ladina virando-se para ela — Prepare meu melhor vestido vermelho e minha coroa de rubis. Não se esqueça do meu véu bordado, aquele que Aziz me presenteou em meu último aniversário. Minhas luvas... e meus saltos de cetim. — Começou a passar as inúmeras instruções a respeito de seu traje — E é claro, esquente novamente a água do meu banho... e coloque essenciais... aquelas que Aziz tanto gosta.
Não deixou que a dama tivesse tempo para palpitar ou discordar de suas escolhas. Deixando com que ela esboçasse um feição surpresa e atordoada com repentina mudança de humor. As sobrancelhas levantadas de Amber indicavam que prestava atenção a cada passo que ela dava e que não estava disposta a ouvi-la outra vez.
De certo que observando por certos ângulos, talvez realmente lhe tivesse faltando a elegância de Safira, mas era inegável que a astúcia e a sutileza quase ácida com que falava e por vezes ordenava apenas com os olhos tinha herdado, se não, de Fátima.
*
— Não esperava vê-la tão cedo, querida — Safira sorriu assim que viu a filha adentrar a sala de desjejum — Espero que não se importe em termos trazido a pequena Danúbia para o café da manhã.
— Então agora as duas têm interesses em comum e tomam café juntas? — Arqueou uma das sobrancelhas sugestiva para a mãe e a rainha — Fico feliz que tenham se entendido.
— Eu não...
— Não levarei em conta suas graças matinais, imperatriz — Fátima respondeu bebericando o chá preto — Garanto que se há algum ponto em comum entre eu e a princesa, é Danúbia.
— Eu posso garantir que há muito mais...
— O que quer dizer? — Questionaram desconfiadas
— Hoje está um belo dia para um passeio, não acham? — Desconversou, mudando de assunto — Tenho pensado em visitar o vilarejo a alguns dias para ver de perto se os recursos que enviei estão sendo uteis.
— Receio que seja perigoso, minha filha... — Safira comentou — Os tempos estão incertos agora... temo que o povo não esteja muito contente, mesmo com sua ajuda.
— É exatamente por isso que devo ir, tenho que saber o que posso fazer para mudar isso. Se não é comida, água limpa e atendimento médico do que eles precisam... tenho de saber o que lhes falta para que possa suprir de alguma maneira — Suspirou, observando o vapor do chá se esvair de sua xícara — Sei que Aziz não está aqui, e que a presença dele seria de grande valor. Mas que tipo de soberana eu seria, se na ausência dele deixasse o povo perecer?
O silêncio das duas mulheres então se fez presente na mesa. Não havia muito o que contestar a aquele ponto, e Amber como sempre faria o que seu coração mandasse.
— Pretende levar sua dama? Não é bom que vá apenas com os guardas...
— De certo que deveria... mas já dispensei os serviços de Karli por hoje — Comentou desgostosa — Porque não vamos todas? Assim podem ver que somos uma família unida, que assim como eles permanecemos juntos mesmo com a guerra.
— Não vejo como isso poderá ajudar em algo — Fátima disse nervosa — Desde meu casamento com o falecido imperador nunca mais pisei naquele vilarejo, não será agora que farei diferente. Se quiser levar alguém, leve Mirhima... é tão insignificante que quase não me lembro que ela existe.
— Fátima! — Amber a censurou — Não fale assim de tia Mimi... garanto que se desse a oportunidade de conhecê-la...
— Não seja tola... a conheço a mais de trinta anos, não há mais nada sobre ela que eu deseje saber. Deveria ter me livrado dela quando tive oportunidade.
Amber respirou profundamente, vendo Safira apenas em silêncio observando o iminente descontrole da rainha, enquanto a mesma destrinchava em detalhes o quanto detestava a presença da cunhada no castelo.
— Se seu desejo era esse, por que não a casou com aquele velho tépido que forçou Samira a se casar? — Levantou a voz sem paciência, fazendo Fátima arregalar os olhos para ela. — Garanto que minha cunhada merece um destino melhor que esse...
— Não ouse questionar minhas decisões enquanto mãe! Assim como escolhi você para Aziz, garanti um futuro decente para Samira! O que seria dela no meio desta guerra? Com um marido que provavelmente não voltaria por ter sido morto em batalha? — Bateu na mesa irritada, fazendo Danúbia se assustar — Já não existem mais opções na realeza boas o suficiente para uma jovem princesa de um reino à beira da ruína.
— É isso então não é mesmo? Me escolheu porque sentia tanto ódio de minha família que todo sofrimento que eu passe será pouco! O meu marido pode morrer naquela guerra! O pai da minha filha! O seu filho... e tudo o que te importa... é o status de um casamento bem sucedido. É garantir que o seu nome não será esquecido mesmo que todos paguem pelas suas escolhas.
— Você ainda precisa aprender muito... — Riu irônica com a cena que faziam — Se eu tomasse as decisões pensando em meus próprios interesses não existiria nem mais esse castelo onde vocês todos dormem, não existiria um reino e tampouco um povo para que você pudesse se preocupar. Minha cara... se ainda não entendeu... o nosso nome, o nome Ibrahim é tudo o que nos resta. Tudo o que restou do meu marido, do legado que ele construiu e idealizou. E se não fosse por mim e pelas renúncias que fiz pela família... nenhuma de vocês estaria aqui.
— Vou levar Danúbia para o quarto, com licença— Safira interrompeu, se apressando em sair daquela sala com a neta nos braços.
Amber parecia não acreditar que estava discutindo com Fátima por aquelas horas da manhã.
— Nada justifica você ter escolhido aquele homem para Samira... nada justifica você postergar o casamento de Mirhima por tantos anos, se tudo o que deseja é vê-la longe de você.
— Não tenho que me explicar para você, Amber — Respondeu-a — Eu tomei minhas decisões baseadas na sensatez e coerência que o meu marido teria se estivesse vivo.
— Aziz era quem deveria tomar essas decisões — Retrucou — Você tirou esse poder dele, e tirou delas o direito de escolher.
— Eu não sei o que você e Mirhima andaram conversando, ou que cartas você e Samira trocaram. Mas eu garanto que se as duas não entenderam minhas ações até hoje, um dia terão oportunidade de me agradecer. Talvez até mesmo você me agradeça, imperatriz.
— Eu não...
— Há certos escândalos que uma família deve evitar, Amber. Espero que tenha boas notícias em seu passeio na vila— Disse, e saiu em disparada pelo corredor logo sumindo das vistas da imperatriz.
*
O cheiro da guerra era úmido. Molhava a terra fofa com as tórridas chuvas de verão, daquelas que fazem a neblina pairar pelo ambiente a ponto de cegar. O cheiro da guerra também lembrava das pólvoras das armas e das manchas de tinta que impregnavam nas mãos a cada granada que prendiam entre os dedos. O cheiro da guerra lembrava o faiscar das espadas turcas, afiadas e brilhantes como a prata. O cheiro da guerra tinha barulho, explosões, corpos despedaçados pela planície. Tinha gosto de grama, lama e esterco. Mas acima de tudo, o cheiro da guerra tinha saudades de casa.
Aziz já não sabia quanto tempo havia se passado desde que começou, desde que havia caído com o ataque surpresa no acampamento. Mas sabia que de alguma maneira ainda estava ali, seguindo automaticamente seus próprios comandos. Empunhando sua espada, deixando que a sua força o mantivesse firme até que o último soldado estivesse abatido.
Não tinha uma conversa com ninguém a dias, tudo o que saia de sua boca eram gritos e ordens que havia decorado de tanto repetir. Parecia não haver mais Aziz, era só guerra. Seu corpo inteiro estava em estado de batalha.
Naquela noite só as luzes da fogueira podiam ser vistas, era um risco ele sabia. Todos os esforços para se esconderem a ponto de ao menos se recuperarem do enfrentamento do dia anterior poderiam ser em vãos se os encontrassem. Mas sabia que era uma questão de tempo, uma questão de horas se tivessem alguma sorte. Precisavam do descanso e do calor de uma fogueira, precisavam soltar as armas nem que fosse por aquele espaço curto de tempo, porque já não sabiam fazer outra coisa, se não, lutar.
Se afastou dos homens o suficiente para que não o escutassem enquanto fazia suas preces a Allah. Só tinha sua fé para o sustentar naquele momento, sua fé e a vontade de voltar para casa. Não deixava de pensar nela nem por um só dia, não deixava de desejar abandonar tudo aquilo e voltar.
— Allah... cuida de minha família enquanto não posso fazer isso, cuida do meu povo e do meu reino. Não deixe que a destruição dessa guerra recaia sobre eles...e me ajude a aguentar mais essa noite. É menos uma noite...e mais uma na qual ainda respiro.
Falar com seu deus era tudo o que lhe acalmava quando a angústia lhe reprimia, embora não se considerasse mais digno de pedir por qualquer coisa que fosse. Suspirou, limpando o rosto com as mãos como costumava fazer repetidas vezes ao dia, talvez já tivesse se tornado uma mania, uma das muitas que adquirira naqueles meses.
O barulho das corujas inundava por detrás das montanhas, mas fora o relinchar de muitos cavalos que o fez entrar em estado de alerta. Não poderiam ser britânicos, poderia? Será que a batalha que ceifou muitas vidas dos dois lado não havia bastado para que tivessem ao menos uma trégua de dois ou três dias?
Conforme os poucos minutos se passavam os cavalos em trote pareciam chegar rapidamente, ávidos e prontos para atacar. Aziz só teve tempo de puxar a espada e gritar para os soldados assim que por entre as pradarias baixas eles se mostraram.
— ATACAR, HOMENS!
No entanto, não eram seus inimigos ali. Aos menos, não eram mais.
— ESPEREM!! NÃO ATAQUEM! — Uma voz em meio a escuridão pedia, hasteando uma bandeira branca que os homens podiam ver cada vez que os cavaleiros se aproximavam mais da fogueira — NÃO SOMOS INIMIGOS! BANDEIRA BRANCA, VEJAM! ESTAMOS EM PAZ!
— QUERO FALAR COM O IMPERADOR — Um deles gritou — ABAIXEM SUA ARMAS, BANDEIRA BRANCA!
— AZIZ, POR FAVOR! VIEMOS EM PAZ
Aziz suspirou profundamente. Reconheceria aquela voz mesmo a milhas de distância, a mesma voz que o atormentou por meses o prendendo às feições que tanto o fizeram sofrer em seu casamento. Era a voz de Robert Williams.
— HOMENS — O imperador bravejou — RECUEM! Eles estão conosco!
Foi o suficiente para que o obedecessem, e assim que os cavaleiros desceram de seus cavalos Aziz teve a oportunidade de enxergá-los com mais clareza. Seu sogro e seu cunhado estavam lado a lado, assim como o joalheiro que certamente estava irreconhecível em meio a lataria e a penugem de barba que cobria o rosto grosseiramente. Todos eles se não fizessem o mínimo esforço teriam passado despercebidos em outra ocasião.
Atrás deles Alexandre fora avistado pelo imperador, que embora nunca tivesse tido a oportunidade de o ver pessoalmente, julgava reconhecer pela popularidade que o precedia em suas cartas e notícias. Sem dúvidas exalava um ar poderoso mesmo sujo de lama e fedendo como quem não via um banho a muitos dias. Aziz não julgaria o estado dos então visitantes do acampamento, sabia que ela e seus homens não se encontravam em melhores condições.
— O que estão fazendo aqui?
Questionou um pouco incrédulo de encontrar todos aqueles homens juntos, vestidos com uniformes britânicos e alegando uma suspeita bandeira de paz. Talvez devesse ter começado aquele diálogo com outros questionamentos, ou ao julgar pelo olhar censurado de Said devesse ter ao menos cumprimentado-os com as devidas honras. No entanto, manteve a postura e aguardou uma resposta, de qualquer um que se dispusesse a conversar.
— Não é óbvio, meu cunhado? — Jasper em evidente bom humor retrucou — Viemos para levá-lo para casa.
Aziz não evitou um arquear de sobrancelhas, seguido do franzir de sua testa que já era pouco visível pela cabeleira. Um riso rouco se prendeu em sua garganta e acabou por pender a cabeça para o lado.
— Isso é alguma brincadeira? — Perguntou já cruzando os braços — Se estão aqui para caçoar do meu exército ou para se gabarem da possível vitória da coroa britânica, perderam a viagem.
— Tenha calma rapaz... — Said o interrompeu — Haveria eu algum motivo para tal? Pensa que eu ou qualquer um destes homens deixaria o próprio reino para distribuir graça ou orgulho? — Disse descendo do cavalo, indo diretamente em direção ao imperador. — Estou aqui para te levar, são e salvo de volta para a minha filha.
Os olhos de Aziz então brilharam na simples menção de sua imperatriz e buscou nos olhos do sheik qualquer que fosse a boa nova que trazia consigo.
— Como ela está? como... ela está viva? atacaram o castelo? — Perguntou em desespero, apertando os braços do sogro num reflexo de seu estado emocional — Me fale! Onde ela está? Como... o bebê, nasceu? — Questionou, num lapso de que algo grave pudesse ter ocorrido para que fossem atrás dele.
— Ela está grávida? — Dessa vez foi Robert quem questionou, engolindo seco logo em seguida ao receber o olhar de ódio de Aziz.
— Escute, homem! — Said chamou sua atenção outra vez — Nada aconteceu em seu império, não desde que partimos de viagem. Minha filha deve estar a sua espera, assim como minha esposa e a destes homens também... Não precisei falar com ela para saber que você deveria voltar para casa imediatamente.
— Não voltarei para casa enquanto houver guerra — Respondeu — Se não vão lutar, ou se já escolheram um lado... — Disse apontando para as vestes britanicas — É melhor que partam logo, temos um pouco de comida e água podem levar com vocês.
No entanto, todos os outros desceram de seus cavalos exprimindo uma risada contida.
— Agora entendo porque nossos impérios nunca fizeram alianças que durassem mais que uma metade de década — Alexandre se aproximou — És tão teimoso e orgulhoso como seu pai era, mas com certeza obstinado como sua mãe. Não posso dizer que é um prazer conhecê-lo, mas certamente é uma honra.
Nada mais poderia surpreender tanto o imperador quanto aquelas palavras. Não lhe surgiu qualquer dúvida de que o czar falava com sinceridade, já havia lido muitas de suas cartas e apelos durantes os anos que se passaram para perceber que era verdadeiro.
— Não iremos embora, não sem você. És grande o bastante para que te levemos à força, então se o que quer é ficar, lutaremos com você. — Continuou — Lhe devo explicações que ficaram perdidas a algum tempo, poderíamos ter dado outro caminho para esta guerra... mas como minha cunhada Helena costuma dizer... não a nada que não aconteça sem a permissão de Deus.
— Então está decidido! — Jasper se espreguiçou — Onde tem comida, Aziz? Estou faminto — Disse passando a mão pela barriga, o que fez todos olharem para ele — O que? Falei algo errado? — Perguntou com os olhos arregalados e as mãos na cintura
A risada de todos não pôde ser evitada, mesmo em meio a todo o caos parecia bom que ao menos um deles podia ver a situação com certo humor. Se cumprimentaram em silêncio, com Aziz lhes mostrando o caminho até as tendas hasteadas um pouco mais distantes da fogueira.
— Podem ficar aqui, eu durmo na rede de cordas, então podem ficar nas esteiras. Há um rio a uns 2 ou 3 quilômetros daqui se quiserem se banhar e vou pedir que esquentem a sopa. Se juntem à fogueira quando terminarem de se instalar. — Disse repetindo o compilado de afazeres que já havia decorado em sua mente
— Aziz — Said o chamou — Ainda há muito para conversar...
— Teremos tempo para isso depois, senhor. — Respondeu tentando se afastar
— Espere... — O puxou — Ela... Amber está mesmo grávida?
— Por esses tempos já deve ter a criança nos braços... se Allah permitiu.
— Eu não.. não sabia... não imaginava...
— Como poderia? — O interrompeu — Quis cortar todos os laços que tinha com ela, a renegou enquanto deveria ter acreditado nela não naquele homem. Não a julgo por não ter sentido sua falta nem um sequer dia.
O imperador sabia que não era verdade, sabia que Amber sofreu com saudades da família todo o tempo desde que saíram da Índia. Mas também sabia que embora as fronteiras estivessem fechadas para a família Mamun, Said nunca tentara passar. Não poderia dizer o mesmo de Safira e de suas milhares de cartas que constantemente eram extraviadas por Fátima. Não se orgulhava de ter conhecimento daqueles fatos e nunca ter feito nada, talvez só tivesse medo de que bastasse apenas uma chance para que tirassem Amber dos seus braços.
No fim, todos pareciam carregar alguma culpa naquela longa história.
— Se sairmos todos vivos daqui, talvez possa consertar o que quebrou. — Disse ao ver que o sheik não podia dizer mais nada e lhe ofereceu o momento de silêncio que precisava.
Se afastou voltando para fitar as montanhas enquanto lhes dava o tempo para a instalação, suspirou outra vez profundamente deixando o vento lhe abraçar com força. Sentiu uma lágrima escorrer de seus olhos fechados, estava sofrendo. Sofrendo de saudades, de amor e de paixão. Não podia deixar de ver um pouco dela nos olhos de Said, naquelas esferas douradas que estranhamente pareciam dançar sob a luz da noite. Se perguntou se não era melhor abandonar tudo e declarar a vitória dos escravistas, daqueles britânicos que se banhavam no sangue dos inocentes. Se perguntou se de fato arriscaria perder a família para que outros não perdessem as suas.
Mas já não lhe cabia o direito de fazer tais questionamentos. Não era sobre eles, era sobre o reino. E Amber jamais o perdoaria se virasse as costas para o povo em prol de seu próprio benefício.
— Devo lhe dar parabéns — A voz de Robert fez com que ele se virasse
— Por qual motivo?
— Parece que conseguiu tudo o que queria. — Respondeu, colocando as mãos no bolso da calça nova já devidamente limpo.
— Tudo o que você queria, não é? — Cruzou os braços — Amber, um filho, um reino... Consigo respirar sua inveja daqui.
— Não é... — Suspirou balançando a cabeça — Não tenho inveja de você... não tenho mais. — Se corrigiu — Quis dizer apenas que você conseguiu que ela te amasse.
— E como é que você pode saber disso?
— Se ela foi capaz de ter ficado por anos naquele castelo sem que ao menos pensasse em fugir, se em nenhum dia pegou numa pena e papel para implorar que a tirassem de lá... se ela foi capaz de carregar um filho seu... como é que alguém poderia duvidar que o coração dela bate por você?
— E você veio até aqui para me dizer isso?
— Eu estou aqui porque preciso do perdão da minha melhor amiga, e se o que eu preciso fazer é ficar em sua frente e dizer que sei e aceito que ela com toda alma e espírito é sua, é o que eu farei. Não posso negar que passei muito tempo esperando e esperando pelas cartas, mas elas nunca chegaram. Ela nunca me amou, não do jeito que é capaz de amar você. Eu apenas... não quis enxergar isso. Eu tenho uma mulher me esperando em casa, uma esposa que aprendeu a me amar mesmo quando não mereci sua bondade e devoção, mesmo quando meu coração ainda batia por outra... — Disse com os olhos em lágrimas — É o tipo de amor que eu vejo que você sente por Amber, então eu devo isso a ela. Eu preciso que ela viva mais desse amor, porque eu sei que se ela te perder... será o fim.
Aziz não conseguiu responder, não antes de sentir uma lâmina afiada lhe atravessar na barriga.
— EMBOSCADA!!! — Robert bravejou no mesmo instante que empunhou sua espada e começou a lutar com o homem que carregava já o sangue do imperador nas mãos, que já se encontrava caído. — HOMENS! NÃO TENHAM PIEDADE, MATEM TODOS!
O joalheiro parecia precisar um pouco mais do que o perdão de Amber, talvez necessitasse da sua fé e teimosia. Ou então, não poderia cumprir a promessa que fizera a si mesmo e aquelas bonitas palavras que dissera a Aziz seriam perdidas no vento. Salvar o imperador era questão de vida ou morte, sua única chance de redenção.
Mas o destino... ah o destino sempre dificultava o caminho.
Eita eita! Alguém pega esse homem que fez mal ao meu imperador, agora!!!
É meus amores, o negócio ficou feio de vez...
O spolier de milhões nesse capítulo foi esse casamento de Samira... Vou fingir surpresa como sei que vocês fizeram kkk não se preocupem que vamos trabalhar pra resolver esses mistérios de Fátima... nesse.. ou em outro livro, rs
E mais uma vez, mil desculpas pela demora... estou numa correria sem fim e as vezes falta inspiração. Mas prometo que até o fim de maio (junho?) em nome de Allah vamos encerrar essa história <3
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