Capítulo XXXIII
— Habib, eu... — Amber adentrou a sala de reuniões absorta em meio as cartas que trazia em sua mão, plenamente alheia aos olhares que foram destinados a ela. — Oh, sinto muito. Não sabia que tínhamos visitas. — Disse-lhes — Eu volto depois. — Falou, destinando seu olhar para Aziz.
A imperatriz naquela manhã não poderia estar mais estonteante, usava uma de suas abayas de tons azulino repleta de finíssimos véus que caiam sobre o tecido escuro. A coroa prendia firmemente o véu em seus cabelos e aquela visão matinal era um deleite para o marido que a observava atento enquanto em pequenos passos ela ameaçava se retirar do recinto.
— Na verdade imperatriz — Um dos conselheiros chamou sua atenção — Deve ficar, estamos discutindo um assunto que lhe diz respeito.
— A mim? — Questionou confusa, virando-se para eles outra vez.
— Bem..— O velho pigarreou — Já é de nosso conhecimento que espera um filho. E damos nossas graças a sua gravidez, é esperada a muito tempo por todos. — Cumprimentou-a, embora a imperatriz sentisse a acidez em suas palavras.
Amber esperou que o homem prosseguisse, no entanto, parecia esperar alguma reação dela. E embora sua vontade fosse bater em Aziz por ter contado aos conselheiros sobre sua gravidez ainda tão recente, respirou profundamente e fitou o velho a quem falava.
— Sim...? — Incentivou-o a continuar.
— Como já deve saber... é de grande interesse que esta criança seja homem. — Disse, o que fez Amber semicerrar os olhos no mesmo instante.
— E como os senhores já devem saber, não cabe a mim escolher. — Devolveu já raivosa. — É Allah quem manda os filhos, cabe a Ele decidir.
— As mulheres sempre sabem. Sempre sabem quando seus filhos são homens ou não... basta conhecer sua linhagem, irmãos... — Outro interrompeu o diálogo.
Amber o olhava atônita ao escutar aquilo.
— O senhor está equivocado quanto ao que cabe às mulheres. Se fosse este o caso, seríamos todas videntes. — Disse em perfeito deboche
— Imperatriz... a senhora sabe que o povo não quer uma herdeira. O povo não quer uma mulher no trono outra vez. — O velho tornou a dizer. — E se este for o caso, se esta for então a vontade de Allah, não lhe restará outra opção a não ser engravidar outra vez.
Amber queria esganar aqueles homens. Como ousavam falar daquela maneira com ela? Como se atreviam a decidir o sexo que seu bebê teria? Como podiam planejar a sua vida, quando a mesma não tinha controle sobre tudo?
— O povo não quer? — Ela perguntou — Ou será que não são os senhores os principais interessados? Do que tem tanto medo? De perderem seus privilégios? Ou de se darem conta de que as mulheres podem fazer muito melhor do que vocês?
— Amber... não... — Aziz tentou impedi-la.
— Fiquei calada por muito tempo — Respondeu para ele — Eles precisam ouvir, precisam que alguém fale a verdade!. — Disse voltando sua atenção para os conselheiros.
— Senhores, eu fui criada para governar e sei que todos aqui pensam o contrário. — Riu em nervoso — Mas saibam que se eu pudesse os colocaria na sarjeta. Os deixaria à mercê das escolhas de suas esposas, os trancaria em casa para fizessem o serviço pesado e faria com que ainda cuidassem dos inúmeros filhos que colocam nesse mundo... — Respirou tomando fôlego — E então, os mandaria sorrir mesmo quando não quisessem, os obrigaria a usar tecidos e mais tecidos para que ninguém pudesse ver as marcas que suas esposas lhe causam quando não obedecem-nas.
— O que pensa...
— Eu penso, senhores — Disse continuando seu monólogo — Que se vivessem um mísero dia na pele de uma mulher, que se trocassem de lugar com suas esposas, pensariam mil vezes antes de mandar que eu tenha um filho homem ou que eu engravide até que o tenha. E pensaria ainda mais, sobre dizer isso a sua imperatriz sem temer qualquer consequência. — Disse firme.
— Senhora...
— Vocês tem muita sorte... mas saibam que se um dia eu tiver que assumir esse reino, serão os primeiros a serem mortos. E terão se arrependido de terem nascido homens — Disse-lhes com o mais puro ódio que podia ser visto em seus olhos, e se retirou da sala sem olhar para trás, deixando que a porta batesse violentamente assustando os homens presentes ali.
Um burburinho se formou imediatamente e restou a Aziz tentar apaziguar aquela inerente afronta entre a imperatriz e o conselho real. O que certamente não era bom, para nenhuma das partes envolvidas. Mas o imperador não podia negar certo orgulho. Ali estava a Amber que um dia ousou falar-lhe em alto e bom tom que faria de sua vida um inferno, com a mesma altivez e potência que bravejava injúrias contra sua pessoa, a mesma que depois de tanto tempo finalmente parecia ressurgir.
Talvez o tempo tivesse feito bem a ela, talvez o coração frágil e leviano precisasse da calmaria e da rotina que somente o castelo otomano poderia trazer. Talvez precisasse conviver com a mesmice e por vezes com a quietude de seus parentes, com os corredores vazios e com a visível solidão que existia ali, para que pudesse se reerguer.
Ele soube naquele instante que ela governaria o império com toda a força e glória que possuía, tão melhor que ele. E sem dúvidas, de modo incomparável a Fátima, que embora tenha sido uma memorável rainha, jamais teve a potência que um dia Amber seria. No entanto, Aziz esperava que esse dia nunca precisasse chegar. Por quê em suas orações, pedia incansável para que tivesse ainda muito tempo ao seu lado.
*
Índia
— Said? — Safira chamou a atenção do sheik que fitava a imensidão das lavandas do jardim interno.
Parecia perdido, talvez cansado. Parecia pensar e pensar em milhares de questões, tolas demais para que ele pudesse dizer em voz alta.
— Sim? — Respondeu-lhe um tempo depois — O que houve? — Virou-se para olhá-la à procura de qualquer pista sobre o assunto que queria falar.
— Absolutamente nada — Ela respondeu em um meio sorriso — Não comigo pelo menos. — Acrescentou
— Quem está em apuros desta vez? — Questionou quase que ironicamente.
— Você — Disse, sentando-se ao seu lado em meio às roxas e suaves flores.
— Não estou em apuros — Riu em escárnio — Há muito tempo parei de me meter em confusões.
Safira não evitou esboçar um sorriso ainda maior, já haviam se passado tantos anos desde todos aqueles acontecimentos aterrorizantes, tantos anos desde que seu coração o havia escolhido. Mas o tempo nem sempre conseguia resolver tudo.
— Você deveria ir atrás dela— Disse, já à espera de uma resposta mal criada.
— De qual das duas? — Questionou sem olhá-la.
A princesa suspirou profundamente. Não o culpava por passar seus dias como se perdido estivesse, porque afinal, ele estava. Safira se questionava se toda a rebeldia que tinha quando ainda era muito jovem não havia passado diretamente para as filhas, e não seria surpresa que naquele instante nenhuma delas estivesse ali, pois embora tivessem muito de Safira, tinham mais ainda da personalidade de Said.
— Amber — Ela respondeu — Sei que sente falta dela, mas é orgulhoso demais para admitir. Said... age como se tivesse sido ela a escolher ir para tão longe, como se ela tivesse escolhido casar-se com o inimigo.
— E não foi exatamente isso o que ela fez?
— Ora, por favor — Apertou-lhe o braço em atenção — Ela ainda estaria aqui se não fosse a rainha e suas artimanhas.
— Ela teria se casado com o exportador marítimo.
— Ela sabia que ele não era um bom partido.
— Por isso mesmo, teria se casado apenas para me afastar. — Respondeu desgostoso.
— Said... — Ela suspirou inconformada — Já se passou tanto tempo... a vida de todos os nossos filhos mudou. Tudo mudou querido... e o mundo agora é um lugar ainda mais perigoso.
— Teme pela vida de suas crias? — Provocou
— São nossos, Said. — O corrigiu afetada — E eu sei que você se importa.
Safira então viu o sheik suspirar uma e outra vez como sempre fazia quando escolhia as próximas palavras, uma mania que tinha certeza que via também na filha mais velha.
— E os criei com esmero, com todo o carinho e amor... — Falou passando as mãos pelos cabelos que naqueles tempos já se tornavam cada vez mais grisalhos — Os criei dentro das tradições, os levava a mesquita... os ensinei tudo o que poderia para que fossem boas pessoas.
— Todos os três são boas pessoas, Said.
— Mas como podem os três cometerem tantos erros?
— Jovens são tolos, nós dois éramos. — Ela respondeu com certo saudosismo — Esqueceu-se de seus próprios erros? Dos meus? E de tudo o que nos custou? — Pegou-lhe a mão para depositar um cálido beijo — Habib, eles estão trilhando os próprios caminhos. Não cabe a nós virar as costas e abandoná-los, a vida já os machucará tanto... — Disse com o pesar de uma mãe aflita.
— Mesmo que eu quisesse... — Ele disse — Não podemos atravessar as fronteiras. Há muitos acampamentos ocidentais pelas montanhas. E se eu fosse ela...— Disse referindo-se a Amber — Permaneceria no castelo.
— O que você quer dizer? — Questionou aflita
— A guerra se aproxima, Safira. E neste momento... nem mesmo ela está a salvo.
*
Império Russo
Robert abriu os olhos naquela manhã ao sentir os beijos de Helena em seu pescoço, enquanto a cabeleira ruiva lhe roçava nos pelos de seu peito. Beijou-lhe a mão e sorriu fazendo-a se assustar ao virá-la para que ficasse por baixo de seu corpo.
— Bom dia, esposa. — Ele disse
— Bom dia, marido. — Devolveu em tom brincalhão — Podemos ficar aqui o dia todo, não? — Perguntou sugestiva
— Não... — Respondeu deixando o rosto no vão de seu pescoço — Pensei que poderíamos lutar, a neve já secou e eu tenho alguns golpes para te ensinar.
O rosto da jovem Helena se acendeu, amava as lutas tanto quanto amava o joalheiro e pensou que naquele momento não pudesse desejar mais nada, pois já tinha tudo.
— Eu te amo — Ela disse — É o melhor marido desse mundo! — Falou risonha — Vou me arrumar! — Exclamou ansiosa, levantando-se rapidamente da cama em busca de seus trajes.
— Tenho que conversar com Alexandre, me espere na estufa — Disse-lhe ao piscar um dos olhos enquanto já vestia suas roupas — Lhe vejo em um par de minutos.
O joalheiro a viu sorrir outra vez e se retirou do quarto que dividiam naqueles poucos meses de casados. O ano já estava próximo de seu fim outra vez, e o europeu se viu pensando em quanto o tempo insistia em andar tão depressa. Caminhou pelo que lhe pareceram muitos minutos até a sala do Czar e batendo na porta duas vezes não demorou a ouvir um chamado do cunhado.
— Bom dia Alexandre — Disse logo que o viu sentado na costumeira poltrona de veludo — Como está nessa manhã? — Questionou, como sempre fazia naqueles anos em que estivera no castelo.
— Bom dia, poderia estar melhor...— Respondeu um tanto enfezado — O fim do ano se aproxima outra vez... e você sabe que Isabel não fica com o melhor dos humores. Acordei com o barulho de seu pranto enquanto ninava o pequeno Arthur.
Robert baixou a cabeça em concordância, e outra vez se perguntou sobre o tempo. Embora passasse tão depressa, não levava consigo todas as dores. Se recordou de quando retornaram do império, ele desolado pela rejeição de Amber e Helena aflita pelo que encontraria em casa quando finalmente chegassem à Rússia. E mesmo que nos dias de seu breve retorno tudo no império dourado tivesse permanecido igual, não demorou para que as estruturas fossem abaladas.
A pequena Alexia deu o último suspiro nos braços de Isabel, que precisou ser amparada por Helena no mesmo instante que percebeu a filha sem vida. E depois daquela perda lastimável, quando nem mesmo os soberanos eram imunes à aquela terrível doença, uma parte do Czar se perdeu. Assim como a imperatriz nunca mais foi a mesma, nem mesmo com a gravidez inesperada do último herdeiro Romanov.
— Gostaria de poder fazer algo por ela. — Ele disse — Helena também sofre... se culpa por não ter estado aqui durante aqueles dias... pensa que poderia ter evitado o pior.
— Sabemos que nada teria evitado a morte dela... assim como não se pôde evitar a morte de todos aqueles homens na guerra, e como não poderemos evitar se tudo começar outra vez.
— Acha que...
— Recebi uma intimação esta manhã — Interrompeu-o — Os soberanos do império britânico exigem uma posição nossa, querem que declaremos guerra aos otomanos.
— Mas...— Robert tentou argumentar, sentindo sua garganta enrijecer.
— Eu sei o que você está pensando... — O olhou de soslaio — O imperador tentou uma conversa, era o que ele desejava a dois anos... mas agora tudo mudou... os tempos são outros, Robert.
— Alexandre, nossas fronteiras são orientais. O tratado de paz feito por seu pai, esqueceu-se?
— Não haverá paz de maneira alguma, meu cunhado — Levantou-se pegando o mapa e estendendo sobre sua mesa — Olhe bem... os britânicos, têm muito mais territórios e aliados do que nós... não temos força para ir contra eles.
— Não há outra maneira?
— A menos que queira esperar sentado pelo ataque, não. — Respondeu lhe fitando com um visível peso em seus olhos.
— Sei que tem uma ligação especial com a imperatriz... mas nem mesmo a Índia estará do lado deles.
— Alexandre... não há nenhuma saída? — Questionou preocupado
— Talvez se o imperador ceder suas tropas, e renunciar o seu posto, deixando que os liberais tomem conta... permitindo que o império se torne colônia britânica, então sim haverá uma saída.
Robert então entendeu que tudo aquilo estava fora de questão. E pelo pouco que conhecia de Aziz e mais ainda de Alexandre, era certo que nenhum dos dois cederia ou ficariam do mesmo lado.
— Eu sinto muito Robert... talvez devesse escrever a sua amiga. Os britânicos não são conhecidos por terem apreço a família, se invadirem o castelo... será o fim para todos eles.
O joalheiro assentiu, sentindo seu mundo cair em uma lentidão sem fim. Imaginar um mundo sem a existência de Amber era impossível, e naquele momento nem mesmo todo o amor que tentava negar poderia salvá-la. Ele estava longe demais para que pudesse fazer algo, e não era apenas de quilômetros que aquela distância se tratava.
— Não somos mais amigos, Alexandre. — Ele disse impassível — Se me der licença, tenho que encontrar minha esposa.
Se afastou da saleta sentindo a respiração falhar. Sentindo o estômago revirar-se uma e outra vez, precisando se apoiar nas paredes. Robert poderia mentir para todos, até mesmo para si. No entanto, seu corpo inteiro ainda clamava por ela e se negava a aceitar perdê-la para a crueldade daqueles homens.
*
Império Otomano
— Amber! — O imperador pouco tempo depois a seguiu tentando pará-la em seus passos rápidos — O que estava pensando? Não será assim que...— Dizia até notar que a mesma se apoiava nas lacunas de pedraria cinzenta. — O que você está sentindo?
Amber apoiava uma das mãos em seu ventre enquanto se contorcia de uma dor dilacerante, respirava uma e outra vez tentando se acalmar, mas não conseguia. Não podia, não quando seu vestido manchou-se de sangue outra vez.
— Aziz, por Allah... Preciso que me leve até o quarto... eu não... eu não posso... — Dizia já com a mente desconexa
— Chamem um médico! — Ele bravejou pelos corredores — Chamem um médico agora!
E sem nem mesmo pensar muito a colocou no colo e levou-a até o quarto, e sentiu que revive a mesma cena de anos antes e temeu pelo pior.
— Eu não devia ter deixado que ficasse andando pelo castelo... não devia ter deixado você se estressar daquela maneira que fez... — Disse enquanto a deitava
— Eu só preciso me deitar... — Ela disse — Além disso... aqueles seus conselheiros precisavam ouvir algumas verdades — Falou quase o fazendo rir. — Aziz... se eu perder...
— Você não vai perder o nosso filho — Ele interrompeu-a
— Se eu perdê-lo... — Ela continuou — Não faremos isso de novo... não posso carregar outra criança em meu ventre... não terei forças...
— Não devemos pensar nisso... o médico logo chegará.
O imperador a acarinhava enquanto aguardavam ansiosos pelo médico e temerosos pelas notícias que poderiam receber.
*
— Foi o início de um quadro muito parecido com o que ela teve da outra vez — O médico disse — Mas felizmente cheguei a tempo... antes que ela sangrasse ainda mais. Fez certo em tê-la trazido para a cama. — Suspirou cansado — Eu já havia lhe alertado que seria uma gravidez difícil, com muitos riscos. Ela precisará ficar na cama até que a criança venha ao mundo... pois se isso ocorrer outra vez, não haverá nada a ser feito.
Aziz assentiu ouvindo o que o médico dizia enquanto o mesmo recolhia seus instrumentos de trabalho.
— Depois de tanto tempo... já não tínhamos esperanças de que pudéssemos ter um filho, e ela nunca mais sentiu nada assim... pensei... que ela estivesse curada.
— Era só uma questão de tempo, imperador. — Disse parecendo infeliz — Não há cura... ela precisa repousar, precisa de apoio e familiares por perto. Serão muitas luas e tendem a ser entediantes os dias na cama.
— Eu farei o que estiver ao meu alcance para que ela fique confortável — Ele disse preocupado.— Ela não deve se irritar... se preocupar de maneira desnecessária. Evite que ela saiba de assuntos turbulentos, não fará bem a ela e muito menos à criança. — Alertou
— Imperador? — Um dos criados interrompeu a conversa — Chegou uma carta para o senhor. — Avisou-lhe entregando o papel.
Aziz respirou profundamente já imaginando o conteúdo da mensagem e trocando um olhar cúmplice com o médico, indicou-lhe o caminho até a saída do castelo, enquanto sentou-se em uma de suas poltronas do quarto para ler a infeliz carta, ao tempo que podia observar Amber que naquele instante dormia calmamente.
"DECRETO,
Havendo o Imperador Otomano impedido que as tropas britânicas tomassem as fronteiras que nos são pertencidas por direito, de maneira imoral e deveras pérfida, acompanhado das alianças do Ocidente e do Oriente Norte, assim como os territórios britânicos das Índias, declaramos guerra. E portanto ordeno que por mar e por terra lhes façam todas as possíveis hostilidades. Autorizo ao clero, e aos militares que proponham contra os otomanos. E que o povo veja o poder de nossa coroa recair sobre eles. Que tenha havido o entendimento destas inglórias e que este edital se espalhe pelas províncias e reinos. E tenham sabido que eu mesmo, lutarei contra ele.
Palácio Britânico, seis de Dezembro de mil oitocentos e dezesseis. Com a rubrica do príncipe regente."
Aziz engoliu seco, o inevitável havia acontecido. Muito pior do que imaginava que ocorreria, e naquele instante soube que tudo mudaria outra vez. Passeou seus olhos por Amber apenas mais uma vez antes de se retirar dos aposentos, e desejou piamente que nada de ruim acontecesse a ela.
Encontrou diversos criados pelo caminho, os quais se dedicou a fitar por poucos minutos, pensando naquelas vidas que sempre eram tratadas como insignificantes e no quanto a guerra os afetaria. Teriam eles famílias fora do castelo? Filhos e marido no exército? Nunca lhe ocorreu perguntar tais coisas. Mas agora que estava ali percorrendo o corredor se deu conta de que deveria ter sabido, deveria ter se importado um pouco mais e talvez assim, tivesse cedido e entregado sua coroa aos britânicos sem nem mesmo pensar. Talvez se renunciasse, pudesse salvar todas aquelas vidas.
No entanto, já estava feito. E os anos que viriam a seguir seriam escuros e aterradores, pois sabia que aquela guerra não se resumiria a poucos dias.
Seus olhos molharam quando ao fim do corredor avistou a mãe, tão altiva e elegante como sempre fora. E sequer precisou dizer algo, porque ela já sabia. Fátima sempre sabia, mesmo quando seu poder já não era mais seu, mesmo quando sua voz e seus conselhos já pareciam não ter mais algum valor. Ainda assim, era rainha daquele império. E era mãe, e como sempre fizera em todos aqueles anos, o aninhou nos braços e deixou que ele derramasse todas as lágrimas que podia.
— Está tudo bem, habib — Ela disse — Eu cuidarei de tudo... e cuidarei dela.
— E se...?
— Se acontecer...— Fátima disse engolindo seco — Ela será uma governante magnífica.
— E...— Aziz sequer conseguia completar suas falas
— Pediremos a Allah todos os dias para que você retorne com vida. — Disse beijando-lhe os cabelos ruivos.
— Como posso deixá-la grávida? Ainda mais nessas condições...como eu posso... ir?
— Tudo ficará bem, meu filho. — Fátima o interrompeu — Eu prometo. Você me entendeu?
Ele não teve coragem de dizer qualquer coisa. E não sabia se teria coragem de dizer adeus a Amber, porque não podia prometer que voltaria, mesmo que sua mãe dissesse que tudo se ajeitava. Talvez fosse sonhar demais por um final feliz diante do massacre que viria.
A guerra e o tempo também eram feitos de partidas, e juntos causavam perdas irreparáveis. Quem saberia dizer se aquele tortuoso caminho teria volta um dia? Quem saberia dizer se os corações apaixonados e inquietos suportariam aquela guerra? Quem poderia imaginar o que o destino pretendia ao mudar todo o rumo da história outra vez?
E lá vem bombaaaa, só pra variar rs
Esses conselheiros não dão um minuto de paz para a pobre da Amber... mas estou bem ansiosa pra ver ela a frente de tudo...
Não chorem, mas Aziz vai pra guerra sim... e os próximos capítulos prometem muitas surpresas.
Falando em surpresas... o bebê será menino ou menina? O que vocês acham?
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