Capítulo XXVIII
- Faz de novo... - Ela pediu enquanto sussurrava em seu ouvido - Por favor, Aziz... preciso de mais...
Despertaram naquela manhã perdidamente incansáveis um do outro. Os corpos já conhecidos se amavam e imploravam por mais. Amber implorava por mais, muito mais a cada movimento que o imperador fazia enquanto estava dentro dela.
As unhas marcavam a costa nua ao mesmo tempo em que as pernas se entrelaçavam. Arqueava-se a cada novo espasmo que lhe atingia e não hesitava em gritar o seu desejo.
- Acho que devemos tentar algo novo esta manhã. - Ele disse entre um beijo e outro.
- O que? - Ela respondeu quase sem fôlego
- Fique por cima - Falou vendo um vinco duvidoso se formar na testa dela - Confie em mim. - Disse beijando-lhe a testa.
Aziz a ajudou a se colocar sobre seu corpo enquanto descansou sobre a cama. A visão matinal da imperatriz poderia ser descrita como encantadora. Os cabelos selvagens emoldurando sua cabeça e o sorriso satisfeito faziam o imperador se apaixonar cada vez mais pelos detalhe dela.
- E agora ? - Questionou incerta
- Venha aqui - Chamou-a para que aproximasse seu corpo e boca dele - Me beije - Ele ordenou prendendo os lábios róseos dela entre seus dentes. - E agora... - Ele dizia enquanto posicionava-se na entrada de seu prazer, arrancando-lhe um suspiro surpreso. - Apoie suas mãos em mim...aprendeu a cavalgar, imperatriz? - Questionou com diversão.
- Sim, é claro... - Respondeu sem entender - Desde...
- Shiuu... - A calou com a boca - Fico feliz que tenha aprendido... sabe o que fazer.- Disse sugestivo e imediatamente Amber entendeu.
*
- Qual joia deseja usar, alteza? - Karli perguntou a Amber enquanto a mesma se preparava para o baile - Aqui nesta caixa a muitos colares, gosta de algum? - Questionou abrindo o porta-joias para ela pudesse escolher.
Amber passeou os olhos pelas infinitas pedras preciosas, pelos colares de ouro branco, pelas esmeraldas e diamantes. Mas foi fisgada por uma conhecida gargantilha, o relicário de coração.
Seus dedos imediatamente tocaram o fino objeto, e foi inevitável que não se lembrasse dele. Não se recordava da última vez que pensara em Robert, ao menos não com tanto fervor e saudade, e aquele relicário trouxera tudo a tona outra vez.
- Não é muito simples? - A dama disse vendo que a imperatriz admirava a joia - Tens outras muito mais bonitas...e...
- Não. - Ela respondeu interrompendo-a - É perfeito. Usarei este, coloque em meu pescoço por favor.
A imperatriz usava um estonteante vestido azul petróleo cinturado por rendas negras que enfeitavam desde a cintura até o busto do traje longuíssimo. Nos cabelos uma coroa de pedras marinhas prendia o véu que bordara no dia anterior. O fino tecido era igualmente longo como o vestido e se esvoaçava conforme Amber caminhava pelo quarto testando o conforto dos sapatinhos de dança que usava.
- Onde está a rainha ou Samira? - Perguntou para a dama
- Também estão se arrumando, senhora. - Respondeu - Princesa Samira usará um vestido amarelo, enquanto a rainha seu usual vermelho sangue.
- É claro...- Amber respondeu-a concordando - Está bem Karli, pode se retirar. Quero ficar sozinha por um tempo. Me chame quando estiver na hora.
- Sim senhora - Disse se retirando do quarto.
Amber suspirou enquanto seus dedos não largavam o relicário em seu pescoço. Se perguntava como estaria o joalheiro naqueles tempos, talvez ainda preso ou pior. Fechou os olhos frente aquela possibilidade, não conseguia sequer imaginar um mundo onde Robert não existisse mais. Precisava acreditar que ele estava bem, precisava crer que os rumos de sua vida haviam mudado. Precisava ter certeza para que pudesse seguir em frente.
Se admirou no espelho vendo que em tempos antigos suas cores jamais seriam aquelas, Amber teria escolhido um típico traje laranja com nuances coloridas, usaria um véu bordado de pedras furta cor e com toda certeza teria muito mais joias enfeitando sua beleza. Mas ali estava, muito mais séria e elegante do que jamais pensou que seria. Carregando o peso de um império arruinado em suas mãos, convivendo com a repressão de um conselho formado por homens arrogantes e prepotentes, ao mesmo tempo em que tinha de lidar com Fátima e Aziz.
Ao pensar na rainha, não se podia discutir o fato de que a mesma havia se distanciado. Vez ou outra lhe dava advertências, mas em sua maioria quase não era vista no castelo. Amber chegou a considerar que Fátima estivesse em profunda tristeza por não poder mais governar, ou que por milagre tivesse finalmente decidido deixá-la em paz. No entanto, não podia afirmar uma coisa nem outra. Apenas esperava que a rainha tivesse reprimido seus desejos de vingança contra sua família, já que haviam cumprido com o acordo de casamento.
Mesmo assim, o espelho que a refletia também lhe mostrava tantas outras coisas. Não estava apenas visualmente diferente, por dentro ela havia mudado. Não lhe atingia o frio na barriga antes de uma noite de apresentações, não lhe retumbava o coração a expectativa de rodopiar pelo salão sabendo que todos a admirariam e certamente não tinha pressa em descer a escadaria para receber os convidados.
Talvez a alegria da qual era feita tivesse ficado pelo caminho, talvez a Amber que um dia fora, nunca mais seria. Mas quem diria que aqueles devaneios valiam de alguma coisa? Tinha de se levantar e mostrar a todos que duvidavam de si para o que havia sido criado. Tinha que descer a escadaria e assumir o posto que lhe fora dado.
Não era mais uma princesa. Era uma imperatriz, agiria como uma.
*
- Ainda não acredito que estamos fazendo isso - A voz de Helena despertou o joalheiro de sórdidos pensamentos que o consumiam. - Temos que repassar o combinado... não podemos cometer nenhum deslize... - Comentou preocupada ajeitando nervosamente o tecido do vestido que usava.
Robert suspirou, passou a mão entre os cabelos que caiam longos sobre seus ombros e finalmente no que pareceram muitos dias fixou seu olhar na dama em sua frente.
Era difícil elaborar uma resposta ou apenas agir naturalmente quando se tratava de um assunto que o incomodava de tal maneira que evitava até mesmo pensar. Desde o instante em que ouviu o nome de Amber outra vez seu mundo que parecia entrar nos eixos virou novamente de ponta cabeça.
Mas como poderia revelar a jovem Helena tudo o que havia passado? Tudo o que tivera de enfrentar porquê lutou por um amor que nunca poderia ser dele? Não. Certamente não haveria maneiras de contar-lhe tudo, assim então fingiria. Se comportaria na frente de ambas como o lorde que um dia fora criado para ser.
Para Helena, seria o soldado ferido que voltara de uma guerra e que fazia um grande favor ao Czar. Para Amber, um vislumbre de tudo o que ela teria se ousasse escolher diferente no passado.
- É claro. - Ele, por fim, concordou - Senhora Willians-Tolstoy, temos de repassar o plano. - Brincou chamando-a pelo novo sobrenome dele.
Os dois não tiveram muito tempo para pensar assim que Alexandre pediu que o representassem no baile, não tiveram nem mesma a opção de recusar a proposta quase incabível do czar. Robert antes mesmo de falar algo já havia sido nomeado Conde de Tolstoy, lugar do reino o qual as irmãs Alexievna haviam nascido. E na manhã seguinte já estava em viagem fingindo ter desposado a lady que se encontrava aflita na carruagem.
- E se alguém desconfiar? - Ela questionou
- Não há motivo para isso
- Como pode ter certeza?
- Querem ver o Czar e a imperatriz, quando perceberem que mandaram representantes em seus lugares perderão o interesse. - Disse - Além disso... imagino que os olhos não serão para os convidados.
- O que quer dizer? - Perguntou confusa
- Nada, milady. - Desconversou - É melhor que descanse um pouco, chegaremos muito próximo da hora do baile.
O joalheiro não obteve resposta, embora um sorriso tivesse surgido na face de Helena. A dama logo se aninhou sobre os cobertores que haviam na carruagem e adormeceu minutos depois. Robert em seu íntimo dizia que seria tão mais fácil se estivesse apaixonado por ela. Seria tão mais simples casar-se com Helena e esquecer tudo o que deixara para trás. Mas a cada hora que passava e se aproximavam do castelo seu coração implorava para ver Amber outra vez.
*
- Imperatriz? - A voz da dama ecoou pelo quarto - Está na hora.
Amber já estava pronta. O traje perfeitamente alinhado, a maquilagem sempre neutra que lhe dava um ar natural estava impecável, a postura ereta e contida. O discurso de boas vindas aos convidados havia repassado muitas e muitas vezes em sua cabeça e os passos da dança certamente não precisava relembrar.
Sorriu mais para si mesma do que para Karli que a aguardava na porta. E assim foi, percorrendo os corredores negros do castelo até que seus ouvidos foram preenchidos por um murmúrio ainda baixo. Misturados ao som das músicas otomanas os convidados conversavam entre si, tomados por um misto de alegria e curiosidade.
O salão vermelho fora reaberto após tantos anos e para um reino em caos as riquezas na decoração, na comida e em cada detalhe não passaram desapercebidas. Diversos ambientes foram montados, alguns com inúmeras almofadas em tons de dourados e preto espalhadas pelo chão. Outros compostos por pequenas mesinhas destinadas às famílias mais importantes e ainda as saletas reservadas apenas para homens ou mulheres.
A imperatriz parou sua caminhada assim que chegou a grande porta do salão, fechou os olhos inspirando todo o ar que podia para dentro dos pulmões e expirou tomando coragem. Atrás dela vinha o conselheiro de Aziz, Karli e mais uma dama de companhia todos devidamente vestidos para a ocasião.
- Podemos pedir que anunciem, imperatriz? - O conselheiro perguntou
- Espere só mais um momento.
Repassou outra vez seu discurso, alisou o vestido nervosamente, e pediu a Allah que a ajudasse.
"Você consegue, você consegue." - Repetia em pensamento - "Seja forte, seja a mulher que foi criada para ser. Seja a imperatriz deste reino."
- Anunciem. - Ela ordenou.
*
- Não podem me impedir de entrar! - A voz rouca do príncipe vociferou - Ela é minha irmã! Tenho o direito de vê-la! - Gritou ao mesmo tempo que tentava passar pelos guardas.
Jasper havia atravessado o deserto. Sequer se lembrava de quantos dias passara dentro da carruagem da família mas tudo o que precisava era falar com a irmã. Fato que, naquele instante estava sendo impedido pelos guardas do castelo otomano.
- Senhor, temos ordens para não deixar que ninguém entre, além dos convidados. - O guarda disse - Seu nome não está na lista.
- Isso não importa! Me deixem passar! Agora!!
O príncipe tentou empurrar os guardas outra vez, mas acabou sendo empurrado por eles. O olhavam como se não fosse ninguém, como se não importasse quem ele dizia ser.
O dia ainda escurecia, e inúmeros convidados chegavam nas portarias otomanas. Diversas damas dos reinos euros orientais chegavam com seus volumosos vestidos e corseletes apertados. Nos cabelos as perucas em tons cinzelados formavam enormes cachos, enquanto no rosto as fortes maquiagens as enfeitavam. Por outro lado, os lordes vestiam os fraques de tom escuro acompanhado de gravatas e chapéus de altura. Contrastavam com as famílias tipicamente árabes e do oriente mais baixo, que desfilavam sobre os jardins com seus véus e vestidos de mangas longas.
Jasper por instantes pensou em fingir ser acompanhante de algum deles apenas para que pudesse entrar no castelo, no entanto era difícil que não fosse notado. Não quando se era alto demais, bronzeado demais e forte demais se comparado a maioria dos outros homens.
Bufou irritado. Precisava ver Amber, precisava falar com ela.
*
Aziz aguardava ela entrar no salão.
Talvez devesse ter entrado com ela. Foi o que ele pensou conforme os minutos se passavam. Mas não poderia tirar dela as atenções daquela noite, sabia que se Amber fosse notada ele e o conselho poderia se reunir com o czar sem muitos problemas.
Alexandre em realidade era uma de suas preocupações enquanto ficava ali estático observando a porta do salão. O czar e sua família ainda não haviam chegado ao castelo, e Aziz já tinha informações de que a maioria dos convidados já se encontravam no território.
Respirou fundo, não tinha porque se irritar. Eles chegariam, evitariam uma grande guerra e ninguém sairia perdendo. O imperador tinha certeza de que tudo se resolveria, bastava Amber adentrar no salão e os russos também.
Os músicos então se posicionaram rente a porta, e anunciaram a chegada da imperatriz. Imediatamente todo o burburinho se cessou e os convidados se posicionaram para recebê-la.
- Vossa Alteza Real, a Imperatriz Amber Ibrahim - Um dos servos disse e assim as portas se abriram.
O imperador colocara aquele instante em sua mente como um dos mais bonitos de sua vida, logo após o dia do casamento e a noite em que estiveram juntos. Não sabia explicar o quanto a beleza dela era única, o quanto aquele olhar límpido e dourado lhe causava arrepios pelo corpo, o quanto o meio sorriso que sempre acompanhava suas inúmeras feições mexia com ele.
Ela não se demorou muito parada, e logo caminhou pelo extenso corredor de pessoas. Altiva, imperial, gélida e intocável. Não olhou para os lados, nem para o chão. Não ousou levantar demais a cabeça, no entanto permaneceu fitando um horizonte inexistente enquanto era admirada e reverenciada por todos.
Abriram passagem para que ela pudesse chegar ao meio do salão. Não precisava cumprimentar os convidados, não precisava trocar olhares com eles, não precisava de nada. Ela só precisava dançar, e Aziz sabia que aquele momento era apenas dela.
Quando a música tipicamente indiana ressoou no salão a plateia que havia se formado se olhou surpresa. Amber havia se posicionado e o véu que antes escorria por seus cabelos, era segurado frente ao seu rosto. Assim que a primeira batida se fez, seu corpo se moveu. A cintura que embora não estivesse a mostra como costumava ser na Índia, acompanhava o ritmo dançante enquanto o véu percorria seu corpo como se pudesse de fato tocá-lo.
Assim como Aziz, todos estavam hipnotizados por ela. Extasiados pela alegria que ela emanava a cada novo passo, a cada novo esvoaçar do véu, a cada movimento de seus quadris. E então logo as odaliscas entraram pelos mais diversos cantos do salão para acompanhá-la na coreografia. As palmas logo se fizeram presentes ditando um ritmo rápido e contagiante.
O imperador não saberia explicar o quanto seu amor se multiplicava ao vê-la tão feliz. Ele sorria enquanto ela rodopiava por entre os véus coloridos e sentia seu coração acelerar a cada movimento da dança. Era linda, linda, muito linda.
- Eu lhe disse - Fátima chamou sua atenção se aproximando - Ela é o centro das atenções. Perfeita - Dizia com certo orgulho.
- Pensei que a odiasse - Ele comentou sem tirar os olhos do salão
- E odeio. - Disse sucinta - Mas sei reconhecer as qualidades dela. Nada mudará o fato de que por causa do pai dela, o seu pai está morto. E que por causa da mãe dela, o nosso reino entrou em um abismo. Nada mudará estes fatos. Assim como o fato de odiá-la não muda a perfeição em como conduz a dança. E a você. - Respondeu, desta vez se virando para olhá-lo.
- A mim? - Questionou confuso
- Você a ama - Fátima disse - Os seus olhos brilham quando escuta o nome dela, você fica nervoso quando ela está por perto. E esquece de respirar.
Aziz riu irônico.
- Isso não... - Ele pensou em negar - Como sabe dessas coisas?
- Por que era assim que o seu pai olhava para mim. - A rainha respondeu acompanhada um suspiro triste.
O imperador a olhou e pela primeira vez teve o vislumbre da dor que Fátima sentia. Sequer podia imaginar uma vida sem Amber, sequer podia imaginar o quanto a mãe sofria pelo luto.
- O amava muito, não amava? - Ousou perguntar
- Com toda a minha vida, querido - Respondeu deixando um sorriso contido enfeitar seu rosto - Com toda a minha vida... - Ela repetiu
- Acha que... - Hesitou em perguntar
- Ela seria uma tola se não te amasse, e eu a odiaria um pouco mais. - Respondeu a pergunta velada do filho e se pôs a caminhar pelo salão.
Quando a dança finalmente terminou e Amber sorriu abrindo os imensos olhos dourados, foi aplaudida pelos convidados. Era notável sua felicidade enquanto agradecia gentilmente a todos. Parecia impossível que pudesse ficar ainda mais bela, mas a dança a transformava.
*
A lua já reluzia no céu iluminando a noite fria nas terras otomanas, Robert e Helena desciam da carruagem as pressas sabendo que estavam atrasados para o baile. Os sapatinhos de veludo da lady batiam contra o chão nevado, enquanto o joalheiro lhe segurava firme para que não escorregasse.
O lado de fora do castelo já se encontrava em pleno silêncio, apenas ecoava minimamente a música dançante que vinha de dentro, o que visto de longe causava muito curiosidade.
Adentraram logo pelas grandes portas de ferro negro, e foram recebidos por diversas dançarinas do ventre. Uma mesa de chás haviam sido colocada logo na entrada seguida por um extenso buffet de quitutes árabes. Tudo cautelosamente preparado com as melhores especiarias, esbanjando uma riqueza incomum para muitos ali.
- Nossa... - Helena arfou - É magnífico, eu nunca estive em um baile assim antes... - Comentou admirada.
Robert se contentou em analisar o recinto em silêncio, deixando que Helena exclamasse os elogios para a decoração daquela grande festa. Em cada detalhe colorido que seus olhos pousavam podia sentir a presença de Amber, o que tornava estar ali ainda mais difícil.
Pensou na possibilidade de inventar uma desculpa e ir embora. Cogitou dizer que se sentia doente, mas dadas as circunstancias não parecia certo. A lady havia deixado a sobrinha doente na Rússia e passara a viagem preocupada com a irmã, seria de muita maldade - se não de muito mal gosto - inventar tal situação. Repetia para si mesmo que não era covarde, se tivesse sorte ela nem notaria sua presença. Se tivesse sorte Amber jamais saberia que estivera ali.
No entanto, a sorte nem sempre estava ao lado de Robert.
Um burburinho se formou logo atrás do casal, fazendo com que se virassem para olhar o que ocorria. No primeiro momento o joalheiro pensou que tivesse vendo coisas, mas forçando os olhos não teve dúvidas que o moreno alto e com feições irritadiças era Jasper.
- Pensei que era uma miragem - O príncipe se aproximou dizendo - Graças a Allah você está aqui... não me deixavam entrar... - Falava um tanto desconexo e quase sem fôlego. - Espere... o que faz aqui? - Perguntou finalmente em conexão com seus pensamentos.
- Jasper... - Robert respondeu seguido de um longo suspiro - É bom vê-lo outra vez. - Disse educado enquanto a dama ao seu lado observava tudo com bastante atenção. - Esta é Helena...
O príncipe não deixou que ele terminasse, e imediatamente virou-se para ela como se não a tivesse visto antes.
- Senhorita Helena, é uma honra - Cumprimentou beijando-lhe a mão.
- Na verdade, é senhora. - Robert o corrigiu
- Peço desculpas, milady - O príncipe disse sincero - Onde está seu marido? Devo lhe desculpa também... - Falava procurando com os olhos pelo salão.
Robert pigarreou chamando a atenção dele.
- O que? - Jasper questionou o velho amigo confuso. - Não... - Deu um riso nervoso - Vocês estão casados?! - Exclamou alto demais.
Não era verdade, embora ninguém soubessem daquela farsa.
Não era verdade, mas dito em alto e bom som aquele fato se tornou real.
*
Quando a música cessou Amber sentiu corpo flutuar, seu riso parecia ter mais vida, parecia disposto a enfeitar seu rosto pelo restante da noite. Estava feliz. Feliz como em muito tempo não se sentia, feliz como se cada batida dançante fizesse parte de seu corpo, como se cada passo fosse perfeito, como se o vestido, o véu e todos os convidados que a aplaudiam fizessem parte dela. Não conseguira explicar aquela sensação gostosa, que aquecia seu peito, que a fazia querer continuar dançando e dançando.
Seus olhos se abriram, faiscando em pleno êxtase e felicidade. Rodopiou agradecendo as palmas que recebia. Todos pareciam encantados, a olhavam com extremo interesse e curiosidade. Ela sabia que nunca uma imperatriz tivera tanta atenção como ela naquela noite, o que de certo modo a incomodava, mas, ao mesmo tempo, lhe dava alegria pois estava sendo notada. Estava sendo vista.
Observou ao redor encontrando Samira a fitando entusiasmada enquanto silenciosamente lhe dizia que se saíra bem, Fátima por sua vez também a admirava, muito mais contida que a filha, embora demonstrasse certo brio.
Uma melodia lenta começou a tocar indicando-lhe que estava na hora de seu discurso. Respirou profundamente e com o melhor sorriso que conseguiu emoldurar, disse.
- É uma honra recebê-los em minha casa - Começou referindo ao castelo como algo menor, como se de fato fosse um lar doce e aconchegante - Espero que estejam se divertindo, preparei muitas atrações para esta noite e os comes e bebes serão servidos durante todo o baile. Aos nossos visitantes espero que se sintam em casa, e que apreciem a estadia. - Falou, fazendo uma pequena pausa.
Procurou ajuda nos olhos da cunhada, que a incentivaram a continuar.
- É com muita alegria que comemoro minha coroação como imperatriz deste reino, e assim como jurei em meu casamento, juro na presença de todos honrar e olhar pelos habitantes desta terra, zelar pelos mais necessitados e auxiliar o imperador em suas decisões. - Disse engolindo seco - Prometo não decepcionar aqueles que confiam em nós e desejo que façamos novas alianças entre os reinos. - Desta vez seus olhos fitaram Aziz, que a observava encantado - Bem... - Disse entre risos - Desejo que seja um baile inesquecível. Divirtam-se - Terminou, recebendo outra salva de palmas.
O fim do discurso também deu vasão a uma conversa que ocorria em meio aos convidados, que embora fosse ofuscada pelas palmas incessantes e assobios de adoração que Amber recebia, não passou desapercebida pelos olhos perspicazes da imperatriz.
Suas mãos imediatamente tocaram o relicário que usava, o coração palpitou fortemente, e seu peito se encheu de sentimentalidades. Sua mente dizia que estavam-na observando, mas seus olhos se recusavam a desviar-se daquelas piscinas azuis. Ele estava ali. Ele realmente estava ali.
Aziz, que a fitava e percebeu que os olhos dourados haviam sido fisgados por algo procurou em qualquer ponto do baile o que chamara a atenção dela. Teria desejado que aquele profundo olhar fosse para ele, teria desejado que todos os olhares dela fossem para ele. Mas ao ver quem detinha as íris da esposa, sentiu seu coração despedaçar.
Robert por sua vez ignorando as lamúrias do príncipe, tinha se virado novamente para o salão a fim de escutar o discurso que embora estivessem um pouco longe do centro podia ser ouvido com clareza. Mas se soubesse que seu coração apertaria e que seu corpo reclamaria de saudade, não teria colocado seus olhos nela. Se soubesse que não poderia desviar-se daquelas esferas douradas, teria ido embora. Se soubesse que o vazio em seu peito ansiava por ela, o joalheiro nunca teria pisado naquelas terras.
- Até que enfim acabou - Jasper interrompeu o transe que sequer notara que ocorria, chamando atenção finalmente para si. - Amber, minha irmã - Disse caminhando em direção a ela.
- Jas... - Ela, por fim, conseguiu expectar o príncipe que se colocou em sua frente. - O que faz aqui? - Questionou preocupada - Por Allah, não deveria estar aqui... - Disse procurando pelo paradeiro da rainha ou do marido que certamente não ficariam contentes com a presença de um parente seu no castelo.
- É sobre Jade... - Ele disse sem rodeios - Precisamos conversar.
A imperatriz prendeu a respiração, sentindo-se sem chão. Imaginou milhares de coisas que poderiam ter acontecido com a irmã.
O salão que ficara em silêncio como se para escutar o que conversavam, os observavam curiosos. Amber fechou os olhos, soltando o ar que prendia.
- Senhores, o baile deve continuar! - Exclamou com um falso sorriso - Precisarei me ausentar por um momento, mas não deixem que isso afete a noite de vocês. Músicos - Indagou aos homens que detinham os instrumentos - Aumentem o som!
Assim arrastou Jasper do meio do salão, passando por meio aos vários convidados. Evitou procurar as esferas azuis outra vez, embora pudesse senti-las a acompanhando por todo o baile.
- Vamos para o meu quarto, podemos conversar em paz. - Disse fazendo o irmão acompanhá-la.
No salão tudo voltou ao normal, ao menos para a maioria dos presentes. Aziz sequer se movera de onde estava, Fátima se remoía escondida em algum canto, Helena alheia a tantos fatos apenas observava Robert suspirar incontáveis vezes.
- Robert? - Ela perguntou - Está tudo bem?
Como poderia contar a ela?
- Sim, estou bem - Mentiu outra vez. - Preciso de um pouco ar, já volto. Divirta-se, milady. - Disse, desvencilhando seu braço do dela. Seguindo para o que imaginava ser os jardins do castelo.
*
No que os corações haviam se abalado grandemente naquela noite, nada mais poderia ser feito. O destino desde muito antes gostara de brincar, talvez ousasse em colocá-los em caminhos tortuosos, talvez passasse dos limites os levando até o precipício. Mas quem contestaria as armadilhas da vida?
Talvez tivessem de se reencontrar para dar um fim a aquilo tudo, talvez tivessem de dizer o que nunca tiveram coragem, talvez tivessem de enxergar a vida que lhes era desenhada.
Mas e se tudo não fosse exatamente o que o destino queria? Talvez aqueles infinitos olhares, de cores exuberantes e de intensidade avassaladora fossem tudo o que teriam uns dos outros. Olhares, porque talvez nunca chegassem a se pertencer.
É eita atrás de eita!
E aí meu povo? Acham que Amber vai ter coragem de falar com Robert?
Será que ainda vai dar confusão esse baile? rsrs
Livro da princesa Jade vai ficar disponível pra vocês adicionarem nas listas de leitura, só saberemos o que aconteceu com ela no livro dela (hihihi) E se eu fosse vocês... ficava de olho em Jasper... é bem aqui que os livros se conectam.
Espero que vocês tenham gostado... deixem seus comentários! <3
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