Capítulo XXV
Império Russo
– É melhor se vestir Isabel – O Czar pediu finalmente deixando o tapete felpudo onde costumavam amar-se todas as tardes – Já passa de uma semana que o tal soldado retornou da guerra, temos que recebê-lo. – Informou cobrindo-se com o pesado roupão de linho.
– Almoçaremos com ele? – Ela questionou se levantando, vendo-o concordar com a cabeça – Mandarei que preparem uma mesa farta – Disse por fim.
– O pobre coitado não deve ter uma boa refeição a algum tempo – Comentou – É inacreditável que tenha sobrevivido... – Disse negando com a cabeça.
– Talvez tenha tido sorte – Isabel deu de ombros – Ou é um exímio guerreiro.
– Talvez. – Ele concordou – Uma pena não ter restado mais nenhum.
A imperatriz o olhou pensativa, tinham planos interessantes para conquistar os reinos, no entanto, com a devastação da guerra e com o exército dizimado talvez não tivessem saída a não ser recuarem suas ameaças ao ocidente e aos territórios árabes.
– Acha mesmo que poderemos declarar guerra aos otomanos? Ou fazê-los renderem-se? – Questionou preocupada.
– Mudou de ideia? – Ele arqueou as sobrancelhas para ela. – Há uma semana tinha certeza que poderíamos...
– Eu sei querido – Disse suspirando – Mas agora... não tenho mais certeza. Não temos um exército, gastamos os últimos recursos na guerra. – Elevou as mãos em exaspero – Eu apenas... não sei como posso auxiliá-lo quando as opções são tão escassas.
Alexandre então caminhou até a esposa e a abraçou, fazendo com que a ruiva se aninha-se em seu peito. Prendendo-a com seus braços como se fosse um passarinho frágil.
– Minha imperatriz... – Ele disse beijando seus cabelos – És tão forte, tão bela... já me ajuda muito sendo a mulher que é. Daremos um jeito, sempre damos.
– Eu te amo, Alexandre. – Ela disse se afastando para olhá-lo – Amo-o com toda a minha vida. – E selou seus lábios com um beijo apaixonado.
*
No castelo russo eram raras as vezes em que se via Alexandre e Isabel longe um do outro. Eram como se fossem unha e carne, folgo e pólvora. Sempre juntos, em todos os momentos. Naquele fim da manhã no entanto, a imperatriz precisou se ausentar da presença do marido para organizar tudo para o almoço que ofereceriam ao soltado pródigo.
– Senhora – Uma das cozinheiras chamou sua atenção – Deveremos servir também para as crianças esta noite?
– Não, deixem que os sirvam no quarto hoje. – Comentou despreocupada – Trataremos de assuntos delicados para seus ouvidos.
– É claro – A outra concordou – Como desejar, alteza.
Isabel tinha cinco filhos, sendo o mais velho Lúcius com oito anos, Ema e Elisa com respectivos seis e cinco anos. Lucinda com três e a caçula Alexia com seis meses. Era apaixonada pela grande família que havia construído com o czar e não havia nada mais com que se importasse tanto.
– Onde está Alexia? – Questionou para uma das criadas que também estava na cozinha.
– Está no berçário com a ama de leite, alteza. – Respondeu – Deseja vê-la?
– Não, deixe que descanse. – Negou calmamente – Ela precisa dormir e se alimentar, tem estado inquieta nos últimos dias. Cuide para que receba o devido tratamento. – Ordenou à criada – Leve novos cobertores para o berçário, cairá neve esta noite.
A criada concordou em silêncio e se retirou da cozinha, deixando que a imperatriz ficasse na companhia das várias cozinheiras do castelo. Isabel suspirou, não sabia ao certo porque simplesmente não se retirava dali. Parecia tão impróprio que ela estivesse naquele local onde apenas os criados frequentavam.
– Alteza – A cozinheira chamou-a outra vez – Precisa de algo? Há algo mais que deseja falar sobre o almoço?
– Não, estou bem – Agradeceu veladamente – Apenas... – Disse incerta – Não estou confiante de que estamos preparando um bom almoço...
– Há algo que deseja mudar no cardápio? – Perguntou preocupada.
– Esse cheiro... – Disse um pouco enjoada – Não está me agradando – Falou enquanto seu estômago formava um embrulho incomodo. – Esqueça...com licença. – Pediu enquanto se apressava pelo corredor do castelo.
A imperatriz se colocou no primeiro lavabo que encontrara e pôs para fora tudo o que havia comido no desjejum daquela manhã, talvez até mesmo parte do jantar da noite anterior. Conhecia bem aqueles sintomas, os enjoos, as tonturas que a todo tempo tentava ignorar, a vontade ardente de se deitar com Alexandre o tempo todo. Havia acontecido outra vez, pela sexta vez.
Respirou fundo tentando retornar a si enquanto se limpava. Pouco tempo passara desde que dera a luz a Alexia, ainda era tão cedo para que tivessem mais um bebê. Suspirou cansada, passando a mão pelos cabelos ruivos. Aquele certamente não era um bom momento para uma nova gravidez, o Czar precisava de sua ajuda com as questões do reino e sua condição a afastaria daquilo, outra vez.
– Alteza? – Bateram à porta chamando-a – Está tudo bem? Precisa de ajuda?
– Sim, tudo bem! – Respondeu com a voz trêmula – Pode ir, já estou saindo. – Disse e não pode evitar o anúncio de um choro profundo vindo logo em seguida.
Estava desesperada. Seis filhos... de repente a conta era grande demais. De repente estava exausta de sair de um puerpério para enfrentar longos nove meses de gestação para o ciclo se repetir outra vez. Alexandre certamente daria uma festa em comemoração, mas a imperatriz estava realmente cansada.
Então se lembrou que logo teriam que receber o soldado e ainda nem havia se arrumado para o almoço. Haveria de se esforçar para esconder aquela gravidez o quanto pudesse, se não o czar a faria repousar por meses e perderia a chance de acompanhar os acontecimentos do reino.
Assim, saiu do lavabo e foi em direção aos andares acima onde ficavam os quartos da realeza. Os quais eram guardados um a um por fortes soldados. Cada porta dos cinco quartos continha os nomes dos filhos adornando a madeira clara, fazendo-a sorrir minimamente com aquela constatação. Haviam tantos quartos ainda vazios, poderiam encher aquele corredor com pequenas miniaturas de si mesmos, certamente Alexandre não se oporia.
Riu sozinha negando com a cabeça. O marido era tão apaixonado pela família quanto ela, não poderia culpá-lo por querer multiplicar-se tanto. Mas as dores eram dela, o peso daqueles meses presa em um quarto a fazia não desejar passar por aquilo uma outra vez. No entanto, alisando a barriga ainda plana soube que já não havia mais nada a ser feito. Em poucos meses outro herdeiro viria ao mundo.
Adentrou seus aposentos vendo suas damas prontas para banhá-la e ajudá-la a se vestir. E assim o fez, ficando tempo suficiente na água para que seu corpo relaxasse e estivesse pronto para um longo dia. Um apertado corselete foi posto em seu corpo, recebendo por cima um suntuoso vestido de tom verde-oliva. O busto avantajado devido ao aleitamento da pequena Alexia ficava mais amostra do que a boa etiqueta permitiria, mas não havia muito a ser feito à aquela altura. Um salto baixo enfeitava seus pés por de baixo do longo tecido, e os acessórios em tons de verde-esmeralda terminavam de adorná-la.
– Como sempre... muito bela, alteza – Uma das damas a elogiou – Deveremos acompanhá-la hoje?
– Não, querida. – Respondeu vendo-a pelo espelho – Será um almoço privativo. Apenas eu, o Czar e nosso convidado.
– É claro, milady. – Concordou abaixando a cabeça.
– Sabem onde está minha irmã? – Perguntou curiosa pelo paradeiro da jovem.
– Não a vimos esta manhã.
– Nem ontem, alteza – Outra dama completou
– Bem – Respondeu pensativa – Se a encontrarem, mandem-na que se junte a nós no almoço.
*
A sala de refeições russas era ampla e ostensiva, tons de azul-marinho e dourado enfeitavam o recinto trazendo um clima invernal para o palácio. Os criados iam e vinham trazendo os pratos elaborados para o almoço e o cheiro das especiarias emanava por todo o ambiente.
Alexandre já se encontrava sentado em uma das pontas da mesa e logo abriu um sorriso ao ver Isabel adentrar as portas de madeira caminhando suntuosa em direção a cadeira ao seu lado. Os cabelos ruivos estavam presos em um que baixo e algumas mechas soltas caiam ao redor do rosto anguloso, a deixando com um visual sério e elegante ao mesmo tempo.
— No mundo não há mais bela imperatriz que você, minha Isabel — Ele disse galanteador beijando uma de suas mãos assim que ela se sentou na cadeira.
Isabel nunca se acostumava em ouvir aqueles elogios e mesmo depois de tantos anos seu coração ainda batia frenético por Alexandre. O casamento que um dia fora por simples e pura conveniência entre o pai do czar e sua família, havia sido o seu maior presente.
— Obrigada querido, sempre tão romântico — Lhe devolveu um sorriso tímido sabendo que os criados estavam ouvindo a conversa. — Nosso convidado já está a caminho? — Questionou certamente ansiosa.
— Sim, pedi que o trouxessem para o palácio. — Respondeu — Ficou nas estalagens do exército durante esses dias sendo cuidado pelas enfermeiras. — Querida, tente não parecer muito surpresa... ele deve estar debilitado e repleto de hematomas.
— É claro. — Isabel assentiu, aproveitando para bebericar um gole de água.
A imperatriz não evitava pensar sobre o soldado desconhecido, tinha ciência de que a guerra era cruel demais com aqueles homens. E não deixava de pensar que seus filhos um dia poderiam se encontrar na mesma situação, pois mesmo os nobres tinham deveres e se a situação se tornasse caótica eram obrigados a irem para as batalhas. Não seria a primeira vez, e provavelmente nem a última em séculos.
Assim perdida em seus pensamentos passou muitos minutos apenas observando Alexandre instruir alguns criados sobre questões do reino e possíveis compromissos que haveria de ter durante o dia. Suspirou uma e outra vez vendo as feições do marido cansadas pela tonelada de problemas que estavam enfrentando, perder uma guerra era no mínimo arrasador.
– Altezas – Um dos criados chamou a atenção deles — O soldado está aqui — Informou-os enquanto abria as portas do salão.
– Deixe que entre — Alexandre disse e assim o fez.
Em passos lentos o misterioso homem adentrou o recinto. Vestido ainda muito sem jeito, com as roupas estando largas demais para a quantidade escassa de músculos no corpo. Tendo um casacão de pele de bichos lhe cobrindo até quase os pés para que ficasse protegido do frio. Os cabelos que pareciam castanhos vistos de longe estavam longos e caiam cacheados sobre os ombros, o rosto que era a única amostra de que a pele era alva tinha aparência abatida. Nos lábios haviam pequenos cortes ainda abertos, nas bochechas lhe faltavam o róseo e ao redor dos olhos de infinito azul lhe pintavam manchas arroxeadas.
Para Isabel o homem era a personificação do caos, embora se observasse com muita atenção conseguia identificar um belo homem por trás daqueles ferimentos. Em um dos braços tinha uma atadura e o mancar a cada passo que dava não passara desapercebido. Naquele momento a imperatriz imaginou que talvez fosse cedo demais para que ele se levantasse de uma cama, mas o soldado estava ali e a julgar pelos olhares de relance para a mesa farta, seria de grande injustiça cancelar o almoço.
– Ajudem-no a sentar-se – Isabel pediu aos criados — Vamos, rápido. — Disse com certa pressa.
Assim foi feito, e em nenhum momento o homem abriu a boca. Não dera um sequer bom dia, não destinou seu olhar a nenhum deles, parecia apenas existir ali enquanto acatava aos comandos dos criados e de Alexandre.
O czar assim como a imperatriz o fitava curioso, ora pensativo ora com um vinco de dúvida emoldurado sua testa. Não se lembrava daquele soldado, assim como os guardas não o reconheceram quando chegou ao império. Era uma incógnita, um desconhecido. Não sabiam seu nome ou se estava realmente falando a verdade, tudo o que sabiam era que fora para guerra e a evidencia mais clara eram os machucados profundos que tinha.
— Sou o Czar, e esta é minha esposa Isabel. — Alexandre os apresentou — Esperamos que esteja tendo uma boa recuperação.
— Sinta-se à vontade para desfrutar do almoço — Isabel interveio vendo que o marido estava ocupado demais tentando descobrir sozinho quem era o soldado — Podemos todos conversar depois de bem alimentados, afinal com fome nada funciona corretamente — Disse esperando receber qualquer sinal vindo do homem, embora nenhuma reação viesse — Por favor nos sirvam — Pediu.
Assim o típico e original stroganov de carne foi servido, acompanhado do purê de batatas que era um dos pratos favoritos da imperatriz.
— Eu amo stroganov, pensei que lhe agradaria comer algo com sustância, senhor. — Ela continuou a falar — Por favor, coma. Não tenha vergonha. — Disse e foi a primeira vez que ele levantou o olhar em sua direção.
O soldado então assentiu e esboçou o que pareceu para Isabel um rastro de sorriso e colocou-se a saborear a comida em sua frente. A imperatriz por sua vez não deixou de se sentir alegre ao vê-lo alimentar-se, um sentimento muito parecido quando via a mesma cena com os filhos. Talvez fosse o fato de ser mãe de cinco crianças e já ter visto cada um deles ficar doente e debilitado que a fizesse sentir o coração pequeno demais ao ver o homem naquela situação deplorável.
— Gostaria de mais? — Questionou ao ver que ele já estava terminando e dessa vez ele não hesitou em responder.
— Estou satisfeito, obrigado. — Disse muito baixinho, embora tivesse sido o suficiente para que os dois escutassem.
Alexandre então resolveu se pronunciar.
— Pois bem... — Pigarreou um pouco nervoso — Como sobreviveu a guerra?
— Querido... — Isabel apertou sua mão que descansava sobre a mesa num gesto de censura.
— Não — O Czar olhou-a — Tenho certeza que ele entende o porque preciso perguntar. Não lhe reconheço, e devo confessar que ainda estou surpreso em encontrar um soldado vivo.
O soldado então o olhou, por muito mais tempo do que de fato gostaria. Mas talvez precisasse elaborar um responda convincente, embora não fosse de qualquer modo mentir.
— Pertencia ao último batalhão que foi para a guerra, alteza. — Ele explicou — Não estive em seu exército por muito tempo antes disso, fui exilado de meu reino e trazido para cá.
— Cometeu um crime em seu reino? — Alexandre questionou calmamente
— Os conselheiros do governo consideraram que sim. Eu teria ido para a forca se não fosse a ajuda do sheik da Índia Oriental. — Respondeu ocultando grande parte dos acontecimentos
— Se refere a Said?
— Sim, senhor. — Respondeu sucinto
— Sim... — Falou parecendo pensar sobre o assunto — Me lembro vagamente de uma carta que recebi dele a alguns meses. E me lembro perfeitamente do quanto ele implorou para que eu o aceitasse em meu exército.
— Me sinto muito agradecido por isso.
— O que me leva a questionar os motivos para o sheik proteger tanto um soldado. — Disse, no entanto estava clara sua pergunta.
O soldado respirou fundo. Fechou os olhos e tentou afastar todos os pensamentos que começavam a invadir sua mente com a simples ideia de lembrar-se como de fato acabara ali.
— Meus pais são amigos próximos da família Mamun — Disse — O sheik só quis ajudar, apenas isso.
— Essa história...
— Porque não servimos as sobremesas? — A imperatriz perguntou interrompendo o assunto. — Pedi que fizessem um delicioso smokva de maças carameladas, você amará! — Disse sorridente ao ver que serviam o doce frutado.
A verdade era que Isabel achava que o marido estava sendo incisivo demais com o soldado, e não podia negar que estava desejando aquele doce por muitas horas. Afinal, embora ninguém soubesse, estava grávida.
— E então? — Perguntou curiosa ao vê-lo experimentar a primeira colherada
— É magnífico — Ele respondeu verdadeiramente
— O que é magnífico? — Uma voz doce e quase estridente invadiu o salão fazendo as portas retumbarem — Me perdoem o atraso, estive ocupada com algumas questões. — Dizia andando depressa tendo seu olhar preso somente na imperatriz que a observava com certo divertimento.
Alexandre não evitou bufar descontente.
— Czar — O cumprimentou com uma reverência — Isabel — E fez o mesmo com a imperatriz e logo sentou-se ao lado dela.
— Querida, olha os modos — Isabel disse baixinho — Temos um convidado. — E somente depois de avisá-la foi que a jovem notou a presença do homem no salão. — Nos perdoe a intromissão repentina, esta é minha irmã mais nova.
— Helena Alexeievna — Ela se apresentou estendendo a mão para o soldado que até então não havia levantado o olhar em sua direção.
No entanto, por mais que a cabeça do homem estivesse de fato muito debilitada assim como o restante de seu corpo, era impossível que não se lembrasse daquele nome. Assim, criando coragem elevou as esferas azuis para encontrar o olhar esverdeado da dama em sua frente.
— Robert... — Ela disse assim que os olhos se conectaram e que sua mão foi levada aos lábios dele.
Ela não evitou deixar escapar um sorriso.
— Esperem um pouco — Alexandre os interrompeu — Vocês dois se conhecem? Como?
— Senhor, eu... — Robert tentou explicar-se
— O senhor Robert me salvou de uma queda de cavalo um dia. — Helena disse rapidamente — Eu estava passando pelas estalagens quando meu cavalo se irritou e disparou-se a correr pelo campo, se não fosse este senhor eu certamente teria morrido.
— Oh, Helena — Isabel colocou as mãos sobre a boca espantada — Que situação horrível, minha irmã. Porque não me disse nada?
— Não quis lhe preocupar, Alexia ainda tinham poucos meses... já tomava todo o seu tempo.
Alexandre pigarreou outra vez vendo que o assunto já tomava outros rumos. O que era bastante normal quando se tinha a presença da cunhada no recinto.
— É verdade? — Questionou a Robert
O joalheiro então fitou a jovem, tinha a feição impassível. Tão bonita como se lembrava de ser meses antes, ainda podia descrevê-la como muito nova e certamente ousada demais para contar uma mentira tão descarada quanto aquela. Mas, embora Robert não estivesse nas melhores situações, ele não podia desmenti-la. Pois se contasse a verdade, na pior das hipóteses ele seria mandado para a forca, e ela sem dúvidas seria trancafiada no palácio ou se inventasse qualquer outra desculpa certamente haveria de ter que se casar com ela. Teria de confirmar a história, era a melhor saída.
— Sim, é verdade. A senhorita corria o risco de ser pisoteada pelo cavalo se acabasse por cair no campo. — Respondeu engolindo seco. — Apenas a ajudei acalmando o animal e nunca mais a vi, não sabia que pertencia a realeza, teria a trazido em segurança ao palácio. — Disse olhando do Czar para ela, que sorriu cúmplice.
— Bem, já que todos estão devidamente apresentados — Alexandre retomou o assunto que os levou até aquele almoço — Senhor, Robert... Como sobreviveu à guerra? — Questionou outra vez.
Robert respirou fundo, não podia fugir daquela pergunta. Assim detalhou os acontecimentos desde o dia em que o batalhão chegou às fronteiras até quando acordou sozinho rodeado pelos corpos cobertos por sangue de seus companheiros de guerra. Ele não contou tudo, poderia dizer que guardou para si muitos fatos, muitas cenas horríveis que presenciara. Guardou porque talvez fossem íntimas demais para que pudesse revelar, ou porque as damas na mesa pareciam estar suficientemente aterrorizadas. Mas no fundo, Robert só desejava esquecer aqueles meses na guerra e os meses antes da guerra. Já não se lembrava como era ter uma vida antes do caos.
— Eu sinto muito, senhor Robert — A imperatriz disse com pesar — Eu sequer posso imaginar como está se sentindo agora, imagino que seja difícil retornar e não encontrar nenhum de seus companheiros. — Suspirou emocionada — Como podemos retribuir a sua valentia? Não vejo motivos para que continue como soldado após passar por tanto.
— Agradeço a oferta, imperatriz — Ele disse — Mas não vejo no que posso ser útil na corte.
— Bem... disse que foi exilado de seu reino, o que fazia enquanto estava lá? — Questionou
— Alteza... isso realmente não é necess...
— Porque não o colocam para trabalhar junto com os joalheiros do palácio? — Helena se intrometeu
— Helena, para isso ele haveria de ter que saber confeccionar joias — O czar a respondeu — Não dê ideias tolas.
Robert não queria contar a verdade, a qual somente Helena sabia. Mas após vê-la sendo reprimida por Alexandre, não hesitou em dizer.
— Em realidade, venho de uma família de joalheiros. — Disse fazendo todos o olharem — Trabalhava para o sheik, meu pai é dono de muitas joalherias na Índia Oriental e em reinos vizinhos. — Contou e não deixou de notar o olhar surpreso do czar, ao mesmo tempo que Isabel o encarava admirada e Helena tinha um sorriso triunfante no rosto.
— Pois bem — Alexandre disse se levantando — Assim que estiver recuperado, instruirei que o levem até a ala dos artesãos. Meus joalheiros são muito estimados no reino, deixarei que se certifiquem que é qualificado para o trabalho. — Pigarreou outra vez, nesta estendendo a mão para Robert — Seja bem-vindo ao império russo, espero que seja feliz aqui. — Desejou enquanto o joalheiro lhe devolveu a mão apertando-a.
— Agradeço por sua bondade, czar.
— Fez um bom trabalho na guerra, salvou minha cunhada e fez minha esposa sorrir ao menos dez vezes durante o almoço. — Respondeu sorrindo — Talvez seja eu quem deva te agradecer, senhor Robert. — Acenou por fim — Tenho um compromisso inadiável agora, mas deixarei que terminem a sobremesa.
Assim Alexandre se retirou, deixando os tres na mesa. O que foi o suficiente para que Isabel bombardeasse a ele e Helena com muitas perguntas.
— Contem-me a verdade. — Ela disse — Helena é a melhor amazona do reino, muito melhor que todos os homens existentes nesse recinto. É impossível que ela tenha se colocado em apuros com o cavalo.
Robert engasgou com o pedaço de maça em sua boca, enquanto Helena imediatamente ruborizou. Talvez fosse fácil enganar o czar, mas certamente não podiam fazer o mesmo com Isabel.
— Minha irmã... acredite, é a verdade — Helena tentou
— Você não sabe mentir, Helena. — Ela retrucou — Eu tenho cinco filhos, sei exatamente quanto estão mentindo. Vamos, contem-me. — Disse com certa animação.
— Nos conhecemos alguns dias antes de minha partida para a guerra — Robert confessou — Sua irmã estava nos jardins e trocamos algumas palavras.
— Sim... — Helena engasgou — Quando o vi por perto fiquei curiosa e lhe perguntei sobre a guerra. Mas confesso que omiti que era da realeza, ele não tinha como saber. — Disse quase em súplica para a irmã.
— Estão mesmo me dizendo a verdade? — A imperatriz os olhava incisiva — Helena... sabe que não deveria ficar com um homem sozinha, é terrível para a sua reputação. — Censurou a jovem.
— Sinto muito, Isabel. — Disse e parecia sinceramente arrependida de seu comportamento ou ao menos sabia disfarçar muito bem na frente da irmã.
— Está bem — Respirou profundamente decidida a deixar o assunto para lá. — Senhor Robert, minha irmã é muito curiosa. Saiu recentemente do colégio, ainda está aprendendo a como se comportar na corte. Imagino que saiba como funcionam as regras...
— Sim, imperatriz. — Ele afirmou — Tenho certeza que logo lady Helena estará lapidada para a corte. — Disse vendo-a se remexer desconfortável em sua cadeira.
— Ah... eu espero que sim. — Isabel respondeu com certa animação — Em breve haveremos de iniciar a temporada dela em sociedade, deve encontrar um bom partido para casar-se, é tão linda, não acha?
Como exatamente Robert poderia negar aquele fato? Helena era muito mais que linda a seus olhos, tão jovial e encantadora. Os cabelos avermelhados e as sardas que antes não havia notado lhe davam uma aparência única, não tinha dúvidas que assim que fosse apresentada a sociedade haveriam filas e mais filas de pretendentes.
— Tem toda razão, imperatriz. — Ele concordou, fazendo Helena o fitá-lo profundamente. — Lady Helena, é linda.
Confesso que amo escrever as cenas com Robert...
É meu povo... deu pra perceber que na vida desses personagens tudo acontece ao mesmo tempo, não dá nem tempo de respirar direito hahaha Amo a história de Isabel e Alexandre <3
Será que vai rolar alguma coisa entre o nosso joalheiro e Helena?
Tem mais alguém ansioso pro baile? Será que teremos um reencontro da nossa querida Amber com Robert? Hum... veremos nos próximos capítulos.
Muitos questionamentos... deixem seus comentários e não se esqueçam de votar. Beijãaaao
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