Capítulo XXIII
Ou talvez pudesse sim voltar atrás.
Depois do êxtase veio o arrependimento, tão arrebatador quanto os momentos que vivera naquela noite. Aziz havia ido buscar algo na cozinha do castelo, enquanto ela ficara ali deitada na cama absorvendo a avalanche de sentimentos que a atingiam.
"Como eu sou burra" – Pensou batendo com uma das mãos em sua testa – "O que eu estava pensando? Como pude me entregar assim tão fácil?" – Bufou incomodada.
Levantou-se por fim, para limpar-se. Sentindo a viscosidade de sua intimidade escorrer por suas coxas, fazendo com que se lembrasse do que haviam feito. Não estava arrependida das sensações, mas da forma como tudo havia ocorrido. Como de um momento de raiva acabara caindo nos braços dele logo depois?
Estava confusa, como em todos os outros dias desde que chegara ali. Esvaziou a banheira outrora usada por Aziz, para enchê-la outra vez derramando uma quantidade exacerbada de essências e sais. Queria se livrar do cheiro dele que estava impregnado em seu corpo, queria que não houvesse nenhum resquício em seu corpo que a lembrasse de seus beijos, lambidas e toques. Queria se esfolar e se pudesse arrancaria a pele, qualquer coisa que apagasse a forma como havia sido estúpida.
"Eu quero você..." – Não era possível que tivesse mesmo dito aquelas palavras.
Queria de alguma forma engolir de volta suas palavras, queria nunca ter dito aquilo em voz alta. Queria com todas as forças nunca, nunca ter gostado de tê-lo entre suas pernas. Queria esquecer que o queria, embora tudo tivesse se tornado ainda mais difícil depois daquela noite.
Aziz não se afastaria mais, tinha plena certeza. A amava, afinal. A desejava e queria tê-la em seus braços noite após noite. Mas ela não podia se deixar levar pelo desejo, mesmo que ao ter os lábios dele nos seus toda sua postura caísse por terra. Não podia se entregar assim, não quando seu mundo interior ainda estava desmoronado, não quando não tinha plena convicção do que queria.
Era certo que ansiava pelo toque forte e marcante que lhe causava arrepios, mas era apenas aquilo. Era a carne que sempre falava por ela, era a doce excitação e antecipação de uma explosão de sensações inebriantes. Era volúpia, puro erotismo e sedução. Era o corpo o desejando, afinal.
Mas aquilo não bastava.
Não bastava o desejo, nem o toque. Nem mesmo os deliciosos beijos e o mel. Faltava algo, faltava o sentimento. Faltava aquilo que ela sempre soube que faltaria. Faltava o amor, faltava o acelerar de seu coração. Faltava tê-lo preso em seus pensamentos todas as horas do dia. Faltava procurá-lo com os olhos por todos os cantos daquele castelo. Faltava sentir falta, não do toque. Falta das conversas, falta das risadas. Falta dos segredos que nunca haveriam de trocar.
Ele a amava, porque era fácil amá-la quando o coração tinha espaço reservado para ela. Somente ela por toda a vida. Era fácil amá-la quando mesmo com todas as intrigas Aziz enxergava a verdadeira essência da imperatriz. Era fácil amá-la quando os sentimentos dele eram bem resolvidos, e completamente limpos. Era fácil, mesmo quando duvidara de sua integridade e pureza. Quando contra todos os falatórios casara-se com ela, para salvá-la. Mesmo que afinal, o destino dos dois sempre tivesse sido aquele. Era fácil amá-la pois Amber se deixava levar pelas emoções quando ele podia ser muito insistente. Não era sua culpa se era fácil amar a beleza e excentricidade que emanavam dela, a alegria que ela outrora carregava. Era fácil amá-la quando o seu mundo sempre fora preto e branco, manchado de mortes e guerras. Era fácil amá-la quando ela era seu sopro de vida, seu ponto de paz.
Mas aqueles eram os sentimentos do imperador.
Amber não o amava, ao menos não podia amá-lo daquela maneira. E se sentia egoísta por isso, por ceder quando não deveria. Por lhe dar esperanças quando na verdade não havia nada que ela lhe pudesse oferecer. Nada além do desejo carnal, nada além do que sentimento de posse que sempre tivera dentro de si. Nada além daquilo. Nada além de suas crises existenciais, suas confusões e mudanças de humor. Nada além dos seus choros e de seus momentos de solidão.
Por fim entrou na banheira quando a água quente já se encontrava aceitável para receber seu corpo e limpou-se, esfregando a esponja por toda sua pele com toda força que tinha enquanto repassava em sua mente que era uma tola. Deveria ter resistido, deveria ter ido dormir quando teve oportunidade. Mas porque se deixava ceder tão depressa? Porque Aziz lhe causava aquele efeito instantâneo de esquecer-se de tudo ao seu redor?
Não haveria de ser mais fácil resistir a ele?
*
Enquanto Amber tinha seu momento de arrependimento, por outro lado o imperador se encontrava nas nuvens. Retornava ao quarto cantarolando, levando consigo um punhado de flores e um pouco de chá de ervas frescas. Não esperava tocá-la tão cedo, mesmo que ainda não tivessem de fato consumado o casamento. Mas não esperava que ela tomasse a atitude de beijá-lo primeiro, que admitisse sentir algo embora ainda não soubesse definir o que era, que dissesse enquanto ele bebia de seu prazer que o queria.
Na noite anterior, quando lavou seus pés desejou em seu mais profundo que um dia pudesse tê-la em seus braços. Porque a amava, porque queria cuidá-la e mimá-la como uma imperatriz merecia. Porque desde a primeira vez que a vira soube em seu íntimo que a amaria por todos os dias de sua vida.
Ele não esperava que fosse tão cedo, não esperava, mesmo que a enchesse de provocações. Mesmo que ousasse em ficar nu em sua frente quando era claro que ela jamais tinha tido aquele tipo de experiência. Mesmo que as palavras dela fossem contrárias ao que o corpo bronzeado lhe dizia.
Voltou ao quarto esperando encontrá-la da maneira que a havia deixado. Sabia que não poderia ir além do que foram naquela noite, não ainda. Com Amber tudo haveria de ser na mais perfeita calma ou no mais perfeito impulso, no tempo que ela escolheria. Embora agora que ele tinha certeza que ela ansiava por mais, imaginava que um momento ainda mais íntimo logo aconteceria. No entanto, ela não estava mais na cama. E em qualquer outro canto do imenso quarto que dividiam.
Aziz então foi até o lavabo, apenas para encontrá-la de costas na banheira se banhando, esfregando uma esponja em seu corpo com tanta destreza e empenho que nem mesmo ele quando voltava dos treinos com o exército fazia para arrancar a sujeira.
Poderia ter se distraído facilmente com a silhueta desnuda, com as curvas a mostra, com o pescoço exposto ao ter prendido os cabelos em uma espécie de coque. Poderia ter pensado em mil formas de tirá-la daquela água e fazê-la sua na cama, ou talvez ali mesmo pois não sabia se seria capaz de se segurar. Poderia ter arrancado suas vestes e adentrado a banheira com ela, poderia ter sussurrado palavras obscenas em seu ouvido. Beijado sua nuca, a prendido em seu braços, sentido seu cheiro e se perdido em suas esferas douradas. Poderia listar todas as coisas que haviam passado por sua mente no pequeno instante que ficara parado na porta a olhando, mas tudo o que ele fez foi ficar em silêncio.
Em profundo silêncio enquanto a ouvia resmungar sobre ser uma tola qualquer, sobre o quanto estava arrependida daquela noite. Ao mesmo tempo que continuava a limpar-se como se quisesse apagar as digitais dele marcadas em seu corpo, como se precisasse se purificar de algum pecado horrível que tinha cometido, como se ter estado na cama com ele tivesse sido o pior de seus pesadelos.
E doeu.
Doeu no seu mais profundo. Muito mais que vê-la desejando tirar a própria vida.
Talvez já tivesse de ter parado de criar certas expectativas. Talvez fosse um erro esperar que as palavras de Amber fossem de fato verdadeiras, ao menos sobre o que sentia e queria. Talvez ficasse cada vez mais evidente que aquele casamento havia sido um erro e que estava agora preso a ela, preso a uma mulher que nunca sentiria o mesmo por ele. Talvez tivesse que aceitar aquilo de uma vez por todas, em vez de se iludir daquela maneira.
E como doía ver aquilo.
Como doía vê-la repudiando seu toque, seus carinhos. Como doía vê-la pisoteando em todas as suas esperanças, rasgando seus planos, apagando cada lembrança que em sua mente ficariam gravadas para sempre.
Haveria de gritar com ela? De lhe punir por fazer aquilo com ele? Haveria de se vingar?
Mas como exatamente poderia fazer tais coisas quando estava claro que a imperatriz não se importava com muito?
Não haviam brechas, não havia nenhuma coisa no mundo que ele pudesse fazer que a faria enxergar. Ele não poderia tocar em sua família, não era daquele tipo. Não era como seu pai e seu tio foram. Não poderia trancá-la no quarto e negar que recebesse água e comida por dias. Aziz não era cruel. Não poderia devolvê-la pois já havia sido proclamada imperatriz e ele tinha certeza que para ela seria de grande alegria voltar para a Índia.
Se a ignorasse, ela não ligaria. Se dormisse ao seu lado, ele mesmo não suportaria. Não havia nada que pudesse fazer, absolutamente nada. Amber era uma verdadeira rocha, nada a abalava. Nada além de seu próprio caos. Nada que Aziz fizesse podia machucá-la, não aponto de fazê-la se importar.
Afinal, como poderia obrigá-la a amá-lo?
As lágrimas rolaram por seu rosto e segurou um soluço para que ela não notasse que estava ali. Como doía ser desprezado daquela maneira, como doía saber que embora se esforçasse nunca haveria de ser suficiente e por mais que insistisse em acreditar que ela mudaria, no fundo entendeu que não.
Ela não mudaria, não por ele.
Aziz poderia ter todas as mulheres do harém, do Império, de todos os reinos vizinhos. Poderia encomendar mulheres do ocidente, do oriente Norte e Sul. Poderia ter mil virgens.
Ele sendo imperador poderia ter o que quisesse, poderia amar qualquer uma. Poderia se casar ainda mais três vezes se assim desejasse. A lei e os homens estariam ao seu lado em qualquer decisão.
Mas o seu mal era amar a única mulher que não o queria no mundo.
E doeu outra vez. Não pararia de doer.
Não suportou mais ficar ali vendo-a chorar de desgosto enquanto sua pele parecia prestes em carne viva. Deixou que as flores caíssem no chão, esqueceu-se do chá posto na cama. Recolheu uma parte de suas roupas e se retirou do quarto.
Se refugiou nos inúmeros aposentos do castelo, longe o suficiente da ala da realeza. Assim, no dia seguinte não esbarraria com ela. Não teria que olhar em seu rosto e procurar qualquer sinal de culpa por maltratar seu coração. Não teria de fingir costume e tratá-la com as devidas honras na frente dos criados. Não teria de explicar-se para Fátima ou Samira, pois as duas também não o encontrariam ali, não tão cedo pelo menos.
Mas porque haveria de fugir daquilo? Estava claro que poderia procurar por qualquer sinal de remorso em Amber, que jamais acharia. O único pesar que ela sentia naquele momento e sentiria nos próximos dias e meses vivendo no castelo seria de tê-lo beijado, de ter permitido que ele a toca-se.
Deitou-se na cama que não era sua, já sentindo falta do confortável macio de seus lençóis, do calor do corpo de Amber deitada ao seu lado. Haveria ele então de ser o tolo de toda a história, afinal mesmo tendo seus sentimentos jogados ao vento ainda assim não deixava de amá-la. Não deixava de pensar nela, em nenhum segundo.
Não até ser vencido pelo sono.
Mas Amber não lhe deixava nem mesmo nesse momento, invadindo seus sonhos e pesadelos. Tornando-se sua morfina e seu ópio, seu bem e seu mal.
Aziz adormeceu com a visão dela no dia de seu casamento, tão bela. Caminhando em sua direção coberta pelo véu, carregando um delicado buquê de flores, indo e indo cada vez mais perto de ser sua. E então a via depois correndo, pelos jardins otomanos. Arrastando um de seus longos vestidos coloridos, com tanta pressa para chegar até onde ele não podia ver. Ela corria e corria, para longe dele. Corria dele, afinal.
Despertou no meio da madrugada ser ar, com o corpo ardendo em febre. Com o peito doendo, com seu inteiror que parecia se comprimir dentro dele. Com o costumeiro latejar em sua cabeça que o fazia ranger os dentes com tanta dor.
Tudo em Aziz doía, seu corpo, sua alma e seu coração.
E então começou a chover.
*
Amber só parou quando viu o sangue pintar os arranhões causados pela esponja em seus braços. Chorava copiosamente deixando que a água acolhesse suas lágrimas. Odiava se sentir daquele jeito, odiava chorar por tudo. Odiava ter chegado até aquele ponto e odiava ainda mais ter feito o que fez.
Saiu da banheira apanhando uma das toalhas gentilmente deixadas por Aziz ali no dia anterior, ele havia pedido que bordassem o nome dela em todos aqueles objetos do lavabo para que soubesse sempre qual usar. Observar o bordado só a fez chorar ainda mais, enrolando-se na toalha por fim.
Caminhou até o quarto parando apenas ao sentir em seus pés cócegas ao pisar em algo. Eram pétalas de rosas soltas, e então avistou um pequeno buque delas jogado ali entre o quarto e o lavabo. Pegou-as então levando-as até a altura do nariz para que pudesse aspirar o aroma delas, e ao olhar para o quarto viu as xícaras de chá aparentemente abandonadas em uma bandeja sobre os lençóis.
Adentrou o quarto iluminado apenas pelas poucas velas ao redor da cama esperando encontrar Aziz em algum canto dali, mas para sua surpresa não havia sinal dele, exceto pelas flores e xícaras que indicavam que ele estivera no local em algum momento.
"Ele me viu..." – Ela pensou fechando os olhos fazendo com que algumas lágrimas ainda presas caíssem sobre seu rosto.
Soltou um profundo suspiro ao observar o quarto vazio.
– Ah... Aziz... – Sentou-se na cama de repente percebendo que talvez o tivesse magoado. Se ele não estava ali certamente tinha tirado suas próprias conclusões ao vê-la na banheira, talvez até mesmo a tivesse escutado proferindo suas lamúrias.
Respirou profundamente outra vez, deixando seu olhar passear pelo quarto. As gavetas da cômoda do imperador estavam todas entre abertas, assim como os baús que guardavam seus pertences. Caminhou até eles apenas para constatar o que já temia. Estavam todos vazios, restando pouquíssimas peças de roupa nas gavetas.
– Ele se foi? – Perguntou em voz alta para o nada.
De repente seu coração apertou.
Ela havia causado tudo aquilo, era sua culpa tê-lo magoado. Sua culpa fazê-lo abandonar seu próprio quarto. Sua culpa não amá-lo como deveria. Como poderia ser a imperatriz daquele império se não dava conta de ser devota ao próprio marido?
Ora, não era devota a si mesma.
Não podia mudar seus sentimentos, nem voltar atrás outra vez. Estava arrependida de tantas partes daquela noite que não saberia por onde começar, mas sabia que não podia fazer aquilo com ele. Não podia descartá-lo como se fosse um mero objeto. Não podia impedi-lo de tentar amá-la, não tinha aquele direito.
Mas havia feito, o tinha repugnado. Tinha desejado apagar todos os vestígios, cada marca de suas digitais.
Naquele momento Aziz só poderia odiá-la.
Talvez não quisesse nunca mais vê-la em sua frente, nunca mais a tocaria ou a beijaria. Nunca mais dirigiria seu olhar para ela ou lhe diria palavras bonitas. Nunca mais lhe prometeria uma vida plena e feliz, nunca mais lhe encheria de presentes ou lhe protegeria. Nunca mais a salvaria de si mesma.
E ela não poderia culpá-lo. Não havia desejado aquilo, afinal?
Mas porque aquela sensação doía em seu peito?
Estava perdidamente confusa, não entendia a si mesma. Não entendia seus próprios sentimentos, suas recusas e entregas repentinas. Não entendi mais nada do que acontecia, e já não sabia se tinha feito certo em se machucar daquela maneira, em machucar Aziz.
Deixou-se cair no chão, sendo acolhida pelo tapete felpudo. Em seu peito um grito mudo insistia em sair ao mesmo tempo que seus punhos tratavam de esmurrar o chão com toda a força que podia. Mas tudo ali ainda era silêncio. A voz não ousava sair, os soluços não ameaçavam ecoar e nem mesmo as batidas insistentes de suas mãos não faziam nenhum ruído.
Talvez fosse exatamente aquilo que ela era, uma mistura de sons que não se podia ouvir. De cores que não se viam, de caos que não se podia entender. Havia nela a força ensinada pelos pais, a alegria compartilhada por toda uma vida com os irmãos, as danças que seu corpo conhecia sozinho, os sorrisos espontâneos... Sim, haviam aquelas porções de coisas boas dentro de Amber. Mas a sua bagunça interior as trancafiava dentro do mais profundo de sua alma, deixando que apenas as fúrias e confusões a dominassem por inteiro. Deixando com que fosse fácil ferir mesmo que não precisasse dizer uma palavra, deixando que seus olhos exprimissem a imensidão gelada que tomara conta de seu coração.
Quando aquilo havia acontecido?
Teria sido a decepção que sofrera nas mãos de Abdul? Na forma como tudo terminara?
Ou então seria a culpa que a consumia pelo que ocorrera a Robert? A falta que ele fazia durante seus dias?
Por fim, talvez fosse sua incapacidade de receber o amor de Aziz? Porque talvez não se achasse digna o suficiente para ser amada assim?
Poderia ter sido o abandono da mãe? Mas como poderia culpar a odalisca que lhe dera a luz se antes mesmo que pudesse entender ela já estava morta? Talvez fosse o sentimento de não pertencer àquele mundo, embora não conhecesse outro. Talvez tivesse sido mimada demais pelo sheik, e a raiva que o pai sentia dela doía demais para que aguentasse. Talvez Safira a tivesse protegido, e sabia que sim, mas fora demais pois não sabia caminhar sozinha. Não naquele momento.
Amber só desejava um abraço, um lugar onde pudesse se aninhar e esquecer tudo. Um abraço que lhe dissesse que tudo ficaria bem.
Quem saberia explicar a imperatriz, afinal?
Ela adormeceu ali, encolhida em meio ao quarto escuro e frio, quando já não podia mais lutar contra o sono.
*
A chuva repentina molhava a noite, caindo forte sobre as terras vermelhas. Inundando os jardins secos, dando de beber as poucas árvores viventes daquele reino hostil. Aziz havia se destinado até a sacada do quarto, deixando que a água o molhasse. Deixando que seu corpo recebesse aquela enxurrada de chuva, que as gotas lavassem sua alma. E levassem o restante das lágrimas presas em seus olhos.
Olhava pro céu cinzento repleto de pesadas nuvens, esperando que Allah pudesse lhe dar algum alívio, alguma resposta, algum sinal. Qualquer explicação por permitir que ele passasse por aquilo. Por traçar seu destino ao dela, por fazê-lo sofrer daquela maneira.
Os raios então começaram a riscar os céus, os trovões balburdiar entre as nuvens e os relâmpagos a iluminar todo o horizonte. Mas Aziz não sentia medo, continuava ali permitindo que doesse tudo o que haveria de doer. Implorando pelo alívio, implorando de joelhos a Allah que fizesse com que ele deixasse de amá-la. Implorando para ter aqueles sentimentos arrancados de seu peito, implorando para que dá próxima vez que a visse não sentisse nenhuma súbita vontade de abraçá-la.
De joelhos permaneceu, até que precisou gritar. Precisava deixar que a dor saísse de alguma forma. Precisava expor, mesmo que fosse para o completo vazio da noite.
Só queria parar com aquilo.
Só queria com todas as forças não amar.
Só queria nunca mais sentir.
Mas Aziz poderia querer esquecer a sua imperatriz, poderia querer arrancar seu próprio coração. Poderia querer e fazer o que quisesse, poderia implorar, murmurar, se castigar. Nada no mundo alteraria o destino.
Ele a amava.
Ele a adorava.
Ele a venerava.
E faria tudo por ela, até o fim dos seus dias.
Seria seu, mesmo que ela não fosse sua. Seria devoto às vontades dela, seria escravo dos seus desejos. Seria o homem que beijaria os pés dela, que daria a ela o mundo. Seria o homem que a defenderia, que por ela enfrentaria guerras e batalhas. Seria o homem que passaria o tempo todo a admirando, zelando por seus passos. Seria o homem que cuidaria de suas enfermidades, que escutaria suas reclamações.
Aziz sempre seria o que Amber nunca desejara que ele fosse. Mas seria porque não sabia fazer de outra forma. Não poderia fazer de qualquer maneira. Não poderia negar a ela ou privar-se de tentar.
A imperatriz poderia passar a vida o odiando, e mais do que nunca o que dissera para ela na noite anterior se cumpria. Ele, por sua vez, a amaria todos os dias mais e mais.
Talvez Amber não merecesse. De fato, qualquer um diria que não.
No entanto, seria amada por ele. Seria amada, muito amada. Ele daria tudo de si para que aquilo se cumprisse todos os dias. Talvez não nas semanas seguintes, pois estava muito magoado e não queria vê-la. Mas um dia eventualmente estaria sarado o suficiente para cumprir seu destino.
Nenhuma guerra contra o ocidente era maior do que aquela dentro de seu próprio lar. E Aziz embora pudesse cair, nunca esqueceu-se de levantar.
Era um otomano, e os vermelhos nunca desistiam.
Doeu em mim, não sei se doeu em vocês... mas com toda certeza esses dois estão sofrendo. Parece que não temos muitas alegrias a comemorar, afinal... veremos nos próximos dias se realmente são eles que controlam tudo ou se é apenas o destino os testando...
Assunto sério agora... Amores estou precisando de mais uma leitora beta (Recebe os capítulos antes, me ajuda com dicas, opniões.. às vezes ganha uns spoliers rsrs). Alguém se habilita? Se sim, deixa aqui nos comentários que eu te chamo nas mensagens privadas.
No mais... espero que tenham gostado e que não me odeiem por esse capítulo de partir o coração. Deixem seus comentários!!
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