Capítulo XL
O sangue tinha o cheiro da guerra. Pensou que não houvesse mais nada que pudesse trazer a sua memória todos aqueles terríveis meses, mas aquele cheiro que parecia invadir suas narinas tão fortemente trazia à tona tudo outra vez. Sentia o coração palpitar veloz assim como corriam os cavalos pelo campo, e se forçasse a visão um pouco mais podia enxergar além do clarão do dia, talvez pudesse ver as poucas nuvens que cobriam o céu azulino ou os pássaros que estranhamente voavam tão baixo em perfeita sintonia.
Talvez se Aziz se esforçasse um pouco mais saberia que aquilo tudo não passava de um sonho. Talvez fosse um pesadelo, um daqueles que fazia sua cabeça latejar quase cegando. Daqueles pesadelos que outrora o atormentavam durante as madrugadas, que o fazia arder em febre e quase implorar para que o acordassem. Daqueles que somente o abraço de Amber era capaz de afastar.
Mas ela não estava lá.
Os passos apressados o acordaram do transe, mas se pudesse ter escolhido, teria implorado para que não o fizessem, talvez os pesadelos doessem menos. A dor veio tão dilacerante quanto o corte da espada que o atravessou. Quando isso aconteceu? A cena parecia tão recente que se alguém o questionasse não teria dúvidas que o acampamento tinha sido invadido na noite anterior. Mas Aziz não estava no acampamento, tampouco ainda tinha presa em si a espada e certamente muitos dias tinham se passado.
Não demorou a perceber que os passos pertenciam a várias pessoas, que pareciam ter pressa a todo tempo. Seus olhos ainda estavam fechados, como se estivesse com medo de abri-los, com medo do que poderia ver. Seu nível de consciência era falho, sabia que sentia dor em seu peito e um incômodo por todo o restante do corpo, como se cada um de seus músculos ansiasse por movimento. No entanto, parecia difícil demais para sua mente comandar o corpo naquele momento, e então suspirou, se atentando apenas ao que podia ouvir e sentir.
Estava deitado, isso ele já sabia. E um vento gelado arrepiava sua pele, fazendo com que tentasse pedir um cobertor quente a qualquer dos que passavam por ali. Não conseguiu, afinal falar demandava muito esforço, e Aziz não tinha forças. Engoliu seco, tinha sede e sua garganta parecia arranhar a todo instante. Tudo lhe incomodava de tal forma que era agoniante não poder fazer nada. Mas porque estava daquele jeito? Ele se questionava enquanto tentava procurar em suas memórias qualquer resposta.
— Ele está ficando agitado!
Ouviu alguém dizer, e logo em seguida um diálogo que prendeu sua atenção
— Precisa amarrá-lo na cama de novo, rápido! Depressa! Antes que ele arranque os curativos outra vez.
— Não entendo como ele não consegue despertar, mas tem esses ataques...
— Estava muito ferido quando chegou...
Percebeu uma voz diferente interromper a conversa
— É provável que esteja traumatizado, talvez... só não consiga acordar desse pesadelo.
— Ele teve sorte — Alguém resmungou — Mais da metade desses soldados voltará para casa sem um ou dois membros, se tiverem algum dinheiro talvez sobrevivam sem poder trabalhar pelo restante da vida.
— Já descobriram de onde ele veio?
— Não, os soldados que o trouxeram disseram que ele estava jogado numa poça de lama...
— Isso explica a sujeira que ele chegou aqui
— Mas não explica o fato de que ele não parece ser britânico e que nós podemos estar ajudando um inimigo — A mesma resmungou outra vez
— Fizemos um juramento madre... salvamos vidas, não fardas. Pouco me importa se ele é britânico ou não, o trataremos como se fosse. Agora deixem de conversar... o cessar fogo pode ter chegado, mas a enfermaria ainda está em estado de guerra. Vamos moças, ao trabalho!
A guerra havia acabado? Mas como poderia se ainda tinham muitos homens a enfrentar? Franziu a testa em confusão. Definitivamente não estava entendendo mais nada e tinha certeza de que talvez não fossem apenas poucos dias passados, talvez fossem semanas. Mas quantas exatamente ele havia perdido a consciência da real condição do mundo em sua volta?
Se ele se esforçasse, somente um pouco mais... ou se entregasse novamente aos pesadelos, talvez encontrasse as respostas que procurava. Embora, na maior parte das vezes, Aziz não tivesse a menor escolha, se não, dormir.
*
Semanas antes
Robert viu quando o carregaram, mas grunhiu sabendo que nada podia fazer. Estava amarrado, todos eles estavam - ao menos os que ainda estavam vivos -, presos nos troncos das árvores da montanha que circundava aquela planície. Haviam levado suas armas e destruído todas as tendas, os animais rondavam pela fogueira sentindo o cheiro da comida espalhada pela terra. Já fazia um pouco mais de um dia inteiro que acontecera aquele caos, mas na cabeça do joalheiro as cenas da emboscada ainda estavam vivas.
— Não vai conseguir se soltar desse jeito — Ouviu a voz de Alexandre enquanto tentava - de maneira falha, - arrebentar a corda que o prendia.
— A gente precisa sair daqui, precisamos encontrá-lo! — Respondeu nervoso — Se eu conseguir... — Forçou a corda outra vez — Argh... — Gemeu sentindo a pele arder já em carne viva.
— Por quê se importa? — Sussurrou — Precisamos sair daqui e voltar para o império! Não há mais nada que possamos fazer por ele ou por esses homens. Eu tenho seis filhos, uma esposa e um império me esperando... se o Rei deseja tomar todas essas terras, as minhas terras para os escravos... ele que o faça! Não perderei a minha vida por isso.
O joalheiro respirou profundamente, quase quis soltar uma risada irônica naquele momento. Era óbvio. Era tão claro quanto o céu do dia que os abraçava. Alexandre jamais passaria dos limites, de seus próprios limites.
— Não estou pedindo que o ajude, mas se já veio até aqui... era o mínimo que poderia fazer.
— Não existe o mínimo quando corremos esse tipo de risco — Retrucou — Nos deixaram vivos por um motivo, ainda não entendeu? É um aviso, Robert. O Rei quer que joguemos as cartas... ele sabe que escolhemos um lado. Não iremos vencer essa batalha, mas podemos sair dela com vida.
— O que não faz sentido é exatamente isso! — Bufou — Como é que vamos sair daqui com vida se não conseguimos sequer nos soltar?!
— Se vocês dois calarem a boca... eu soltarei todos em alguns minutos.
Foi Zayn quem falou, uma das raras vezes em que se comunicava. Mesmo depois de um pouco mais de duas décadas ainda continuava o mesmo misterioso comandante.
— Como conseguiu? — Robert questionou surpreso
— Enquanto os dois 'ahmaqs ficavam discutindo bobagens pelas últimas vinte horas, eu estava elaborando um plano — Suspirou ao desatar o nó das mãos.
— Mas como?
— Uma das vantagens de ter estado no exército ocidental por muitos anos foi ter aprendido como eles fazem as armadilhas, e como sabem amarrar bem uma corda... — Riu irônico — É melhor que poupem saliva, estamos sem água.
— Ele os chamou de idiotas, se querem saber — Jasper disse do outro lado da árvore onde ainda estava amarrado — Mas se eu puder opinar na questão que tanto incomoda vocês dois... — Balançou os pés na terra despreocupado — É melhor que deixem a família resolver isso. Voltem para casa, nós encontraremos Aziz.
— Isso está fora de questão — Robert reclamou — Não voltarei enquanto não encontrá-lo.
— Qual é o seu problema, Robert? — Jasper perguntou levemente alterado — Não cabe a você salvar ninguém! A guerra pra vocês acabou! Voltem para casa, volte para a sua esposa...
O joalheiro bufou com visível descontentamento. Àquela altura Zayn já havia soltado Said, e outros dois soldados que os acompanhavam, já indo em direção a onde os outros três estavam. Ninguém parecia compreender sua recusa em partir sem que soubesse o paradeiro de Aziz, sem que pudesse cumprir a promessa que fez a si mesmo.
— Eu fiz uma promessa... — Sussurrou para o amigo
— Para quem? — Tentou olha-lo em vão
— Eu... eu prometi a mim mesmo a muito tempo que faria Amber feliz, e depois de tudo... eu devo isso a ela. Eu estraguei tudo por muito tempo, quando estive lá...baguncei a vida dela, confundindo nossos sentimentos. Ela já estava feliz e eu apareci me declarando e exigindo seu amor. Eu... só... — Engoliu seco — Só quero consertar tudo, só quero levar o marido dela pra casa.
— Você não tem que fazer isso, não tem que provar nada para ninguém— Ele o respondeu — A vida ou a morte do imperador não depende de você, e eu sei que se algo acontecesse a ele... Amber jamais te culparia ou te odiaria por isso.
— Você não entende... é apenas... — suspirou já cansado — Preciso fazer isso. Preciso encerrar de vez toda essa história.
— A amava, não é? Tanto assim...não sei se um dia amarei alguém dessa maneira — Comentou com os olhos perdidos.
— Nunca se sentiu assim por alguém? — Robert perguntou — Sentir algo a ponto que é até difícil respirar... como se o seu mundo só fizesse sentido na presença dela.
Jasper se esforçou para olhá-lo um tanto confuso com aquelas palavras.
— Se sente assim por Amber?
Robert riu por um instante, descansando a cabeça no tronco da árvore e observando o céu azul. Não, não era por Amber que ele se sentia daquela maneira, não mais.
— Helena... minha esposa é quem faz o meu mundo fazer sentido. E sei que para Amber, o imperador significa o mesmo — Explicou — É por isso que eu devo isso a ela.
O príncipe não o respondeu. Parecia pensar, parecia ter deixado que seus pensamentos fossem ao passado não muito distante. Lembrou exatamente do dia em que seu coração sentiu algo diferente, e até aquele momento não havia parado para analisar aquele fato tão específico em sua vida. Por bastante tempo fingiu não ter se importado ou talvez fosse apenas uma maneira de se proteger, mas as palavras de Robert fizeram perceber que aquela ferida que escondia de todos ainda não havia cicatrizado.
E então um estranho silêncio permaneceu entre eles, por longos minutos até que sentiram as mãos serem libertas por Zayn. Respiraram aliviados, no entanto alívio era um sentimento quase inoportuno dadas as circunstâncias.
— O que pretendem fazer? — o comandante perguntou — A essas horas se tivermos com alguma sorte talvez o tenham largado em algum vilarejo.
— Deveríamos seguir mais ao sul, se me recordo existem algumas estalagens por lá, a coroa britânica construiu aqueles lugares alguns anos antes da guerra de Napoleão — disse Said — Quanto ao que discutiam antes... Parece que fizeram mais do que deixar apenas um aviso meu caro Alexandre, foi um ultimato. O Rei não tem pretensão alguma de acabar com a escravidão e quem tentar o impedir ou atravessar o seu caminho não viverá para contar história.
— Então nos despedimos aqui — Alexandre comunicou — Voltarei para minha família e para o meu império, onde ainda precisam de mim. Robert, está certo que é isso que quer?
— Sim Alexandre — respondeu — só voltarei para casa quando encontrar o Imperador.
Assim eles se despediram ali com pouco menos da metade do exército que ainda restava em busca de Aziz. Só não esperavam que a busca fosse durar tanto tempo.
*
Aquela era a quinta vez que Amber se encontrava em destino ao vilarejo. De cima do Castelo negro nem ela tão pouco seus acompanhantes imaginavam as dificuldades que o povo passava no reino, na primeira vez havia ido muito esperançosa de que os recursos que havia destinado e todas as ordens que foram dadas aos conselheiros fizessem alguma diferença na vida daquelas pessoas, no entanto, quando viu com seus próprios olhos a situação em que estavam, percebeu que ainda era muito pouco. E então entristeceu-se.
Mas a imperatriz não era do tipo que desistia com facilidade, mesmo com certa resistência dos moradores da vila e alguns olhares acusadores sobre ela, voltou pela segunda e outras vezes àquele local. Haviam poucos homens perambulando pelas ruelas, um dos poucos que não haviam ido para guerra, o restante eram as mulheres e muitas crianças que povoavam o império otomano. Logo no início do Vilarejo ficavam as pequenas barracas de comércio, onde eram distribuídos os grãos, carnes e peixes, ao menos o que havia restado da última colheita.
Já tinham encaminhado pelos guardas mais uma grande leva de grãos e frutas pelos guardas. Mas vez ou outra sentia a necessidade de passear pelo lugar e conversar com os moradores, daquela vez não seria diferente.
— Bom dia senhora — cumprimentou uma mulher que a fitava com certa curiosidade — Aceita um pouco de grãos? — questionou com um sorriso no rosto
A mulher no entanto não parecia se agradar pela presença da imperatriz na vila, a olhou de cima a baixo como se estivesse estudando e analisando, julgando certamente. Parecia suspeito alguém da realeza se submeter a descer tão baixo para distribuir comida para aqueles pobres.
— Por favor, aceite — Amber insistiu, entregando-lhe a saca de grãos — Eu venho em paz, quero apenas ajudar vocês. Enquanto essa guerra não acabar todos estaremos em dificuldade, quero apenas amenizar a fome e de alguma forma a falta de recursos, sei que sem os seus maridos não há qualquer moeda na casa de vocês. Meu marido também não está aqui, e sei que ele ficaria feliz em saber que o povo dele está sendo cuidado.
— Ninguém nunca se importou, ninguém nunca desceu daquele Grande Castelo. Ninguém nunca olhou por nós, porquê agora haveria de ser diferente? — Questionou ainda um pouco arredia
— Porque de onde eu venho sabemos a importância que o povo tem para um reino, sabemos que sem vocês, sem a colheita, sem a lavoura, sem o trabalho braçal dos homens não existe o império. Sem suas filhas para costurar nossos vestidos, arrumar nossos aposentos e servir à nossa mesa, não somos nada. Seus filhos servem ao nosso exército, fazem a nossa guarda, cuidam dos cavalos, constroem nossos muros... — Suspirou ao pensar que de fato dependiam muito daquele povo — É o mínimo que posso fazer já que vocês fazem tanto por nós.
Os olhos da mulher então encheram de água enquanto escutava Amber falar aquelas coisas, parecia que toda sua vida ela vinha esperando para ouvir exatamente aquelas palavras, como se finalmente depois de tantos anos a tivessem enxergado. Por fim pegou os grãos e sorriu para Imperatriz, um sorriso largo provido de poucos dentes mas que continha profunda gratidão. Talvez Amber ainda não soubesse, mas a partir daquele dia havia conquistado não só uma aliada, mas uma fiel defensora.
Andou mais pela vila distribuindo mais um tanto das coisas que havia levado, tudo parecia tão cinzento e sem vida. Podia perceber na feição de qualquer um que passasse em sua frente, eram o retrato da guerra, em pele e osso.
— Não deveria andar sozinha, milady — Um menino chamou sua atenção segurando uma bola de pano nos braços — Essas ruelas são perigosas para uma dama.
— Não estou sozinha, rapazinho — Respondeu-o, apontando os olhos para a sua direita e então para a esquerda onde haviam guardas. — Eles sempre me acompanham — Sorriu ao explicar.
— Pode me dar um pouco disso aí? — Perguntou colocando os olhos castanhos sobre a cesta que Amber carregava — Estou com muita fome.
Amber respirou profundamente para que não começasse a chorar na frente do menino. Talvez tivesse um pouco mais que oito anos pela esperteza e o saber falar, embora fosse tão pequeno e magrelo quanto um menino de cinco ou seis. Aquilo lhe doeu tanto que não saberia explicar com as palavras certas, apenas queria colocá-lo no colo e dizer que não sentiria mais fome na vida. Lhe doía, pois sabia que Danúbia teria tudo o que quisesse na vida, mas aquele menino e tantos outros já se contentavam com tão pouco.
— Qual o seu nome? — Ela se abaixou na altura dele, sem se importar em sujar o vestido com a lama da vila — Você tem família?
— Meu nome é Nuri, senhora— Disse baixinho — Meus irmãos cuidam de mim.
— Eles estão em casa agora? Posso levar um pouco desses grãos para eles também.
O menino fez que não com a cabeça.
— Minha irmã Aysel trabalha na casa de um nobre, ela me visita quando pode... as vezes ela me traz alguma comida boa da casa do seu senhor — Explicou — E meu irmão Erkan foi para a guerra, milady — Falou e seus olhos transmitiam tristeza.
Ele estava praticamente sozinho naquele mundo. E aquilo terminou de despedaçar o coração de Amber.
— Muito bem... Nuri... — Disse com certa calma — Você pode me levar até sua casa? — O observou confirmar — Sim? Ótimo... assim podemos conversar mais um pouco enquanto você come algumas dessas delícias, hum? O que acha?
Nuri era de poucas palavras. Talvez porque não estava acostumado a receber tamanha atenção de alguém ou porque passava grande parte do seu tempo sozinho. Assim, em perfeito silêncio enquanto tinha em uma das mãos a bola de pano, com a outra já se deliciava com um pãozinho doce, levou Amber até o barraquinho que vivia no vilarejo.
Era de dar dó, a imperatriz podia contar a quantidade de buracos que haviam no telhado feito com palha e o cheiro incômodo do mofo que pairava sobre o pequeno lugar. Não haviam camas, no lugar delas duas esteiras da mesma palha de coqueiros estavam estendidas no chão e sobre elas um cobertor velho que parecia fino demais para proteger o menino do frio.
O barraco em si não era desorganizado, mas pudera, não existia quase nada ali para que fizesse alguma diferença naquele fato.
— A senhora pode se sentar nesse banco — Ele disse trazendo nos braços o artefato de madeira — Meu irmão estava fazendo antes de ir para a guerra, ele sempre foi bom em construir essas coisas — Explicou
— Shukran — Ela agradeceu — E você onde vai se sentar?
— Posso ficar em pé, milady — Ele deu de ombros — Passo muito tempo em pé na vila, antes das lojinhas fecharem... eu ganhava algum dinheiro das senhoras que vinham comprar vestidos, e dos senhores na taberna.
— Você está a bastante tempo sozinho, não está?
— Desde que Erkan se foi... sem ele ficamos sem dinheiro e sem comida. Minha irmã estava noiva de um bom moço da vila, mas logo quando a guerra começou chegou a notícia que ele estava morto. Sem casamento... sem dinheiro também — Deu de ombros outra vez, como se explicasse que todos os infortúnios se davam pela guerra. E ele tão pequeno nada podia fazer. — Ela não queria me deixar sozinho, mas o senhor para quem ela trabalha não gosta de crianças e disse que só poderia abrigar ela em sua casa.
Amber o olhou com compaixão. Era tão jovem, mas já falava com tanta maturidade e consciência sobre a própria vida que chegava a ser triste. Era um menino tão bonito, os olhos castanhos que ela notou terem manchinhas esverdeadas no centro combinavam bem com os fios escuros do cabelo. A pele era queimada pelo sol, o que tornava inegável a descendência otomana e o tempo que ficava exposto ao ar livre.
— Pegue mais um pãozinho — Ela ofereceu, e ele não se deteve em pegar — O que houve com seus pais? Você pode me contar?
— Minha mãe morreu quando eu nasci, foi o que disseram— Disse entre uma mordida e outra — E o meu pai... — Suspirou triste — Morreu a alguns anos... o mataram por uma dívida. Eu era muito pequeno ainda... quase não me lembro dele. Mas Aysel sempre diz que ele gostava muito de mim, porque pareço com a minha mãe.
— Tenho certeza que ele te amava, querido...
— Não sei se alguém pode me amar, Milady. Não tenho nada a oferecer... Erkan sempre diz que só nos amam quando temos alguma coisa para dar em troca.
A imperatriz ficava cada vez mais surpresa e abalada com tudo o que ouvia. Ele só tinha oito anos e já tinha vivenciado tantas tragédias e escutado tantas coisas, demais para tão pouca idade. E então percebeu que não poderia deixá-lo ali sozinho.
— Sabe, Nuri? — Ela chamou sua atenção — Quando eu era pequena, talvez com a sua idade... a minha mãe gostava de me ensinar o significado dos nomes. Você sabe o que o seu significa?
Ele prontamente fez que não.
— Minha luz... — Ela respondeu com os olhos cheios de lágrimas. — Significa minha luz...
— Por que a milady está chorando? — Ele se preocupou, imediatamente se colocando a limpar as lágrimas dela com as mãos — Me desculpe, eu não deveria...— Se afastou
— Está tudo bem... não se preocupe com isso... — Amber trouxe a mãozinha dele de volta ao seu rosto — Estou chorando porque percebi que tudo o que eu precisava era de uma luz. De algo que me mostrasse o meu caminho e o meu destino como imperatriz nesse lugar. Para que eu pudesse fazer a diferença aqui... Mas... eu não encontrei algo...
— E o que encontrou?
— Encontrei você Nuri, encontrei você.
O puxou para um abraço que sequer sabia precisar. Talvez ele precisasse mais do que ela, talvez um precisasse do outro, afinal.
— Você gostaria de ir para o castelo comigo? — Questionou quase eufórica com a possibilidade. — Lá você terá comida, uma cama confortável e uma lareira quente. Muitas crianças para brincar...
Dizia enquanto ele a olhava sério, parecia pensar.
— Podemos levar sua irmã para morar lá também, isso não será um problema — Disse rápida — E quando seu irmão Erkan voltar... será bem-vindo no castelo. Você não precisa mais ficar sozinho, querido... por favor aceite.
— E terá muitos desses pãezinhos doces? — Ele perguntou curioso, fazendo Amber rir de emoção.
— Quantos você desejar, de todos os tipos.
— Mas eu preciso de um banho, e de roupas limpas... — Falou triste outra vez — Minha irmã disse que nunca poderíamos frequentar o castelo com essa aparência.
— Não se preocupe com isso pequeno... — Amber levantou o rosto dele com a mão — Eu cuidarei de você.
— Como se fosse uma mãe? — Ele arregalou os olhos.
A imperatriz sorriu. Seu coração já não poderia dizer outra coisa, aconteceu tão depressa quanto a chegada de um novo bebê. Era exatamente o que ela seria para ele.
— Sim, pequeno Nuri... como se fosse uma mãe.
E então, o levou para o castelo negro.
Caiu uma lágrima aqui do meu olho... não sei vocês, mas eu amei esse capítulo inteirinho.
Alguém lembra dos pesadelos de Aziz lá no início do livro, será que eram visões? Tadinho do meu imperador </3
Zayn como sempre 0 paciência com quem tá começando rsrs (preciso de inspiração pra voltar a escrever Maktub)
Robert ícone que não vai arredar o pé enquanto não achar o imperador. O que vocês acham disso? Ele tá certo ou tá fazendo mais do que deveria?
Ih... Jasper, Jasper... quem foi que partiu o coração do meu príncipe? rsrs
Amber rainha, o resto nadinha!! É isso, adotamos uma criança <3
Gente capítulo de muuuitíssimas informações, né? Prometo que volto logo porque já estamos nos capítulos finais. Guenta o coração aí. Deixem seus comentários, beijãaaao
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