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Capítulo XIX

Amber sentiu o ar lhe invadindo outra vez e em um puxar de folego voltou ao mundo real. No começo tudo ainda parecia nublado e seu peito queimava enquanto sentia uma forte pressão sobre ele. E então a tosse veio com toda sua força a fazendo instintivamente se forçar a levantar do leito de sua cama, sentiu então a pressão se aliviar. E só depois seus olhos finalmente puderam ver onde estava e com que estava.

Contemplou o futuro imperador a olhando desesperado, as vestes dele molhadas assim como os cabelos que ela não soube distinguir se era da água ou de suor. Ele parecia respirar com dificuldade como se tivesse corrido por quilômetros. E mesmo estando daquela maneira Aziz continuava belo.

Amber se censurou por pensar aquelas coisas – quando a situação era inadequada – Imediatamente lembrou-se das vestes nada apropriadas que usava, sentindo o fino pano grudar em seu corpo encharcado. Puxou então as toalhas ao encontro de seu tronco e cobriu-se, embora imaginasse que Aziz pudesse ter visto tudo o que havia em baixo da camisola de banho.

A princesa não sabia ao certo o que pensar, enquanto ele continuava olhando-a milhares de coisas passavam por sua mente. Ela não tinha planejado daquela maneira, ela sequer tinha planejado aquela noite, simplesmente havia feito e soube que não queria voltar.

Mas agora que estava ali, e era mais do que claro que Aziz a tinha encontrado e a feito voltar a vida não sabia o que fazer para seguir a diante. No dia seguinte ela continuaria seguindo as regras otomanas e se preparando para assumir um trono que nunca de fato fora seu? Ou ela enxergaria tudo com outros olhos, agradecendo pela chance de viver outra vez?

Tentou respirar profundamente mas seu peito reclamava de dor. Estava frustrada novamente. Certamente concluiu que nem para morrer ela servia e então bufou inconformada. Não queria estar ali, não queria de modo algum ter tantas responsabilidades em suas mãos.

E então sentiu tanta raiva de Aziz. Como ele ousara salvá-la? Como ele poderia ter lhe tirado a única chance de se livrar daquele pesadelo em que se encontrava? Como ele poderia dizer tais coisas a ela?

"Não poderia viver em mundo sem você"

Os olhos de Amber brilhavam profundamente enquanto ele parecia esperar por uma resposta sua.

*

Aziz desejava uma resposta.

Dentro do futuro imperador uma ansiedade se formava lente e torturadora, olhando para Amber que o encarava certamente assustada com sua revelação. Ele esperava por qualquer palavra que saísse da boca dela.

Qualquer coisa, ele ansiava por qualquer coisa que ela pudesse dizer. E outra vez não soube dizer quando o mínimo que a princesa pudesse lhe dar havia se tornado tudo para ele.

– Por favor, Amber... – Ele então pediu dizendo o nome dela. – Diga alguma coisa, por Allah, diga... – Pediu quase em um sussurro.

– O que deseja que eu diga, Alteza? – Disse enfatizando a posição dele – Deseja que eu me jogue em seus braços e repita o beijo da outra noite? Ou será que um agradecimento por ter me tirado o direito de acabar com tudo isso basta? – Questionou e seu tom de voz fez Aziz se afastar como se tivesse levado um choque.

– Esqueça, eu não deveria esperar nada diferente de você – Ele disse com certa mágoa – Não quero que me agradeça, eu teria feito o mesmo por qualquer um. Jamais deixaria que sua vida se tornasse insignificante de tal maneira que sua alma não pudesse descansar em paz. Se suicidar não é a saída, princesa – Ele falou se levantando do canto da cama – Allah não a perdoaria, e penso que talvez com Ele você se importe. – Disse por fim, se retirando do quarto deixando-a sozinha.

Aziz nunca pensou em odiá-la tanto quanto naquele dia.

*

1 semana depois

E então o fatídico dia do casamento chegara.

Eles não voltaram a se encontrar ou trocar palavras durante os dias que se passaram, e o beijo que trocaram cada vez mais se tornava um assunto distante e quase esquecido entre os dois. Esquecido assim como a cena da banheira a qual o futuro imperador presenciara.

Era fato que a princesa estava passando por um momento depressivo. Ou talvez sem que ninguém soubesse, Amber sempre tivera aqueles sentimentos perturbadores dentro de si, os quais quase a levaram a morte. E se, fosse verdade. E se, realmente a princesa carregasse aquele peso com ela por tantos anos, talvez fosse mais fácil entendê-la.

A verdade que ninguém ousaria proferir era que a tentativa de suicídio de Amber nada mais era que um pedido de socorro. Uma jovem como ela que nascera em um ambiente tão traumático quanto fora o ataque à Índia, que fora rejeitada pelo pai enquanto ainda estava no ventre da mãe e que inconscientemente passara a vida tendo que ser um exemplo – pois não poderia ser diferente disto –, haveria outra maneira senão aquela? Ninguém a culparia por sua mente ficar atormentada ao ser tirada de seu mundo colorido e ser levada a um império hostil e traiçoeiro em meio a eminentes ameaças de guerra ao seu povo.

De todo modo, contrariando suas vontades mais profundas Amber havia levantado naquela manhã disposta a cumprir o que desde o início fora seu objetivo. Evitar que sua família sofresse. Sendo a mais velha de seus irmãos sentia uma certa responsabilidade com o futuro dos gêmeos. A princesa tinha total convicção de que se ela tivesse um casamento fracassado ou se tornasse alvo de outro escândalo, as consequências recairiam sobre seus irmãos. Principalmente sobre Jade. A reputação de uma mulher, sendo ela herdeira de muitos reinos ou não, valia mais que diamantes no deserto e um deslize arruinaria tudo.

Amber não podia fracassar.

*

– Fique parado, alteza! – O alfaiate reclamava pela terceira vez, e apesar dos olhares furiosos que recebia do futuro imperador cada vez que espetava um alfinete nele não se intimidava em baixar o tom de voz. – Estou quase acabando, preciso que fique parado, por favor. – Embora sempre que podia amenizava seus surtos a fim de não perder o emprego e quem sabe até a cabeça.

– Você é mesmo inacreditável, Aziz – Samira reclamou do outro lado do quarto – Estamos atrasados! O almuadem está no salão de bailes a horas!

No entanto, apesar de suas reclamações serem válidas tudo o que Samira recebia como resposta era um suspiro ou um bufar de inquietação.

Aziz se preparava para o casamento. Uma simples cerimonia como a princesa havia solicitado. Sem pomposidades e inúmeras tradições. Diferente das longas e culturais festas de casamentos – que costumeiramente eram vistas pelos reinos orientais –, aquela teria duração de apenas um dia, ou melhor de uma noite. O almuadem os casaria perante Allah e a lei dos homens e logo após dariam uma festa no salão principal do palácio vermelho, onde apenas alguns poucos familiares de Aziz e representantes dos reinos mais próximos estariam presentes.

– Está terminado, alteza – O alfaiate informou finalizando os ajustes no traje de Aziz – Será um noivo muito bonito, senhor. – O elogiou ao se dirigir para frente dele a fim de analisar o seu trabalho.

– Shukran – Aziz respondeu seriamente.

Vermelho era o que lhe cobria a maior parte do corpo. Desde o turbante até nos sapatinhos de cetim a cor rubra era bordada delicadamente sobre o tecido. Finos traços de ouro compunham as costuras e as ombreiras de sua túnica, assim como os detalhes do turbante alto que usava. Os olhos verdes de Aziz haviam se tornado mais profundos devido a camada de tinta negra que cobria a linha d'água de seus olhos. Era um costume entre os homens, embora ele não apreciasse a pintura em sua face.

A irmã já havia se levantado e o aguardava no corredor dos quartos, onde pela porta que estava aberta podia fitar Aziz ainda parado como se pensasse em algo importante.

– Aziz? – Ela o chamou – Está pronto? Podemos ir? Estão nos esperando... O almuadem... - Dizia com certo desespero.

Samira diria novamente que o homem os esperava a horas, no entanto, Aziz sabia que ele estava a pouco mais que vinte minutos no palácio e o tempo de espera era costumeiramente normal em um casamento.

Mas aqueles assuntos pareciam sem qualquer relevância perto do turbilhão de pensamentos que incomodavam o futuro imperador. Aquele era o dia do seu casamento, e ele não soube ao certo quando aquele momento havia se tornado tão importante.

Aziz nunca havia almejado aquilo, e não fora por não querer mas porque simplesmente o matrimônio sequer tinha passado por suas opções na vida. Ele sempre pensara que a mãe continuaria governando o império e que um dia Samira assumiria o seu lugar, porque ele não estaria mais entre elas. Porque talvez ele partisse antes que pudesse subir ao trono. Porque talvez assumir aquela responsabilidade não fosse para ele.

Contudo, contrariando tudo o que um dia acreditara que aconteceria, o peso de um império renegado e a beira da ruína recaíra sobre suas mãos. O peso das guerras por territórios, intrigas e vinganças pessoais acabaram trazendo consequências para ele, consequências que não eram dele. De erros que nunca foram seus. Mas Aziz era o único homem vivo de sua família, e era honrado demais para deixar que a mãe ou a irmã lidassem com assuntos tão indelicados.

Ali estava ele prestes a desposar uma princesa que de um jeito torto e talvez até cruel sempre fora sua. Uma princesa que tinha outros planos para sua própria vida. Uma princesa que tinha opções, que tinha escolhas. Uma princesa que era livre para decidir, embora estivesse dentro de outras prisões da sociedade. Ainda assim, Aziz sabia que Amber podia decidir o rumo que sua vida tomaria. E ele sabia que no dia em que quebrara aquela garrafa no baile ele havia tirado esse direito dela.

– Estou pronto – Ele disse por fim – Vamos, estou pronto – Disse outra vez, mais para si do que para a irmã.

*

Amber se olhava no espelho. Não podia fracassar. Ela disse para si mesma, várias vezes durante o dia, mas o olhar dourado que um dia já havia carregado um profundo brilho, estava abatido. As feições finas e angulosas traziam um ar sério e comprometido, altivo talvez para muitos, embora não houvesse – naquele momento –, qualquer sinal de que a princesa queria se sobressair.

Um vestido longo e volumoso caía perfeito em seu corpo. Era vermelho como mandava a tradição otomana. A cintura fina e apertada pelo espatilho era marcada com bordados em fios de ouro e delicados botões de cor negra que fechavam a parte de trás do traje de noiva.

Os cabelos escuros haviam sido cuidadosamente repartidos ao meio e presos num baixo penteado que deixava as melenas caírem como cachos na lateral de um de seus ombros. Uma coroa alta adornada com diamantes e cravejada de rubis fora presa em sua cabeça e então um conjunto de colar e brincos do mesmo material enfeitavam seu busto e pescoço pouco a mostra.

Em sua face um pouco de rouge pintava suas bochechas, enquanto o olhar – ainda que triste –, carregava uma espessa camada de khol preto que ia da linha d'água até a altura do fim das sobrancelhas, formando um perfeito olhar árabe. Na boca o vermelho em seus lábios trazia a imponência daquele império, para mostrar que agora mais do que nunca ela havia se tornado uma deles.

Amber suspirou uma e outra vez enquanto observava a criada terminar os últimos ajustes de suas vestimentas. Se admirar era o que ela deveria fazer naquele momento, como toda noiva feliz fazia em seu dia de casamento, mas como? Como poderia se olhar no espelho e imaginar uma vida plena e feliz quando sua mente só lhe atormentava com sentimentos de culpa e solidão?

Assim distraída não viu quando Mirhima adentrou seus aposentos carregando uma caixa grande e pesada em suas mãos. E somente depois que a tia de Aziz apareceu no reflexo do espelho a princesa pode finalmente lhe sorrir.

– Uma verdadeira mulher otomana – Mimi comentara – Está... magnífica – Disse a olhando maravilhada.

– Shukran – Amber agradeceu, pois era o mínimo que poderia fazer.

– Mas... falta algo em você... – A olhava como se procurasse o que faltava na princesa, o que fez Amber fitar cada detalhe de seu vestido a procura do que nem sabia.

– O que? – Questionou curiosa – Pensei que fosse apenas isso... não vejo... – Dizia ainda a procura

Mirhima queria sorrir naquele momento. Se pegou admirando a princesa mais do que os bons modos permitiriam. Mas ver Amber em cima de um banquinho enquanto a criada bordava os últimos fios da barra do vestido a fez perceber que cometera um grande erro ao contar a Fátima que ela e Aziz haviam se encontrado às escondidas, embora não soubesse se a rainha tinha se importado o suficiente com aquela informação.

Antes não sabia porque de fato havia feito aquilo, mas quando mais cedo recebera a caixa que ainda estava em suas mãos havia entendido que sentira inveja. Inveja porque Amber apesar das circunstancias teria a chance de ter um casamento próspero e honrado. Teria um marido que a protegeria e que estaria ao seu lado nos dias bons e maus. Teria alguém para encontrar ao fim das noites e alguém para confidenciar seus segredos. Amber teria Aziz e ele teria a ela, mesmo que os dois não soubessem disso ainda.

E Mirhima nunca teria ninguém.

– Bem... – Ela começou a falar – Falta isto – Disse apontando o olhar para a caixa – Vai ficar lindo... não tenho dúvidas...

Então se aproximou de Amber que tinha a curiosidade estampada em seus olhos e deixou a caixa nas mãos da criada para que pudesse abri-la.

Seria um haraam dizer que não era a coisa mais bela que as duas já tinham visto na vida.

– É tão... – A princesa não sabia o que dizer – Quem foi que fez?

– É um presente – Mirhima dissera

– Seu? – A olhou surpresa – Por Allah... não preci..

– Lá, lá! – A outra negou com as mãos – É um presente de sua mãe – Revelou

Amber sentiu seu coração apertar. Sentia muita falta da mãe.

– É claro... – Ela falou como se não esperasse menos de Safira, como se soubesse que não importava onde e com quem a filha estivesse, não importava com quem a filha se casasse, Safira sempre se faria presente na vida dela.

Então Mirhima vendo a princesa emocionada se prontificou a retirar o objeto da caixa e como já era de se esperar as duas viram o imenso véu vermelho repleto de pontos de diamantes ocupou quase todo o lado onde elas estavam.

E então a ajudou a colocar o véu preso na coroa de rubis e a princesa ao se olhar no espelho soube que nunca ficaria tão linda quanto naquela noite. Amber não podia acreditar que era possível.

– Veja – Mirhima a entregou um pequeno papel que caíra junto ao tecido – Há um bilhete.

A princesa logo o abriu e começou a ler as poucas palavras que haviam ali. Poucas palavras que para ela significaram muito.

"Minha Zhara... flor do meu jardim, há muitas coisas nesta vida que ainda precisa aprender e receio que eu tenha a protegido demais. Não foi por mal, é claro. Mas agora que está longe dos meus abraços e de minha proteção sinto que eu precisava ter te preparado para o mundo, a preparado para os caminhos inesperados que Allah nos leva. Estou escrevendo com o coração muito apertado, pois sinto que algo acontece a você e tenho minhas mãos atadas aqui a milhares e milhares de grãos do deserto de você. Não sei o que se passa, mas quero que seja forte. Quero que seja a mulher que eu tentei criar, a mulher que embora desconheça muito da vida, sabe muito de como se portar perante todos, sabe se comunicar, sabe ser do lar e do povo. Sabe dançar, cantar. Sonhar alto, como ninguém ousa fazer.
Seria burrice se alguém não a enxergasse como excepcional.

Imagino que hoje seja o dia de seu casamento, embora eu esteja escrevendo isso muitos dias antes. Este véu era de sua avó Haya, e um dia foi meu. Quero que o use, como herança da família. Para que possa sentir minha presença de alguma forma e para que se lembre que sempre estarei aqui por você.

Seja feliz, Amber. Seja feliz.

Ass. Mama Safira"

Os olhos de Amber se inundaram de lágrimas, era como se o desespero que sentia pudesse se esvair por todo seu rosto. Respirava profundamente tentando conter suas emoções, mas era em vão. Precisava chorar. Precisava chorar muito.

*

Fátima andava de um lado ao outro do salão impacientemente. A todo instante olhava para as portas que separavam o restante do castelo negro do ambiente em que estava pra acontecer a cerimonia. Pensava que se ainda não havia enfiado as unhas na pele dourada de Amber estava prestes a fazê-lo indo até seus aposentos e tratar de arrastá-la até o salão.

– Ela está muito atrasada – Reclamou – Não é auspicioso uma noiva se atrasar tanto.

– Não é auspicioso reclamar em um casamento, mama – Samira lhe censurou – Ela já deve estar vindo, tenha paciência. Parece até que é a senhora quem vai se casar, por Allah!

Fátima destinou um olhar de quem não queria ouvir aquelas coisas e tornou a caminhar pelo salão, tentando se esquivar da vontade de sair atrás da princesa. Por fim, acabou permanecendo na campainha de alguns governantes o restante da festa, deixando que ao menos naquela noite Amber ficasse em paz.

Aziz por sua vez conversava com o almuadem com certa animosidade. Era difícil saber ao certo o que tanto falavam mas o assunto parecia ser leve e instigante o suficiente para que os dois sequer notassem a demora da princesa. O futuro imperador havia ficado mais calmo conforme o tempo passava e os convidados iam o cumprimentando e desejando boas novas para o seu império e para o casamento. Era um dia duplamente importante. Se tornaria oficialmente imperador de todo o reino e marido da mulher mais bela e teimosa que já havia conhecido em sua vida. Porém, o que deixava Aziz triste era que apesar de saber o que sentia por Amber, sabia que o sentimento não era recíproco.

– Aziz... – A irmã chamou sua atenção em um perfeito sussurro. – Ela chegou.

E então ele se virou para olhá-la e ignorou todas as vezes que havia dito que era ela bela. Porque nenhuma chegaria perto da magnitude da beleza de Amber vestida de noiva. Sua noiva. Sentiu o coração acelerar e instantaneamente as mãos suarem por puro nervosismo.

A princesa chegara acompanhada de Mimi, que já havia se misturado aos outros convidados e agora estava Amber ali sozinha do outro extremo do salão, prestes a caminhar sobre o estonteante tapete de pétalas de rosas que a levaria até ele.

O fino véu que escondia seu rosto não era capaz de disfarçar o quanto era bonita, o quanto ele a achava bonita. O quanto aquela versão de Amber ficaria guardada em sua mente pelo resto de sua vida.

Então ela caminhou e caminhou até que poucos passos os separavam. Entregou o pequeno buquê de flores brancas a Samira e se posicionou ao lado de Aziz olhando atentamente para o almuadem.

– É com grande alegria que os recebo aqui – O almuadem disse em alto e bom tom para que todos ouvissem – Este jovem casal se unirá hoje e todos nós somos testemunhas da alegria de Allah em vê-los a caminho do matrimônio. – Dizia sorridente enquanto todos pareciam concordar em silêncio com suas palavras.

Amber e Aziz então se ajoelharam nas almofadas postas no chão e assim receberam as bençãos de Allah através do almuadem. Embora o sermão tenha durado quase uma hora, nenhum dos dois havia prestado atenção o suficiente até precisarem falar.

O momento da troca de alianças havia chegado e os dois se puseram frente a frente já em pé.

– Repitam comigo – Ele disse – Eu Aziz Ibrahim, desposo você Amber Al-amim Manum como minha legítima esposa...

– Eu Aziz Ibrahim, desposo você Amber Al-amim Mamun como minha legitima esposa – Ele repetia as palavras enquanto seus olhos buscavam qualquer emoção que ela pudesse passar sobre o véu – Com esta aliança eu te entrego o meu coração e o meu reino. – Disse por fim, pegando a mão esquerda da princesa e deslizando o anel sobre o dedo.

Amber repetiu as mesmas palavras para Aziz.

– Te entrego essa aliança, como sinal de minha devoção e lealdade. – Disse colocando o anel no dedo de Aziz. Sua voz era quase falha nesse momento e se esforçava muito para que não lhe faltasse o ar.

— Eu vos declaro, marido e esposa. – Disse sorridente e logo continuou – Agora, as coroas – O almuadem informou e imediatamente os servos trouxeram as duas coroas que seriam usadas por eles. – É chegado o momento, senhores! – Disse aos convidados – Saúdem o imperador e a imperatriz! Saúdem seus soberanos! – Disse outra vez, muito mais alto que antes.

—Viva os soberanos, vida-longa ao imperador! — As saudações era ouvida por eles.

Assim como mandavam as tradições, Aziz recebera sua coroa, deixando de lado o turbante que escondia seus cabelos ruivos. Logo ele se virou para Amber que ainda aguardava a sua vez e delicadamente ele retirou o véu de seu rosto e a coroou, deixando que joia enfeitasse sua cabeça com a maestria que merecia e novamente sentiu seu coração acelerar.

Amber o fitava profundamente, sem exprimir qualquer emoção. Apenas o olhava, encarava, admirava talvez. O que fez Aziz engolir seco e desviar o olhar para os convidados que igualmente os encaravam a espera.

Então Aziz pegou a mão de Amber a fazendo acompanhá-lo sobre o tapete de flores enquanto passavam por entre os convidados. Queriam vê-los, queriam que o mundo visse os mais novos soberanos do império. Assim saíram na sacada, e embora não houvesse uma multidão muitos haviam ido prestigiá-los.

Durante toda a festa, aquele foi o único momento em que Amber verdadeiramente sorriu.

*

Eles não dançaram, mas pudera com o peso dos adornos em suas cabeças e o tamanho exacerbado do véu e do vestido de Amber era quase impossível se locomover ser fazer esforço. Cumprimentaram muitos convidados, comeram diversos quitutes e deliciosos doces de figo. E ao fim da noite se despediram de todos.

Não trocaram muitas palavras, exceto o necessário. Ao menos até aquele instante. Caminhavam lado a lado seguidos por alguns criados em direção ao quarto de Aziz. Ao quarto deles. Amber sabia o que aconteceria naquela noite, e por mais que quisesse fugir sabia que não era uma opção.

Assim eles adentraram aos aposentos e ela sequer acreditou no que viu. Os tons escuros e sombrios do quarto haviam dado lugar a inúmeros véus coloridos que cobriam o teto. As almofadas eram bordadas em multicores e haviam velas perfumadas espalhadas por todo o chão. Um incenso com aroma de amoras silvestres fora colocado no ambiente e a baixa luz tornava tudo mágico.

Amber arfou, estasiada com aquilo tudo.

– Sinto muito pela festa, a rainha não cedeu aos meus pedidos quanto as cores da cerimonia – Ele disse logo atrás dela – Pensei que se sentiria melhor se dormisse em um lugar que lembrasse sua casa.

– Não é mais minha casa – Ela comentou ainda observando os detalhes.

– Sempre será, mesmo que não seja. – Ele retrucou – Precisa de um momento? – Perguntou e Amber notou sua voz quase tremer.

– Preciso de ajuda com o vestido – Ela se virou por fim, para olhá-lo – É muito pesado e não consigo tirar sozinha. – Disse explicando – Mas eu não..

Ela não sabia como dizer que não estava pronta.

– Eu não vou te tocar, Amber – Ele lhe respondeu como se lesse seus pensamentos – Nunca te tocaria sem a sua permissão. – Disse e os olhos verdes dele mostravam que era verdade. – Vire-se.

Ela apenas assentiu concordando e se virou. Primeiro Aziz desprendeu o véu da coroa, e então tendo o tecido caído em seus pés colocou-se a desabotoar os botões negros do vestido. Um a um, vagarosamente. Até que o mesmo caíra junto ao véu no chão, formando um mar vermelho em seus pés. Amber podia ouvi-lo suspirar, controlar cada toque. Restara então apenas o espartilho que diferente de tudo, era branco. Assim como a cinta liga e as finas meias que usava.

– Consegue tirar sozinha? – Ele questionou e obteve um gesto de negação com a cabeça como resposta.

Desse vez, Aziz arfou.

Desfez então o laço do espartilho e afrouxou uma a uma das amarrações, até que a pele dourada de Amber já podia ser tocada por seus dedos e vislumbrada por seus olhos.

Amber sentiu o espartilho cair, e o arrepiar de seu corpo ao ficar tão exposto daquela maneira. Estava de costas mas sentia que Aziz a observava.

– Shukran – Ela disse baixinho se abraçando numa tentativa falha de se esconder.

Ouviu então ele se afastar, tendo seus passos um pouco mais distantes dela. Ouviu o abrir de uma gaveta e o fechar da mesma e logo estava ao seu lado. Teve de olhá-lo, não tinha escapatória.

Levantou o olhar para encontrá-lo segurando uma finíssima camisola de cor escura como a noite, enquanto estendia a mão para que ela a pegasse.

– É sua, há muitas outras em suas coisas nos armários. – Ele explicou – Vista-a, se sentira melhor. Fará frio esta noite. – Falou ao mesmo tempo que se virou para que não pudesse vê-la nua.

Amber o viu caminhar para dentro do lavabo e sumir por vários minutos. Sentou-se na cama, o móvel estava muito mais colorido que um dia jamais fora. E então estando ali sozinha no quarto Amber pensou. Pensou em tudo.

Ainda estava muito aflita, seu interior muito ferido e machucado. Seu coração tomado por mágoas e remorso por tudo o que fizera antes de estar ali. Por Allah, sentia até arrependimento por ter dito a Aziz que faria da vida dele um inferno. Havia sido cruel com ele tantas vezes.

De todo modo, embora seus pensamentos se ocupassem em mantê-la distraída o frio que sentia em sua barriga só indicava que estava cada vez mais nervosa. E ao olhar outra vez para a cama ruborizou ao imaginar o que aconteceria ali. Não era inocente a ponto de não saber, mas era inocente demais para saber como começar.

Logo Aziz retornou a fazendo olhá-lo outra vez. Ele já vestia um traje muito mais leve também, igualmente escuro como a sua camisola. Carregava uma bacia com água quente e um pequeno vaso, que Amber supôs ser henna pela coloração vermelha escura.

– O que..? – Tentou questionar não entendendo o que ele planejava fazer.

– Não faça perguntas, Amber. – Ele disse a calando, embora não tenha falado de modo grosseiro.

Assim Aziz se ajoelhou aos pés dela, retirando as meias enquanto seus dedos deslizavam delicadamente por suas pernas. Mergulhou os pés dela na bacia até que os dois fossem completamente lavados e perfumados pela água com rosas. Ele os secou e por instantes ao levá-los ao encontro de seus lábios Amber sentiu um calafrio em sua espinha.

Ele havia beijado seus pés, ela não acreditara naquilo.

E então inesperadamente ele se sentou no chão, trouxe para perto o vaso de henna e outros utensílios que ela não havia visto e pôs um dos pés dela sobre seu colo. Parecia pensar muito antes que pudesse começar a falar.

– Uma noiva sem pinturas no corpo, não é uma noiva feliz. – Ele disse finalmente a olhando – Não quis nenhuma cerimonia, não quis nenhuma dança ou joias de presente. Você não quis nada, eu respeito isso. Mas você não está feliz, e eu sei disso também. E isso me dói.

– Aziz.. Eu... – Ela engoliu seco ao ouvir aquilo.

– Me deixe terminar... por favor – Ele pediu com as esferas verdes suplicantes – Eu não me perdoaria se um dia se lembrasse deste dia como o pior de sua vida. Uma noiva precisa de suas hennas, precisa se lembrar das alegrias que viveu até aqui e do quanto é grata pela prosperidade e fertilidade que lhe foram dadas por Allah. – Ele continuou vendo que ela o olhava sem saber o que dizer – Uma noiva precisa de pinturas – Repetiu e ela acenou concordando por fim, fazendo um breve sorriso surgir em seus lábios.

Ela entendia o que ele queria dizer. Culturalmente as pinturas significavam muito mais que belos desenhos nas mãos e pés. Envolviam família, laços e sangue. Carregavam promessas de um bom futuro.

– Onde aprendeu? – Questionou e ele a olhou confuso – Onde aprendeu a pintar? – Disse explicando sua pergunta.

– Samira – Ele respondeu dando de ombros – Passei muito tempo com ela durante a infância, acabei por aprender muitas coisas. – Explicou e ela pareceu concordar em silêncio.

Logo o primeiro risco foi traçado no dorso do pé da princesa, e então mais outro e outro até que os riscos começaram a dar lugar a desenhos. Flores, mandalas, folhas e arabescos. Era lindo, perfeito Amber diria. Assim ele fez no outro pé padronizando os dois que juntos se completavam. Por fim, mergulhou os pés de Amber no pó brilhante que acabou por fazer cócegas nela.

— Aziz tenho cócegas, pare! — Pediu quando já não podia controlar suas risadas. Ele não pode evitar de rir também.

Era a primeira vez em dias que ela ria.

— Porque fez isso, Aziz? — Perguntou quando finalmente recuperará o fôlego que faltara embora ainda risse um pouco. A pergunta cabia a muitas interpretações, mas ele sabia o que ela queria saber.

Primeiro um sorriso, depois uma risada. Parecia um bom caminho a ser traçado. Aziz então colocou os pés de Amber no chão novamente, mas continuou ajoelhado em sua frente mesmo tendo terminado os desenhos. Ele a olhava, parecia tentar gravar suas feições na memória, e então disse:

– Eu vou passar a vida te amando, Amber. Mesmo que você passe por ela encontrando motivos para me odiar. – Disse com a voz embargada, enquanto ela arregalava os olhos com a declaração – Eu não vou te tocar, nem hoje, nem amanhã ou qualquer outro dia. Não até que você peça. – Ele disse outra vez para que ela tivesse certeza.

E então se aproximando da cama, com a pontinha aguda do pincel de henna cortou a palma de uma das mãos e deixou que o sangue dele manchasse o lençol da cama.

– Aziz... – Ela observava aquilo colocando as mãos sobre a boca que abrira em completa surpresa.

Ele a amava, nunca precisara tocá-la para saber. Mas a família, os governantes, o povo desejava ver a prova da verdadeira devoção de Amber para com ele. E dele para com o seu povo. Na manhã seguinte quando a janela do quarto estampasse o lençol manchado com o sangue todos saberiam que o casamento estava consumado, mesmo que não passasse de uma bela mentira. 

Capítulo enorme e cheio de emoções... Vocês gostaram? 

Eu estou amando escrever a história de Amber, ela é cheia de contradições, de sentimentos inexplorados e repleta de momentos inesquecíveis. Ela é durona e frágil ao mesmo tempo, né? E Aziz uma manteiguinha derretida, as vezes quero colocá-lo em um potinho, haha.

Comentem bastante... quem sabe eu solto +1 capítulo ou um bônus... <3

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