Capítulo X
A abaya verde-oliva se arrastava pelo úmido do calabouço, os passos lentos e precisos a levavam até a última cela do subterrâneo. Amber não havia fechado os olhos durante a noite e assim que o sol raiou no horizonte indiano decidiu que precisava ver Robert.
A falta de iluminação deixava o ambiente frio e a princesa precisou abraçar seu próprio corpo numa tentativa de se aquecer, imaginava o quanto o amigo estava sofrendo ali em naquele lugar.
– Preciso vê-lo – Ela disse ao parar na frente do guarda que vigiava a cela.
– Tenho ordens para não deixá-lo receber visitas – Ele respondeu
– O que? – Ela exclamou – Ordens de quem?
– Sheik Said, princesa – O guarda disse, o que fez o sangue de Amber ferver.
– Me deixe passar – Ela insistiu – Vamos! Me deixe passar – Dizia enquanto tentava tirar o homem de sua frente.
– Senhorita – Ele falou – Estou cumprindo ordens. Não posso permitir que o veja.
– Isso é um absurdo! Eu sou a princesa deste reino! – Gritou histérica – Estou ordenando que me deixe passar!
– Senhora..
– Deixe ela entrar, Rubens – Safira interveio, aliviando a alma da filha que suspirou ao ouvir sua voz. – Você tem alguns minutos, Amber. Depois voltará comigo e conversaremos com seu pai e nossos infelizes visitantes – Disse com certo desgosto em sua voz.
Amber concordou com a cabeça e não deixou de exprimir seu costumeiro riso cínico para o guarda que finalmente destrancou a cela e permitiu que ela entrasse. Seu coração apertou ao ver Robert jogado no canto da cela escura, suas vestes estavam rasgadas e o rosto inchado pelas agressões que ele sofrera pelos homens de Abdul. A princesa imediatamente colocou as mãos na boca para sufocar um grito de horror, a face do amigo estava ainda pior naquela manhã.
– Robert – Chamou o amigo que dormiu profundamente – Robert... – Chamou outra vez até vislumbrar o azul dos olhos do amigo
– Amber... – Ele sussurrou fracamente – O que faz aqui? Este lugar não é para você. – Disse em meio a uma tosse rouca.
– Oh Robert... eu sinto muito, se eu tivesse te escutado... – Se lamentou – Abdul foi preso também, o levaram para ser julgado pelo conselho indiano. – Comentou com certa preocupação.
– Então ele logo voltará a andar pelas ruas do comércio – Disse com desdém – Enquanto eu apodrecerei nesse calabouço – Suspirou cansado fazendo careta pela dor que sentia em seu rosto inchado.
– Eu vou falar com meu pai – Amber disse – Eu tenho certeza que ele vai tirá-lo daqui... você só estava tentando me proteger... confie em mim, você verá o sol muito em breve. – Se abaixou próxima a ele segurando firme em suas mãos – Eu prometo, Robert. – Disse olhando em seus olhos
– Não faça promessas que não pode cumprir, Amber – Disse exprimindo um riso fraco – O turco te levará em breve e não há nada que eu ou você podemos fazer. Eu não sairei daqui e você irá embora. – Falou e Amber sentiu a mágoa presente na voz do amigo.
A princesa sabia que não deveria prometer para ele a liberdade, o conselho indiano era muito rígido e por vezes leviano em suas punições, e se tratando de um mero joalheiro contra um dos principais líderes da Índia era quase impossível que Robert fosse inocentado, mas Amber sabia que precisa tentar. Devia isso a ele.
– Eu não irei com aquele turco, e você saíra daqui – Ela disse acarinhando levemente a face dele. – Confie em mim, Robert. Você sempre confiou... eu vou tirar você daqui. Abdul não sairá ileso disso tudo, eu tenho certeza... ele fez errado... eu não sei como pude ser tão cega... mas agora isso já passou e eu posso fazer algo para te ajudar... - Falava nervosa - Meu pai vai entender, ele falará com o conselho... eles vão te soltar...
– Amber... – Ele disse retirando a mão dela de seu rosto – Vá embora, saia daqui. Não quero mais ouvi-la – Disse rudemente causando estranheza na princesa.
– O que? Mas... – Disse sem entender a reação dele – Eu estou tentando ajudar Robert... não me trate assim.
– SAIA! – Ele gritou fazendo-a perder o equilíbrio que a mantinha aguachada e cair no chão frio da cela
– Robert... – Sussurrou assustada se limpando da lama que havia expirrado em sua pele com a queda.
– SAIA AMBER! – Ele gritou outra vez – EU TE AMO, SUA TOLA! EU TE AMO E NUNCA PODEREI TE TER! – Ele bravejou enquanto as lágrimas molhavam seu rosto assim como as esferas douradas de Amber já estavam embaçadas com o peso de suas próprias lágrimas. – SAIA!!!! EU TE ODEIO! VÁ EMBORA!
A gritaria chamou atenção dos guardas que rapidamente entraram na cela encontrando a princesa no chão e Robert visivelmente alterado. Os homens então a retiraram da cela e não pouparam suas formas para manter o joalheiro preso em seu devido lugar.
O coração de Amber palpitava freneticamente e mal conseguia exprimir qualquer palavra, não sabia se estava mais assustada pela versão raivosa de Robert ou se porque finalmente a ficha havia caído, o amigo a amava como mulher. Ele realmente a amava e a odiava. Para o joalheiro a garrafa nunca foi o pretexto para o início de um amor, ele já amava Amber a muito tempo.
– O que está acontecendo? O que é isso? – Said entrava no salão principal ao mesmo tempo que os guardas carregavam Amber no colo, embora estivesse acordada estava desorientada o suficiente para que fosse necessário ser levada por eles. – Podem me explicar porque carregam a princesa? – Perguntou cruzando os braços a espera de uma explicação enquanto os guardas sentavam a jovem em uma das poltronas.
– Amber querida! – Safira que passava pelo salão vendo a filha quase desacordada correu em direção a ela se ajoelhando em ao lalo da poltrona. A mãe conferia se não havia algum arranhão ou machucado na princesa examinando detalhe por detalhe da pouca pele visível de Amber – O que houve, minha filha? – Preocupada
– Robert... – Ela disse sentindo a voz embargar – Ele me odeia mama! – Revelou se entregando ao choro ao mesmo tempo que Safira a acolhia em um abraço – Ele vai me odiar para sempre...
Said tomado pela sua costumeira falta de paciência bufou vendo a cena entre as duas o que chamou a atenção delas para si. A visível feição irritadiça do pai fez Amber se encolher enquanto como se já esperasse por isso Safira apenas revirou os olhos para o marido.
– Seu futuro marido está nos jardins Amber, ele e a família desejam que se junte a eles no desjejum. – Informou calmamente, embora o desgosto fosse quase palpável a cada palavra que saía de sua boca.
– Desde quando virou criado para dar avisos, Said? – Safira disse desafiadora recebendo um olhar gélido dele.
– Safira... – Disse o nome dela como em aviso para que se calasse.
– Já que está se prestando a esse papel, avise os turcos que ela não irá. – Falou já alterando sua voz de calma para irritada – Amber descansará durante a manhã, vamos querida – Disse ajudando a princesa a se levantar.
– Não me desafie, Safira – Falou vendo as duas darem as costas para ele.
– Não me desafie você, Said. – Ela o respondeu – Comece a agir como o sheik que é ou então estaremos em ruínas. Do contrário, não será mais o homem com quem me casei – Disse como um último aviso antes de sumir pela escadaria acompanhada de Amber.
A princesa se sentia culpada pelos atritos que haviam surgido entre os pais, foram raras as vezes durante a sua vida que viu Said e Safira discutindo e mais raras ainda quando a mãe ousava falar daquela maneira com ele, como se não tivesse medindo as consequências de desafiar o próprio marido. Era haraam, Amber havia aprendido isso.
– Mama... – disse ao chegarem no quarto laranja – Porque falou com papa daquela maneira? Não tem medo? – Perguntou confusa o que fez Safira a olhar confusa
– Seu pai passou dos limites com você e está agindo como um párea na frente daqueles malditos vermelhos. Alguém precisa dizer a verdade na cara dele e a única que tem essa coragem sou eu. – Explicou – Não tenho medo de Said, ele jamais ousaria me punir por contestá-lo.
– Eu terei mesmo que ir com eles? – Questionou vendo a mãe suspirar profundamente
– Temo que sim, habib – Disse com certa tristeza – Há coisas que não podemos impedir, coisas que são muito maiores que nossos próprios desejos. Embora eu pense que deveríamos tentar impedi-los, sei que Fátima tem cartas na manga... o que aconteceu há vinte anos não tem perdão para nenhum dos lados. Os reinos já sofreram demais, o povo não aguenta outro massacre.
– Então...?
– Me prometa que governará com sabedoria, querida – Disse fazendo Amber entender que mesmo não querendo teria que partir para o Império Vermelho – Me prometa Amber, prometa que não machucará os inocentes e que protegerá sempre os mais fracos. Os otomanos têm alianças perigosas com os reinos ocidentais, há guerras acontecendo neste momento e doenças devastando aqueles povos. Você precisará ser forte e inteligente.
– Eu pensei que... não sabia que eu governaria, mama. – Disse sem entender.
– O sistema de governo otomano é diferente do nosso, assim que se casarem você e Aziz se tornarão altezas imperiais, e por sua linhagem ser longa será sultana e imperatriz. – Disse fitando os olhos da filha – Muito poder recairá sobre você, Amber. Não há mais tempo para brincadeiras, festas e danças.
Foram interrompidas por batidas na porta, que logo revelaram a cabeleira ruiva de Aziz.
– Posso entrar? – Questionou fazendo Safira se lembrar da cena que vivera com Said anos antes.
– Não deveria entrar no quarto da princesa sem devida autorização, senhor Aziz. – Disse em tom irônico – Os guardas estarão do lado de fora, se ousar encostar em minha filha pode se considerar um homem morto. – O ameaçou – Eu volto depois habib, para ajudar a arrumar suas coisas – Disse para Amber e logo se retirou dos aposentos da filha.
Aziz engoliu seco observando ela sair pela porta de madeira escura e então voltou a olhar em direção a Amber se aproximando da cama da princesa.
– Posso me sentar? – Perguntou elevando a sobrancelha
A princesa apenas se limitou a concordar com a cabeça.
– Não vai falar? – Disse risonho – As boas línguas deste palácio me informaram que a senhorita é o que traz vida e cor a esta imensidão dourada. – Falou fazendo a princesa quase revirar os olhos.
– Olha só, senhor Aziz – Disse em tom debochado – Não sei o motivo que o fez se meter onde não foi chamado, a minha cerimonia da garrafa estava totalmente sob controle e você estragou tudo.
– Isso não é verdade – Ele rebateu – Mas a senhorita sabe disso, apenas quer me culpar pelas consequências de seus próprios erros.
– Não se meta na minha vida, nada do que aconteceu comigo lhe diz respeito! – Ela retrucou
– Na verdade... – Ele ponderou – Desde ontem tudo o que lhe acontece me diz respeito... todos os seus passos me dizem respeito, até mesmo a sua visita ao calabouço é de meu interesse. Se deitou com aquele homem também? Os gritos dele deixaram muito claro que já tiveram algo – Questionou se referindo a Robert – Seria bom me avisar com quantos esteve na cama para que eu possa me livrar de todos eles antes que a sua reputação destrua a da minha família. - Eu salvei o seu reino da ruína, princesa. O mínimo que exigo de você agora é respeito, se encontrar com prisioneiros não cai bem para uma futura imperatriz.
- Robert é um homem muito melhor do que você - Disse já trincando os dentes.
- Uma pena que não será ele a se casar com você, não é mesmo? Nenhum homem será capaz de lhe dar o que te darei, nenhum outro faria o que eu fiz! - Disse no mesmo tom.
– Você se acha muito não é mesmo? – Disse se levantando da cama e colocando as mãos na cintura – Saiba que eu farei da sua vida um inferno, vou fazer você se arrepender todos os dias por ter quebrado aquela garrafa! – Gritou exprimindo o que já vinha guardando dentro de si mesma. – Eu vou fazer você chorar sangue, vou fazer você implorar para que eu vá embora e sabe o que vai acontecer? Você vai morrer esperando, porque eu não vou me retirar até que você esteja humilhado o suficiente para retirar cada insulto que destinou a mim.
– É isso o que veremos, princesa – Falou se levantando também, parando muito próximo a ela fazendo com que seu hálito mentolado batesse contra a face da princesa quase a tirando de seu foco. – É o que veremos – Repetiu se retirando do quarto batendo a portas deixando Amber em sangue quente repleta de fúria.
– SEU TURCO MALDITO! – Gritou ao vê-lo sair, se jogando na cama irada com a petulância de Aziz.
Parecia então que o futuro imperador tinha herdado mais do que os cabelos ruivos da rainha, era destemido e ousado o suficiente para dizer aquelas coisas a Amber sem se importar com as consequências. Embora fosse centrado, calmo e pensasse muitas vezes antes de falar algo naquela manhã havia atingindo algo nele, um sentimento que ele ainda desconhecia e o desconhecido fazia Aziz perder o controle sob suas ações. O sol estava em seu ponto mais alto do dia e as confusões haviam apenas começado.
Eita que esse povo é nervoso viu kkkkk
É gritaria e confusão nas terras indianas... será que piora ou melhora?
Espero que estejam gostando, deixem seus comentários!
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