Capítulo 4: A grande tragédia de Jordan Mackey
“I only got this life
And I ain't got the time
To not to get it right.”
Jordan Mackey estudou comigo desde sempre, ou, ao menos, desde quando me lembro. Seus pais eram poderosos magnatas que tinham monopólio sob mais da metade de Salém. Jordan sempre pareceu meio incomodado com sua própria riqueza o que soava um pouco inapropriado.
O garoto de cabelos escuros, pele bronzeada e olhos de um azul cinzento, tinha tudo pra ser o mais popular da escola, mas sempre se sentiu como um peixe fora da água, sempre em reclusão, lentamente ele percebeu que ele não conseguia se conectar com o exterior por estar desconfortável com seu interior.
Com 12, ele se entendeu como um garoto trans e aos 14 começou sua transição hormonal. Ele foi o centro das atenções — negativas — por ao menos 2 semanas. As pessoas não conseguiam entender sua “mudança”, mas como tudo em Salém, não durou muito mais tempo.
Savannah e Jordan se conheceram numa aula de cerâmica. Eles ficaram inseparáveis depois que o garoto começou um protesto contra a antiga diretora hiper-conservadora de nossa escola que não permitia que o garoto usasse o banheiro com que se sentia mais confortável, Savannah foi sua principal apoiadora. Ele confiava nela cegamente e eles estavam sempre dispostos a enfrentar seja lá o que fosse um pelo outro, quase como Amber e eu.
Jordan enfrentou tempos difíceis se adaptando em Salém. Embora a caça as bruxas tenha ficado no passado, os moradores não aprenderam com os erros de seus antepassados e não são tão receptivos quanto ao diferente e fora do convencional. Mas, eventualmente, ele encontrou pessoas que o acolheram. Amber nunca foi uma delas.
— Você… — Savannah o encarou — Você a matou…?
— Deus, não! Não! Você sabe que não seria capaz. Eu sai de casa um pouco atrasado, perdi a carona de Aspen e decidi ir andando, foi aí que a vi. Mas, mal encostei um dedo nela!
— Bom, é que… É… Eu não te julgaria sabe… Tipo… Mas, hum, estou aliviada que não a matou.
— Encontrei Amber completamente ensaguentada, ela estava muito machucada, ela trombou comigo e por isso essa mancha de sangue… — então, Savannah desceu os olhos para notar que ele realmente estava usando o terno que escolheram, um Versace vintage customizado agora manchado com um grande ponto vermelho. — Ela implorou por ajuda, estava fugindo. Alguém… Não consegui enxergar direito mas… Eu só me lembro dos olhos… — Jordan respirou fundo antes de continuar — Um verde intenso. Alguém a levou e suponho que foi a mesma pessoa que a machucou.
— Ok, então, precisamos ir na polícia.
— Não! Não! E se eles pensarem que a machuquei?
— Você não sabe se ela está viva ou morta, talvez ela ainda esteja viva e sendo torturada. Jordan… Pelo bem dela, você precisa fazer isso.
— Savie… Eu… Não posso. Você sabe o que eles fazem com pessoas como eu na cadeia? — ele pergunta, realmente desesperado.
— Olha… Faremos assim. Toma um banho, vou botar essa blusa pra lavar, ainda tenho algumas roupas de meu tio aqui... Ocultaremos qualquer vestígio que faça parecer que você a machucou, apenas diga que viu a Amber sendo machucada, é uma forma de avisar sem te prejudicar.
— Acho que eu consigo fazer isso.
Estava jantando com minha mãe, em completo silêncio, com exceção do barulho dos talheres batendo no prato. O cheiro de canela nos envolvia. Ela estava sóbria agora, sabia por conta de sua expressão: tensa e ressabiada, ressaltando os pés de galinha em seus olhos e as linhas de expressão em sua testa. Uma vez ela me contou como se sentia sóbria, “Quando bebo”, disse ela, “é como se finalmente percebesse o mundo com suas cores, mas sóbria é… É solitário.”
— Você ainda vai ao baile? — ela perguntou, olhando pela janela. — Está garoando.
— Acho que melhora até amanhã. É só uma chuva de verão… Mas, hum… Não sei se vou. Com a Amber sumida, é meio sem sentido.
— Ela só deve ter fugido com algum garotão, sabia que ela acabaria assim. Aquela garota é a definição de problemática. — ela comentou, de boca cheia, após dar uma garfada no frango temperado.
— Acho que de problema, a senhora entende, né, mãe?
Ela apenas me encarou por alguns segundos, sem piscar. Abaixei a cabeça, sentindo que um sermão hipócrita se anunciava.
— Sabe, Georgia, eu penso que você prioriza muito pessoas que não fariam o mesmo por você. Veja, você está só. Sem a melhor amiga com quem brigou tanto comigo sobre. — ela fala isso impiedosamente, sua voz soa suave, mas suas palavras afiadas como espinhos. — Ela fugiu e te deixou sozinha.
— Você não sabe disso, não sabe o que aconteceu.
— Ah, eu sei, sim, eu sei. Eu conheço bem o tipo dela, sempre manipulando e se fazendo de vítima, mas é a primeira a fugir e abandonar. Você a ama, mas para ela você sempre foi apenas alguém que ela poderia deliberadamente usar. Eu gostava mais quando você era amiga da Savannah. Muito mais.
Erin levantou da mesa como um vendaval, suas palavras ecoavam pela cozinha, eu fiquei calada durante mais alguns minutos, sentada, apenas absorvendo o que ela havia dito, mas suas últimas falas foram as que me deixaram pior. Alguém que ela poderia deliberadamente usar.
Savannah dirigia, seus olhos focavam na estrada, mas sua mente estava viajando por pensamentos contraditórios. A garoa gradualmente engrossava, a surpreendendo, e o soar da chuva no carro se misturava com as fungadas que Jordan dava no banco do carona. Eles estava encolhido, como um bebê e não parava de chorar, num claro desespero.
— Calma, calma… Vai ficar tudo bem. – Savannah acariciava sua mão, sabendo que não teria muito efeito, mas tentando ser o elo otimista entre eles dois.
— Espero que ela não esteja morta. Só isso.
Os dois chegaram na delegacia por volta das nove da noite, os pais de Jordan já haviam sido acionados, os Mackey se mostraram desesperados com a situação.
— Ok, garoto. Agora diga novamente, o que foi que você viu?
— Uma garota… Da minha classe, eu a vi completamente machucada, sendo perseguida por um homem.
—Ok, rapaz… Isso é algo muito sério, não está brincando, está? — a senhora o perguntou, cética.
— Estou falando a verdade, eu só preciso fazer essa denúncia, é minha responsabilidade.
— Onde foi que você a viu?
Savannah se afastou do amigo por alguns segundos, ela observou atentamente um quadro de notícias, denúncias, avisos e comunicados na delegacia. De um lado, o retrato falado de um homem perigoso, a foto dizia que ele já havia matado quatro garotas e ainda não havia sido pego, ele já havia atacado em cidades vizinhas a Salém. Gordon, era seu nome.
Ela ficou lendo outros cartazes, garotas desaparecidas, avisos de golpes e cartazes de outros procurados.
Savannah estava distraída quando Dakota e o resto dos Luo-Johnson chegaram tempestuosamente na delegacia vazia. A morena tremeu, como se eles tivessem poder sobre ela. Dakota com seus cabelos escuros, sobretudo preto, pele pálida e lábios vermelhos parecia uma vampira pronta pra estraçalhar qualquer pessoa que entrasse no caminho dela, mas seus pais pareciam apenas assustados e preocupados.
A garota morena andou até eles.
— Senhor e senhora Luo… Dakota… Espero que fique tudo bem, viemos apenas relatar o que Jordan viu mas… Bom, espero que vocês possam achá-la. – Savannah soou convincente, mas não pôde deixar de notar o olhar de consternação que Dakota estava direcionando-lhe.
— Obrigado, jovem. Não sabemos exatamente oque está acontecendo, mas esperamos resolver logo esse problema. — o senhor Johnson respondeu. Savannah juntou suas sobrancelhas em dúvida do que exatamente o homem estava falando.
— Amber sempre foi um pouco problemática, mas dessa vez ela se superou. – Dakota reclamou.
— Desculpe…? Vocês não sabem o que Jordan testemunhou? Amber estava sendo machucada, quem sabe o que mais…
— O que disse? Machucada? — a senhora Johnson perguntou, seu rosto se contorceu numa expressão apavorada, uma expressão que só uma mãe preocupada poderia ter em seu rosto. — Mas… — ela olhou para seus familiares, parecendo em dúvida, Savannah foi até a recepcionista e a família andou junto a ela. — Quando foi isso? Onde? Ele sabe quem a machucou?
— Bom, a senhora deveria falar com ele… Sei apenas o que já disse. – Savannah afagou o braço da senhora Johnson — Eu espero que achem Amber, ela… Ela não merece nada disso.
Estava sentada na minha cama, meu velho notebook estava aberto no chat do WhatsApp, estava falando com meu chefe. Ele me alertava sobre o fato de eu precisar trabalhar em dobro no próximo fim de semana pela falta nos dias da formatura e do baile. Apenas concordei e agradeci pela compreensão mesmo revirando os olhos.
Me deitei na cama particularmente frustrada com meu dia. Sim, eu havia sido a oradora da turma, sim, eu havia dado um ótimo discurso e eu me sentia feliz por isso, mas a falta de Amber me deixava sentindo como se uma parte de mim estivesse andando solta por aí.
Desci até a cozinha pra tomar um suco de laranja, planejava ver também alguma série ou algo do tipo, mas acabei apagando no sofá. O relógio marcava as 19 da noite. Acordei desesperada com a vibração do meu celular na mão. Era Savannah e ela queria conversar sobre o paradeiro de Amber.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro