Capítulo 20: Se a cada insight, a Georgia ganhasse um dólar...
“All of the things I need living inside of me
I can't see it”
Fui até a casa de Savannah com ela após o tenso café da tarde que tomamos com os meninos, ela precisava de ajuda para lidar com algumas coisas na casa dela, alimentar seus cachorros, pegar algumas roupas. Savie passara os últimos dias comigo em minha casa, ela se sentia vulnerável e tinha mais do que só a pontinha do pé na paranoia, enxergando o Capuz Vermelho em todos os lugares possíveis.
Não poderia culpá-la, sozinha naquela casa gigantesca, ela realmente é o alvo mais fácil e, lá, eu sentia um arrepio percorrer minha espinha toda vez que o chão de madeira estralava.
— Tô só… Chocada! Tudo o que o Jordan passou calado. — Savannah explica, dobrando algumas roupas, seu olhar estava em suas habilidosas e rápidas mãos. Ela gesticulava dramaticamente. Observei seu quarto, a odisseia rosada era agradável, com a cama queen size e grandes janelas, mas eu estava assustada. Não entrava ali havia algum tempo. — Me sinto culpada. Eu não deveria ter percebido?
Após guardar as roupas dobradas, Savannah se jogou na cama, pousando sua cabeça em meu colo. A cama com molas se mexeu, agitando o lindo lençol de linho rosa-claro com detalhes bordados em dourado. Seus longos cabelos, que, agora, tinham mechas loiras, — me pergunto quando ela as havia conseguido. — ficaram caídos perfeitamente como em uma pintura.
— Não se culpe, você não poderia imaginar. Estamos todos numa puta corda bamba com diversos conflitos sendo jogadas na nossa cara. Se começarmos a nos culpar vamos nos tornar mártires até a próxima vida. — respondo, acariciando seus cabelos, ela apenas faz que sim com a cabeça, concordando, imagino — Tenho uma pergunta meio idiota para fazer.
— Diz! — pede, de súbito, se levantando e virando para me encarar.
— Você não tem tipo… Funcionários? Por que sua casa é tão grande e está sempre tão limpa e… Vazia!
— Ah! É isso! — exclama, desapontada, eu apenas levanto uma sobrancelha — Existe uma equipe de colaboradoras que vem aqui uma vez na semana limpar a casa.
— Com colaboradores… Você quer dizer empregados.
— Não! — exclama — Não gosto muito dessa palavra. “Empregados”, eles apenas me auxiliam com seus serviços e eu os auxílio com uma taxa de salário um pouco mais alta do que deveria. É uma casa grande, eles merecem.
— É assim que você lida com o fato de ser estupidamente rica? — questiono, sorrindo, mas sua expressão se torna levemente soturna.
— Não, eu não sou o Jordan… Não tenho vergonha do que minha família conquistou, tudo que temos veio do zero, construímos gradualmente… Então, eu trato os colaboradores assim por saber que, até o momento, eles não têm os luxos que minha família tem. Mas, não tenho que “lidar” com as minhas riquezas. — nossos celulares fazem um barulho caótico e fora de sincronia. Abro as mensagens rapidamente, a única coisa que havia me impedido de deixar o aparelho no modo não perturbe fora o fato de estar há mais de 10 quilômetros de minha mãe.
As mensagens eram do grupo de mensagens que Nico havia criado. Ele estava particularmente agitado desde o dia em que pegamos o diário. Um pouco acima das mensagens, o aviso de que alguém havia entrado no grupo me chamou a atenção, mas, nenhum de nós o havia adicionado, ao menos não que eu soubesse.
“Posso ouvi-los entre rumores e sussurros por toda a cidade, fiquem de olho, desgraçados, não se esqueçam da última vez que abriram a caixa de Pandora.”
~ Arquivo
Uma sucessão de fotos do corpo dilacerado de Amber fez a tela do meu celular se tingir de vermelhos e eu desliguei o visor instantaneamente. Savie arregalou os olhos ao avistar as imagens e correu para o banheiro, acho que ela estava sentindo náuseas.
— Deus! — gemi, apertando no ícone de gravação de voz — Como ele entrou na porra do grupo?
O som de Savannah vomitando reverberou pelo ambiente. Andei até ela, que estava agachada, abraçada ao vaso, vomitando. Fiz uma cara de nojo e pena, ela sempre teve estômago fraco e aquilo seria demais para qualquer pessoa.
— Eu… — começou — Lutei para tirar essas imagens da minha cabeça… Pra esse filho da puta simplesmente reenviá-las. Em todos os ângulos possíveis.
— Você tá bem? — ela se sentou no chão após dar a descarga, logo depois ela foi até a pia, lavando a boca.
— Tô… Mas, a cada dia que passa, me sinto como se estivesse definhando. Tipo, como ele ousa? Como ele ousa brincar conosco? Nos fazer sentir desse jeito?
— Ele é sádico… Isso é… O que ele faz. — liguei a tela do celular de novo, a foto ainda estava lá: Amber com seu estômago exposto, fita na cabeça e de costas, deitada em cima de seus próprios órgãos. Foi então que percebi. Aproximei a imagem, a analisando.
— Você ainda está olhando essas fotos? O que foi?
Fechei o aplicativo de mensagens e fui até o Instagram abrindo o perfil de Amber, precisei descer um pouco, mas encontrei.
— Savannah…
— O quê? — questiona, confusa, se levantando, ela dá descarga e vai até a pia, depois lavando a boca.
— Eu não tenho certeza. — disse, me encostando na porta.
— O que foi? — Savie estava tensa, assustada com o meu tom de voz e expressão, ambos esboçando meu choque.
— Acho que… A garota… A garota no porta-malas… Não era Amber.
— O quê? Gia, isso não faz sentido! — Savannah se aproxima de mim, me olhando nos olhos. — É impossível! Fomos para o funeral dela semana passada.
— Olha!
Mostro a foto que estava no Instagram de Amber: ela e outra garota também loira estavam fazendo topless, estavam de costas quando a foto fora tirada, a marca de nascença, levemente semelhante a uma estrela, podia ser facilmente observada: bem no meio das costas dela. Dai, voltei para o aplicativo de mensagens, a foto onde a suposta Amber está de costas, não há nenhuma marca.
— Então…
— Acho que a Amber tá viva. — conto, sentindo minhas mãos tremerem.
— Georgia, isso muda tudo! — Savie exclama, sua expressão facial era tensa e séria — Precisamos ter certeza antes mesmo de contar para os meninos. É perigoso se quer levantar essa hipótese.
Encarei a morena, mordendo, por dentro da boca, a minha bochecha, precisava pensar! Se Amber realmente estiver viva, precisaremos não só conter os danos causados pelo Capuz e descobrir quem ele é, mas, também, encontrá-la. A vibração de meu celular me trouxe de volta a realidade e deu um susto em Savie. Minha mãe estava me ligando.
— Alô?
— Georgia, você precisa vir para casa! Agora mesmo! — Erin sussurrou no outro lado da linha, sua voz era em um tom de urgência.
— Mãe, o que…? Por que tá sussurrando?
— Ele tá aqui.
— Ele…? — franzi o cenho, encarando Savannah, lá embaixo a campainha tocou e Savannah saiu do quarto, em passos lentos — Ah, não… O traficante.
— É… — no fundo, ouvi uma voz masculina e grave, mas não consegui identificar o que ele dissera. Logo depois, bipe. A ligação foi desligada. Meus pés formigaram. Desci correndo as escadas de Savannah, ela estava com a porta aberta, falando com alguém do lado de fora.
Cheguei perto dela e a chamei, tocando seu ombro, ela se virou rapidamente, dando abertura o suficiente para eu enxergar Jennifer do outro lado.
— Precisamos ir para a minha casa. — aviso. — Temos um problema.
Savannah assentiu e eu andei até a garagem onde seu carro estava. A garagem cheia e bagunçada. Minha mente estava um turbilhão, mas, mesmo assim, arranjei tempo para me comparar a Jennifer, ela estava sexy sem ter nenhum tipo de pretensão, sem sutiã, com uma blusa gráfica de banda e uma calça jeans cara. Enquanto, eu pareço uma dançarina de programa infantil com o macacão jeans surrado e a camisa de manga rosa, Deus… Por que estou pensando nessas coisas?
— Ei! — Savie adentrou o cômodo, destrancando o carro e entrando, a acompanhei. — Você poderia ter entrado, não estava trancado.
— Eu não curto muito ficar sozinha em carros… Tudo aquilo de traumas e tal.
— Ah, é, faz sentido.
Me mantive calada até que saímos de seu condomínio chique. Parecia ter se passado uma eternidade. Eu admito, sentia um pouco de ciúmes, mas aquilo era tão idiota para ser sentido naquele momento, na verdade, por que tenho que… Sentir? Eu consigo me manter calma lidando com sentimentos sérios, mas ciúmes? É tão idiota.
— Você está bem? O que tá acontecendo? Além da teoria da Amber estar viva, aquela ligação fez algo com você… Era o Capuz?
— Era minha mãe. Temos um intruso em nossa casa. — suspiro, olhando para a janela.
— Tipo, um guaxinim?
— Ah, não, tipo um traficante de meia-idade que pode ou não ser considerado um dos maiores problemas na minha vida atualmente.
— Georgia?! — Savannah se exalta, exasperada, sua boca se manteve aberta por tipo seis segundos.
— Minha mãe deve mil dólares para ele, então, é… Tô bem fodida…
— Tá tudo bem, eu posso dar um jeito nisso. — a morena diz, engolindo em seco.
— Você não precisa fazer isso.
Vannah suspirou, provavelmente pensando se deveria me ignorar, seu rabo de cavalo balançou levemente enquanto ela adentrava a minha rua.
— Só precisamos ter certeza de que ele não vai voltar a cobrar nada. — diz, séria.
— Você quer matar ele? — pergunto, tensa.
Savannah me encara.
— Deus, não! — ela gargalha — Vamos dar um dinheiro a mais, ele vai fugir.
— Idiota! — exclamo, sentindo a tensão dos meus ombros ser atenuada.
— Vamos. Dará tudo certo e, se não der, tio Sally é advogado. Damos outro jeito.
Saio do automóvel depois que ela estaciona, indo até a porta. Savie me observa com o celular na mão, ainda dentro do carro, ela decidiu criar um cheque de cinco mil dólares.
— Tem certeza? — questiono, depois que ela sai do veículo e vem até mim, era um pouco esquisito, não nos falamos direito por anos e agora ela iria pagar uma dívida da minha mãe dependente química.
— Tenho, tá tudo bem.
Abro a porta. O homem estava sentado no sofá, olhando para a televisão, seus pés estavam no sofá. Inacreditável!
— A negrinha chegou. — ele ironiza, se levantando. O homem se coloca a nossa frente, como se quisesse impedir que eu adentrasse minha própria casa.
— Vou pagar a dívida, ok? E te dar quatro mil dólares a mais só para você deixar minha família em paz! — aviso, pegando o cheque de Savannah e o entregando.
— Uau… Então, a filhinha da Erin tem dinheiro.
— Só pega, por favor! — Savannah exclama, tensa — Não queremos um problema, esse dinheiro paga a dívida e qualquer outro empecilho que ela pode ter te causado.
— E se for um cheque sem fundo?
— Você sabe de qual família faço parte? Confia em mim! Pega o cheque! É exatamente o que você quer: dinheiro. — Savannah afirma.
— E você sabe onde moramos de qualquer forma. Temos um acordo?
— Ok, bonitinhas, mas se eu não conseguir sacar… Já sabem… — ele sorri, ajeitando seu cinto e pegando seu jaqueta jogada no sofá, saindo da casa mancando logo depois.
Mancando…
— Gia, cadê sua mãe? — Savannah questiona, franzindo o cenho, um senso de urgência preenche minha mente e corro até o quarto.
— Mãe? — grito, ela estava sentada, ao lado da cama, ao ouvir minha voz, escondeu sua face com as mãos.
Ando até ela. Aprendi que naquelas situações, eu tinha que ser mais branda, não poderia levá-la ao estresse, só piorava tudo. Savie me observou, parada à porta. Me agacho, tocando sua mão.
Ela soltou um gemido abafado.
— Mãe… — puxo sua mão do rosto, delicadamente, noto que Savie não está mais à porta. Percebo o roxo escuro em seus olhos. — Ele te bateu? — exclamo, indignada, meu coração repentinamente bateu muito mais forte no peito.
— Mas, eu não deixei barato, viu que ele estava mancando? — ela ri, através das lágrimas.
— Ai, mãe, me desculpa, eu deveria saber! Deveria ter feito algo antes… Eu podia…
— Shhh… Deixa isso para lá! Eu que causei tudo isso! E lidarei com isso! — Erin afirma, tristemente — Amanhã… Podemos ir naquela clínica?
— É claro, mãe… — a encaro, a abraçando, meus olhos lacrimejaram — É óbvio!
— Não posso continuar nos pondo em risco. — ela declara.
— Agora tá tudo bem, mãe, eu te amo.
— Eu te amo, filha! — ela beija o topo da minha cabeça.
— Talvez seja o momento de colocarmos um gelinho aí, não é?! — questiono, a encarando, afetuosa — Já volto.
Desço as escadas com pressa, tentando encontrar algum sinal de Savie. A garota morena estava na sala, numa ligação com alguém.
— Ok, tá bom, já estamos indo…
Vou até a cozinha, onde monto uma pequena compressa usando gelo e um pano de prato, me viro, constatando Savannah parada me encarando.
— Merda! Você me assustou!
— Desculpa… Temos que ir! Nico me ligou, Jordan percebeu uma coisa nas fotos e, provavelmente, ele sabe onde é o covil do Capuz.
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