Epílogo
A casa dos Lovelace situava-se num dos mais discretos bairros de Londres. Ali, raramente passavam os habituais autocarros vermelhos carregados de turistas e nem sequer havia qualquer alojamento para os visitantes. Era um bairro simples, com vivendas pequenas mas muito pitorescas e todas com bonitos e bem cuidados jardins. No seu interior, pareciam casas de bonecas.
Exceto a de Meredith, que amava tudo o que era bom, requintado e moderno.
A sua sala de estar estendia-se, grande, com as paredes brancas e um belo sofá cinzento. Os móveis brancos e o tapete azul cor do céu eram de extrema qualidade e Meredith orgulhava-se de ter sido ela a escolher. O pai passava muito tempo a viajar e portanto crescera mais rápido do que deveria, entrando no mundo dos adultos e dedicando-se a decorar a sua casa ao seu gosto.
Ashley Diggory estava sentada no sofá como se fosse um fantasma. Mal respirava, mal se movia e fazia semanas que mal comia. Desde a morte do irmão, Ley tornara-se um fragmento dela mesma, algo que quebrava o coração de Meredith.
Quando a jovem lhe batera à porta, Meredith nunca esperara que ela lhe tivesse vindo pedir guarida. A morte de Cedric quebrara a última ligação que Ashley tinha com os pais adotivos, os três sabendo que Cedric era o único motivo deles a terem tirado do orfanato. Fora Cedric que a escolhera quando eles visitaram o lugar onde vivia; fora Cedric que implorara aos pais para se tornarem a família daquela menina de cabelos cacheados e olhos cor de âmbar. Sem ele, não havia nada que aquela família pudesse dar a Ashley e todos sabiam.
Por isso saíra de casa e procurara Meredith, que a acolheu de imediato. O pai estava num país qualquer da América do Sul, estudando os artefactos que lá se encontravam perdidos e a Lovelace sequer o conseguia contactar portanto não precisava pedir autorização a ninguém para acolher a amiga.
Fazia um mês desde a morte de Cedric. O mundo bruxo recusava-se a reconhecer que aquela tinha sido obra de Voldemort mas Meredith acreditava em Harry por um simples motivo: Laurel acreditaria.
A ruiva desaparecera misteriosamente durante a terceira tarefa do Torneio. Harry contara-lhes o que acontecera e sofria por ter deixado a amiga para trás, permitindo que ela se sacrificasse por si. Ashley, todavia, não estava preocupada; a Ravenclaw estava viva e ela não tinha dúvidas disso. Meredith acreditava em Ashley com todas as suas forças, embora estivesse preocupada.
Meredith sentou-se ao lado de Ley, pousando-lhe a mão no ombro. A Diggory estava vestida de preto, uma cor que não lhe assentava bem e Meredith de branco, recusando-se a usar a cor negra para um funeral.
Um mês depois e só agora Amos Diggory tinha coragem para fazer um funeral ao filho.
Ambas iriam comparecer, a pedido dos Diggory, mesmo que nenhuma tivesse particular vontade. Para Ashley, o corpo do irmão era apenas a sua forma física, pois não havia nada lá dentro. Para Meredith, era a sua oportunidade para se despedir do amigo, algo que doía demais e gostaria de adiar o máximo que pudesse.
O toque da campainha ecoou pela casa vazia, assustando-as. Meredith ergueu-se para abrir a porta mas esta já se encontrava aberta.
Laurel Ravenclaw fitou a amiga com um sorriso triste e lágrimas nos olhos. Na sala, Ashley pusera-se de pé, com uma expressão vazia no rosto e a sensação de que era Laurel quem estava do outro lado da porta.
- Olá meninas. - saudou a ruiva, entrando na casa e passando por Meredith, que ficara muda ao vê-la.
A rapariga parou em frente à melhor amiga, cujos olhos se encheram de lágrimas. No seu íntimo, Ley odiava-a por não ter estado lá para ela quando Cedric morrera, sendo ela a única que compreenderia a dor que sentia. Ainda assim, Ashley sabia que Laurel sofrera mais que ela, tendo sido forçada a ver o melhor amigo morrer à frente dela e, segundo Harry, ser de certa maneira culpa sua.
E Ashley sendo Ashley abraçou a amiga, afastando o ódio para bem longe de si.
- Onde estiveste? - perguntou a morena, deixando as lágrimas cair - Estávamos tão preocupadas... Ced...
- Eu conto tudo depois, Ley. Temos um funeral para ir... - Ley sorriu com gratidão, apertando as mãos da melhor amiga entre as suas, sentindo-se melhor com Laurel junto de si - E estou aqui por um motivo importante.
- Não é uma simples visita de amiga? Que surpresa. - desdenhou Meredith, irónica.
Laurel sorriu, abraçando Meredith, que retribuiu.
- Encantadora como sempre, Mer. É uma história longa mas para começar... - esticou a mão onde a Cobra dos Puros reluzia, abrindo novamente a porta da rua - Sirius, importas-te de entrar, por favor?
Um enorme cão negro caminhou para dentro do aposento, transformando-se lentamente no homem que estivera em todos os jornais como o assassino mais procurado do mundo. Sirius Black piscou o olho às duas adolescentes, que pestanejaram, surpreendidas.
- Este é o meu tio, Sirius Black. Ele veio acompanhar-me até aqui numa missão.
- Missão? - questionou Ashley, erguendo as sobrancelhas.
- Sim. Uma missão perigosa, especialmente para ti, Mer. - disse Laurel, fitando a Lovelace.
Meredith cruzou os braços sobre o vestido negro de renda que usava, em perfeito equilíbrio com os seus cabelos negros e os lábios pintados de vermelho, um acessório que não largara desde o Baile de Inverno.
- Para mim?
Laurel assentiu. Sirius Black observou a dinâmica das três, sem deixar de recordar Cora e as suas amigas. Era impossível não ver a sua velha companheira de infância no corpo e no espírito destemido da sua destemida sobrinha.
- Estamos aqui para vos recrutar, minhas caras. - Sirius chegou-se à frente, mirando ambas com seriedade - A Ordem da Fénix ergueu-se de novo para combater Voldemort e estamos a recrutar aliados. Laurel não é um membro oficial da Ordem e ninguém pode saber que ela está viva.
- Ainda assim, não poderia deixar de sugerir a Sirius que vos viesse buscar. A Ordem precisa de ti, Ashley e sei que Cedric aprovaria a minha escolha. - afirmou Laurel, ao que a Diggory assentiu de imediato - Quanto a ti, Mer...
Laurel fez uma pausa, fitando a amiga com seriedade. Meredith estremeceu.
- Preciso que te tornes uma Devoradora da Morte.
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Horas depois, a Ravenclaw Aparatou no meio de uma rua de Londres, com Sirius Black ao seu lado na sua forma Animagu.
"Tens a certeza que não queres entrar? Esta casa também é tua" disse Sirius na sua cabeça, praticando Leglimancia tal como a sua sobrinha lhe dissera para fazer.
Laurel abanou a cabeça, suspirando.
"Não pertenço aqui, Sirius. Sabes bem disso. Toma conta da Ley quando ela se juntar à Ordem, por favor. Ela já sofreu demais".
O focinho de cão de Sirius tocou-lhe na perna, notando a dor nos olhos da sobrinha.
"A vida é cruel com as pessoas mais bondosas, Laurel Ravenclaw." afirmou o tio, afastando-se dela.
Laurel pensou em Cedric mais uma vez. A casa do seu pai. Regulus Black, erguia-se à sua frente, convidativa e cheia de possibilidades. A Ordem de Fénix aguardava-a e Albus Dumbledore procurava-a incansavelmente, ciente do que lhe escondera a vida inteira e ansioso por lhe pedir desculpa.
Ela não pertencia ali. Não enquanto não soubesse a verdade sobre si própria.
E com certeza não antes de estar junto de Ashley no funeral de Cedric, ambas buscando forças no rapaz que morrera e preparando-se para a guerra que se viria a compor.
Com um último suspiro, voltou a Aparatar, uma habilidade que não devia possuir sendo tão nova mas que cuja magia que não lhe pertencia lhe concedia esse dom.
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