Capítulo 9
No minuto em que as palavras de Dumbledore ecoaram pelo Salão Nobre, Laurel Ravenclaw soube que estava ferrada. Contudo, nem com toda a sua sabedoria estava psicologicamente preparada para os acontecimentos que se sucederam.
No dia seguinte à sua explosão, Pansy Parkinson pagara a Rita Skeeter, jornalista do Profeta Diário, para publicar na primeira página a notícia do ano: Herdeira de Ravenclaw esconde a sua identidade: vergonha ou mentira? Que segredos esconderá a descendente direta da bruxa mais sábia da História do Mundo Bruxo?
O jornal circulou por todos os alunos, professores e fantasmas, com Helena Ravenclaw escondendo-se na sua Torre depois de obrigar Laurel a prometer nunca contar a ninguém sobre o seu parentesco, deixando-a sozinha com um sobrenome que a começava a irritar.
Pansy deambulava pelo castelo mostrando a quem quisesse ver a marca no pescoço que uma das facas deixara durante o ataque de raiva de Laurel, contando a toda a gente que a herdeira de Ravenclaw com certeza tinha mais segredos e era muito mais perigosa do que as pessoas pensavam porque a Parkinson descobrira outro podre sobre a ruiva: ela era nada mais nada menos que a sobrinha de Sirius Black, filha do seu irmão mais novo, algo perfeitamente documentado nos arquivos do Ministério e facilmente acessíveis a pessoas influentes como os Parkinson.
A partir daí, Laurel tinha que fazer um esforço sobrenatural para ignorar os sussurros, que se tornaram ainda mais frequentes de cada vez que passava por alguém. Como se não bastasse, estava proibida de responder corretamente às perguntas colocadas pelos professores durante as aulas, correndo o risco de ter os seus colegas Slytherin a revoltarem-se. Para eles, a sua inteligência era uma fraude, uma trapaça. Para tristeza dos professores, Laurel Ravenclaw era obrigada a estar calada para não provocar um motim de toda a vez que punha o braço no ar, algo que evidentemente prejudicava a Casa das Cobras no que tocava a pontos e deixava Severus Snape ainda mais mal humorado.
Uma semana depois, Laurel encontrava-se de novo no gabinete de Remus, como habituara-se a fazer todos os dias, exceto durante a Lua Cheia. O seu pai adotivo estava horrível, a dor presente na sua expressão fruto da noite de Lua Cheia que iria brilhar em poucas horas. Ao lado do pai, um cálice fumegante com a poção que Snape preparava todos os meses para Lupin permanecia intocada, aguardando o momento certo para ser tomada.
- Lamento não ter evitado isto, Laurel. - disse Remus, abanando a cabeça com tristeza - Se nunca tivesse permitido que viesses para Hogwarts...
- Porque é que o avô me fez isto? - perguntou a menina, abalada - Porque é que ele disse o meu nome daquela maneira?
Era a primeira vez que chorava desde que a sua magia tomara o controlo de si mesma. Com um semblante triste, Remus abraçou a filha, apertando-a junto de si.
- Tu não estavas a ouvir ninguém, Laurel. Nem mesmo a mim. - o lobisomem afastou levemente a menina, obrigando-a a olhá-lo nos olhos - Nunca te tinha visto num transe assim. O teu avô sabia que, ao dizer o teu sobrenome, o choque seria o suficiente para te trazer de volta à realidade. Como de costume, Dumbledore tinha razão.
- Ele não tinha o direito...
- Aquela faca podia ter feito bem mais do que apenas um arranhão no pescoço de Pansy. Se não fosse o teu avô, não sabes o que aconteceria.
A ruiva assentiu, apertando o medalhão de Rowena Ravenclaw contra si. Por momentos, lembrou-se de estar no gabinete do avô dias antes, recordando com um aperto no peito o olhar ferido do Diretor fixo nela.
- Albus perguntou se eu queria mudar de Casa. - contou Laurel a Remus, limpando as lágrimas com as costas das mãos - O meu lugar era junto dos outros Ravenclaw, como a minha mãe.
A menina abanou a cabeça, afagando o medalhão com carinho.
- Não sou a minha mãe. Posso ter o nome dela mas sou uma Black também. Então decidi recusar. Achas que o meu pai ficaria orgulhoso de mim?
Remus observou o olhar esperançoso da criança à sua frente. Regulus vira Laurel apenas uma vez, logo após o nascimento e, ainda assim, nunca se esqueceria do olhar de adoração que o Black mais novo tinha no rosto enquanto embalava a filha. Apesar de não se conhecerem tão bem assim, os dois amavam as mesmas mulheres e Lupin jurara a si mesmo nunca usurpar o lugar de Regulus, mesmo depois de morto.
- Tenho a certeza que sim, querida. - assegurou o pai adotivo da Ravenclaw, com lágrimas nos olhos - Tenho a certeza que sim.
- LAUREL!
Lupin deu um salto quando a porta do seu escritório se abriu de rompante, deixando uma figura de vestes coloridas e canudos castanhos entrar de forma esbaforida pela sala adentro.
- Olá professor Lupin. - saudou Ashley, as faces morenas com um ligeiro rubor - Posso roubar-lhe a Laurel por uns minutos?
- O que aconteceu? - perguntou a ruiva, alarmada.
- É a Meredith. Ela... Todas as raparigas do dormitório delas foram injetadas enquanto dormiam por algum tipo de veneno, de uma aranha qualquer e...
Ashley não continuou, demasiado nervosa. As roupas coloridas que usava sempre fora de aulas estavam todas desalinhadas, mostrando a bagunça de nervos em que a rapariga se encontrava.
- A Meredith desapareceu, Laurel. Ninguém sabe dela.
- Como é que isso é possível? - questionou Remus, sem entender - Hogwarts é o local mais seguro no mundo bruxo...
- A mãe de Meredith. Amanda Lovelace. - Laurel abanou a cabeça, transtornada - Temos de encontrá-la.
Remus empalidecera, dirigindo-se para a sua secretária rapidamente.
- Amanda... Claro... Lovelace. Não sei como não fiz a ligação antes. - Lupin prensou uma folha de pergaminho velha em cima da mesa - Prometo não fazer nada de bom.
Para surpresa das duas meninas, traços negros começaram a surgir no pergaminho em branco, desenhando linhas e contornos que se movimentavam ou permaneciam parados. O nome de Laurel chamou-lhe a atenção, junto do de Ashley e Remus.
- Isso é...
- Um mapa de Hogwarts que mostra onde está todas as pessoas presentes no castelo neste preciso momento.
- Moony... - leu Laurel no canto da folha, junto com as palavras Padfoot, Prongs e Wormtail - É esse o nome que Sirius te chama quando se refere a ti. Padfoot... O cão, claro! Prongs e Wormtail... James Potter e Peter Pettigrew! - a Ravenclaw olhou para Lupin com admiração, os olhos brilhantes e perspicazes - Foram vocês que criaram este mapa!
- Sim, fomos nós. Espera... Tu tens falado com o Sirius?!
- A Meredith! Está ali! - apontou Ashley.
. Laurel olhou para o ponto onde o dedo de Ley tocava no nome de Meredith, ignorando o olhar furioso do seu pai adotivo nas costas.
- Já está fora do castelo, está a ir na direção da Floresta Proibida...
- É melhor avisarmos Dumbledore... - sugeriu Remus, estudando o mapa.
O medalhão de Laurel deu um pequeno salto no seu peito, chamando-a à atenção. Havia um brilho avermelhado entre o azul safira que o caraterizava, lembrando-se de imediato de procurar o nome de Harry. Quando o encontrou, empalideceu. Ao seu lado, Remus soltou um som sufocado, incrédulo.
- Não é possível...
- Sirius. - foi tudo o que Laurel disse, reconhecendo o nome do tio ao lado do nome do homem que supostamente matara - Eu tinha razão. Peter Pettigrew nunca morreu. Sirius Black é inocente.
Remus não respondeu e Laurel não lhe deu tempo para isso. Com Ashley no seu encalço, as duas meninas saíram porta fora em busca da amiga, deixando Lupin para trás sem saber o que fazer.
"Espero ter tempo para chegar a Meredith e a Sirius" pensou Laurel, correndo pelos corredores a fora, esbaforida.
Mas o tempo não estava a favor dela e tudo o que esperava era que Remus salvasse Sirius e Harry enquanto ela e Ashley salvavam Meredith.
O que ela não sabia era que o feiticeiro mais poderoso do mundo observava-a da janela sem poder interferir, vendo a neta embrenhar-se nas árvores negras e densas sem nada poder fazer a não ser estar lá quando ela regressasse, sã e salva como só uma Ravenclaw poderia fazer.
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