Capítulo 5
- Crooshanks? O que estás aqui a fazer? - perguntou Laurel, surpreendida.
O gato feio de Hermione Granger estava deitado tranquilamente na cama de Laurel. Fazia dias que a ruiva não falava com a Grinffindor, ignorando os olhares piedosos da mesma. No que tocava a ser amiga da Raven, Hermione deixava muito a desejar, sempre compelida a escolher Harry Potter e Ron Weasley por cima de toda a gente. Como Harry continuava a recusar-se a falar com Laurel, Hermione fazia o mesmo.
- O que esse gato está a fazer no nosso dormitório? - perguntou Daphne Greengrass, de braços cruzados.
Laurel suspirou. Outra coisa ótima naquele ano letivo: ter uma das guarda costas de Pansy Parkinson como colega de quarto.
Uma sombra moveu-se junto da cama de Laurel, fazendo a ruiva semicerrar os olhos. Atrás de si, Daphne continuava a encará-la, à espera de uma explicação.
- Desampara-me a loja, Daphne. - respondeu Laurel, sem a encarar - Por favor. - acrescentou, lançando-lhe um sorriso de canto.
Daphne bufou, saindo do dormitório com os sapatos a bater ruidosamente no chão. Sozinha, Laurel aproximou-se do gato esticado na sua cama, as duas mãos erguidas.
- Lumos. - sussurrou, apontando para a figura enrolada no chão.
Devagar, os contornos de um cão enorme formaram-se perante os seus olhos, primeiro o focinho, o pêlo negro e por fim todo o corpo. Cautelosamente, Laurel aproximou-se do cão, o qual fez o mesmo.
- Como é que vieste aqui parar? - perguntou a ruiva, agachando-se junto do bicho - As meninas acabaram de sair para ir para as aulas... Tiveste aqui a noite toda?
Para surpresa de Laurel, o cachorro assentiu. A inteligência nos olhos do animal recordaram Laurel da aula de Transfiguração onde a professora McGonagall se transformara em gato à frente da turma, surpreendendo toda a gente.
- És um Animagus... - afirmou Laurel, distanciando-se do animal, a medo.
Num piscar de olhos, o corpo do cão começou a mudar. Os pêlos negros depressa se transformaram nos cabelos negros e desgrenhados de um homem, o corpo ossudo e doente com mãos e pés em vez de patas, o focinho num rosto familiar. Sentado a um canto de um dormitório feminino da Casa das Serpentes, Sirius Black encarava a sobrinha com um brilho no olhar, assimilando o rosto de boneca da menina que esperava conhecer há anos.
- Laurel... - sussurrou Sirius, com adoração.
A boca de Laurel abriu-se, fitando o homem com espanto. Uma coisa era ver o seu tio num jornal ou ouvir falar sobre ele. Outra era vê-lo em pouca carne e muito osso, as olheiras encovadas de quem não dormira durante dez anos, encarcerado numa prisão sem ver a luz do Sol. A Ravenclaw abanou a cabeça, sem querer acreditar. A razão sobrepôs-se por momentos à emoção, levando Laurel a correr para trancar o dormitório, regressando depressa para o primeiro e único fugitivo de Azkaban.
- És o Sirius? - perguntou Laurel, sentindo-se idiota - Quer dizer, eu sei que és, estás em todos os jornais e notícias mas...
- És igual à tua mãe. - interrompeu Sirius, olhando-a de alto a baixo - Regulus iria ficar impressionado por não teres uma única parecença com ele. Tens a certeza que és filha dele?
Regulus Black. O homem que Laurel conhecera quando era apenas um bebé e que nunca tivera a chance de lhe dizer o quanto o amava. As lágrimas subiram-lhe aos olhos cor de safira, que absorviam a imagem do irmão do pai, o seu tio, que toda a gente achava que era um assassino.
Sirius não era e ao vê-lo, Laurel teve a certeza absoluta que ela sempre tivera razão.
- Tio. - foi tudo o que a menina conseguiu dizer, atirando-se para os braços de Sirius sem pensar duas vezes.
Sirius abraçou-a de volta, apertando-a contra si. Nenhum dos dois se conhecia e ainda assim, nos braços da última família de sangue que lhe restava, Laurel soube que o amava mesmo assim, sem nunca sequer terem trocado duas palavras. Cora confiava em Sirius e amava-o. Laurel sentia exatamente o mesmo.
E Sirius, dez anos trancado numa cela injustamente e com uma missão por cumprir, deixou-se ficar naqueles braços pequenos e muito brancos, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto e caindo no cabelo cor de fogo da sua sobrinha.
**
- Laurel! Ashley contou-te o que eu falei com ela? - perguntou Meredith, aproximando-se discretamente da ruiva.
Laurel não respondeu. Os olhos safira da garota estavam fixos nos belos hipogrifos que Hagrid mostrava à turma, embora os pensamentos estivessem no cachorro que ajudara a sair do castelo e que depressa se embrenhara na Floresta Proibida. Sirius estava numa missão, embora não lhe tivesse contado qual era e apenas tivesse mencionado que tinha algo a ver com Harry Potter e a verdade por trás do que acontecera na noite em que Voldemort matara os Potter. Embrenhada na sua própria missão, Laurel estava mais do que decidida a obter as provas de que necessitava para inocentar Sirius, nem que para isso tivesse de entrar no Ministério e vasculhar tudo o que conseguisse deitar a mão.
- Laurel! - chamou Meredith, sorrindo forçadamente a Pansy, que a olhava desconfiada - Eu preciso da tua ajuda!
- E eu estou na aula, Meredith. - retorquiu Laurel, sem a olhar.
Meredith revirou os olhos.
- A minha mãe vem a caminho de Hogwarts para me matar, não se importando nem um pouco quem morre pelo caminho e tu estás em aula?
Laurel olhou para ela, franzindo o sobrolho.
- Desculpa, a tua mãe vai fazer o quê?
- Matar-me. - sussurrou a Lovelace, semicerrando os olhos - Ashley não te contou?
- Não. E o que eu tenho a ver com isso mesmo? - Laurel ergueu uma sobrancelha, inquisidora.
- Tu e a Ley são as únicas pessoas em quem confio neste castelo, Laurel. Eu peço desculpa por...
Laurel deu uma risadinha, surpreendendo Meredith, que se calou de imediato.
- Não tens que pedir desculpa, Mer. Verdade que por causa dos teus boatos estou a viver um inferno nesta escola mas... Uma ameaça de morte é bem mais importante do que isso. - Laurel encolheu os ombros, sorrindo docemente - Mas com certeza tens muito que explicar.
- Bem, se não fosse o teu tio a fugir da prisão e a causar todo aquele alarido...
Laurel tapou-lhe a boca com a mão, olhando em volta alarmada.
- Como é que sabes que o Sirius é meu tio? - sussurrou a ruiva, atirando-lhe um olhar severo - E não digas isso em alto e bom som! Não preciso que tenham mais motivos para implicar comigo, preciso é tentar passar despercebida.
- A Ley contou-me. - Meredith respondeu, afastando a mão da rapariga - Ela não é muito boa a guardar segredos.
Laurel bufou, olhando para o céu exasperada. Um grito agudo ecoou no ar, fazendo Grinffindor e Slytherin aproximarem-se da origem do som, juntamente com Hagrid, o mais recente professor de Cuidados com Criaturas Mágicas. Meredith e Laurel aproximaram-se também, a ruiva empalidecendo ao ver Draco Malfoy estirado no chão, agarrado ao braço e a choramingar.
- Estúpido bicho! - gritou o loiro, amparado por Pansy, que o olhava de forma preocupada.
Laurel tapou a boca com as mãos, sentindo algo macio encostar-se no seu ombro. Quando olhou, um enorme hipogrifo encarava-a de frente, assustando-a. Era Buckbeack, uma das criaturas que Hagrid apresentara no início da aula, antes de Laurel deixar de prestar atenção.
- Acho que ele gosta de ti. - comentou Harry Potter, aproximando-se dela com um sorriso contido - Nem sequer tiveste que fazer uma vénia como eu.
O hipogrifo voltou a dar uma marradinha em Laurel, que pousou a mão no focinho do animal, acariciando-o. A menina olhou para Harry com um sorriso triste, a mágoa bem presente na sua expressão.
- Alguém que goste, Harry. Alguém que goste.
- Laurel, eu...
- Não. - Laurel abanou a cabeça, encarando o Herdeiro de Grinffindor com lágrimas nos olhos - Eu sei o que viste na Câmara dos Segredos. Eu sei que achas que sou perigosa, que sou das Trevas ou algo assim...
A ruiva encolheu os ombros.
- Tens razão em te afastar de mim. Continua a fazê-lo, por favor. - afirmou a menina, de forma gentil.
E virou-lhe as costas, segurando a corda de Buckbeack, que se recusou a deixá-la ir sozinha.
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