Capítulo 22
A primeira Tarefa.
Sentada com Meredith de um lado e uma Ashley cuja expressão brilhava de entusiasmo como há muito não acontecia, Laurel Ravenclaw estava nervosa. Ao seu redor, os alunos das três escolas assobiavam e gritavam, entusiasmados e ansiosos para saber o que ia acontecer, ao contrário de Laurel, que estava ansiosa para ver os maravilhosos dragões que Harry tinha descrito dias antes. Contudo, era impossível não pensar no perigo que Cedric e Harry estavam prestes a enfrentar, apesar de confiar plenamente no discernimento de Dumbledore em relação à segurança dos seus alunos e convidados.
Laurel esfregou os olhos, afastando o cansaço. Depois de ter tomado a poção para dormir preparada por Snape semanas antes, as noites mal dormidas tinham regressado e os pesadelos atormentavam-na, daí ter novamente olheiras debaixo dos olhos cor de safira.
Irrequieta, a ruiva esgueirou-se suavemente do seu lugar, aproveitando a sua baixa estatura e distração das amigas para se misturar na multidão e sair em direção à tenda onde os concorrentes se encontravam.
Ao espreitar por uma fresta da tenda, reparou de imediato no semblante sério de Cedric. Ele respirava fundo, os olhos fixos no vazio e mal pestanejava, a mente bem longe dali.
- Nervoso? - perguntou Laurel, entrando de mansinho.
- Muito. - admitiu o rapaz, com um sorriso de canto - Não gosto muito destas coisas de chamar a atenção, sabes... Eu só queria... - suspirou, endireitando os ombros - Quero deixar a minha família orgulhosa. Se eu ganhar o Torneio, vou mostrar à Ley que ela pode ficar bem. Ela veio, não veio?
- Sim, está lá fora, com o teu pai ao lado dela. Eles estão orgulhosos de ti, Ced.
Comovido, Cedric abraçou a menina de forma apertada, erguendo-a ligeiramente do chão devido à sua diferença de alturas.
- Arrasa, Ced. E faz uma festa no teu dragão por mim!
- Laurel! Dragões são perigosos, ainda me arranca um dedo!
Laurel riu, divertida.
- Não sejas medricas, Cedric Diggory!
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- Ced!
Ashley andetrou na tenda de primeiros socorros apressadamente, abraçando o irmão, que gemeu. Cedric tinha sido queimado pelo seu dragão, um Focinho-Curto da Suécia que decidiu atacar o jovem Hufflepuff ao invés do bonito Labrador que ele tinha Transfigurado. Madame Pomfrey tratara-lhe imediatamente das queimaduras e Cedric sentia-se melhor, apesar da preocupação da irmã.
- Nunca mais te inscreves numa coisa perigosa destas, ouviste?!
- Não pretendo, maninha. Hey, viste a Cho? O que ela disse sobre a minha prestação?
Ley revirou os olhos.
- Mas tu só tens olhos para ela agora, é?
- Claro que não, Ley! - Cedric sorriu, afagando o topo da cabeça da irmã - Tu és a pessoa mais importante da minha vida. - fez uma pausa, piscando o olho - A Cho é a segunda mas não lhe digas isto, é demasiado lamechas da minha parte.
- Ainda nem namoras com ela, Ced. Vai com calma!
Uma leve tontura assolou o corpo de Ley, que cambaleou. A excitação e o entusiasmo tinham-na deixado mais cansada do que estava acostumada depois de tanto tempo deitada num quarto de hospital. Preocupado, Cedric levantou-se de imediato, segurando a irmã mais nova pelos ombros.
- Ley? Sentes-te bem?
Como que sentindo o seu mau estar, Laurel entrou na tenda, seguida de perto por Meredith. Preocupada, a Lovelace passou de imediato um dos braços de Ashley por cima dos seus próprios ombros, permitindo que se apoiasse nela. Por sua vez, Laurel encostou a mão na testa da amiga, como tantas vezes vira Dr. Carl a fazer e mediu-lhe a pulsação, verificando a sua pulsação cardíaca.
- É melhor chamar o Dr. Carl. - disse Laurel, baixando o braço - Talvez seja melhor levar-te de volta para...
- Eu não vou voltar para lá. - afirmou Ley, afastando bruscamente o irmão e a amiga - Já falei com o pai e me recuso a voltar.
Laurel prensou os lábios, angustiada.
- Ley...
- Não, Laurel. Chega. Sim, eu sofri e sim, a minha mente não está a funcionar a 100 ℅. - confessou, com lágrimas nos olhos - Mas eu não sou tão frágil como vocês pensam. Meredith, tu foste alvo da Maldição Cruciatus várias vezes e não tiveste nada...
- Não reagimos todos da mesma maneira à dor, Ley. - interrompeu Meredith, pousando-lhe a mão nos ombros - Tu não sabes o que eu sofri. Posso não ter estado internada num hospital mas... Ela era minha mãe e eu... Fiz coisas depois disso que não me orgulho.
- Eu sei e eu entendo mas... O que eu quero dizer é que, embora tenha ficado... Quebrada... - a palavra saiu-lhe por entre as lágrimas, que escorriam abundantemente pelo seu rosto - Ainda estou viva. Tu viste os pais do Neville, Laurel. Não posso ficar daquela maneira.
Ashley abanou a cabeça, olhando para o irmão.
- Queria saber quem são os meus pais para saber que sou normal, Ced. Era esse o real motivo, eu nunca quis encontrar os meus pais biológicos para os amar nem nada do género, eu só queria saber que sou normal porque... Por causa de ti.
O dedo mulato de Ley apontou na direção de Laurel, que recuou, surpresa. A Diggory aproximou-se da Ravenclaw, que por instinto ficou tensa, relaxando ao ver a mão da amiga tocar suavemente no medalhão que lhe pendia ao pescoço.
Pela primeira vez, Laurel tinha perdido um detalhe.
- Amarelo... - sussurrou, observando com espanto a cor do brilho do seu medalhão.
- Eu queria ser normal. Apenas a Ashley Diggory, que adora flores, histórias e rir. Não queria ser a Ashley que é amiga da Herdeira de Ravenclaw, a Ashley que ficou maluca depois de Amanda Lovelace lhe ter fritado os miolos. - fez uma pausa, apoiando-se na cama onde Cedric se encontrava - Não queria saber que esse brilho e o facto de sempre saber onde e como estás faz de mim alguém especial porque especial é perigoso e eu só queria ser uma Diggory.
A rapariga do cabelo cacheado e vestes coloridas procurou endireitar-se, ignorando as tonturas e o cansaço, ignorando a visão turva e os pesadelos que tinha todas as noites.
- Não vou voltar para o St. Mungus. Vou voltar para as aulas, assistir ao Torneio e viver uma vida normal. Vou continuar à procura de mais informações sobre os meus pais, algo que parei por causa do internamento. - olhou para Cedric, que assentiu - Mas não vou voltar para aquele hospital e ninguém me pode obrigar a menos que eu tenha algum surto psicótico, que não vai acontecer.
O ar voltou a entrar nos pulmões de Meredith sem que esta se tivesse apercebido que parara de respirar. Ver Ashley com uma expressão tão angustiada, os cabelos desgrenhados e as lágrimas a ensoparem-lhe o rosto fê-la sentir culpada. Se não fosse Amanda, aquela menina continuaria a ser inocente e pura. Se elas não fossem amigas, Ashley nunca seria um alvo. Se Laurel não existisse...
Mas Laurel já lá não estava, os seus cabelos ruivos deixando um rasto de fogo para trás enquanto ela fugia, magoada. Ashley abraçou-se a si própria e Cedric permaneceu estático no seu lugar, sem saber o que dizer ou pensar e, sobretudo, sem perceber o que raio tinha aquele medalhão de tão especial.
O silêncio reinou naquela tenda até os soluços de Ashley a preencherem. Não restava mais nada a se fazer e por isso Meredith fez a única coisa que lhe ocorreu.
Abraçou a jovem da mente quebrada, uma das suas melhores amigas, enquanto a outra fugia para bem longe dali.
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Muitas horas depois, quando a primeira tarefa do Torneio chegou ao fim e Harry Potter celebrava o seu sucesso junto dos demais Grinffindor, Draco Malfoy resmungava para as paredes o quanto odiava o Menino Que Sobreviveu, ao mesmo tempo em que se dirigia para a Biblioteca. O professor Moody, que o transformara em furão logo na primeira semana de aulas, implicava com ele várias vezes e passara-lhe um trabalho de pesquisa, o qual tinha de entregar até ao fim da noite. Embora hirto de raiva, Draco não tinha outra opção a não ser dirigir-se exausto para a Biblioteca para fazer o trabalho.
Era de noite e apenas a bibliotecária ainda lá se encontrava, absorta num livro qualquer. Estava sozinho, pensou, irritado. Era o único aluno a sofrer quando devia estar a comentar o Torneio e planear a melhor forma de arrasar Harry Potter.
Ao aproximar-se das mesas junto à janela, notou com surpresa uma figura pequena sentada no seu lugar habitual. Os cabelos ruivos estavam entrançados de lado e os olhos inchados denunciavam o tanto que chorara. Ainda assim, Laurel Ravenclaw parecia serena enquanto lia, os óculos de leitura escorregando suavemente pelo seu nariz abaixo.
- Olá. - cumprimentou Draco, sem saber o porquê do estar a fazer. Eles não se falavam desde que Laurel fugira dele, no dia da Copa Mundial de Quidditch.
Ela ergueu os olhos, fitando-o. O semblante triste foi o que fez Draco se sentar ao seu lado e deixar a máscara cair, aquela que ostentava todos os dias desde que Lucious o deixara no primeiro ano em King's Cross e lhe disse:
"És um Malfoy. Somos os melhores entre os melhores, os mais puros entre os puros. Sê o melhor, Draco"
E desde então ele fora. Era o líder no seu grupo de amigos, o Seeker da sua equipa, o Slytherin que todos temiam.
Era tudo e, no entanto, não era nada ao pé daquela rapariga.
Afastara-se dela de propósito, pois sabia que ele não era uma boa influencia para ninguém e temia o interesse que o pai tinha na Ravenclaw. Nada do que vinha de Lucious Malfoy poderia ser considerado inocente. Era um ex-Devorador da Morte, um cobarde mas quando queria algo... Era perigoso.
- Estás bem? - perguntou o Malfoy - Roubei alguns chocolates do banquete de hoje, queres?
Estendeu dois bombons na direção dela, que pegou num ainda em silêncio. Devagar, limpou os vestígios de lágrimas do rosto e esboçou um pequeno sorriso na direção dele, que sorriu de volta.
- Obrigada, Draco. Lamento... Por tudo. - fez uma pausa, rodando o bombom entre os dedos de forma pensativa - Não sou boa pessoa, sabes? Só trago problemas aos meus amigos e à minha família.
Draco encolheu os ombros.
- Eu acho que és boa pessoa, demasiado até.
Laurel sorriu, desta vez o seu habitual sorriso gentil e bondoso.
- Dizes isso porque se calhar tu é que és boa pessoa. Se calhar só não tens os teus valores bem definidos, ainda.
E encostou a cabeça ao ombro dele, enquanto desembrulhava o chocolate e o comia, em silêncio, deixando Draco pensativo.
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