Capítulo 2
O barulho incessante de um pé a bater no chão ecoava pelas masmorras onde Severus Snape tentava dar aulas. O humor ácido do professor já era conhecido e ainda assim, todos os alunos notavam que piorara drasticamente. Com Ashley Diggory a abanar nervosamente a perna, o professor parecia estar prestes a explodir, o que fazia os restantes alunos tentarem chamar a Hufflepuff à atenção, algo que era em vão.
Ley estava focada na sua poção, tentando a custo seguir todas as instruções e o seu nervosismo devia-se ao pavor que tinha de Snape. Ao seu lado, Laurel apenas observava, dando-lhe algumas indicações e não ligando ao som do pé de Ashley a bater nervosamente no chão enquanto colocava cuidadosamente as raízes que a Hufflepuff não fazia ideia para que serviam.
Quando o professor de Poções se aproximou das duas, a mão de Ley tremeu e mais raízes do que indicado na receita caíram no caldeirão, fazendo-o borbulhar perigosamente. Em questão de segundos, a poção explodiu diretamente para o corpo de Snape, ensopando as vestes negras do professor e a sua cara de surpresa. Ashley olhou em volta, à procura de um buraco onde se pudesse esconder, enquanto Laurel escondia a cara o melhor que conseguia para evitar que notassem o quanto estava com vontade de rir da expressão de Snape.
- Miss Diggory, faça por favor a todos nesta sala de evitar explodir os seus colegas e agradecia-lhe que parasse de abanar a perna. - disse Snape, apontando para o pé nervoso da menina - Quanto a si, Miss Laurel... - os olhos negros como carvão fixaram-se na ruiva, que endireitou-se, séria - Por mais brilhante que seja e por mais perfeitas que sejam as suas poções, agradecia que trabalhasse na minha aula como os seus colegas.
Laurel corou, estarrecida. Era em Poções que mais se esforçava, sendo das poucas aulas em que não era tão necessário utilizar magia e por isso a matéria onde se sentia mais confortável. Snape normalmente admirava o seu trabalho e percebera que, ao deixar Ley fazer sozinha e orientando-a, as intenções da Raven eram de ajudar a amiga a melhorar naquela matéria. Naquele momento, o professor olhava-a com desprezo, como se a achasse preguiçosa e arrogante ao deixar a desastrada da amiga fazer todo o trabalho por ambas.
- Eu estava a ajuda-la, professor... - tentou defender-se, sem entender de onde vinha aquela expressão do professor.
- E falhou miseravelmente. Vinte pontos a menos para os Slytherin e dez a menos para os Hufflepuff.
Furiosa, Laurel passou o resto da aula refazendo a poção, apresentando-a a Snape no final. Apesar de estar perfeita, o professor limitou-se a assentir e virar as costas, deixando uma Laurel a bufar de frustração e Ashley com lágrimas nos olhos. Infeliz por ter prejudicado a amiga, a Diggory saiu da sala sem que Laurel se apercebesse, estando esta determinada a entender aquele súbito conflito. Se pensasse bem, não era tão súbito assim. Desde o primeiro dia daquele ano que Snape a olhava de forma quase da mesma forma que olhava para Harry Potter, por quem parecia nutrir um ódio pessoal sem motivos aparentes.
- Professor. - chamou Laurel, aproximando-se de Snape, que se sentara tranquilamente por trás da sua secretária sem a olhar - O senhor tem algum problema comigo?
Severus ergueu o olhar, surpreendido. Laurel era um rapariga gentil mas a idade tornara-a ainda mais perspicaz e direta, levando-a a olhar o professor nos olhos e a enfrentá-lo sem um vestígio de medo. Educada e com respeito, a ruiva aguardava uma resposta, o livro de Poções firmemente agarrado junto do peito e o medalhão ao seu peito da cor dos seus olhos, mostrando o sangue que realmente corria nas suas veias.
- A menina deixou que a sua amiga explodisse a sala quando sabia exatamente como preparar aquela poção. Não acha isso uma atitude irresponsável da sua parte? - questionou-a, cruzando as mãos sobre o colo, observando a postura de Laurel endireitar-se e um rubor de irritação preencher a palidez das suas bochechas.
- Enquanto professor, o senhor sabe que é na tentativa-erro que muito conhecimento é adquirido. - respondeu, com um tom mais gentil - Ashley é inteligente mas muito insegura e o senhor não ajuda. A maioria dos alunos tem... medo de si. - confessou, baixando os olhos - Não o quero desrespeitar mas a verdade é que Ley fica extremamente nervosa ao pé de si e...
- Não creio que as inseguranças de uma adolescente sejam problema meu. - retorquiu o professor, com faíscas no olhar - E não creio que a menina tenha maturidade suficiente para estar a ensinar-me como dar aulas. Parece que a insubordinação lhe está no sangue, Miss Raven.
Professor e aluna fitaram-se. Laurel abanou a cabeça, confusa com a afirmação do professor. De seguida, recordou o olhar que Snape deitara a Remus quando o vira, uma mistura de reconhecimento e aversão que agora dirigira a ela.
- Eu sou a aluna que mais pontos dá aos Slytherin e o senhor sabe disso. - Laurel estreitou os olhos - Não tente fazer comigo o que faz com o Harry ou a sua querida Casa perde a aluna mais inteligente que tem.
A ruiva virou-lhe as costas, a passos largos, parando de costas para o professor quando este a chamou.
- Creio que sabe sobre Sirius Black ter escapado de Azkaban. - Laurel assentiu, olhando-o de lado, cautelosa - Tenho conhecimento da sua... relação com o Black e se descubro que a menina o ajudará de alguma forma...
Laurel virou-se para o professor, ultrajada.
- O senhor não sabe de nada. - foi tudo o que disse, correndo dali para fora ao sentir a magia acumular-se dentro de si.
A menina correu para longe, afastando-se de Hogwarts o mais que conseguiu. Junto do lago que fazia parte da paisagem do castelo, deixou os joelhos caírem no chão e a água à sua frente ficou agitada, respondendo à própria agitação da menina. As ondas foram diminuindo à medida que a respiração da Ravenclaw regularizava, a magia regressando ao seu estado dormente do costume.
Era óbvio que Snape tinha algum problema com Sirius Black e possivelmente com Remus também, o que não justificava tratá-la daquela forma. O facto de Snape saber que Laurel era parente de Sirius não a agradava mas se Dumbledore lhe contara a verdade sobre ela era porque confiava no professor de Poções e Laurel nunca questionaria as decisões do avô.
Suspirou, pondo-se de pé e sacudindo a roupa que usava. Ao longe, uma figura atraíu-lhe um olhar, uma rapariga morena que já lhe era muito familiar e que lhe virou as costas de imediato, deixando Laurel a observá-la pensativamente.
Uma ideia surgiu-lhe. Havia uma Slytherin que falava com ela e que facilmente lhe diria o porquê de Meredith Lovelace ter decidido ser amiga das Cobras de repente. Com um sorriso decidido, Laurel correu de volta para o castelo, em busca de Astoria Greengrass, a Slytherin com mais juízo que conhecia, sem contar com a Meredith que conhecia.
A Greengrass arregalou os olhos ao ver Laurel correr ao seu encontro, esbaforida. A mis nova estava a caminho da sua aula de Herbologia junto das amigas, duas Slytherin que se afastaram de imediato da ruiva assim que ela se aproximou. Astoria, por outro lado, limitou-se a acenar às amigas, indiferente ao olhar que estas lhe lançavam por estar com Laurel. A Greengrass mais nova era muito diferente de Daphne, que gostava de ouvir os rumores e fazer o que os outros faziam.
- Está tudo bem? - perguntou Astoria, pousando a mão no ombro de Laurel, notando que, apesar de mais velha, as duas eram do mesmo tamanho, apesar do brilho no olhar da ruiva ser mais maduro do que qualquer outra pessoa que a pequena Astoria conhecia.
- Eu preciso da tua ajuda. - conseguiu dizer Laurel, com alguma falta de ar pela correria - Porque é que a Meredith anda com a Pansy e com a tua irmã? Eu sei sobre os rumores em relação ao nascimento dela mas...
- A mãe de Meredith fugiu da prisão, Laurel. Isso ainda incentivou mais os rumores e os maus tratos. Para sorte de Meredith, Pansy é a maior causadora dos boatos e conseguiu resolver isso facilmente quando começou a falar mal de ti.
Laurel piscou, confusa. Astoria suspirou, perguntando-se em que mundo aquela menina vivia.
- A Pansy detesta-te. Chama-te demónio e acha que tu a atiraste pelos ares de propósito no ano passado...
- Eu não fiz de propósito! - exclamou Laurel, com as bochechas a corarem.
- Ela diz que sim e toda a gente acredita na Pansy. Então, para evitar continuar a ser gozada e mal tratada, a Meredith deu-lhe algo mais importante do que o seu próprio nascimento duvidoso: inventou que tu és neta de Dumbledore e que só por isso estás em Hogwarts. Meredith afirma a pés juntos que tu és um aborto e que só estás aqui porque Dumbledore é teu avô.
A mais velha abriu a boca, chocada. Por instantes, enfureceu-se, quase virando as costas a Astoria para confrontar Meredith sobre os rumores ridículos que a Lovelace estava a instigar sobre ela. No entanto, deixou-se ficar, a mente a trabalhar sabiamente, encaixando as peças.
- Meredith está a usar-me para se proteger. - constatou a Ravenclaw, com tristeza na voz.
Astoria assentiu.
- Eu vejo-a todos os dias a chorar na casa de banho das raparigas do terceiro andar. Costumo lá ir conversar com a Murta Queixosa.- explicou a mais nova, referindo-se ao fantasma da jovem menina que morrera naquela mesma casa de banho, vítima do Basilisco de Tom Riddle tantos anos antes - Meredith não aguenta a forma como as pessoas a olhavam quando souberam que a mãe escapara de Azkaban. Diziam-lhe coisas horríveis. Sendo amiga de Pansy e dos outros Slytherin, ela está protegida desses maus tratos.
Laurel fungou, limpando a lágrima que escorria solitariamente pela sua bochecha.
- Eu poderia protegê-la...- sussurrou, tristemente.
- Desculpa, Laurel.
As duas fitaram-se, o olhar de Laurel agradecendo pela informação. Astoria assentiu, passando pela menina e estacando um pouco á frente, lembrando-se de outro rumor que ouvira.
- Há outro problema também. Draco Malfoy.
A ruiva ergueu a cabeça, com as sobrancelhas arqueadas.
- O que essa peste fez desta vez?
Astoria deu uma risada.
- Ele diz que um fantasma o atacou e que o ameaçou de morte se te fizesse mal. Acho que foi a correr contar ao pai e tudo.
Para surpresa da Greengrass mais nova, Laurel empalideceu.
- Um... um fantasma?
- Sim. Uma mulher, na verdade. Acho que era o fantasma dos Ravenclaw, mas sem certezas...
Não terminou a frase, pois Laurel já desatara a correr dali para fora.
- Eu vou matá-la! - a ruiva gritou, enfurecida.
Astoria franziu o sobrolho.
- ELA JÁ ESTÁ MORTA! - gritou de volta, em vão.
A mais nova encolheu os ombros e continuou o seu caminho.
Laurel era uma pessoa estranha, constatou, inocentemente. Encolheu os ombros.
Não era um problema seu.
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