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Capítulo único

Quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sua vida pode mudar em um minuto. Ao custo de uma ligação, uma batida na sua porta. Eu sou a prova viva disso.

A mesa está posta e pequenas chamas tremeluzem sobre os castiçais dourados que outrora foram uma lembrança feliz do nosso casamento. É a primeira vez, em três anos, em que um dia de ação de graças será celebrado em casa. Nossa casa.

Um momento nostálgico. Quero dizer, este costumava ser o ponto de encontro entre nossas famílias nas datas comemorativas e o feriado de ação de graças, em específico, era exclusividade das minhas raízes americanas.

Papai, um militar da reserva, fazia questão que mamãe compartilhasse conosco sua cultura, desde que Toni e eu éramos crianças, e foi assim que acabei me apaixonando pela data.

Então, desde que nos casamos, Lucas e eu reuníamos nossas famílias ao redor de uma mesa farta e agradecíamos pelo que estávamos construindo. Pelo que acreditávamos construir.

São quarenta e dois meses ao todo, e eu ainda me lembro, como se fosse hoje.

Não estávamos em guerra, então não posso fingir que não abri um sorriso ao ver os dois homens fardados em minha porta, quando atendi ao chamado da campainha.

Especialmente porque um deles era o meu irmão caçula.

Meu sorriso, porém, não se manteve por muito tempo, simplesmente porque Toni não retribuía. Ele não abriu os braços e me chamou de branquinha. Não bagunçou meu cabelo em um ridículo cumprimento só porque sabia como isso me irritava. Nem uma careta. Nada.

Foi assim que percebi. Aquela não era uma visita informal.

Havia um carro das Forças Armadas na minha porta, droga. O brasão da aeronáutica cravado na lataria. Mas, ainda assim, nada daquilo fazia sentido. Não podia ser uma notificação de falecimento.

Porque meu marido não podia estar morto.

Não o meu Lucas.

***

Minha imagem refletida no espelho da sala se torna turva por causa das lágrimas que se formam à lembrança do pior dia da minha vida. À imagem do caixão vazio que um dia enterrei. Levo minha mão ao rosto, secando-as depressa.

O pequeno relógio em meu aparador indica que já são oito da noite, o que significa que todos estão atrasados há pelo menos uma hora. As velas sobre a mesa diminuíram, consumidas por si mesmas, e o pernil decerto já esfriou.

Tudo muito esquisito. Minha família não é exatamente pontual, mas os pais de Lucas não costumam se atrasar. Toni já deveria estar aqui pela distância entre nossas casas. A única explicação razoável é que a chuva tenha provocado algum dano à estrada.

Caminho até a janela na esperança de ver algum sinal dos meus familiares, mas tudo parece mais deserto que o habitual. A água escorre das nuvens com força, quando uma luz corta o céu. Tamanha é sua intensidade, que eu me sinto cegar por algum tempo. Apenas o suficiente para que o trovão finalmente irrompa.

Levo as mãos ao peito com o susto e, quase por instinto, fecho as cortinas de forma abrupta.

É quando algo inesperado acontece. Ouço a campainha tocar ininterruptamente, mesmo quando há instantes constatei que não havia ninguém nas redondezas.

Nunca fui exatamente uma pessoa supersticiosa, mas preciso admitir que meus pés tremem ao me levarem até a porta.

Meu coração salta quando vejo, através do olho mágico, a imagem de Douglas, meu vizinho, encharcado pela chuva do outro lado.

Destranco a porta como posso e peço para que ele entre.

— Lisa! — diz entre espirros, estendendo o celular para mim. — Sua família tenta te contactar há mais de uma hora.

Franzo o cenho, aceitando o aparelho e os olhos de meu vizinho permanecem atentos em mim. Seu brilho sombrio é justificado pela notícia que recebo do outro lado.

— Lucas foi encontrado.

O silêncio que segue essas palavras é tão doloroso quanto eu jamais suporia. Não quando aquilo era tudo que eu mais desejava. O meu coração acelera enquanto processo a informação. É tão absurda que poderia ser brincadeira. Exceto que... ninguém seria tão cruel assim.

— Com vida? — sussurro para Toni, conforme uma avalanche de emoções me consome.

— Sim, mas... não temos certeza alguma sobre o seu estado. Ele está sendo encaminhado para o Hospital Central. Estamos todos aqui.

— Eu... — as palavras demoram a se formar, então eu sacudo a cabeça como se isso pudesse, de alguma forma, organizá-las. – Encontro vocês aí.

***

Sua vida pode mudar em um minuto. Ao custo de uma ligação, uma batida na sua porta. Eu sou a prova viva disso.

Durante o trajeto não consigo deixar de pensar nos últimos três anos. Não posso deixar de odiar a mim mesma por ter simplesmente desistido.

Como, por Deus, como Lucas podia estar por aí sem que eu soubesse?

Estou na subida da Serra, a caminho do hospital, quando noto o ponteiro do meu combustível.

Há um posto a poucos metros e calculo que vou conseguir alcançá-lo a tempo de abastecer.

É quando o pesadelo começa.

Tento não entrar em um embate com o frentista que justifica que não há combustível.

— Senhora, o último cliente esgotou nossos tanques — sinto meu rosto aquecer de raiva.

O homem simplesmente não entende.

— Mas posso garantir que tudo vai voltar ao normal ao fim da chuva — insiste ele.

— Você não entende. Eu não tenho tempo!

O frentista me ignora por completo. Simplesmente vira de costas para cumprimentar o motorista recém chegado de um caminhão pipa que parece ser seu amigo. E digo isso pelo modo como o caminhoneiro, já no chão, é envolvido num abraço caloroso.

Então tenho a pior ideia da minha vida.

A porta do caminhão está aberta. A chave na ignição. Levo pouco mais de dez segundos para dar a partida e voltar para a estrada antes que eles se deem conta e gritem toda sorte de xingamentos sob a poeira que acabo levantando.

A máquina gigantesca engasga uma, duas vezes. Mas a fórmula é basicamente a mesma de dirigir a caminhonete da igreja, exceto que é bem mais difícil alcançar os pedais.

A adrenalina pulsa em minhas veias com toda a força.

No meio da Serra já não há mais chuva. Mesmo assim a cada ciclo dos pneus desse caminhão — quantos são não faço ideia — meu coração bate acelerado. E a coisa toda piora quando chego a uma curva.

Há, como se não bastasse, uma caminhonete desgovernada da minha direção. O motorista não parece conseguir acionar o freio e, ainda que eu esteja subindo, também não consigo parar a tempo.

Um minuto e sua vida pode mudar. Isso ou até menos. Eu costumava ser a prova viva disso.

Até agora.

Vejo o pequeno carro girar diante de mim e derrapar para a ribanceira antes que minha própria cabeça seja lançada para a frente, na direção do volante, e tudo se apague.

***

Minha cabeça dói. Não, tudo. Sinto  tudo doer.

Mas quando finalmente abro os olhos, vejo os dele.

Cinzentos e tempestuosos.

Avermelhados e úmidos.

— Lisa? Lisa, meu bem! – a voz ofegante, cujo timbre que eu sequer reconheço. – Sou eu! Lucas!

Uma lágrima escorre pelo rosto bem desenhado e não consigo conter o impulso de levar o dedo até ela.

– Seu Lucas, meu amor.

Seus olhos se fecham e ele apoia a mão sobre a minha. O calor irradiando por minha pele fria. Minha garganta arranha e meu peito acelera, as emoções num misto de pânico, prostração e urgência, quando finalmente reúno forças para dizer:

— Lucas?

— Sim?

— Quem é você?

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