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Pedro e Klaus

   

     No auge daquela mesma noite a insônia acompanhava Pipo.
  Talvez um lapso de ansiedade misturado com um sentimento de frustração o sufocava através dos movimentos inquietantes que ele exercia em sua cama.
   Depois de mandar a mensagem, isto é, antes de pensar 10 vezes se era realmente uma boa idéia, ele ouvia uma voz que gritava a plenos pulmões dizendo que tudo aquilo seria uma péssima idéia.

   Assim como a voz, uma imagem pouco nítida do futuro marido Alex apareceu através do teto junto de seu rosto ruborizado de raiva fazendo toda àquela paranóia de Pipo parecer real.
     
    
    Ele pôs a perna esquerda para fora da cama enquanto que o pé da perna direita já encostava e sentia o assoalho gelado. 
  Suspirou lentamente, e com as mãos sob a cabeça fechou os olhos. Rezou baixinho mas gaguejava.  A oração sobressaiu falhada.

     Levantou por alguns minutos e olhou o celular em cima da instante ao lado da cama. 
Ja havia se passado trinta minutos e o celular estava quieto. Nenhuma mensagem. E Klaus estava online no whatsapp.

   " Que loucura minha mandar mensagem para ele a esta hora" -- Contemplou um pensamento contrário da própria vontade.

  Algo o deixou agitado como se houvesse pulgas sobre cama.
   Nada do sono vir. Nem se ele se desejasse o sono viria. Seu coração estava batendo acelerado. 

      Pipo cansado de esperar tomou o aparelho em suas mãos. A luz iluminava com detalhes o cansaço pairando em seu rosto, no momento em que abriu as conversas e viu que o ícone de "online " destacava na janela  de Klaus,  suas pupilas dilatam.
 
   A hesitação tomou conta dos seus dedos. Parecia que nem mesmo ele mantinha controle sobre os polegares. 
     Foi então que ele puxou o ar e deliberadamente a ideia de fechar os olhos enquanto digitava surgiu com o objetivo dinâmico de resolver àquela situação emblemática.

    Pedro os abriu lentamente e as pupilas não reagiriam só a luz. E sim, à mensagem que Klaus mandou antes mesmo dele enviar um esperançoso"oi"

  " Sinto sua falta"  Pedro se ajeitou e recostou-se  ao painel estofado da cama.
     Ele não acreditou no que lia. Tentando acreditar aproximou o rosto da tela do telefone.
    Um arrepio percorreu por sua espinha. E um desejo insano de adentrar à tela passou por sua perturbada e barulhenta mente.

    Ademais, para Pedro a tarefa de continuar a conversa foi mais difícil do que em sua cabeça.

O silêncio entoou, embora o jovem milionário sentia vontade de exprimir tudo o que o seu coração sentia em forma de palavras sinceras as quais queria ter dito ao amor do passado. Muito antes para se falar a verdade.

     De um ano pra cá muita coisa aconteceu. A vida vazia que Pipo levava logo fora preenchida com lacunas de responsabilidade sem direito a diversão. 

    Do contrário, nada acontecia na vida de Klaus. Em um ano a própria frieza tomou lugar dentro do seu coração tornando a desestabilizar o próprio equilíbrio emocional.

    Ambos distantes viviam errando as  próprias equivocadas escolhas que rumaram em seus destinos uma vida oposta à sua.

   A única coisa que não se apagou diante de suas vidas duvidosas a chama ardente e recíproca da paixão que nutriram um pelo o outro na época em que se conheceram.

  Dado os fatos, o amor que une um pelo o outro estava prestes a reuni-los novamente. Pipo haveria de agir rápido, sempre fora ágil quando o assunto fosse resolver um problema. Ou se sobressair de um.

  
    Estrelaçou os dedos, flexionou os joelhos e sem nervosismo começou a digitar sem parar e com toda a coragem que aos poucos aflorou em um sorriso alegre.
    " Eu quero te ver agora, me diz onde você está morando que eu irei. Não quero não como resposta."

    Fechou os olhos piscando sem parar  num tique nervoso que o deixou irritado. Bagunçou o cabelo liso esfregando o sobre os dedos da mão direita. Relaxou os ombros e de cabelo em pé esperava por uma resposta.

  " O que você sugere,contraria a sua fidelidade Pipo." Os tempos já não são mais os mesmos"
 
     Pedro sacudiu a cabeça. A indignação compenetrou por seus olhos que brilharam feito faíscas.
   Insatisfeito com a resposta de Klaus, ponderou alguns segundos.
Observou a forte chuva que ainda caía lá fora e posicionou os polegares que tocavam a tela em rápidos movimentos frenéticos.

" O que eu sugiro pode trazer a tona os velhoa tempos, talvez os que nós deveríamos ter vivido."

    Sem saber disso, Klaus fazia Pipo sofrer de ansiedade por esperar tanto nos longos intervalos de cada resposta.

   " Meio difícil de acreditar nisso... Vamos se ver... Vamos tentar provar se o que existiu entre nós ainda é real.

    Embaixo da mensagem enviada havia um link de uma localização a uns 15 kilometros da mansão de Pipo. 

E antes mesmo de Pipo responder Klaus envia outra resposta.

    " Estarei nesse bar horrendo aí que você verá no mapa. Não demore, porque eu sei que você virá de carro"

    Pipo não respondeu. Deu um salto da cama e foi parar no closet com quantidades infinitas de roupas casuais. 
   As duas mãos encharcadas do suor excessivo apressaram-se entre; abrir a porta do closet e conferir a hora cuja já se avizinha em meia noite e quarenta.

    Nunca se aprontou tão rápido assim. Atravessou o corredor que seguia até a sala. Depois de certificar que Tina, a empregada roncava no quartinho dos fundos foi em direção a  garagem.

     Levou um banho do pouco tempo que ficou exposto sob o aguaceiro da chuva antes de entrar no carro.

   O jovem nunca se acostumou a dirigir debaixo de uma forte chuvarada que não amainava de forma alguma,sobretudo pilotando um Veloster presenteado por ele mesmo no aniversário passado.

   Os prédios sumiram e um novo bairro apresentava em filetes alguns casebres de madeira, segundo a localização do GPS, Pedro calculou que levaria apenas dêz segundos para chegar ao seu destino.

     Notou com precisão que o bar da foto do mapa estava em sua frente.
  Na concepção de Pipo a imagem real era mais chocante. A semelhança com o antigo bairro onde passou a infância era notória.

  Ao lado das paredes carcomidas e riscadas com frases religiosas, havia uma silhueta alta que não importava se seu corpo era escondido por tanto água que desabava.  O jovem baixou o vidro e respingos o impediram de enxergar Klaus do outro lado da rua.

    Ele pôs a cabeça para fora da janela e buzinou. Nada do rapaz encapuzado se mover. Ele o chamava gesticulando com a mão esquerda.  O rapaz do outro lado da rua parecia não o enxergar.  " Impossível ele não me ver aqui" pensou enquanto retirava do bolso da jaqueta de couro o celular que já encontrava-se acesso anunciando uma mensagem de Klaus

" SE VOCÊ QUER ME VER SAIA DESTE CARRO E VENHA  ATÉ AQUI ONDE ESTOU"

    Por instantes congelou o olhar, abriu a boca e ejetou se do cinto de segurança. A mão esquerda escorregava suavemente perante a trava da porta.

   O som da chuva amplificava a medida que o próprio corpo enrijeceu com a água gelada. O jovem sacudia o sapatos mocacino ensopados por pisar em poças profundas na estrada esburacadas que nem cachorro.

  Levando em consideração a dificuldade que teve pra atravessar a rua, Klaus sem pudor algum se despiu do capuz que cobria o rosto dando um fim naquele suspense.

   Pipo afastou um pouco. Os olhos espremidos não acreditavam no que viam. A água fria era um detalhe a parte para um frenesi perceptível por olhares que se comunicavam sem dizer nada.

    Olhando dos pés à cabeça o pródigo garçom usava um jeans rasgado na superfície das coxas e um moletom três vezes maior que ele.
  A sua reação não foi diferente
  Demorou a aceitar que o antigo amor vestia-se como mauricinho.

    Pipo afastava os lábios para dizer algo, mas Klaus contemplava um olhar frígido de canto ao play boy.

-- Sei que estou diferente. Mas ainda sou o velho Pipo de sempre.-- Pipo perseguia os olhos verdes de Klaus que fugiam a todo momento.

-- Me prove!-- Klaus pegou em sua mão sem olhar em seus olhos.-- Passe uma noite comigo!-- seu jeito firme de falar ressoava mais como uma ordem do que uma sugestão.

-- Talvez.--Pipo respondeu com dificuldade uma vez que sentia a vibração através das mãos calejadas de Klaus.-- onde você mora?-- perguntou preocupado.

-- No final da rua-- Klaus conservou a expressão de homem mal e apontou o dedo para a reta que eles deveriam seguir para chegar onde ele mora.

-- E o meu carro? Onde vou estacionar?--  Klaus com toda coragem puxou aquele garoto de que ele tanto desejava pelo  braço e lhe lançou um beijo.  O corpo de Pipo tremeu. Nunca sentiu algo tão forte e inexplicável.
   A intensidade do beijo aumentava com um toque íntimo das mãos entrelaçadas e em contrapartida um abraço apertado quebrava a corrente de uma saudade que os deixava depois daquele beijo.

-- Eu esperei muito por este dia-- Havia uma luz no sorriso de Pipo.

-- Eu já sabia que esse momento chegaria!--- O tom seguro de Klaus arrancou suspiros entrecortados de Pipo.

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