Capítulo 14 - Contando a verdade
Vanessa Schneider
Olha, não me orgulho das minhas atitudes ultimamente. Trair alguém é horrível, e ser traída também. Fabiana não desconfia das saídas casuais do namorado, mas minhas amigas já notaram que algo de errado não estava certo comigo, e depois de muito tempo pensando sobre contar ou não, cheguei a um consenso com a minha própria consciência e resolvi contar.
O episódio da morte estava previsto para acontecer hoje a noite, em uma festinha só de garotas. Eu estava nervosa e apreensiva, não tinha ideia do que poderia acontecer, elas me matariam? Me esfolariam? Me xingariam? Ou os três?
Acho que a última opção é a mais provável.
-De acordo com alguns doutrinários, e de acordo com a própria lei brasileira, vocês sabiam que traição é causa de processo, meus jovens doutores? - Thomas, o professor de Direito que teve um caso com uma de suas alunas, explicava Processo Civil II para nós.
Ótimo. Agora tudo o que me rodeava ia cutucar o meu ser e minha consciência. Qual era a necessidade de falar sobre traição?
-Professor, isso quer dizer que quem é traído pode impetrar com uma ação de danos morais? - Uma pessoa aleatória da minha turma questionou, e eu abri meus ouvidos para a resposta.
-Sim, e acreditem, a causa é mais do que ganha! - Thomas ajeitou a gravata no pescoço.
-Sendo assim, quem vai ser responsável por pagar a indenização? O casal traidor? - Me vi perguntando de forma involuntária.
-Na maioria dos casos, ambos pagam, mas isso é algo que vocês verão ao longo do curso, não se atenham a isso, pelo menos por agora. - O King deu por encerrada a discussão.
Aquilo ficou na minha cabeça, martelando e martelando, dando lugar para as minhas paranóias. E se Fabiana descobrisse? E se alguém levasse a conhecimento dela a possibilidade de entrar com uma ação? Gente eu não tinha dinheiro nem pra coxinha, quem dirá para pagar uma ação de danos morais.
-Vanessa, você está bem? Tá branca igual um papel... - Minha amiga Bruna me cutucou.
-Eu preciso ir pra casa, não me sinto bem. - Falei um pouco desnorteada levantando da cadeira logo em seguida.
Sai da faculdade igual um trem bala, na minha mente, coisas totalmente sem nexo me levavam a assumir a culpa de estar participando de um joguete nas mãos de João Francisco. Ele disse que sentia minha falta, mas nunca admitiu que gostava de mim, e ainda estava namorando. Eu claramente me sentia uma idiota, ainda mais por não estar dividindo isso com as minhas amigas, que na certa, estão mais do que perto de descobrirem minhas façanhas.
Cruzei a esquina e segui rumo ao meu apartamento, e quando eu menos esperava, uma voz gritou meu nome:
-VANESSA!
Virei-me já com medo de ser um ataque do espírito do Osama Bin Laden, querendo me crucificar pela minha total falta de noção em ter voltado com o embuste supremo.
-Tadeu? - O olhei com estranheza.
-O próprio. - Ele sorriu enquanto caminhava ao meu encontro.
-O que...? - Eu não sabia o que exatamente eu queria dizer.
-Estou de volta a cidade, podíamos marcar alguma coisa qualquer dia desses, sei lá, colocar o papo em dia. - Deu de ombros.
O mesmo papo de sempre...
-Claro, preciso ir, tchau, Tadeu! - Virei as costas e ele me interceptou. - Preciso ir, de verdade.
Ele me fitou com seus olhos claros e suas madeixas louras, juro que me lembrei perfeitamente de como era agarrar aqueles cabelos e o trazer para um beijo bem ardente. Não sei vocês, mas eu, ao ficar cara a cara com aquele ser humano, tive a total certeza de que não sentia mais nada por ele, nem mesmo vontade de ser amiga.
-Posso te dar um abraço? - A pergunta me pegou desprevenida.
Arqueei a sobrancelha e abri a boca umas duas vezes sem encontrar as palavras certas. Fechei os olhos e contei até cinco, novamente pedindo ajuda aos meus xamãs, e no final das contas, senti somente meus ombros fazerem um movimento concordando com o pedido do meu passado, agora mais antigo.
Tadeu deu um sorriso tímido e me puxou em um abraço apertado. Correspondi um pouco reprimida sem saber ao certo como reagir. Nos afastamos e eu me limitei a dar um sorriso fraco, acenando com a mão. Soltei o ar dos pulmões e me pus a andar novamente sem olhar para trás. Peguei meu fone de ouvido e deslizei meus dedos pela tela do celular em busca da playlist que me tirasse esse encontro inusitado da cabeça.
Contudo, antes mesmo que eu pudesse dar o play, uma mensagem de João se fez presente em minha tela:
Fui substituído? Não pensei que duas semanas longe um do outro fariam você me trocar dessa forma...virei seu amante agora também?
A primeira coisa que pensei foi: como ele me viu com o Tadeu?
E a resposta da pergunta veio no momento em que eu parei de andar e observei a minha volta. Eu estava exatamente em frente ao quartel que João tinha o costume de vim toda semana, logo, estava mais do que justificável ele ter visto meu quase replay com meu outro ex (se tem uma coisa que eu tenho bastante nessa vida, essa coisa é ex namorado).
A segunda coisa que pensei foi: porque ele estava tão incomodado com isso? Ele não queria que eu seguisse o baile, então porque a revolta?
Não era como se eu fosse voltar para o Tadeu, mas se fosse para cutucar a onça com vara curta, valeria o esforço, e aquilo me deu uma ótima ideia.
(...)
-Tudo bem, antes de qualquer coisa, quero que vocês tentem entender o meu lado, juro, nada disso estava nos meus planos. - Comecei a falar.
Estávamos dispostas em uma rodinha, quase um ritual de bruxas, Bia em uma ponta, Roh em outra e eu em outra. As duas me encaravam curiosas, em suas mãos, um copo de tequila balançava e eu já podia ver ambos objetos sendo tampados na minha cara.
-Amiga, fale logo, Roh e eu estamos aqui pra você. - Bia sorriu amigavelmente.
-Tudo bem...vamos lá! - Sorri com o encorajamento. - Virei amante do João Francisco.
-YUKE?! - As duas gritaram jogando a tequila em cima de mim.
Fechei os olhos sentindo o cheiro forte da bebida em meu rosto e no meu cabelo, me lembrem de tirar certas coisas do alcance das minhas amigas nas vezes que eu precisar contar um segredo para elas.
-Sua safada! A quanto tempo isso está rolando? E porque não contou pra gente? Estamos loucas para jogar muito mais do que uma tequila nessa sua cara agora. - Roh me olhou incrédula.
-Meninas, qual é?! Não foi na intenção, ok? Tudo aconteceu muito rápido e prometemos que não íamos contar pra ninguém, nem mesmo para os nossos melhores amigos. - Me defendi. - Estamos nisso a um mês.
-UM FUCK MÊS? DURANTE ESSA COPA INTEIRA VOCÊ ESTAVA TRANSANDO COM JOÃO FRANCISCO E NÃO CONTOU NADA? SEGURA MEU LITTLE COUTO BIA, EU TO PASSANDO MAL. - Roh gritou se abanando.
-Sem drama, obrigada! - Bufei.
Bia pendeu a cabeça para o lado e segurou minhas mãos.
-Sabemos que você teve seus motivos de esconder isso da gente, a Roh é uma exagerada, estamos felizes por você ter tomado a decisão de dividir isso conosco, mesmo que tenha demorado, só nos prometa que não vai ficar nisso pra sempre, você merece alguém por inteiro amiga, e sabemos que o embuste nunca vai ser totalmente seu, essa foi a maior prova disso. - Ela disse compreensiva.
Tudo o que ela disse era verdade, e eu deveria convencer meu coração de que sentimento era artigo de luxo na minha relação com João, mas até quando eu iria separar sexo de amor?
-Eu amo vocês. - Falei abraçando minhas amigas.
-Nós também te amamos! - Bia falou.
-Mas eu ainda quero dar na sua cara. - Roh falou rindo.
E o restante da noite foi regado de besteiras, filmes tristes e muita bebida.
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Vanessa só da murro em ponta de faca, nenon?! O que vocês acham que ela vai fazer? Será que ela vai usar o Tadeu ou algo vai impedir isso?!
Galerinha, "Amante do meu Ex" ganhou um trailer lindíssimo confeccionado pela @BeatrizAmarins essa linda <3 Muito obrigada, fadinha, ficou sensacional!
Deem só uma conferida, galera!
https://youtu.be/L0ZDIL9OfZI
Até o próximo!
PS: Notaram o cross com "Meu Querido Professor" ali em cima? ==
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