15. Amanda
Atualizei meu e-mail mais uma vez. Nada. Atualizei meu whatsapp. Nada.
Que espera angustiante! Eu enviara meu currículo para várias vagas, mas nenhuma me respondera... Além disso, na volta da viagem, eu e Luca brigamos. Eu pensei que o caminho até a cidade seria uma boa oportunidade para conversarmos e resolvi ser bem franca sobre a questão do casamento. Afinal, eu não queria terminar com ele, eu só queria adiar um pouco... Mas, novamente, não consegui nem chegar nessa parte. Assim que eu disse que não me sentia pronta, o Luca engatou um sermão insuportável sobre como eu precisava de um trabalho estável, que logo que eu começasse na escola eu perceberia que a nossa vida era perfeita, que precisávamos estar presentes na comunidade... Aí, quando ele disse isso, eu surtei. Quantos anos ele tinha?? 90? Estar presente na comunidade? Que coisa mais antiga! Eu não estava acreditando naquilo.
Eu tentei dizer que eu tinha sonhos, que eu não queria ficar para sempre presa em uma escola, que aquela não era a minha paixão, mas eu posso jurar que ele não absorveu nenhuma palavra do que eu disse. Tudo que importava para ele era escolher uma bela casa, com um jardim grande para crianças (ele disse CRIANÇAS!) e, quem sabe um dia, eu poderia ficar em casa e não precisaria nem trabalhar...
Por um momento, achei que o meu namorado – está bem, noivo – tinha sido abduzido por algum senhor vindo dos anos 50. As expectativas de Luca para mim eram nulas. Para ele, eu não precisava nem ter uma carreira! Foi revoltante, humilhante, eu simplesmente não tinha palavras para descrever toda a raiva que eu sentia quando lembrava dessa conversa no carro.
No domingo à noite, ele me deixou em casa e eu bati a porta do carro com tanta força, que consegui ouvir o palavrão que ele soltou do lado de dentro. Mas me arrependi de ter feito isso, porque percebi que a minha mala estava no banco de trás e tive que abrir a porta...
Dois dias se passaram e nós não nos falamos mais... Meus pais tinham saído para jantar com amigos e eu me arrastei até a sala para escolher uma série. Fiz uma pipoca, abri uma coca zero e me acomodei no sofá, pronta para passar a próxima meia hora tentando escolher uma série no Netflix.
Trããm.
Meu celular tremeu contra o vidro da mesinha lateral e eu pensei duas vezes antes de olhar. Estava exausta. A última coisa que eu queria era entrar em uma DR com o Luca... Mas quando olhei a tela, li: Marco.
Professor Galão! Ele voltou!
Eu estava um pouco constrangida com o sumiço do Galão... Ele me mandara aquela foto e aí eu caí na pilha da Sam e da Nat e mandei uma foto de toalha. Depois disso, eu esperava algo, né? Mas aí ele sumiu!
A única coisa que me deixava mais tranquila é que ele não lera a mensagem, então eu não estava me sentindo tão rejeitada. Só por isso. Era como se ele tivesse perdido o celular ou algo assim. A última vez que ele entrara no whatsapp fora no domingo.
Agora ele me respondia com: - Amanda, essa sua foto mexeu comigo. Precisei esperar uma oportunidade para responder adequadamente...
E uma foto. Debloqueei o celular já pensando: É o meu nude! É o nude que eu queria!
Mas não era, mas era incrível... Era uma foto dele de toalha, de frente para o espelho do banheiro, aquela barriga em que eu sempre tocava nos meus sonhos... Mas a toalha tapava o galão, infelizmente. Dei um zoom, tentando ver melhor e deu pra perceber o contorno do que eu queria... O celular também cobria o seu rosto, mas dava pra ver aqueles cabelos espetados e a barba por fazer...
Ele estava online! E eu não tinha nada pra fazer! Pensei rápido e respondi: - Cuidado, professor, assim vou achar que só agora você tomou banho...
Para a minha surpresa, ele respondeu imediatamente: - É que 🐔 não gosta de água.
- Achei que fosse 🐱 ... – respondi, rindo.
- Na verdade, é que não estou tão acostumado a tirar essas fotos. Preciso praticar.
Ué... Mas ele que tinha começado, pensei. Ah não, na verdade, fui eu, lembrei.
- Você está se saindo bem, professor – digitei.
- Não sou mais seu professor, Amanda – ele respondeu.
Senti um frio na minha barriga com essa mensagem. Ele tinha razão. Ele não era mais meu professor. E ele estava me mandando aquelas fotos... Ele queria algo e, pra ser bem sincera, eu queria que ele fosse bem-sucedido.
- Bem, então como devo te chamar? Pode ficar tranquilo que não vou te chamar de Galão 😳
- Hahaha, fico feliz em saber.
- Imagino o quanto você não riu com aquela mensagem da Sam...
- É verdade, eu ri...
- 🙈
- Mas eu gostei...
- Se não posso te chamar de professor, nem de Galão, então como a vossa excelência gostaria de ser chamada?
- Tenho algumas ideias... 😏 Mas, por enquanto, pode me chamar só de Marco.
- Estou curiosa quanto a essas ideias... 👀
- O que você está fazendo?
- Tentando escolher uma série pra ver. E você?
Quase instantaneamente, recebi uma foto da televisão dele, ligada na mesma tela de sugestões do Netflix.
- O que acha de escolhermos algo juntos? – ele sugeriu.
Pela minha experiência com meus pais e com o Luca, isso costumava demorar, mas concordei.
- Está bem.... O que acha dessa aqui?
Mandei pra ele uma foto da estreia de "Por Trás de Seus Olhos", que acabara de entrar no Netflix.
Um minuto depois, ele respondeu: - Gostei. Começando.
E uma foto do início da série.
- Eita, calma aí, vou ficar atrasada! – respondi dando play.
- Putz, que azar – ele mandou, quando a protagonista descobriu que o cara do bar era o seu novo chefe.
- Tadinha! 😨 – respondi.
- Consigo me identificar com essa situação... 👀
- É mesmo? Como?
- Quem sabe um dia eu te conto... 🤐
Eu estava curiosa, mas a série acabou pescando minha atenção e ficamos o tempo todo do episódio sem falar mais nada. Quando o primeiro estava terminando, meus pais chegaram e se sentaram ao meu lado no sofá. Meu pai abriu um vinho e começou a fazer um milhão de perguntas sobre a série, então decidi que eles teriam que ver o primeiro capítulo.
- Vamos para o segundo? – perguntou Marco, no whatsapp.
- Infelizmente, não. Meu pai chegou aqui e está doido pra ver comigo. Agora, tenho que esperar ele ver o primeiro.
- Tudo bem, eu espero – respondeu ele, enviando uma foto da tela pausada, com um livro na mão.
Como é?, pensei. Professor Marco está me esperando pra ver a série comigo... Será que estou imaginando coisas?
- Ai, não precisa fazer isso!
- Não, eu quero. Eu espero.
- Bom, estamos revendo a cena em que ele chega ao consultório. Por que você não me conta como você se identificou com ela, então?
- Ele não queria ser o chefe dela... Lembra quando você entrou na minha sala? No primeiro período?
- Claro que eu lembro! Você chamou minha atenção por estar conversando... 😳
- Hahaha me perdoe por isso...
- Não, eu estava tagarelando mesmo... Mas o que isso tem a ver com a série?
- Digamos que eu não queria ser seu professor naquele momento.
- Nossa, eu devo ser uma péssima aluna...
- A pior.
- 😱
Depois disso ele não respondeu nada, então tive que perguntar: - Por quê?
- 🤔 Se você não descobrir em alguns dias, eu te conto.
Eu fui a pior aluna do professor Marco? Fiquei refletindo sobre isso, enquanto meus pais assistiam à série e pensando que, por mais que eu revirasse a minha mente, só tinha uma explicação para essa mensagem. Seria possível que eu tivesse algum efeito sobre o professor Marco? Eu, Amanda? Eu, uma aluna normal? Eu conhecia bem o efeito que ele tinha em mim. Ele era capaz de me enfeitiçar com aqueles olhos cor de mel, me deixar boba feito uma garota no colégio e até me fazer perder as palavras. Ele era capaz de entrar nos meus sonhos à noite, invadindo a minha mente com fantasias ridículas em que eu obedecia a qualquer ordem que ele me desse. Ele conseguia me tirar do eixo e fazer eu me sentir a mulher mais culpada do mundo por acordar arfando por um homem que não era o que estava deitado ao meu lado. Se só de falar comigo numa sala cheia de outros alunos, ele fazia eu me sentir assim, o que aconteceria se ele me tocasse? O que aconteceria se ele me beijasse?
Por um momento, tive medo. Se ele quisesse me ter, se ele realmente me desejasse, jamais seria com a mesma intensidade que eu o desejo. Jamais! Para mim, ele era uma fantasia inalcançável, um sonho distante, uma impossibilidade. E se ele me quisesse, e depois, sumisse? Eu seria capaz de superar isso? Eu seria capaz de esquecer como seria tocar aquela barriga, sentir aqueles cabelos entre os meus dedos, cheirar o seu pescoço? Eu gostaria de esquecer? O que valeria a pena? Ter ele tão perto pelo menos uma vez?
- Amanda – chamou meu pai, me resgatando dessa paranoia. – Vamos para o segundo?
- Com certeza! – respondi.
Depois digitei: - Vamos para o segundo, Marco?
- Dando play – ele respondeu.
Ficamos assim até o fim do terceiro episódio, quando o sono começou a bater. Às vezes, o Marco fazia algum comentário sobre a série, e eu sempre respondia. Às vezes, eu mesma comentava, então meu pai reclamava que nem vendo TV eu saía do celular. Quando o terceiro terminou, me despedi do meu pai e fui para o meu quarto.
- Estou caindo de sono. Vamos deixar o quarto para amanhã? – perguntei.
- Sim, vou pra cama também... Só está faltando uma coisa.
- E o que é?
- Não vou receber uma foto sua hoje?
- Mas já estou de pijama – digitei, olhando meu pijama de estrelinhas. Não era o tipo de pijama que eu gostaria de mostrar para o professor Marco.
- Melhor ainda – ele respondeu.
Subi na cama e abri os botões do decote, tentando tornar aquela foto um pouco mais adulta, mas, mesmo assim, ainda era um pijama de estrelinhas.
Mandei pra ele com a mensagem: - Se eu soubesse, teria vestido algo melhor...
- Assim está perfeito.
Eu ri, pensando que ele não sabia que, na minha bunda, tinha um coelhinho vestido de astronauta. Claro que essa parte, ele jamais veria.
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