2. A miséria ama companhia
Às oito da noite, Maisie bateu à porta do quarto de Annabelle, que dormia ao lado da namorada. Annabelle estava tão cansada da viagem, que não despertou. Luana levantou-se e enrolou-se em um lençol. Aproximou-se da porta, mas não a abriu.
— Sim?
— O jantar está servido, senhorita. — Disse Maisie.
— Ah, sim. Obrigada. Descemos daqui a pouco. — Falou Luana.
— Siga o terceiro corredor à sua direita quando chegar ao salão principal. Suas amigas a encontrarão lá. — Falou Maisie.
— Ok. — Disse Luana e voltou para a cama e sacudiu Annabelle. — Ei, acorde? Anna? — Annabelle virou-se para o outro lado e cobriu a cabeça. — Tá legal. — Luana ligou o abajur. Pegou sua roupa que estava jogada no chão. Vestiu-se e abriu a porta. Viu a mala de Annabelle no corredor e a levou para o quarto.
† † †
Marina e as outras já estavam na sala de jantar, aguardando por seu anfitrião.
— Estou ansiosa para conhecer pessoalmente o Alexander. Ele parece uma boa pessoa. — Megan disse.
— Boa-noite? — Disse uma voz masculina, que imediatamente atraiu toda a atenção para si. Um homem moreno claro, com cabelos negros e lisos, olhos castanhos, e parecido com Alexander.
— Boa-noite. — Respondeu Marina, um pouco sem graça.
— Oh, boa-noite, senhor..? — Disse Megan, encantada por ele.
— Sou Howard Blackman, irmão de Alexander. — Ele respondeu sorrindo. Ele tinha um brilho diferente nos olhos que atraiu as garotas como se as tivesse hipnotizando.
— Ninguém nos disse que Alexander tinha um irmão tão... Lindo! — Disse Megan.
— Obrigada. — Falou ele lisonjeado. — Também não me disseram que essa noite estaria em companhia de tão belas damas.
— E o Alexander?! Estamos ansiosas para conhecê-lo. — Disse Marina, quando finalmente conseguiu se libertar do poder hipnótico daqueles olhos.
— Infelizmente, ele ainda está viajando a trabalho, mas em breve, ele estará de volta. — Respondeu Howard.
— Você também é produtor? — Perguntou Seren, o analisando, desconfiada.
— Escritor. — Respondeu ele.
— Interessante. — Disse Seren. — O que escreve?
— Terror. — Falou Howard.
— Adoraria ler um livro seu. — Disse Megan.
— Se quiser, após o jantar, podemos ir até a biblioteca e então, lhe mostro alguns livros meus. — Falou Howard.
— Oh, também adoraria ver seus livros, se não se importar, claro. — Disse Seren.
— Seria um prazer, senhorita...? — Howard disse.
— Seren Cooper. — Falou ela.
— Oh! Como somos mal educadas. Esquecemo-nos de nos apresentar. Por favor, nos desculpe? — Falou Megan.
— Oh! Tudo bem. Acontece. — Disse Howard.
— Sou Megan Blackman.
— Hum, temos o mesmo sobrenome. Que interessante! — Disse Howard, encarando Megan.
— Sim. — Falou Megan, corando.
— Sou Marina Valverde. — Disse a loira, de olhos azuis.
— Encantado em conhecê-la. — Falou Howard.
— Perdi alguma coisa? — Disse Luana ao chegar de repente.
— Nossa! Luana, até que enfim. — Falou Megan.
— E a Annabelle? — Perguntou Marina.
— Ela está cansada. Não quis acordá-la. — Falou Luana e sentou ao lado de Marina, e, só então, reparou em Howard.
— Boa-noite, senhorita. — Falou Howard, sério.
— E aí? Beleza? — Disse Luana, sorrindo.
— E... Essa é minha irmã, Luana! — Falou Megan sem graça pela falta de noção de Luana.
— Sou Howard, irmão de Alexander. — Ele disse.
— Também é produtor? — Luana perguntou.
— Escritor. — Ele respondeu.
† † †
Annabelle despertou e percebeu que estava sozinha. Levantou-se e viu sua mala em um canto, a abriu e escolheu uma roupa. Tomou um banho rápido e vestiu-se, apressada. Abriu a porta, seguiu pelo corredor e desceu a escada. Parou no meio do salão principal sem saber para onde ir.
De um lado do salão havia três corredores e, do outro, também. Annabelle optou pelo primeiro corredor, à esquerda. Seguiu por esse corredor e, após um tempo, achou que ele não tivesse fim, pois havia outros corredores interligados a ele, como em um labirinto. Annabelle acabou se perdendo.
Nervosa, procurou por uma saída, mas não a encontrou. Então, parou para descansar e tentar refazer mentalmente os passos que a levaram até ali. Foi quando ouviu o som de uma música. Levantou-se e seguiu a canção, até parar em frente a uma porta. Tocou a maçaneta e a girou, empurrando um pouco a porta. Viu um homem tocando piano. Ele aparentava ter trinta anos no máximo, era caucasiano, com cabelos castanhos, e olhos azuis. Usava óculos de grau, que lhe conferiam um ar sério.
— Com licença? — Disse Annabelle, entrando na sala.
O homem parou de tocar e a encarou, surpreso.
— Desculpe? Quem é você?
— Annabelle White. Sou... Uma das convidadas de Alexander Blackman. — Falou ela sem jeito. — Desculpe por entrar assim, mas me perdi.
— Esse castelo foi projetado para confundir mesmo. Dessa forma, se alguém tentasse invadi-lo, acabaria perdido. — Disse ele.
— Eu sou muito desatenta! Deveria ter prestado mais atenção nas placas. — Falou Annabelle.
— É um prazer conhecê-la, senhorita. Sou Richard Sizemore. — Ele disse, se levantando.
— É parente do Blackman? — Perguntou Annabelle.
— Primo. — Respondeu Richard.
— Toca muito bem. Aposto que é profissional. — Disse Annabelle.
— Não. É apenas um hobby. — Falou ele, desviando o olhar.
— Eu duvido! — Disse ela, rindo. — Se importaria de tocar para mim? Sempre gostei de piano, mas nunca tive a oportunidade de tocar um ou... Conhecer um pianista.
— Seria um prazer. Por favor? Sente-se. — Disse ele, gesticulando para que ela se sentasse num sofá vermelho, que havia num canto.
Annabelle sentou-se e ouviu Richard tocar. Ele tocava tão divinamente que ela não percebeu as horas passarem depressa e esqueceu-se de que tinha de encontrar as outras na sala de jantar.
† † †
Após o jantar, Howard convidou Marina, Seren e Megan para irem até a biblioteca conhecer seus livros.
— Peço perdão, senhor Blackman, mas não o acompanharei, pois, estou muito cansada. Foi uma longa viagem. — Seren disse.
— Uma pena, senhorita Cooper, mas quem sabe em uma próxima? — Howard disse.
— Sim, seria um prazer. — Falou Seren. — Desejo a todos, uma boa noite.
— Ah, então, tenha uma boa noite. — Disse Marina.
— Tenha bons sonhos, senhorita Cooper. — Disse Howard, sorrindo.
Seren sentiu um arrepio. Tinha certeza de que, de alguma forma, aquilo soara como uma ameaça. Mas não demonstraria medo. Afinal, o que aquele homem podia fazer? Nada! Ela virou-se, sorriu e respondeu:
— Obrigada. É muito gentil, senhor Blackman.
— Pode me chamar apenas de Howard, senhorita. — Disse ele e piscou para ela.
— Se prefere assim. — Ela deu de ombros.
— Sim, prefiro. — Disse ele, sério.
Seren deixou a sala de jantar, e quando subia a escada para ir a seu quarto, encontrou com Luana. Como elas não se davam bem, Seren decidiu ignorá-la, para evitar discussão.
— Você viu a Annabelle? — Luana parecia preocupada.
— Como assim? Não sabe onde ela está?! — Seren sorriu, adorando. Se as duas não estavam juntas é porque haviam discutido.
— Não. Já a procurei em todo canto, mas não a encontrei. Talvez, ela tenha se perdido ou... Não sei. — Luana deu de ombros. Estava tão nervosa, que não percebeu que Seren a provocara.
— Você não deveria tê-la deixado sozinha. — Falou Seren.
— Vou pedir ajuda ao Howard. — Falou Luana.
— Melhor não. — Disse Seren.
— E por que não? — Perguntou Luana.
— Não confio nele. Não sei. Tenho a impressão de que ele esconde algo. — Disse Seren.
— Tem certeza de que não está sendo paranoica? — Falou Luana.
— Não acha estranho que Alexander não esteja aqui? — Perguntou Seren.
— O Howard disse que ele precisou viajar, não disse?! — Falou Luana, cruzando os braços.
— Vamos procurar a Annabelle, sozinhas. E se não a encontrarmos, aí sim, pediremos ajuda ao Howard. Pode ser? Não tem porque o incomodarmos. — Falou Seren.
— E se nos perdermos também? — Disse Luana.
— Só que você não vai se perder enquanto estiver comigo. — Falou Seren convencida e, foi até o seu quarto. Abriu sua mala e apanhou um mapa. Então, voltou à escadaria, onde Luana a esperava e as duas foram procurar por Annabelle.
† † †
Depois de se despedirem de Howard, Marina e Megan foram atrás de Seren, Luana e Annabelle, mas não as encontraram.
— Onde será que elas estão? — Perguntou Marina, nervosa.
— Devem ter ido explorar o castelo. — Disse Megan.
— Não sei, não. — Disse Marina com um mau pressentimento. — Acho melhor irmos atrás delas!
— Acha mesmo necessário? — Perguntou Megan.
— Elas podem se perder. Esse castelo é grande! Não podemos deixá-las sozinhas! — Falou Marina.
— Tem razão. Mas não temos um mapa e, também, podemos nos perder. — Disse Megan.
— Não se prestarmos atenção no caminho. — Falou Marina.
— Então, tá. — Disse Megan e suspirou.
† † †
Luana e Seren entraram na biblioteca, que ficava em uma das torres. Com dois andares, a biblioteca possuía estantes que alcançavam o teto, cheias de exemplares raros. Haviam escadas nos lados direito e esquerdo, que davam para o piso superior. No teto, havia um belo mosaico de um ouroboros, cujo corpo era formado por vidro escuro, e seus olhos, de vidro vermelho brilhante.
— Annabelle? — Chamou Seren.
— Acho que ela não está aqui. — Disse Luana.
— Continuo achando tudo isso estranho. — Falou Seren.
— Do que você está falando? — Perguntou Luana.
— Não acha estranho que um produtor inglês tenha se interessado pela nossa banda? — Perguntou Seren.
— A gente tem talento, ué! — Falou Luana e deu de ombros.
— Pode até ser, mas ainda sim, não é esquisito que Alexander Blackman não esteja aqui para nos receber pessoalmente? — Disse Seren.
— Ele é um cara importante! Já está fazendo muito em nos dar uma chance. — Falou Luana.
— E eu não confio nenhum um pouco nesse Howard. — Falou Seren.
— Novidade. Você não confia em nenhum estranho. — Disse Luana.
† † †
— O senhor deve ter muitos amigos? Natural, vivendo em um lugar assim. — Annabelle disse a Richard.
— Mais ou menos. Me dou bem com o Alexander. — Ele respondeu. — Pode me chamar apenas de Richard ou Richie, por favor?
— Sim, como preferir. — Ela sorriu. — Pode me chamar de Annabelle. E mora mais alguém aqui, além de Alexander e você? — Perguntou Annabelle.
— Sim. Alex se sentiu muito infeliz. Por isso, tentou reunir o que sobrou da família e, assim, convenceu o irmão e os primos a morarem com ele. Em troca, prometeu uma vida confortável a todos. — Disse Richard.
— Por que ele não se casou ou ele é casado? — Perguntou Annabelle.
— Ele não tem muita sorte com as mulheres. Todas só se aproximam dele por causa de seu dinheiro. — Contou Richard.
— Coitado! É dono disso tudo, mas é tão infeliz. — Falou Annabelle.
— A vida é engraçada, não é?! — Disse Richard.
— Sim. — Disse Annabelle.
— Não diga ao Alex que te contei isso? Ele tenta esquecer. Quando o vir, nem vai acreditar que é essa pessoa solitária e triste que te falei. Ele está sempre sorrindo e parece de bem com a vida. Quem dera, realmente estivesse. — Falou Richard e suspirou.
— Estou ansiosa para conhecê-lo. — Disse Annabelle.
— Aposto que gostará dele. — Richard sorriu.
— E você, Richard? — Perguntou Annabelle.
— Eu? O quê? — Ele riu, sem entender a pergunta.
— Também se sente sozinho? — Annabelle o encarou.
— Um pouco. Quer dizer, não é sempre que posso conversar com alguém como estou conversando com você, agora. Vamos dizer que... Meus primos são antissociais. Especialmente, o Howard. — Falou Richard.
— Não sei quanto tempo ficarei aqui, mas gostaria de ser sua amiga. — Falou Annabelle apertando a mão dele.
— Seria um prazer. — Richard apanhou e beijou a mão dela.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro