1. Uma chance
Phoenix, Arizona, 2013.
Marina Valverde estava nervosa e roía as unhas, descascando o esmalte preto. Fazia quase meia hora que sua prima saíra com a namorada e, ainda, não voltará ou retornara sua ligação. Não era difícil imaginar o que as duas faziam sozinhas, mas aquilo não importava para Marina. Sua prima poderia fazer o que quisesse, desde que retornasse a tempo de subir ao palco com sua banda.
— Aí, meninas, esse é o último set do DJ. Já estão prontas para voltar pro palco? — Disse Eleanor a Marina e Megan.
— É... — Marina disse nervosa, mas não conseguiu terminar o que queria dizer.
— Onde estão Seren? Annabelle? E Luana? — Perguntou Eleanor. Ela era a gerente da boate. Uma mulher alta e magra, com cabelos repicados, tingidos de marrom com mechas pretas. Usava um uniforme elegante que lhe conferia um ar gótico.
— Elas virão. Não se preocupe? — Megan garantiu.
† † †
Luana e Annabelle se aproximaram do carro de Annabelle, quando foram surpreendidas por um homem alto, negro, que estava elegante demais para aquela boate de quinta. O homem estava na casa dos quarenta.
— Com licença, moças? — Ele disse, sorrindo.
† † †
Marina e Megan foram imediatamente para o camarim se aprontar.
— Espero que elas voltem logo. — Falou Megan se trocando rapidamente.
— Onde será que elas se meteram? — Disse Marina ajeitando seu rabo de cavalo loiro.
A porta se abriu abruptamente e, por ela, passou Seren. Ela parecia nervosa.
— Caramba! Seren? Até que enfim! — Falou Megan.
— Onde estão as outras? — Perguntou Marina, ansiosa.
— Eu não sei. — Disse Seren enquanto tirava sua jaqueta.
— Esse é o último set do DJ. Se elas não voltarem a tempo, teremos de continuar sem elas. — Falou Megan deliberada.
Eleanor entrou no camarim e avisou:
— Aí, meninas, vocês entram em cinco minutos. Já estão prontas?
Megan, Marina e Seren tiveram de subir ao palco sem Luana e Annabelle. Megan começou a cantar e, Marina e Seren a acompanharam somente no refrão da canção.
Quando Megan estava quase terminando a música, Annabelle e Luana apareceram. Luana subiu no palco discretamente, pegou sua guitarra e começou a tocar. Annabelle esperou um pouco e, depois, subiu ao palco e cantou o refrão junto às outras. Seren alternou olhares entre Annabelle, Luana e seu teclado.
Após o show, as garotas foram embora para casa. Mal se despediram umas das outras. Annabelle e Luana pareciam nervosas e com medo de se explicarem. Já, as outras pareciam chateadas e não tinham coragem de perguntar por que elas se atrasaram para a apresentação.
No dia seguinte, todas se encontraram em uma lanchonete e, Annabelle e Luana explicaram que se atrasaram porque foram abordadas por um homem que disse representar um produtor que poderia se interessar pelo som delas.
— E então, Seren? Encontrou alguma coisa a respeito desse tal Blackman? — Perguntou Luana, ansiosa.
— Bem, segundo esse site, Alexander Blackman é um importante empresário, cantor e DJ, e produtor de cantores como The Saturdays e Katy B. — Falou Seren, lendo um site pelo seu celular.
— E a gravadora Hórus Music, existe? — Perguntou Megan.
Seren abriu uma nova página na internet e digitou o nome da gravadora. Logo apareceram vários resultados da pesquisa. Ela clicou no primeiro link e leu em voz alta, para que todas ouvissem:
— Hórus Music, gravadora britânica. — O site possuía um layout minimalista e uma página com a biografia de Alexander. Ele era moreno, com olhos castanhos e penetrantes. Na casa dos trinta. Um homem atraente.
— Hmm... Nada mal. — Megan disse.
Seren ligou para a gravadora para agendar uma visita, mas a secretária lhe disse que elas já tinham uma hora marcada para aquela semana. Seren estranhou porque não tinha marcado hora nenhuma. Perguntou quem marcara e a secretária disse que fora Alfred Montgomery. Seren se lembrou de quando fora abordada por ele na boate enquanto seguia Annabelle e Luana, ele se apresentara, lhe entregara um cartão, mas Seren não levara a sério a sua proposta e, para não iludir as outras, amassara e jogara fora o cartão, antes de retornar ao camarim.
— Ah, sim. Muito obrigada, senhorita. — Seren disse, antes de desligar o telefone.
As cinco amigas foram até a gravadora no dia combinado e foram apresentadas a Shepard, um representante de Blackman, que as recebeu muito bem. Após uma breve entrevista, elas fizeram um teste e gravaram uma demo que, Shepard garantiu que seria enviado a Blackman.
Um mês depois, Shepard ligou para Seren e disse que gostaria de falar com toda a banda, pois, já tinha uma resposta de Blackman. As mulheres foram até a gravadora, tomadas pela ansiedade. Shepard não fez suspense e exibiu um vídeo enviado pelo próprio Blackman. O produtor elogiou suas vozes e disse que gostaria de trabalhar pessoalmente com elas, e, que, se aceitassem, ele as receberia em seu castelo na Inglaterra. No entanto, para que elas não se sentissem pressionadas a aceitarem o convite, Alexander disse que, se elas preferissem, poderiam, sem problemas, trabalhar com Shepard.
— Vocês deveriam considerar seriamente aceitar esse convite porque se Alexander decidiu investir em vocês, significa que vocês têm talento. Se forem para a Inglaterra, podem começar uma turnê por lá e conquistarem a fama, facilmente porque os britânicos adoram girl bands. — Falou Shepard.
— Podemos pensar a respeito, senhor Shepard? — Perguntou Annabelle, indecisa.
— Sim, é claro. — Shepard disse.
As mulheres deixaram a gravadora, absortas. Nunca se aventuram no exterior e ficaram encantadas com a possibilidade de realizarem o seu sonho, deixando os pub's de quinta para tocarem para um público à altura de seu talento.
— O que vocês acham? — Annabelle perguntou às outras.
— O que temos a perder? — Luana disse.
— Acho que devemos tentar e, se fracassarmos, ao menos, não teremos nenhum arrependimento. — Falou Megan.
Dessa forma, as cinco comunicaram a sua decisão a Shepard e ele tratou de todos os detalhes da viagem. Quando chegou o grande dia, Shepard acompanhou as mulheres até o aeroporto, lhes deu algumas instruções e, então, se despediu delas, lhes desejando boa sorte. Assim que o avião levantou voo, Shepard fez uma ligação.
— Elas acabaram de partir. E a minha grana?
† † †
A viagem foi tranquila e quando desembarcaram no aeroporto, as mulheres esperaram pelo motorista de Blackman como Shepard aconselhou. Não demorou muito e ele apareceu.
— Alfred Montgomery. Prazer em conhecê-las, senhoritas. — Disse ele, sorrindo.
— Não te conheço de algum lugar? — Annabelle encarou Alfred.
— Hum, acho que não. Senhorita. — Alfred disfarçou rápido.
— Mas eu te conheço! Vi você aquela noite, na boate. Tenho certeza. — Falou Luana.
— Se está dizendo... — Alfred abriu a porta da limusine para que elas entrassem.
Luana encarou Alfred, antes de entrar na limusine. Ela tinha certeza de que fora com ele que conversara na boate. Ele se apresentara como representante de Blackman e lhes dera um cartão da gravadora Hórus. Estranho.
Foram três horas de viagem até chegarem ao Price Castle, também conhecido como "Castelo Da Escuridão", por seu passado sombrio.
Os enormes portões se abriram e a limusine seguiu pelo acesso entre os jardins do castelo medieval.
— Tem cara de mal assombrado. — Marina falou baixinho, assustada.
— Sejam bem-vindas ao Castelo Da Escuridão! — Disse Alfred estacionando.
— É maior do que imaginei! — Disse Annabelle saindo da limusine.
— Melhor assim. Dessa forma, finalmente, teremos alguma privacidade. — Luana piscou para a namorada e sorriu maliciosamente.
— Por favor? É por aqui, senhoritas. — Disse Alfred gesticulando para que elas o seguissem.
— Esse não é o Castelo do Drácula, não?! — Marina perguntou baixinho a Seren.
— Não. O Castelo de Bran está situado na Romênia — Respondeu Seren.
— Eu detestaria passar uma noite no castelo dele. — Falou Marina arrepiada enquanto seguia Seren.
— Ei, Montgomery! E as malas? — Perguntou Megan, preocupada.
— Não se preocupe? Depois, pedirei a alguém que leve toda a bagagem para seus respectivos quartos. — Respondeu Alfred, abrindo as portas do castelo.
As mulheres se deslumbraram com o salão principal e sua decoração. Nas paredes haviam quadros antigos em molduras douradas. A escadaria era coberta por um tapete vermelho e, no centro do chão do salão principal havia um círculo com um pentagrama pintado.
— O que é isso? — Luana riu, nervosa.
— O quê? O pentagrama? — Alfred a encarou e Luana meneou a cabeça. — Foi para o vídeo de uma música que o Alexander dirigiu. Como o tema envolvia bruxaria, ele achou que seu castelo seria perfeito, especialmente, por seu passado.
— Como assim, senhor Montgomery? — Marina inquiriu. — Esse castelo é mesmo assombrado?
— Não tema, senhorita? São apenas lendas bobas. Trabalho há anos, aqui, e posso lhe assegurar que não há nada de anormal no castelo. — Alfred gesticulou para que elas o seguissem.
Em frente às escadas, estava parada uma criada, cuja pele branca era tão pálida, que dava a impressão que a mulher nunca tomara sol na vida. Seus cabelos eram naturalmente ruivos e estavam presos em um coque. Seus olhos verdes e cobertos por olheiras pareciam cansados e melancólicos. Ela encarou Annabelle no instante em que a viu e esboçou um sorriso fraco. Annabelle sorriu de volta, com a sensação de que conhecia a senhora de algum lugar, mesmo, tendo certeza de que aquilo era impossível.
— Essa é Maisie. — Disse Alfred. — Maisie essas são as Evil Princess.
— É um prazer conhecê-las. — Falou Maisie com uma voz baixa e rouca.
— O prazer é nosso. — Disse Annabelle, sorrindo.
— Maisie mostrará seus aposentos. — Disse Alfred.
— Por favor, sigam-me? — Falou Maisie se virando e subindo os degraus.
As mulheres a seguiram, prestando a atenção em tudo ao seu redor. Nas paredes haviam alguns quadros enfileirados, onde estavam retratados os nobres, que um dia habitaram o castelo: Alexander III, Reymond Price, Rainha Emanuele, Duquesa Mariana, Duque Ryan IV, Princesa Zara I, Princesa Mary Ann Price, Princesa Malvina De Luce, Conde Nicolau Grant.
Todas as portas eram numeradas e, em algumas, haviam placas douradas com nomes – muitos, semelhantes aos que estavam escritos acima dos quadros.
— Quem são essas pessoas? — Megan perguntou, curiosa.
— Reymond Price foi nosso amado rei. — Disse Maisie. — Após sua morte, Alexander III, o irmão dele, assumiu o trono e casou-se com sua cunhada, a rainha Emanuele. A duquesa Mariana era prima da rainha Emanuele e esposa do duque Ryan IV. Malvina De Luce era irmã de Emanuele e foi a segunda esposa de Alexander III. Mary Ann foi irmã de Alexander III e Reymond.
— Como eu nunca ouvi deles quando estudei sobre a Grã-Bretanha? — Inquiriu Marina, confusa.
— E eu, por acaso disse que eles governaram a Grã-Bretanha? — Disse Maisie e balançou a cabeça, parecendo contrariada. — Eles viviam na Romênia, mas, após uma série de desgraças, Alexander III abdicou do trono, juntou seus pertences e veio para cá, onde viveu até o fim de seus dias, isolado. O castelo tem passado de geração em geração, desde então.
— E esse? — Annabelle apontou para o quadro do jovem loiro, com aparência angelical.
— Esse é o conde Nicolau Grant. — Respondeu Maisie.
— O amante de Emanuele. — Falou Seren, sorrindo com malícia.
— Quem lhe disse isso?! — Maisie fuzilou Seren com o olhar.
— Estudei um pouco sobre a história do castelo, antes de vir pra cá. — Respondeu Seren, visivelmente constrangida.
— Não acredite em tudo o que lê na internet? Ninguém conhece a verdadeira história desse castelo! — Falou Maisie e voltou a caminhar.
— Bem feito para a sabe tudo! — Zombou Luana.
Annabelle ficou por último e parou, encarando o quadro de Reymond Price. Era absurdo, mas ela sentia que o conhecia. Aproximou sua mão da pintura e sentiu um arrepio, recuando, rapidamente por isso e esbarrando em alguém. Virou-se depressa e, para sua surpresa, não tinha ninguém ali. Aquilo a assustou, fazendo-a engolir em seco e, ir atrás das outras, correndo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro