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Capítulo 1 - Claire


Meu jeans desfia sob as unhas vermelhas, enquanto observo atentamente a estrada escura que circula a água. Minha mente não consegue vagar para lugar nenhum além dessa escuridão, quebrada pela luz rasteira dos farois á frente.

O lago nunca me assustou antes, nem mesmo durante as tardes de verão que passei aqui nos últimos dois anos, desde que conheci Bria.

Um solavanco me faz agarrar a maçaneta e as unhas penetram a carne exposta pelo jeans rasgado na minha coxa.

— Desculpa, Claire — Bria diz com um risinho — mas quem coloca uma lombada sem sinalização?

O sangue remete a uma lembrança que faz aniversário hoje, acho que é eu jeitinho, um ritual, um machucado no joelho.

— Não tem lombadas aqui, nunca teve — respondo convicta.

— Ah, Meu Deus. Você atropelou alguma coisa — Lexie grita com a voz aguda, do banco de trás.

Bria para o carro com uma freada brusca, segurando firme o volante com as duas mãos, sem desviar o olhar da cabana que está a poucos metros, logo depois da estrada.

— Claire, você pode ver o que é? — sua voz treme, assim como todo seu corpo tenso.

— Desculpa, não é assim que funciona.

— Eu que não vou descer — olho Lexie através do retrovisor, ela cruza os braços na frente do corpo como uma criança mimada.

— Eu vou.

Chego a puxar a maçaneta, quando a porta de trás abre bruscamente, o grito de susto das outras duas dentro do carro parece vindo do próprio inferno. Meu coração dispara por alguns segundos antes de ouvir a voz de quem entrou no banco atrás de mim.

— Oi, meninas.

— Hanna—Bria olha para trás com uma mistura de indignação e alivio — mas que porra você está fazendo?

— Eu ainda estou me adaptando a isso.

Hanna parece envergonhada, mas sua aparição repentina no meio da estrada serviu para deixar as coisas mais leves. Quando Bria volta a dirigir, ela está falando em como seu namorado novo não tem nada a ver com o churrasquinho que deixamos na irmandade no ano passado.

— Se machucou? — Lexie pergunta baixinho.

— Eu tô bem, não graças a sua irmã — Hanna sussurra em resposta.

Para mim, a única coisa que interessa é a pequena ficha de metal no meu bolso. Passo a mão pelo tecido, me certificando de que ainda está aqui, não que eu precise. Passo sentir o peso dela me arrastando para baixo, como se precisasse apenas de um descuido para me levar ao fundo do poço.

— Será que posso parar aqui?

— Parece que todo mundo já chegou — Hanna aponta para os quatro carros parados em linha.

Outro solavanco que faz todas balançarem e o carro para.

— Quem você chupou para conseguir tirar carta? — Lexie provoca.

Bria não responde, mas me olha com um sorriso de canto que diz tudo. Claro, ninguém consegue dizer não a ela.

Eu sou a primeira a descer do carro, mas continuo parada, olhando a cabana como se fosse um ser com vida própria que estava prestes a nos devorar.

— Tudo bem? Você parece meio tensa — Hanna para ao meu lado, meus olhos são atraídos para seu braço descoberto e a fratura visível nele — Ai, droga.

Ela o segura firme com a outra mão e faz um movimento com o cotovelo que me dá ânsia, o "creck" é a pior parte, mas então, seu osso está de volta no lugar.

Hanna sorri e me estende a mão. Me impressiona como até sua palma tem cicatrizes. Mas então, estamos subindo os degraus da frente como duas adolescentes.

A porta se abre, formando um retângulo iluminado amarelo no meio do escuro da sacada. Logo, Hanna me solta para abraçar Penny, assim como as outras fizeram.

Me concentro em olhar a cabana por dentro, suas luzes quentes, as paredes de madeira escura, como troncos empilhados, a sala ampla, sofás de couro marrom escuro que circulam a grande mesa de centro e acima dela, uma claraboia. Há uma bancada feita do mesmo jeito das paredes, que divide a copa e depois dela um pequeno banheiro. Eu posso ver a porta totalmente aberta e o breu depois dela. À minha esquerda está a escada que leva ao mezanino e único quarto.

É quando a vejo, com o corpo ereto e as mãos apoiadas no parapeito.

Alícia olha para todas nós com uma expressão de nojo singular, eu posso adivinhar o que ela está pensando sem precisar de poder algum.

Mas eu gosto que ela esteja incomodada. Como uma pequena vingança. Assim como eu, sei que todas nós a culpamos pelo que nos tornamos.

Esse é o segundo Halloween seguido que ela nos faz perder. Primeiro, teve aquela perseguição dos pesadelos que, embora não tenha sido tão ruim assim, trouxe consequências assustadoras. E agora essa limpeza ou seja lá como chama.

Não estamos aqui para uma festa só de meninas para comemorar o Dia das Bruxas. Alicia nos deu poderes perigosos e agora, isso tem que acabar.

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pra quem não lembra, a Claire é a do Palhaço

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Tags: #halloween