Capítulo 4
Olá!
Se você chegou até aqui, muito obrigada *.*
Mas antes que comece esse capítulo, sugiro que leia o outro romance que eu escrevi; O Novo Inquilino. As duas histórias se cruzam e Cristofer está lá!
***
Quando cheguei em casa exausta e com a cabeça ainda latejante, dei de cara com o cupcake com a cobertura mais deliciosa do mundo arruinada por um anel de brilhantes.
Minha vontade era tacar o bolinho e tudo pela janela.
O que eu ia fazer com aquilo?
Devolver, obviamente.
Mas quando? Esperar os ânimos se acalmarem ou acabar logo com isso de uma vez?
Na dúvida, enfiei o bolinho com aliança e tudo dentro da geladeira. Parei de frente para a porta fechada e senti como se meu estômago tivesse sendo derretido por algum tipo de ácido. Talvez o ácido dele mesmo.
Eu queria ir direto para o meu quarto, estava exausta, mas a tristeza que eu senti ao sair da cozinha foi tão forte que senti meus ombros pesarem e acabei me sentando no sofá para respirar um pouco.
Minha mão pousou instintivamente sobre a boca do estômago por causa da dor que senti. Meus olhos se encheram de lágrima e eu me arrependi de ter brigado com Gabriel. Instantaneamente senti raiva de mim mesma por ficar do lado dele, e não do meu lado.
Joguei minha bolsa no chão e deitei desajeitada no sofá. Adormeci aos poucos encharcando minha almofada de lágrima.
Eu estava sentada numa calçada gelada e a rua estava deserta. Era uma noite fria e eu não conseguia me levantar. O céu começou a acender com relâmpagos e logo as primeiras gotas de água começaram a cair molhando toda minha roupa, me fazendo congelar de frio. Eu quis levantar, mas não conseguia me mexer. Eu piscava com força para impedir que água entrasse nos meus olhos. Fechei-os com muita força e quando abri novamente vi o teto da minha sala de casa. Eu estava sonhando. Mas estava congelando de frio de verdade. Meus dentes estavam batendo. Minhas mãos geladas. A noite estava muito fria para eu dormir do jeito que eu estava. Sem nenhum agasalho ou cobertor. Eram quatro da madrugada quando me levantei cambaleando e congelada.
Preciso de um banho.
Bem quente, para fazer meu sangue voltar a circular.
Quando me olhei no espelho, meus lábios estavam arroxeados. Mordi o inferior de leve instintivamente para eles voltarem a ser rosas como sempre. Os olhos estavam esbugalhados com olheiras enormes também arroxeadas. Só parei de observar a figura horrível no espelho porque o calor da água quente que saia do chuveiro embaçou o espelho e eu não podia ver mais nada.
Quando a água quente entrou em contato com a minha pele, o alívio foi imediato. Aos poucos fui me esquentando e acordando.
O choro me ameaçou umas duas vezes, mas segurei firme.
Então um desespero de não ter mais Gabriel perto de mim foi me engolindo e eu comecei a chorar desesperadamente como se eu tivesse tomado uma surra. Cheguei a engasgar umas duas vezes com o meu choro e a água do chuveiro. Estava no mais completo desespero.
As pessoas e essa mania de casar.
Saí do banho e olhei no relógio. Eram cinco horas. Me troquei às pressas, vesti um casaco e nem cheguei a secar os cabelos.
- O que é que você está fazendo aqui, Sofia?
Cristofer quis saber assim que eu coloquei meus pés dentro do hospital.
- Você está péssima.
- Obrigada.
- Nossa! – Olívia passou por nós dois e parou quando viu meu rosto.
- Você está bem?
- Não, ela não está – Cristofer nem esperou que eu respirasse para falar.
- Eu posso responder por mim mesma, Cristofer. E não, eu estou péssima. Mas não vim trabalhar. Vou ficar no pronto atendimento. Só vendo as coisas, e distraindo a mente.
- Você não vai tocar nem falar com nenhum paciente – Olívia me repreendeu e Cristofer assentiu.
- Não vou. Prometo – suspirei. – Se eu ficar em casa vou perder o juízo.
- O que tá acontecendo? O que eu perdi? Cristofer sabe mais coisas que eu? – ela pareceu indignada.
- Você não tem nenhuma perna para operar hoje, não? – alfinetei.
- Não. Olha só que coincidência. A ortopedia está uma calmaria hoje – sorriu cheia de ironia.
- Aff... Eu te conto hoje. Você vai lá pra casa. Não é uma pergunta.
Olívia concordou com os olhos pretos extremamente redondos emoldurados por um rosto também redondo de uma pele perfeitamente sedosa e negra.
Saí dando uma olhada feia para Cristofer que não me deu a mínima e fui para o pronto atendimento.
Passei a tarde toda observando e morrendo de vontade de participar de atendimentos, ou de até mesmo corrigir alguns internos, mas me contive.
Estava exausta de não fazer nada quando fui na cafeteria e Olívia me encontrou dizendo que em mais alguns minutos a gente estava indo.
- E não se entupa desse café horrível, pretendo passar no teu café favorito para pegar um por lá, e aqueles bolinhos também.
Fiz um aceno para ela batendo continência e sentei com o meu café que nunca era demais.
***
A minha cafeteria favorita estava lotada como de costume, mas mesmo assim, esperamos pelo nosso café e cupcakes.
Estava distraída quando olhei para uma mesa e vi Cristofer sentado lá, com um livro e bebendo alguma coisa.
- Olha – disse dando uma cotovelada leve em Olívia. – É Cristofer.
- Seu melhor amiguinho de todos os tempos.
- Ciumenta – sorri.
Ele não nos viu. Estava entretido. Achei melhor deixá-lo quieto.
- Quero sorvete também – pedi para a atendente quando chegou nossa vez.
O sorvete apesar de frio, sempre aquecia minha alma.
- Tudo bem. Solta o verbo – Olívia falou se jogando no meu sofá depois de deixar nossa janta sobre a mesa.
- Gabriel e eu terminamos – falei me jogando do lado dela.
- Como? Mas eu achei que ele...
- Você sabia? – quis saber inconformada. – Traidora!
- Epa! – ela falou se levantando do sofá pra pegar o café, entregando um deles pra mim. – Ele me disse que ia fazer surpresa. Eu não ia estragar tudo. Que tipo de pessoa acha que eu sou?
- Hm... – resmunguei, mas soou mais como um rosnado.
- O que foi que deu de errado?
- Ah, Olívia. Você sabe que eu não quero casar.
- Fazia tempo que a gente não falava sobre isso, Sofia. Fazia tempo que a gente não falava sobre absolutamente nada.
- Eu sei... – levantei e coloquei The Odds para tocar.
- E então?
- Então eu desmaiei depois de ter dado um ataque no meio do pedido.
- Desmaio? – pareceu inconformada.
- Pois é. Nem eu esperava uma reação dessas vinda de mim. Por isso Cristofer sabia. Foi ele que me atendeu. Gabriel me levou para o hospital.
- E você está bem? – titubeou na última palavra porque a resposta era óbvia.
- Eu tô um lixo.
- Meu Deus – falou balançando a cabeça negativamente. Depois voltou seu olhar para o som.
- Você e essa banda – riu tomando um gole do café.
- É uma das poucas coisas que fazem com que eu me desligue da vida corrida e respire.
- A música, a banda ou o vocalista?
- As três coisas, mas Heaven é uma distração ótima. Distração relaxante.
- Eu sei. Ele é uma coisa.
- Quer vinho? Amanhã está de folga que eu sei, e se eu aparecer naquele hospital, vou ser morta.
- Claro que eu quero.
Comemos os cupcakes que levamos, tomamos vinho e depois comemos o resto de um almoço (não me lembro de qual dia) que estava dentro da geladeira. Fiz pipoca. Bebemos mais uma garrafa de vinho e eu fiz brigadeiro para conter um pouco da bebedeira.
Eu ria enquanto a gente dançava imitando Heaven Strike.
- Você podia até ser cover dele – Olívia brincou.
- Será que ganho mais assim do que como médica? – falei me deitando no carpete fofo do meio da sala.
- Talvez se divirta mais – ela respondeu se juntando a mim no chão.
- Eu adoro ser médica – falei, as duas encarando o teto.
- Eu também, mas em alguns dias é difícil.
Uns instantes de silêncio se passaram, nem quinze segundos.
- Eu vi Carter Nickson.
- O quê? – virou o rosto para mim enquanto eu ainda olhava o teto.
- Eu vi Carter Nickson – repeti agora entre risos.
- Sofia! – Olívia ria também. – Você viu ele? Onde?
- No saguão do hospital.
- Meu Deus! Por que não me chamou? Ele deve estar pesando uma tonelada. Lembra que ele parecia um graveto na adolescência?
Olívia começou a falar sem parar.
- Não chamei ninguém porque, justamente, era o Carter de anos atrás. Magro e de cabelos esvoaçantes.
- Não entendi.
- Ele não estava de fato lá – fiquei séria.
- Você tá cansada.
- Eu sei. Já ouvi demais esse diagnóstico. Eu vou dar um tempo essa semana.
- Eu acho é bom – disse num tom de ameaça.
Olhei para ela com carinho e ela suavizou.
- Você e suas paixões platônicas... Eu te conheço desde o quê? Uns quatorze? E não sei, perdi as contas de quantos casamentos imaginários você teve.
Então voltamos a rir e falar das nossas bobeiras desde que éramos adolescentes. Crescemos juntas. Fizemos a mesma faculdade, por sorte. Mas não a mesma especialização.
Olívia foi ao banheiro. Ainda cambaleante enquanto eu permaneci deitada.
Ela demorou o tanto suficiente para eu me levantar e pegar meu celular. Olhei para ele umas duas vezes antes de pressionar o número um com firmeza. A discagem rápida apareceu iluminada no visor do aparelho e o nome de Gabriel piscou enquanto chamava.
- Sofia?– a voz de sono dele era uma das coisas mais apaixonantes a seu respeito.
- Oi... – foi o que consegui dizer.
- Está tudo bem? Você está bem?
- Não. Eu não estou bem, Gabriel. Eu sinto sua falta!
- Sofia... Foi a sua escolha.
- Você meio que me obrigou.
Ele suspirou de irritação do outro lado.
- Olha, eu não vou discutir com você, está bem? Tô tentando te esquecer, então me faz um favor e não me liga mais.
- Gabriel! – gritei aos choros.
- Desculpa. Adeus, Sofia.
Então desligou.
Continuei chorando quando olhei para o visor e vi a ligação finalizada.
Me virei para voltar para a sala e levei um susto quando vi Olívia parada diante de mim com um olhar de tristeza.
- Vem. Vamos deitar na tua cama imensa e chorar no conforto.
Me abraçou e não tentou me dar nenhum sermão ou aplacar meu choro. É o que os amigos de verdade fazem.
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