Capítulo 34
Quase duas semanas já tinham se passado e eu estava em casa. Nenhum plano que tinha feito quando voltei, eu tinha cumprido. O medo me fez adiar a volta para o hospital. Meu único afazer diário era atender as ligações dos meus pais para saber como eu estava, ler mensagens do Cristofer e mensagens ásperas de Olívia me mandando tomar banho e sair de casa, as que eu respondia com "amanhã, quem sabe".
Cheguei a fazer compras, mas meu estoque de comida já estava chegando ao fim novamente. Eu tinha uma maça murcha na fruteira, macarrão, mas não tinha molho, um suco vencido por estar aberto há quase duas semanas e margarina.
Já era quase seis horas da tarde quando me obriguei a tomar banho para ir ao mercado, mas parecia que eu estava indo mesmo é para o corredor da morte.
Na volta para casa, não levei muito. Apenas quatro sacolas no porta-malas, dessa vez com comidas mais saudáveis, mesmo que eu tivesse ficado meia hora discutindo internamente, em frente à prateleira de guloseimas, me questionando se eu deveria comer bem mesmo que estive, literalmente, no corredor da morte.
Quando me aproximei de casa, vi que não tinha deixado nenhuma luz acesa, minha cabeça estava cada vez melhor, ironizei mentalmente. Estacionei na garagem sem muita preocupação.
Geralmente, se estivesse com tudo escuro da forma que eu tinha deixado, ficaria preocupada com a minha segurança, em fechar o portão eletrônico rapidamente.
Não me importei em ser rápida quando tirei minhas sacolas do porta-malas, nem quando me encaminhei para a porta de casa que ficava atrás de alguns pinheiros baixos, impedindo a vista da rua.
Enfiei minha chave na porta com dificuldade por estar carregando as sacolas que não eram leves. Dei a última volta na chave quando uma sombra se aproximou de mim lentamente. Meu choque foi imediato. Meu corpo pulou com um dos maiores sustos que já havia tomado na vida.
- Puta merda! - gritei ao mesmo tempo em que uma das sacolas se soltou dos meus dedos que amoleceram e o pote de geléia se espatifou no chão rasgando um pedaço da sacola plástica, fazendo o chão ficar avermelhado.
- Que merda é essa? - continuei praguejando quando Eduardo apareceu assustado diante de mim com o rosto iluminado apenas pela luz do poste na rua.
- Sofia! Desculpa! Não quis te assustar - falou se abaixando para pegar a sacola do chão, fazendo uma meleca ainda maior.
- Deixa isso aí - comecei - eu... meu Deus! - misturei as palavras.
- Desculpa - pediu mais uma vez deixando a sacola no chão novamente antes de se levantar.
Fiquei catatônica encarando o rosto dele bem diante de mim. Os cabelos balançavam com o vento. Era perfeito. Parecia real.
- Eu queria... - tentou falar, mas eu impedi.
- Cala essa boca. Por favor, não fala nada. Fica quieto - pedi encarando ele, então ele se calou com os braços, que antes gesticulavam, estendidos nas laterais do corpo.
Uma vontade esmagadora de chorar estourou dentro do meu peito e eu não segurei como estava acostumada a fazer. Soltei um soluço alto fazendo com que ele tentasse falar mais uma vez.
- Já falei pra calar essa boca! - repeti entre as lágrimas sentindo as alças das sacolas de plástico começarem a machucar meus dedos.
Eu estava ofegante. Queria pedir para ele sumir, para não me assombrar mais, mas a verdade é que eu tinha sonhado com o surgimento dele novamente desde o dia que nos despedimos.
- Eu já sei de tudo.
- Sabe?
- Sim, você é só uma alucinação.
Ele estava assustado, com cara de preocupação quando eu larguei as sacolas e me atirei nos braços dele juntando nossas bocas um pouco violentamente demais. Senti até dor. Era espantoso. Ele tinha um cheiro de qualquer perfume com toque floral, e a boca, o mesmo gosto de morango de sempre.
Agarrou minha cintura com as duas mãos me apertando contra ele e correspondendo ao beijo que parecia um ato de mais pura agonia. As mãos dele subiram pelas minhas costas chegando até a base do meu pescoço para se entrelaçarem pelos meus cabelos fazendo nosso beijo se aprofundar ainda mais pela pressão da mão dele na minha nuca.
Caminhamos pressionados um contra o outro em direção à porta que eu empurrei para terminar de abrir. A mão dele saiu dos meus cabelos e foi para o meu rosto, uma mão de cada lado me tocando com suavidade enquanto os lábios me atacavam sem piedade. Senti o gosto de lágrima se misturando ao nosso beijo quando bati a porta atrás da gente e me distanciei dele para ver seu rosto novamente. Os lábios vermelhos e o cabelo todo bagunçado eram a moldura perfeita para os olhos verdes que agora não estavam mais apreensivos, estavam vivos. Os lábios entreabertos denunciaram o que ele estava prestes a fazer.
Desta vez foi ele que avançou sobre mim com tanta força que minhas costas arquearam para trás e eu quase me desequilibrei. Como ele ainda me segurava forte pelas costas, não caí enquanto ele foi nos empurrando para o sofá.
Como era possível?
Quando senti que minha panturrilha resvalou de leve no tecido do sofá, inverti nossa posição e fiz com que ele ficasse no assento. Nossas bocas se separaram brevemente para que eu pudesse sentar sobre ele, uma perna de cada lado do seu corpo.
Pude sentir o corpo dele tensionado debaixo do meu quando sentei. Um gemido suave escapou de sua garganta na minha boca, o que teve um efeito imediato no meu corpo. Sua boca desceu pelo meu queixo traçando beijos e mordidas leves pelo meu pescoço até chegar nos meus ombros. Suas mãos acharam caminho por entre a minha blusa e minha pele, me fazendo arrepiar com o contato. Um gemido mais alto saiu de mim quando ele me mordeu com força. Sem paciência, a mão dele se agarrou na barra da minha blusa e a puxou para cima, nos separando mais uma vez para que eu tirasse o que faltava pela cabeça.
A blusa foi arremessada longe pelos dedos longos dele enquanto seus olhos meu varriam com gula. As pontas dos dedos dele nas minhas costas me impulsionaram para frente para que ele pudesse ter acesso à parte superior dos meus seios que ainda estavam presos no sutiã.
Me mordeu mais uma vez, me fazendo reclamar com um som que pareceu um rosnado a que ele respondeu com o sorriso característico, de lado, fazendo a covinha surgir. Não me contive e lambi o rosto dele bem onde o pedaço de pele se afundava. Ele continuou sorrindo até que eu desci das bochechas e beijei seu pescoço, mas o sorrisinho sumiu quando meus lábios encontraram sua orelha. Ele estava com o rosto levemente inclinado para o lado para me deixar livre para passear em seu pescoço quando senti que mais uma vez ele se tensionou sob mim. Suas mãos que estavam na minha cintura, me puxaram para baixo, me apertando contra ele.
Devolvi a mordida forte que ele tinha me dado no colo, e ele arfou me puxando para trás pelo cabelo, me olhando com uma cara ameaçadora. Respondi com um sorrisinho da mesma estirpe dos que ele costumava me dar e me inclinei para frente agarrando sua camisa azul mal abotoada e com desenhos que pareciam ondas. Puxei com força para tirá-la, nem me dei ao trabalho de terminar de desabotoá-la. Esperei que ele se desvencilhasse dela por cima da cabeça para continuar agora com o botão do jeans preto enquanto ele ainda me beijava segurando meu rosto com as duas mãos.
- Tira isso - consegui falar me apoiando nos meus joelhos ao lado dele para dar espaço para ele se debruçar para frente e desamarrar as botas e arrancar de uma vez a calça junto com a cueca.
Ele obedeceu com pressa enquanto eu desabotoava minha própria calça, da mesma forma que ele, meus sapatos já tinham sumido àquela altura.
Os dedos dele correram pela lateral da minha cintura e subiram pelas costas para desabotoar meu sutiã, única peça restante que também foi lançada longe.
Seus lábios não perderam tempo. Desceram pelo meu colo me beijando enquanto a mão também me explorava. Joguei minha cabeça para trás instantaneamente ao sentir o contato da língua dele em mim. Quando gemi em resposta ao toque dele, ele voltou a me beijar enquanto me ergueu pela cintura e me posicionou sobre ele fazendo com que deslizasse para dentro de mim quando me puxou para baixo novamente.
Ele também soltou um gemido baixo com o contato dos nossos corpos. Minha mão agarrou os cabelos dele com tanta força que seu rosto se inclinou para trás e o pescoço ficou evidente.
Gemi mais uma vez quando ele me puxou com força para baixo, se movimentando debaixo de mim.
- Te chamo de quê? - perguntei, um pouco de raiva misturada com desejo exalando pelos meus poros.
- Do que você quiser - falou arfando.
Algo dentro de mim, uma mistura de tristeza com êxtase me fez sentir vontade de chorar, mas eu ignorei focando minha atenção no prazer que eu estava sentindo.
Ele se inclinou para frente e afundou o rosto nos meus cabelos.
- Senti sua falta - falou no meu ouvido me fazendo deixar as lágrimas chegarem até os olhos.
- Eu também - me afastei um pouco para olhar nos olhos dele que me beijou logo em seguida.
Permanecemos abraçados por alguns segundos, respirando um contra o outro, o peito dele subia e descia rapidamente, a pele brilhava suavemente de suor.
Me sentei ao lado dele puxando a manta cinza do sofá para cima dos nossos corpos quando eu me aconcheguei nos braços dele. Ele na mesma posição que estava, com as pernas para frente, eu com as pernas atravessadas sobre as dele, apoiada no seu ombro, as mãos dele na minha cintura.
- Você lembrou de tudo, não foi?
- Perguntou apoiando a cabeça dele na minha.
Assenti em silêncio.
- Por sua causa.
- Minha causa?
- Sim - me afastei para poder olhar para ele. - Uma amiga minha me mandou um presente de aniversário que chegou no dia que você sumiu.
- Eu não sumi.
- E nele - continuei ignorando o que ele tinha falado - estavam as coisas que ela disse serem as minhas favoritas. Entre toda tralha que ela me mandou, uma revista com você na capa me fez ter um tipo de, sei lá - falei mexendo as mãos perto da minhas cabeça - um rompante de memória. Chegou a doer.
Ele me olhava com uma cara estranha e mexeu mais de uma vez nos cabelos. Abriu a boca para falar, mas fechou novamente quando notou que eu ia continuar falando.
- Aí eu lembrei que eu estava doente - olhei para o lado mordendo minha boca para segurar o choro. - Mas o pior foi lembrar quem você era.
- Nunca quis te fazer mal - começou tocando meu queixo e puxando de leve para que eu olhasse para ele.
- Claro que não - sorri debochada. - Você não tem culpa do meu cérebro estar em colapso e eu estar doente novamente. - Continuei olhando para ele dos dedos dos pés até o topo do topete que estava exageradamente erguido. - Você é tão perfeito - sorri para ele que tinha o cenho franzido. - Parece tão real - toquei seu rosto. - Queria que fosse. Como eu queria que você fosse.
Ele baixou a cabeça visivelmente triste.
- Talvez, - sorri para que aquela sensação triste suavizasse. - Você seja tão perfeito justamente por ser obra da minha imaginação.
Ele mal esperou que eu terminasse a frase e me beijou de um jeito tão estranho que parecia até estar sentindo raiva. Se agarrou em mim me fazendo deitar nas minhas costas.
- Não some mais - falei conseguindo parar por segundos para respirar.
Mas ele não respondeu, voltou a me beijar agarrado aos meus cabelos. Arrancou a manta que estava enroscada em nós dois e a arremessou no chão. Quando percebi o que ele estava fazendo, sorri.
- Eu disse que você é exatamente o que minha imaginação cria.
Abri meus olhos com dificuldade e senti um pouco de frio. A luz já entrava pela cortina da janela da sala. De rosto franzido, tentando me acostumar com a claridade, sentei no sofá lentamente. Estava sozinha.
- Eduardo? - chamei baixo e não obtive resposta.
Olhei para o outro lado da sala e também nem sinal dele.
- Eduardo! - chamei mais alto.
Nada.
- Merda - falei esfregando meu rosto.
Levantei meio cambaleante e coloquei minha camiseta e calcinha. Olhei para a porta e andei até ela. Girei a maçaneta e vi que estava destrancada, nem me lembrava de ter ao menos fechado. Vi as sacolas do lado de fora quando a abri. O pote de geléia espatifado. O resto da compra espalhada pelo chão.
Um sorriso lascivo apareceu no meu rosto antes que eu me agachasse para recolher as coisas.
- Maldito cérebro. Para de fazer ele sumir! - entrei deixando o que deu para salvar das compras na cozinha.
Levei um balde com uma escova para limpeza e tirei a geléia cheia de corante do meu piso de entrada. Sentei no chão um pouco suada pelo esforço, fechei os olhos e comecei a me lembrar da noite passada.
A sensação dele na minha pele era tão real quanto o vento frio que corria pelo meu rosto. Era tudo muito real, cada sensação que eu sentia enquanto estava com ele. Sorri com esse pensamento e me levantei entrando novamente, estava muito frio.
Deixei a parafernália de limpeza na lavanderia e me sentei no sofá que tinha passado a noite.
O que de fato acontecia enquanto eu estava delirando é que me deixava curiosa e preocupada. Pensar nisso me fez lembrar a real gravidade da situação. Será que eu ficava sozinha gemendo pela casa? Talvez eu devesse parar de ficar sorrindo a cada lembrança e me preocupar em diagnosticar o que eu realmente tinha.
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