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Capítulo 13

- Não vou ser seu médico, Sofia – disse inconformado bebendo um gole da sua garrafa de cerveja.

- Tudo bem – falei fazendo um beicinho enquanto bebia também.

- Exagero – continuou Olivia. – Não é como se você fosse matar ela na sala de cirurgia, Cristofer.

- Epa – falei me ajeitando no sofá. – ainda não decidi sobre isso, e é por isso que estamos aqui.

- É. Insistiu pra gente que não queria a formalidade do hospital para escolher a forma de tratamento e agora está enrolando... Seria melhor seu médico estar presente. Seria melhor você já estar internada, Sofia – ele não estava muito contente.

- Cristofer – interrompi – eu sou uma neuro. Eu sei de tudo isso. Se for para eu morrer, eu vou morrer, então não me apresse. Eu escolho o tratamento, eu passo para o oncologista, você supervisiona o neuro – tomei um gole demorado – e mais importante, eu supervisiono.

- Mandona – Olívia resmungou.

- É o seguinte – levantei com a minha garrafa ainda na mão. – tenho melanoma em estagio IV, metástase e tudo mais que vem com o pacote.

Os dois me olhavam com um olhar indecifrável. Se me olhassem com pena, eu era capaz de jogar os dois para fora da minha casa. Pela janela.

Então – prossegui – tentamos com radioterapia, químio e imunoterapia. As chances são mínimas, mas espero que erradique o tumor, a origem e a metástase e previna de novas aparecerem... A segunda opção é a remoção. Mas não acredito que eu chegue até lá – sentei novamente.

Olívia bufou.

- Deixa de ser mariquinha.

- Se eu estivesse chorando é que eu seria. Quero ser realista.

- Eu sei – respondeu pesarosa.

- Estou de acordo – Cristofer parecia ter concordado por ser voto vencido.

Permanecemos em silêncio por um longo tempo até Cristofer levantar.

- Senhoras. É ótimo passar um tempo com vocês, mas preciso ver a outra Sofia.

- Vai lá – pisquei com malícia.

- Eu vou aproveitar e vou também – Olívia se levantou colocando o casaco. – Você vai ficar bem?

- Melhor? – ironizei – impossível.

- Vaca – ela me alertou.

- Nos vemos segunda... para iniciar o tratamento – Cristofer gritou lá de fora.

- Eu também amo vocês – disse na porta enquanto eles saíam.

***

- Mãe?

- Oi, querida.

- Vocês vão estar em casa amanhã de tarde?

- Sim, vai ser um sábado preguiçoso.

- Estava pensando em passar por aí, pode ser?

- Ora, mas que pergunta. Claro que pode. E por que não vem para o almoço?

A alegria dela despedaçava meu coração, queria ficar o mínimo de tempo com eles, sabia que eles iriam sofrer demais.

- Claro, mãe. Pode ser. Me esperem para o almoço, então!

Estacionei meu carro na frente da casa dos meus pais e permaneci lá dentro. Olhei para a entrada lembrando da minha infância. As cores eram diferentes, mas a casa exatamente a mesma.

Como eu vou contar isso pra eles?

Desliguei o rádio para me concentrar. Respirei fundo de olhos fechados e repeti três vezes o texto que eu tinha ensaiado durante todo o caminho.

- Não se assustem, mas tenho algo importante para contar pra vocês.

Eles vão pensar que estou grávida.

Pensei e sorri.

Suspirei pesarosa e saí do carro.

Usei minha chave para entrar e da varanda já senti o cheiro da comida. Eu sabia o que era.

- Sofia! – meu pai falou deixando o jornal de lado quando entrei na cozinha. Me abraçou e deu um beijo na minha testa.

- Olá, querida – minha mãe fez praticamente o mesmo ritual. – Estou fazendo seu prato favorito – continuou.

- Hmmmm – resmunguei chegando perto do fogão – senti o cheiro lá de fora. Desconfiei que fosse. Estava com saudade da sua macarronada.

- O que tem na sacola? – ela perguntou olhando para a minha mão.

- Sorvete – respondi com um sorriso maroto olhando para o meu pai.

Ele sorriu enquanto minha mãe fazia cara de falsa reprovação.

Meu nervosismo me transbordava, mas minha atuação estava digna de Oscar.

Certa hora, minha mãe parou um pouco e me encarou por uns dois segundos e então deu um tipo de chacoalhada ínfima na cabeça.

- E então? Como está o trabalho? – perguntou curiosa de verdade.

- Está tudo bem. Na verdade, estou pensando em tirar uns dias de folga.

- Sério? – meu pai pareceu surpreso. – Quando foi que isso aconteceu a última vez... ah sim! Nunca – terminou dando gostosas gargalhadas.

- Mas isso é ótimo. Descansar um pouco. Você trabalha demais, mesmo – minha mãe concordou.

Assenti com a cabeça enquanto batia na barriga estufada de tanto comer.

- Ainda têm espaço para o sorvete? – eu quis saber.

- Sempre há espaço para o sorvete – meu pai respondeu.

- O que acha de sentarmos lá fora? Está um clima agradável. Já viu que agora temos cadeiras e uma mesa sob a nossa árvore? – minha mãe falou enquanto pegava o sorvete.

Estava lindo. A copa da árvore estava mais espessa, a sombra que fazia era grande. Seria um tombo e tanto hoje em dia, mas valeria a pena escalar mais uma vez.

Era mais um dia que terminava laranja com sabor de menta e chocolate, e câncer amargo.

Meu pai já tinha contado várias histórias dos dois. Aventuras do casal depois de ficarem sozinhos quando saí de casa.

Eu estava rindo quando o câncer tomou meus pensamentos e baixei meu rosto para ter coragem.

Tenho que acabar logo com isso.

- Não se assustem, mas tenho algo importante para contar pra vocês...

- Está grávida? – minha mãe falou se atrapalhando com o sorvete na boca.

- Não, mãe – dei risada por ter acertado em cheio o que ela diria.

Os dois pareceram decepcionados. E eu fiquei confusa. Eles queriam mesmo que eu estivesse grávida, e isso me divertiu por um breve momento.

- Estou doente – falei sem olhar para eles.

- O que você tem? – meu pai quis saber.

- Câncer – fui direta.

- Minha nossa senhora! Minha mãe falou colocando as duas mãos na boca. Lágrimas já se formavam em seus olhos.

Me levantei e expliquei em detalhes o que era, como seria o tratamento, e o pior, minhas chances.

Meu pai se levantou e me abraçou. Em seguida, minha mãe fez o mesmo. Choramos os três, abraçados sob a mesma árvore que já foi expectadora de dias felizes e tristes da minha vida.

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