NÃO RECOMENDADO
 PARA MENORES DE 18 ANOS

No dia seguinte ao encontro no restaurante, conversei com meus pais. A tristeza que vi nos olhos deles me deixou arrasada. Que pais sonhariam para os filhos um futuro como aquele que se afigurava para mim? Eu mesma era um poço de incertezas. Havia me apaixonado perdidamente por um homem com os dias contados! Quanto tempo teríamos para sermos felizes juntos? Iríamos nos casar? Eu deveria engravidar antes dele partir? Eu teria forças para suportar todo esse sofrimento? E a família dele, o que achava disso tudo? Ele nunca mencionava a família. Eles aceitariam toda essa situação insana?

Tive um mês para pensar antes de Berk retornar ao Brasil. Marie Claire foi de fundamental importância na minha tomada de decisão. Ela me assegurou que, apesar das dificuldades, eu estaria amparada pelos protetores espirituais e que meu coração seria compensado da falta de Berk, quando ele se fosse, pela criança que eu teria em meus braços. Um lindo fruto de uma união de muito amor.

Berk me mandou uma mensagem avisando da data de sua chegada e informou que ficaria comigo por um período mais longo. Queria aproveitar para viajarmos juntos pelos lugares bonitos do Brasil. Avisou também que me apresentaria ao seu grande amigo e advogado, Hadi Altair, com quem eu poderia contar sempre e que me auxiliaria em todos os assuntos, quando ele não estivesse mais presente.

─ Pai, Berk está chegando em uma semana e decidimos viajar pelo Brasil para ele conhecer nossos lugares paradisíacos. Algum problema se eu me ausentar do escritório por mais de quinze dias?

─ Filha, sua ausência no trabalho é a menor das minhas preocupações e você sabe disso. Sei que o rapaz tem demonstrado ser boa pessoa e ter sérias intenções com você, mas ainda sabemos muito pouco sobre ele. Mesmo com todas as investigações que solicitei, não há nada muito aprofundado sobre sua vida em Dubai, seu relacionamento com a família, seus costumes. Eu quero conhecer esse advogado que ele vai lhe apresentar. Não me assine documento algum, entendeu, Ale? Nada, nem guardanapo de restaurante. Esse filho que ele quer ter com você vai gerar uma disputa judicial, com certeza. Se for mesmo um menino, a família dele vai querer criá-lo nos moldes muçulmanos. Você já pensou nisso, filha? Que garantias ele poderá lhe dar de que a criança ficará com você até se tornar um adulto? Será que você terá que se converter ao islamismo e se mudar para Dubai?

─ Pai, eu não sei. Eu também tenho muitas dúvidas. Nesses dias que Berk e eu viajaremos, poderei saber mais sobre ele e tudo o que acontecerá se eu me propuser a gerar essa criança. Precisamos desse tempo juntos. 

Mind, Berk chegou e decidimos ter uma conversa antes de viajarmos, envolvendo meus pais e o amigo advogado dele. Isso se fazia necessário para que minha família ficasse mais tranquila. Convidei Marie Claire e o tio Roberto para estarem presentes também. Meu pai decidiu incluir o Julian na reunião.

Os primeiros questionamentos foram em relação à vida pessoal e familiar de Berk. Ele nos informou que há tempos não tem um bom relacionamento com os pais desde que decidiu seguir as orientações do profeta. Na sua família, ninguém acreditava na profecia. Eles queriam que ele se casasse com uma moça árabe, de alguma família conhecida e honrada, e viesse a trabalhar nas empresas familiares. Entretanto, depois de formado, ele investiu em ações e conseguira alavancar dinheiro o suficiente para comprar empresas de engenharia que necessitavam de reestruturação. Assim, foi se associando a diversos grupos em vários países e conseguiu sua independência financeira, contrariando a todos. Ele tinha residência própria em Dubai, mas passava pouco tempo por lá. Sua vida era voando de um lugar para outro, conhecendo pessoas e culturas diferentes e aguardando o sinal que lhe mostraria a mulher que estava destinada a ele. Ninguém, além de médicos e das pessoas de sua confiança tinham conhecimento da sua doença e nem poderiam imaginar que ele estava com os dias contados. Quanto ao problema de saúde, deixou claro que não era contagioso e que eu, Alexandra, não corria risco algum. Não havia outro caso similar no seu ciclo familiar, como havia sido investigado. Isso, para ele, era só mais uma prova da autenticidade da profecia. Ele não sentia dores, somente alguns mal-estares ocasionais que o obrigavam a se internar para tratamento. Os médicos o advertiram que não seria assim até o final e que ele enfraqueceria com o passar do tempo e necessitaria de acompanhamento especializado intensivo para ter um fim de vida digno.

Quanto ao bebê, seria registrado no Brasil para ter a nacionalidade brasileira, mesclando os sobrenomes da mãe e do pai. Mesmo que ele não estivesse mais vivo, o recém-nascido teria seu nome na certidão de nascimento. Ninguém da família dele teria conhecimento dessa criança até ela se tornar um adulta. Todas as pessoas envolvidas nesse processo eram de sua inteira confiança, como Hadi Altair, Farujah, os motoristas, seguranças e alguns outros funcionários. Alguns deles passariam a viver no Brasil para dar todo o suporte para mim e para que nosso filho tivesse uma educação mais abrangente: aprenderia vários idiomas, incluindo o árabe, a cultura, a culinária, os costumes, a religião, tanto ocidentais como orientais. Assim, tal como um príncipe, estaria sendo preparado para ocupar a posição que lhe reservava o futuro. Sua fortuna, do lado do pai, estaria sendo administrada pelo amigo advogado e sua empresa, que cuidaria dos investimentos para aumentar seus rendimentos e se responsabilizaria pelas despesas pessoais da criança até ela poder tomar posse de tudo que fosse seu.

Em relação à celebração de um casamento civil, ele disse que seria eu quem decidiria. Casada oficialmente ou não, eu seria sua esposa amada e única. Nesse momento, Berk parecia ter abrangido todos os pontos e esclarecido as dúvidas, quando Julian resolveu questioná-lo.

─ Sr. Berk Shariq, sabemos que, atualmente, é muito fácil de se conseguir informações sobre as pessoas. Como pode nos garantir que sua família não descobrirá sobre a criança e abrirá um processo judicial para disputa pela guarda?

─ Sr. Garcia, esse é um dos principais motivos pelos quais a criança nascerá no Brasil, será registrada brasileira e viverá aqui, com a mãe, em condições financeiras extremamente favoráveis. Todos os meus bens estarão em nome de meu amigo e advogado Hadi Altair e serão transferidos para meu filho quando ele atingir a maioridade. Desde a fertilização até a idade adulta, meu herdeiro e sua mãe terão suas despesas custeadas pelo meu advogado. Haverá uma declaração minha de próprio punho, registrada em cartório, com todas essas instruções. Um exame de DNA comprovará a paternidade e, aos dezoito anos, o menino passará a ser herdeiro legítimo de toda minha fortuna e até dos títulos concedidos a mim como membro de um poderoso clã árabe. Tudo isso abrirá portas para ele seguir seu destino. A empresa de advocacia que me assessora é especializada em direitos internacionais e seus advogados estão aptos a contestar quaisquer tipos de disputa de guarda que possa, hipoteticamente, acontecer. E, antes que a questão seja levantada, o perigo de um sequestro também está descartado. Tenho, em meu quadro de funcionários, especialistas em segurança que terão conhecimento antecipado de qualquer orquestração nesse sentido, impedindo-a de imediato. Soma-se a todo esse time, a equipe a qual o senhor faz parte e que trabalha para o Sr. Eduardo Toledo. Tenho certeza de que nem os mais visados homens da Terra estão tão seguros como estará a criança e sua mãe.

─ Berk, apesar de todo esse esclarecimento, acho necessário passarmos algum tempo juntos e nos conhecermos melhor, antes de tomar qualquer decisão definitiva que envolva casamento e filhos. Nosso relacionamento não pode estar baseado somente em profecias e documentos. Tem que haver sentimento envolvido. Não quero me sentir como uma mercadoria sendo leiloada.

─ Alexandra, meus sentimentos por você são verdadeiros e profundos. Você é uma joia rara, de beleza sem igual, que foi trazida por Allāh para minha felicidade derradeira. Não pode ser leiloada, pois a dignidade não tem como ser precificada. Você não está só no meu coração, está na minha alma, faz parte da minha existência extracorpórea.

Essa declaração de amor selou o meu destino, Mind. No dia seguinte, decidimos estudar o roteiro da viagem que faríamos. Não podíamos ir para lugares muito ermos ou sem infraestrutura, pois caso Berk se sentisse mal, teria que ter atendimento médico imediato. Seriam quarenta dias em lua-de-mel antecipada. Decidimos viajar pelo centro-oeste, já que estávamos na estação da seca, começando pelo Estado de Goiás, indo em direção a Pirenópolis, na Região dos Pirineus. De Brasília/DF iríamos de jatinho até Mato Grosso do Sul visitar a Gruta Azul em Bonito e depois, para Mato Grosso, ver o Pantanal e a Chapada dos Guimarães. Dali, seguiríamos para o Tocantins para conhecer a região do Jalapão. Voaríamos para Manaus, seguindo depois para Maranhão, Ceará e alguns outros Estados do Nordeste. Visitaríamos as cidades históricas de Minas Gerais e terminaríamos nosso roteiro nas maravilhosas praias da região dos lagos no Rio de Janeiro.

A partida estava marcada e tínhamos somente uma semana para organizar tudo, quando Berk decidiu conversar comigo sobre nossa primeira noite juntos. Ele queria que fosse especial, apesar de que não estaríamos oficialmente casados. Imaginou um ritual árabe, onde eu passaria um dia sendo cuidada por mulheres que me preparariam para a grande noite. A cerimônia informal poderia ser na sua casa, só com a presença de minha família. A princípio, eu não sabia o que responder, mas logo percebi o quão importante para ele era poder vivenciar tudo aquilo o mais rápido possível. Então, concordei. A toque de caixa, o evento foi organizado e na véspera da nossa viagem, o "casamento" aconteceu. Farujah organizou uma pequena recepção, porém com beleza e requinte.

Meu dia de "sheikha" começou cedo com banhos aromáticos e massagens com óleos essenciais. O vestido branco foi no estilo ocidental, mas não faltaram as joias decorando a cabeça, as orelhas, e as mãos. À noite, os convidados chegaram. Da minha parte estavam presentes apenas os familiares mais próximos e Berk convidou seu amigo Hadi Altair e mais dois advogados da empresa. Fotos foram terminantemente proibidas. As pessoas tiveram que deixar seus celulares e câmeras ao entrarem na casa. Essa medida foi tomada para que não houvesse risco de algum parente dele descobrir. A evento foi uma mescla entre os ritos ocidentais e orientais e se deu com muita música.

A cerimônia foi realizada de forma simbólica, sendo Hadi Altair quem fez um pequeno discurso abençoando a união, representando o lado oriental de Berk. Da minha parte, foi o meu tio Roberto quem disse algumas palavras.

Após a troca de alianças, nossos familiares e amigos se aproximaram, fazendo uma grande roda, e nós ficamos dançando no meio, como é comum na tradição árabe. A festança teve hora para acabar, pois iríamos viajar no dia seguinte. Apesar da apreensão de todos em relação ao futuro, o evento foi marcado por alegria e descontração. Por algumas horas, esquecemos que naquela cerimônia, o "até que a morte os separe" estava mais real do que o normal.  

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Olá, meus leitores.

Antecipei o capítulo de amanhã.

Altamente Improvável! foi escrito em 15 dias para que eu tivesse tempo de inscrevê-lo no Concurso Literário 2020, da Editora Plenitude. Ele alcançou a 21a colocação, concorrendo com mais de 100 obras.

Você teria a coragem da Alexandra para se arriscar numa relação com prazo de validade?

Quero saber sua opinião. 

Para quem gosta de livro com música, segue o link para a playlist deste romance.

https://open.spotify.com/playlist/7F9sunjvSz7m1al9jmgYyr?si=BfcPKYoxSg-ReFnaMcys_Q