Ela era indestrutível, inalcançável e suprema.
Verônica enfeitiçava qualquer homem, que facilmente se tornava uma presa débil em sua caçada mortal.
Ela é cruel, voraz, os lábios sempre estavam rubros e ela sempre usava roupas comportadas e coladas ao corpo, como se fizessem parte de uma segunda camada de sua pele tão macia quanto pêssegos em calda. Já os lábios carnudos traziam em sua boca um veneno liquefeito, na dosagem letal para aqueles que se atreviam a admirá-la por tempo demais, próximos demais, alheios à dimensão do perigo.

Eu de forma tola, a cobicei e ela fingiu ter sido fisgada pela minha armadilha, mas era eu quem estava sendo caçado. Para Verônica, a caçadora hábil, eu era apenas mais um abate, mas desde o dia em que o palácio dela, incrustado em diamantes e cristais, se tornou quebradiço nas mãos daqueles que se aproveitaram de uma falha em um sistema que antes era inquebrável, a destruição dela se tornou inevitável.

E eu estava pronto para vê-la ruir, só não esperava que nós dois iríamos decair em um plano maligno do destino e do desejo, que seria o algoz da nossa queda – assim como da nossa ascensão das cinzas.
Verônica e eu queimamos juntos e talvez a culpa tenha sido minha em acender a primeira fagulha.
Eu não era religioso, mas naquele dia, se eu pudesse, teria rezado um Pai Nosso, para afugentar o Armagedom que estava prestes a acontecer.